6 - Axel

1258 Words
A primeira coisa que faço ao acordar no dia seguinte, é mandar uma mensagem para Yesenia. O fato é que não consigo tirar essa mulher da minha mente, meus pensamentos sobre ela são constante e inquietante, até mesmo pensei em deixar essa conquista de lado e seguir em frente, mas há algo nela que me envolve e preciso descobrir o que é. “Está disponível hoje?” Sua resposta não é imediata e eu também não esperava isso, o relógio a minha frente marca 9:28 da manhã, então nesse exato momento ela está dentro da UTI manipulando um acesso venoso central. Um pouco louco ter o conhecimento do que ela está fazendo nesse instante? Talvez só um pouquinho... Eu simplesmente quero saber como sua rotina funciona, as pessoas com as quais mantém contato, que devo dizer, não são muitas. Yesenia parece ser uma mulher solitária, de certa forma, se parece muito comigo. — Axel, o prefeito deixou alguns documentos para que você dê a sua aprovação — Cosmo diz depois de bater na porta e estender os documentos em minha direção — Ele disse que precisa da sua resposta até amanhã. Assinto e abro a pasta, retirando os documentos e analisando rapidamente as folhas. A proposta do prefeito é de construir um resort com o intuito de chamar mais turistas para Southward Angel, isso com certeza será ótimo para estimular a economia local dos pequenos empreendedores e autônomos, entretanto, sinto um impasse ao assinar o documento. Adoro essa cidade, nasci em uma época que havia apenas um posto de combustível, mercado e escola. Atualmente, Southward Angel é uma cidade em ascensão, grande parte disso foi por causa do meu pai, ele era um belo de um filho da p**a, mas soube administrar muito bem. A cidade prosperou. E a cidade pequena virou uma cidade grande, com muitas vagas de emprego e oportunidades, construir atrações para turistas me deixa com um pé atrás, contudo, sei que é assim que a roda gira, apesar de não gostar de pessoas estranhas na minha cidade. Leio atentamente o contrato e no final da página deixo minha assinatura ao lado da assinatura do prefeito, os 4 anos de faculdade de direito serviram para algo, então aos meus olhos esse não é um contrato com linhas ocultas, Charles é um ótimo prefeito e tem feito um bom trabalho, mas ele sabe que se tentar me ferrar, é o último ato que ele fará em vida. “Sem um bom dia? Não sei se estarei disponível hoje...” Bem, merda! Esqueci do maldito bom dia, é difícil modificar um hábito de anos. “Me perdoe. Tenho o costume de falar assim com meus empregados. Te desejo um ótimo dia. E será melhor ainda se puder aceitar meu convite para sair comigo.” Um sorriso brinca em meus lábios com essa pequena conversa, a mulher parece ser arisca. “Bem, seus empregados devem te odiar. Como você foi educado, então sim, aceito seu convite.” Me odiar? Provavelmente me matariam se tivessem a chance, por isso escolho a dedo as pessoas que estarão no meu convívio diário, e não p**o ninguém para me odiar, p**o pelo trabalho que eles podem fazer. “Bom, se me odeiam, nunca saberei. Posso te buscar?” Batuco os dedos na mesa à espera da resposta que demora poucos segundos. “Não! Você é um estranho e pode ser um louco. Prefiro te encontrar no local marcado. Obs: Não gosto de lugares caros e cheios de frescura.” Quase solto uma gargalhada da sua observação, Yesenia é como respirar o ar fresco, sem qualquer poluição. Se ela ao menos soubesse que sei onde mora, a sua rotina e até o valor de seus empréstimos estudantis, com certeza iria me chutar no meio fio no mesmo instante. Eu posso ser um pouco louco. Mas é aquilo que o ditado diz: O que é a vida sem um pouco de loucura? [...] Yesenia Depois de toda a conversa de manhã, que se estendeu para o final da tarde, eu acabei escolhendo o lugar. Axel disse que talvez poderia escolher algo que não me agradasse, então deixou a escolha a meu cargo, e acabei escolhendo um food-truck há duas quadras da minha casa, porque o hambúrguer e a batata frita da dona Sorela eram as melhores. Coincidentemente, o food-truck está estacionado em frente há uma praça, onde há principalmente crianças brincando e algumas pessoas praticando atividade física, Axel está sentado na cadeira de cimento e paro por um segundo para observá-lo, aproveitando que ainda não tinha me visto. Esse homem trajando um terno era simplesmente o pecado, mas esse homem vestindo roupas casuais, como o jeans azul-escuro, blusa polo e tênis preto era de tirar o fôlego. Ele olha para o celular com o cenho franzido, parece preocupado, então levanta seu olhar e o guarda no bolso, abrindo um sorriso que eu descreveria como pecaminoso. — Você está muito bonita — na verdade, estava muito simples, com um top branco de ombro a ombro que ia até à metade da barriga, acompanhado de um shortinho branco e all-star. — Obrigado, você também não está nada m*l — ele arqueia uma sobrancelha e abre ainda mais seu sorriso devasso. — É aqui que você quer comer? — ele aponta para o food-truck amarelo. — Sim, esse é o melhor hambúrguer de Southward Angel, estou surpresa por nunca ter vindo aqui. — Cresci aqui, mas confesso que não frequentei todos os lugares. Ah, não me diga! Quem tem dinheiro acaba nunca conhecendo o melhor da vida. Nos dirigimos a uma mesa e Axel já ganha pontos por afastar a cadeira para que me sentasse, fazemos o pedido dos lanches rapidamente e fico nervosa olhando para seu rosto sem saber o que falar. Como se soubesse disso, ele diz: — Como está indo os estudos? — sério? — Estou indo bem, então irei concluir sem problemas nenhum. — Eu sei que não vai e não foi isso que quis dizer, deixe-me reformular a questão, você gosta do que estuda? — Acho que sempre tive um dom para cuidar das pessoas, isso se intensificou quando minha mãe morreu, passei quase todos os momentos com ela e percebi como milhares de pessoas precisam de ajuda. — Sinto muito sobre sua mãe. — Ela estava sofrendo, foi melhor assim — dou de ombros, como se esse gesto pudesse espantar esse assunto. — E você? É formado em alguma área? — Aos 24 anos me formei em direito, entretanto não exerço a função, toquei para frente os negócios da minha família. — 24 anos? Espera um pouco. Quantos anos você tem? — 34 anos. Quase engasgo com o próprio ar. Eu diria que ele tinha no máximo 28 anos! — Não parece que tem 34 anos. — Gosto da minha aparência e cuido muito bem dela — ele diz essa frase de forma tão profunda que começo a ficar inquieta na cadeira. Os lanches chegam, junto da batata frita e do suco. A primeira coisa que ataco é a batata e logo em seguida dou uma mordida em meu lanche, sentindo a explosão de sabor da carne, salada e cheddar. Um gemido até chega a escapar dos meus lábios, pois o dinheiro anda bastante apertado para me dar ao prazer de comprar “porcaria”. Levanto o olhar e o encontro me olhando de tal forma que me sinto a própria refeição. Tudo sobre esse homem era intensidade. E agora, essa intensidade estava sendo dirigida a mim.  
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD