Segunda briga de Nicolas

4845 Words
A quinta-feira amanhecera com sol apesar do vento gelado típico de outono. Mesmo com os conselhos de Lilian sobre evitar os ditos moletons, Theodore pegara o mais novo de seu guarda-roupa para usar na escola. No entanto, os cabelos levemente bagunçados e a preguiça estampada pareceu lhe render pontos extras na sua popularidade. Alguns estudantes o cumprimentavam timidamente, ou até lhe desejavam boa sorte no dito concurso. Haviam também aqueles que o ignoravam ou o evitavam, lançando olhares nada discretos. Certamente um efeito causado pela história, que na noite anterior ganhara mais capítulos na comunidade do Orkut. Sentando-se no gramado debaixo da tabebuia como de costume, Theodore aproveitara o tempo lendo um livro enquanto esperava pelo melhor amigo. Fazia um tempo que não se dedicava a um bom livro de romance. O da vez fora uma recomendação da bibliotecária, o aconselhando a ler algum clássico para se aventurar no amor. Orgulho e preconceito fora emprestado da biblioteca para ocupar as fantasias de Theodore. Nunca lera romances regenciais em sua vida, já que as palavras enfeitadas e formais eram difíceis de serem interpretadas. Principalmente quando o leitor estava sonolento. No entanto, Theodore se encantara com as palavras de Jane Austen, entrando para a alta porcentagens de leitores que se apaixonavam pelo protagonista masculino. Todo mundo queria um Senhor Darcy para chamar de seu. Apesar de que Theodore já tinha uma pessoa para chamar de seu. Um certo alfa, levantador do time de vôlei, um aluno novo inteligente e bonito. Cujo nome era Gabriel. Imediatamente Theodore fugira os olhos do livro para a fonte, onde os amigos populares de Sadie conversavam animadamente como de costume. Milles estava junto, agindo normalmente sem olhar em sua direção. Parecia até que nada demais havia acontecido nos últimos dias. Bem... Gabriel havia dito no dia anterior que o alfa loiro agira normalmente no treino. O ômega acreditava que isso seria mérito de Nicolas ter passado, sem mentira alguma, o dia inteiro dormindo. Pelo menos fora o que a mãe de seu melhor amigo lhe avisara quando ligou mais cedo. Suspirando pesado, Theodore imaginava que aquela quinta-feira seria calma como o dia anterior. O professor Marcos o assegurou que poderia voltar ao seu trabalho de assistente, que o time já fora avisado que nada aconteceria. Naquela tarde, então, o ômega poderia assistir ao treino. — Bom dia Theodore! Erguendo a cabeça para encarar Lucas que acenava ao lado do irmão mais novo, Theodore sorria acenando de volta. — Eaí! — Veja só como ele é bonitão, irmão. — Dizia o mais novo, sorrindo esnobe ao cruzar os braços. — Com certeza vamos ganhar da sua sala. — Temos o Mckenzie, é uma disputa acirrada viu? O irmão mais novo resmungava fazendo careta, pulando para o lado de Theodore o abraçando pelo ombro. Ouvindo a conversa entre eles, o ômega reprimia o riso. Se ele tivesse um irmão mais novo, será que brigariam daquela forma? Parecia algo tão familiar... — Nossa representante tem total confiança de que vamos ganhar, então iremos. Lucas abrira um sorriso brincalhão, virando-se para Theodore lhe confidenciando um segredo. — Ele é afim da tua amiga. — Ei! Cala a boca! Theodore se surpreendia em ver o rapaz corar até as orelhas. — Gosta mesmo de Lilian? — Questionou o ômega curioso. O garoto desviou o olhar coçando a nuca estando evidentemente encabulado. Estava tão acostumado a ver os garotos serem nada discretos sobre seus gostos por garotas, que era chocante ver alguém ruborizar e tentar manter uma atração em segredo. — Ela é bonita e inteligente, qual o problema em admirar isso? — Admirar? Qual é Pedro, eu vi você escrevendo o nome dela no seu caderno... — Uou, isso está ficando sério. — Você estava me espionando? — Rosnava o mais novo para o irmão. — Se eu fugir agora... Será que consigo escapar dessa fera indomável? — É bom tentar, Lilian já me disse que alguns colegas de classe dela são bem... Teimosos. — Aconselhou Theodore, entrando na brincadeira. Lucas tivera de sair correndo quando seu irmão avançara em sua direção, ansioso para esganá-lo. Theodore ria se divertindo da interação entre eles, acenando quando Lucas tivera de ir para dentro do prédio a fim de salvar a própria vida. Ficando sozinho novamente, Theodore voltava a ler o livro. Não tinha sensação mais gostosa do que cumprimentar amigos antes da aula. Pelos céus, como poderia ter sobrevivido um ano inteiro sem aquilo? Era tão bom rir daquele jeito, sem precisar se preocupar com olhares nada discretos e repletos de malícia. — Parece que está se divertindo sem mim. Erguendo a cabeça mais uma vez, Theodore abria um largo sorriso para Nicolas, que jogava sua mochila no gramado e se sentava ao lado do amigo. — Nico! Como está se sentindo? — Renovado. Incrivelmente bem. Apesar de ter levado uma bronca da minha mãe por ter desmaiado na escola. — Ela se preocupou bastante, mime sua mãe um pouco como pedido de desculpas. — Deveria te mimar também então? Fiquei sabendo que foi lá em casa. Theodore fechara o livro depois de marcar a página com o indicador, e apoiara os cotovelos nos joelhos olhando o seu melhor amigo diretamente. Nicolas parecia bem, como de costume. Olheiras roxas debaixo dos olhos, ombros curvados como se carregasse o mundo nas costas, e cabelos escuros bagunçados. Theodore até estendera a mão e ajeitara o cabelo do amigo, o ouvindo suspirar pesado. — Comparado das outras vezes, você dormiu pouco. Geralmente dorme mais tempo, acordando só pra comer. — Ah, algo estava me incomodando. Sei lá. Não queria ficar deitado. Theodore arqueou a sobrancelha ao ouvir o estômago de Nicolas roncar alto. — Você comeu antes de vir? — Não tinha nada pra comer em casa, e to sem grana. — Como não tinha? Sobrou a sopa que eu te fiz na terça. Ou será que sua mãe comeu? — Você cozinhou pra mim? — Nicolas encarara surpreso o seu amigo, tendo ele concordado com a cabeça. — Tem certeza? Não me lembro de ter comido alguma coisa. Fora a vez de Theodore em arregalar os olhos. — Você não lembra? Fiz uma baita panela de sopa e você comeu. — Eu não! Só poderia ser mentira, imaginava Theodore. Encarou o seu melhor amigo por um bom tempo, analisando cada reação suspeita que pudesse denunciar a sua mentira. No entanto, Nicolas continuava sério como costumava ser. Não demonstrara nervosismo e muito menos um sorriso brincalhão. Estava sério. Ele realmente se esqueceu da confusão em que se metera? Ora essa, Nicolas mordera Milles! — Escuta, tá sentindo nada de estranho não? — To com sono. — Eu falei de estranho. Isso já é seu, Nico. Nicolas suspirou pesado coçando a nuca, arrumando o capuz do moletom. — Não, nada. Os gritinhos eufóricos na fonte interrompera a conversa entre os amigos. Theodore percebia que Gabriel havia chego e já era capturado pelos braços de Sadie. Parecia até o primeiro dia de aula, quando ele vira Gabriel pela primeira vez na escola. Quando trocaram olhares, mas Theodore não dera muita bola até descobrir que o rapaz era seu mais novo colega de classe. Provavelmente se Gabriel não fosse de sua turma, Theodore nunca teria se apaixonado por ele. Pelo menos é o que acreditava. — Como tá indo com o bosta júnior? Theodore olhara para sua mão e lembrou-se da conversa que tivera com Sadie. Ainda não encontrara a oportunidade perfeita para tocar no assunto com Gabriel, e questioná-lo sobre ele estar com a ômega. Contudo, precisava conversar com alguém. E Nicolas estava ao seu lado agora. — Estamos indo bem, por enquanto. Mas aconteceram algumas coisas. — Que coisas Theo? Theodore começara a contar os ocorridos da semana, a história publicada na rede social gerando uma repercussão entre os estudantes. Nicolas até observara em volta deles, constatando que realmente alguns alunos estavam mais próximos deles. Antes ninguém ousava se aproximava. Era como se Theodore emitisse um gás tóxico ao invés de um adocicado aroma. Como as coisas poderiam ter mudado tão rapidamente? Nicolas não tecera comentário algum enquanto escurava Theodore contar da conversa com Sadie. Não desgrudara os olhos do ômega, percebendo a mudança nele também. Geralmente Sadie amedrontava Theodore, provavelmente por viver preso na sombra do que aconteceu no ano anterior. Agora, o loiro transparecia calma ao contar da conversa. — E você acredita nela? — Nem um pouco, por isso a desafiei. Um sorriso orgulhoso surgia nos lábios de Nicolas, que estendera a sua destra para afagar os cabelos loiros. — Conseguiu sobreviver sem mim. Estou orgulhoso de ti, Theo. Ruborizando fortemente em vergonha, Theodore sentia seu peito preencher-se de felicidade. Deleitando-se da alegria em ser elogiado por seu melhor amigo, Theodore sentira um peso em seus ombros que roubara sua atenção. Quando olhara em direção da fonte, encontrara os olhares de Milles e Gabriel. Certo. Não era momento de se vangloriar de seu amadurecimento. Havia um problema bem maior a ser resolvido, e aparentemente o seu melhor amigo estava bancando o sonso por ora. — Então, Nico. Você não se lembra de nada de terça-feira? — Não, por quê? Fiz alguma coisa? Theodore negara com a cabeça sorrindo sem graça, não tendo coragem para falar a verdade. Nicolas percebera o olhar de Milles, e o fuzilara com seu mau-humor rotineiro erguendo o dedo do meio para ele e abrindo um sorriso ladino em puro escárnio. Milles, por sua vez, espreitava os olhos e mostrava os dentes parecendo rosnar em resposta. — Ahn, vamos comer, não era isso o que queria? Eu p**o alguma coisa pra você. — Vamos lá. Parecendo realmente não se recordar do caos da terça-feira, Nicolas acompanhara Theodore até uma banca de jornal fora da escola onde compraram um salgadinho e dois chocolates, pois deveria dividir um com Theodore. Não falara em Milles, nem dos desejos ardentes ou qualquer outra coisa relacionada a ele. Voltando para a escola e adentrando ao prédio para seguirem até sua sala de aula, os garotos conversavam como sempre. Theodore contando a fofura de sua irmã mais nova ao assistir o segundo filme do High School Musical, e Nicolas reclamando que não veria o filme. Era a costumeira cena que Theodore vivenciava antes mesmo da chegada de Gabriel na escola, trazendo a nostalgia aquecendo seu peito. Quando chegaram na porta da sala de aula, Gabriel se despedia de seu pequeno grupo de amigos. Theodore sentia, dessa vez, um frio subir na sua barriga. Novamente Milles fitava Nicolas, tendo o capitão o ignorando completamente para focar no salgadinho que terminava de comer. O baixinho ainda tivera a audácia de passar na porta, olhar Sadie de cima a baixo e lhe dirigir um sorriso ladino quando a ouvira lhe incomodar. — Finalmente o capitão apareceu. Já parou de dar trabalho pro time, não é irresponsável? Girando pelos calcanhares, Nicolas voltou-se para Sadie como sempre fazia quando ela tentava irritá-lo. — Por acaso eles não souberam se virar sem o seu capitão? Putz... Acho que deixei todos eles dependentes. Sadie revirou os olhos amendoados e cruzara os braços impacientemente. — Eles se viraram bem, já que o capitão foi Milles. — Sadie, cala a boca. — Pedia Milles mais atrás, recebendo um espreitar de olhos de Nicolas. Observando o começo daquela discussão, Theodore fugira o olhar de Nicolas quando ele o encarara. Teria notado algo de diferente? Pelos céus, tomara que não. Não estava pronto para o possível surto que Nicolas poderia ter ao saber o caos que ele mesmo causara. Aproximando-se de Sadie Mckenzie, cruzando os braços e a fitando com aquele olhar, Nicolas não escondera a pequena ponta de raiva que brotava. Principalmente por saber que ela se aproveitara de sua ausência para tentar provocar Theodore. — Você não faz parte do time, por isso guarde a sua opinião de bosta pra você. Do contrário, será o teu amado irmão quem irá sofrer as consequências, porque eu não tenho saco algum pra aguentar o chilique da sua família. — Rosnava Nicolas. A garota engolira em seco tentando recuperar a sua compostura. Não queria, certamente, transparecer medo de Nicolas, ao mesmo tempo que era impossível não tremer com aqueles olhos escuros focando nela sem piscar. Estaria olhando sua alma? Seria ele o próprio d***o? — O teu namoradinho também não faz parte do time... Ah, certo. Você é hipócrita o suficiente pra fingir que ele faz alguma coisa no time só pra ter sua f**a do seu lado. Automaticamente Theodore esticara o braço na frente de Nicolas para impedi-lo de avançar em Sadie. Mas fora o braço de Gabriel quem intercedera ali empurrando a garota ômega a obrigando a retroceder passos. — Sadie, o Theodore é o assistente do time. — Não caia nessa, Gabi. Eu já falei que esses dois tem alguma coisa. A bagunça começava. Thunder estava por perto, fitando irritadiço o seu capitão. Gabriel tentava abrir espaço e afastar os dois briguentos. Theodore já se encontrava preparado para empurrar Nicolas pelos ombros e seguirem para seus lugares, enquanto Milles permanecia estranhamente silencioso. A tensão da discussão crescia. Os estudantes que chegavam aos poucos, permaneciam parados na porta só para acompanhar a discussão e aguardarem ansiosamente por uma briga. Mesmo com os olhares curiosos e os cochichos do suposto motivo da briga, Nicolas não parecia se incomodar. — E se a gente tivesse? Algum problema? Por acaso seria o teu r**o que eu iria comer? — Graças a Deus que não! — Então não se intrometa onde não é chamada, p*****a. — Ó Ó Ó, fala assim com ela não, Nicolas. Em segundos os olhos flamejantes em fúria foram a Thunder, que não recuara de tentar proteger Sadie. — Ah, então a p*****a já tem um macho e agora tá tentando agarrar outro? Uaau, nem esconde as garras. As bochechas de Sadie ganharam um tom rosado, e quando bufara sua mão estalara no rosto de Nicolas. Os estudantes em volta prendiam a respiração, e os mais sábios recuaram alguns passos quando Nicolas jogara a mochila para Theodore com força. — Tu não vai bater em mulher, capitão. — Intercedia Thunder empurrando os ombros de Nicolas. Respirando fundo, Nicolas rolava os olhos e sorria. — Ótimo. Vamos logo terminar com isso então, farei questão de quebrar a fuça de vocês. Em um rápido movimento, Nicolas socara o nariz de Thunder. Agachando-se para fugir de um possível golpe, que não viera, ele socara a sua barriga o empurrando contra a porta. O atleta resmungava de dor, mas não perdera tempo em tentar acertar algum golpe no capitão. Nicolas era ágil demais, talvez mais do que jamais fora. O chute na barriga que dera em Thunder o empurrara entre os alunos o fazendo cair de b***a no corredor. Um outro garoto do grupo de Sadie comprara a briga e tentara acertar o baixinho, envolvendo o braço em seu pescoço. O cotovelo de Nicolas acertara o estômago do garoto, e sua mão fora direto para o rosto do mesmo. Thunder já estava em pé furiosamente ansiando brigar. Ainda com dois garotos, Nicolas tinha o controle da luta, se mantendo ileso para o horror do pequeno grupo popular. Finalmente ele poderia acertar um soco em suas bocas. Nicolas guardara tanto rancor contra aqueles moleques, engolira tanto a sua sede em socá-los... Que prazer era poder tirar aquilo do peito e finalmente acertar as contas. O prazer crescia. Nicolas sorria se divertindo em ver os dois garotos ofegantes tentando acertá-lo e caírem pateticamente no chão ou irem contra a parede. Seu corpo se movia tão levemente, que era viciante a adrenalina. Os pés se erguiam ao alto para desferir chutes, e m*l sentira o ardume nos nós dos dedos quando socos e mais socos eram dados. Imaginando que finalmente vencera aquela briga, Nicolas balançara a cabeça ajeitando os cabelos escuros que caíam em seus olhos, e dera as costas para entrar na sala novamente. Theodore o olhava surpreso, e preocupado, segurando sua mochila a estendendo para o amigo. Naquele mísero segundo, Thunder havia se levantado aproveitando a guarda baixa do seu capitão para finalmente atingi-lo. Seria uma chave de braço bem dado, o suficiente para asfixiar Nicolas... Se alguém não tivesse intervido. Não fora Theodore. Nem Gabriel. Virando-se para averiguar o que acontecia, já que Theodore fitava algo horrorizado, ele mesmo deparava-se com a cena inédita de Milles segurando os braços de Thunder com força. — Ai ai ai ai, qual é mano, tu tá me machucando! Sem responder, Milles arrastara Thunder para fora da sala de aula o arremessando, com força, contra a parede. Os estudantes ali reunidos ofegavam surpresos com a atitude tão repentina justamente de um dos Mckenzie. — Milles! O que está fazendo? — Gritava Sadie, prestes a enfrentar o irmão. O corpo do alfa loiro estava todo tenso, e seu cheiro começava a ficar forte. Theodore cutucara Gabriel, apontando na direção dos irmãos em um pedido silencioso e desesperado para que intervisse. E, pelos céus, ele ficara entre os irmãos falando calmamente. — Sadie, não incite uma briga entre o capitão e os jogadores do time. Quer que a gente seja desclassificado? Parecendo compreender a gravidade da situação, ou pelo menos Gabriel a fizera compreender, Sadie arregalava os olhos indo até Thunder e o outro garoto para ajudá-los a se levantar. Gabriel pedira para outros alunos ajudarem, enquanto ele fosse o único a ficar perto de Milles. Quando o alfa olhara em direção de Nicolas, o ômega baixinho o encarava seriamente até lhe dar as costas e entrar na sala de aula, ignorando por completo o seu pequeno ato. — Vamos pro pátio, mate a primeira aula comigo. — Pedia Gabriel para Milles, apertando seus ombros para forçá-lo a sair do prédio. Antes de se separarem, Gabriel lançara um olhar para Theodore parecendo preocupado. O ômega só pudera sorrir-lhe levemente, como quem dissesse que tudo ficaria bem. Mas ele também estava receoso agora. 「 • • • 」 Com o fim das aulas, e o fim da reunião na sala da coordenação, Theodore acompanhava Nicolas para o vestiário do ginásio onde se trocaria. O baixinho estava quieto desde o momento em que a briga terminara, preso aos próprios pensamentos. — Você está bem? — Ousara questionar, cruzando os braços ao se encostar nos armários. Nicolas erguera os olhos ao terminar de arrumar as joelheiras, pegando as cotoveleiras para vesti-las. Soltara um suspiro pesado, como se fosse um fardo organizar os próprios pensamentos. — O grandalhão me pareceu estranho hoje. Um arrepio passara na espinha de Theodore, mas ele soubera manter a compostura e não parecer nervoso. — Como assim? Foi um alívio ele ter ajudado a parar a briga. — Argh, vou ter que agradecer ele? — Resmungava Nicolas com uma careta, causando risos em seu amigo. — Seria bom, fingir que é educado com ele. Nicolas revirara os olhos fechando o armário com força. — Pensarei no assunto. Já comeu o seu chocolate? — Tive chance? Quando estava pensando em me deliciar, você resolver criar um espetáculo. — Então faça o favor de comer e ficar beeem quietinho, certo Theozinho? Rindo da careta divertida de seu melhor amigo, Nicolas deixara o vestiário indo para a quadra, onde todos os jogadores estavam reunidos em frente ao técnico. Que os céus tivessem bondade de seus ouvidos, ele parecia zangado. Todos de cabeças baixadas e mãos às costas. Nicolas se colocou na fila sendo o único a retribuir o olhar do professor. Não estavam no exército para agir tão obedientemente, tampouco fugiria da responsabilidade em ter brigado com seus colegas de time. — Estão de s*******m comigo? Por acaso a escola parece ser um playground para vocês brincarem? Eu treino atletas e não um bando de moleques! — Esbravejara o técnico, respirando fundo para se recompor em frente aos meninos. — Qual poderia ser o motivo de meus jogadores brigarem entre em si em um momento como esses, hm? Howard? Nicolas não transparecera a impaciência em ter de explicar o motivo da briga. — Na verdade eu estava discutindo com alguém de fora do time. Os dois se intrometeram. — Você ia bater numa garota! — Replicara Thunder irritado. — Eu te bati no lugar dela, fique feliz. Não fui cavaleiro o suficiente? — Como é? — Aliás, como tá conseguindo falar? Tenho certeza de que acertei sua boca várias vezes pra te calar. — Chega! Por Deus, chega. — Suspirava o técnico se virando para Theodore, que estava quieto ao seu lado comendo o chocolate. — Vá na coordenadora pegar os papéis com os castigos, por favor Moss. — Sim senhor. Theodore deixara o ginásio, lançando um olhar para o melhor amigo com um claro aviso para se comportar em sua ausência. — Temos uma partida nesse final de semana, como vocês puderam se meter nessa? Vou treinar os reservas para ficarem no lugar de Thunder e Boyle. — Só a gente? Qual é, isso é injusto. O capitão também deveria ser afastado. — Não seriam afastados se estivessem bem fisicamente. — Rosnava o treinador. — Por acaso consegue enxergar alguma coisa com esse olho roxo? Não reclame, se meteu em briga então arque com a responsabilidade. — Mas professor! O professor apitara alto dando início ao treino. Os meninos logo formavam fila e começavam a correr em volta da quadra se aquecendo. Todo o treino fora um verdadeiro campo do exército. Provavelmente o mau humor do técnico fora devidamente descontado nos exercícios árduo e suas reclamações pontuais com todos os meninos. Nicolas se mantivera focado no treino, ignorando a dor em sua mão direita que estava avermelhada e levemente machucada. Queria aproveitar a energia e leveza que sentia naquele dia, ignorando os demais jogadores propositalmente. Acertava os cortes com aquela mão com toda a força, fazendo ecoar por todo o ginásio o baque da bola contra o chão. Enxugando o suor do buço na camisa do treino, Nicolas paralisara ao lembrar de não ter colado os adesivos de manhã. Discretamente farejou sua camisa sem sentir o seu cheiro característico sobressair. Que estranho! Enrugando a testa confuso, Nicolas balançara a cabeça e voltara a treinar sem perder o foco até o apito soar novamente encerrando o treino diário horas depois. Sentado no chão perto de Theodore, que fazia suas meticulosas anotações, o capitão bebia água sedento. Descansava quando o técnico aproximou-se ainda irritado. — A coordenadora definiu o castigo de vocês. Vai limpar os banheiros depois do treino. E ainda lembrou que esse é o seu segundo aviso, Howard. O terceiro é a suspensão, e então não posso fazer nada por você sobre o campeonato. Bufando, Nicolas assentira com a cabeça. — Sim senhor. — Se comporte, moleque. Quando o professor afastou-se, o ômega jogara a cabeça para trás suspirando alto. — Até que ela pegou leve, que alívio. — Você acabou de se recuperar da febre, é claro que ela pegou leve. Mais um motivo para você mimar sua mãe. — Vou levar bronca quando ela chegar em casa, não é? — Pensei pelo lado positivo, ninguém da escola sabe que a coordenadora é sua mãe. Nicolas dera um leve cutucão em Theodore o ouvindo rir divertido. Não puderam brincar muito, pois o técnico chamara pelo ômega loiro para discutir sobre o plano de treino. Permanecendo sentado enquanto observava os demais jogadores deixarem o ginásio, Nicolas passara a encarar a própria mão. Doía como um inferno. Assoprara e chacoalhara sentindo o ardume piorar. Fazendo uma careta dolorida, Nicolas mau notara a aproximação de um certo alfa que imediatamente segurou seu pulso o puxando para ficar em pé e arrastá-lo até o vestiário. Assim que notara ser Milles quem o sequestrava na surdina, Nicolas queria xingá-lo. Porém, se conteve. As costas de Milles eram largas como muralhas inalcançáveis. Os cabelos suados pingavam em sua nuca, e as veias saltavam em seus braços e mãos. Tais detalhes simplesmente saltavam à vista de Nicolas, que engolia em seco completamente abobado. Com a porta do vestiário fechado, Milles ainda arrastara o seu capitão para os bancos ao fundo, onde já estava posicionado um pequeno kit de socorros. E sem dizer nada, jogara o baixinho contra o banco obrigando-o a se sentar, ficando sentado na sua frente impedindo a sua fuga. Nicolas se mantivera quieto observando aquele estranho na sua frente. Percebera um curativo em seu ombro direito, imaginando que pudesse ter se machucado na briga mais cedo. Será que ele intervira por ter sido atingido? — O que está fazendo? Silenciosamente Milles molhara o algodão no soro fisiológico, e delicadamente segurou a destra do capitão tomando todo o cuidado ao começar a limpar. Nicolas fizera uma careta e tentara puxar a mão quando sentira arder, mas o alfa o segurou um pouco mais forte no pulso e lançou um olhar furtivo para ele. — Fique quieto, peste. — Do que me chamou? — De peste. Ou prefere capeta? — Murmurava Milles concentrado em sua tarefa em limpar a ferida. Prestes a responder, Nicolas engolira o xingo. Sentia-se estranho em ver Milles sentado no chão aos seus pés, segurando sua mão para cuidar dele. Tomando-o como uma tarefa que precisasse de esmero. Estando ali, Nicolas pudera ver claramente o nariz fino de Milles e os belos olhos castanhos. Ficava lindo concentrado. Notando seus pensamentos, Nicolas desviou os olhos bufando alto. Seu coração começava a bater acelerado, emitindo o cheiro característico de um ômega. Milles parara sua tarefa respirando fundo, mas fingindo não notar, só para alcançar a pomada e passar na mão ferida. — Você tem um corpo fraco demais, capitão. Se machuca demais. — Algo me diz que consigo me virar. — Resmungou Nicolas se referindo a briga de mais cedo. Enfaixando a mão de Nicolas com esmero, Milles encerrava a sua pequena tarefa com destreza. Mesmo quando colara o esparadrapo na ponta da faixa branca, ele não soltara a mão de Nicolas. A mão de Milles era quente, percebia Nicolas. Descendo os olhos para os seus dedos, percebia eles ficarem vermelhos de calor. As veias saltavam até as costas da mão, e Nicolas engolira em seco com a excitante visão. O que diabos estava acontecendo consigo? Por que o seu corpo parecia esquentar com o toque de Milles? Seriam os seus instintos brincando consigo mais uma vez? Seus olhos desciam para Milles, que continuava a encarar sua mão perdido em pensamentos. Questionava o que mais poderia estar passando em sua mente para deixá-lo tão longe daquele vestiário. No entanto, Nicolas também se perdia em algum lugar quando memorizava a linha dos lábios de Milles. A mão livre fora para o queixo do alfa, erguendo-o em sua direção quando o seu rosto aproximou-se perigosamente. Se pudesse enxergar suas pupilas, Milles saberia que Nicolas tinha perdido a batalha em sua consciência. Nicolas dera um singelo selar nos lábios de Milles. E quando estava prestes a beijá-lo com intensidade, o alfa afastou o rosto para fugir. O ômega soltara seu queixo para segurar os cabelos em sua nuca, o forçando a virar-se para si e tentar capturar seus lábios. Debatendo-se, Milles conseguira empurrar minimamente o capitão o suficiente para gritar o mais alto que conseguia. — Biel! BIEL! GABRIEL! Milles pudera ouvir a correria vindo do ginásio até as portas do vestiários serem abertas tão repentinamente. As duas figuras de Theodore e Gabriel surgiram bem à tempo, onde encontraram um Milles desesperado para fugir. — Plano A, como a gente conversou ontem à noite. — Sussurrava Gabriel para Theodore, antes de ir até o capitão segurar suas mãos com força e obrigá-lo a se soltar do outro alfa. Theodore ajudou Milles a se levantar e o empurrara para longe sob tropeços, e rapidamente se sentou no seu lugar segurando Nicolas o impedindo de ir atrás do alfa. — Aguenta aí? — Questionava o moreno para o ficante, que concordara ofegante. — Só vou ajudar Milles a sair e logo volto. Me espere aí! — Tudo bem, vai logo! Rapidamente Gabriel fora até Milles e o ajudara a sair do vestiário. Respirando fundo, Theodore finalmente conseguira conter Nicolas que se acalmava longe do seu alfa. O arrumara sentado no banco, e fingira ser ele quem cuidava de sua mão até que Nicolas acordasse de seu torpor. — Ahn? Theo? O que está... — Não acredito que um treino desses foi o suficiente pra te fazer dormir sentado, Nico. — Sorria um Theodore descarado. — Mas não era você quem cuidava da minha mão... — Milles já foi embora quando Sadie o chamou. Vim aqui terminar, mas você já estava dormindo. Vamos, você tem que ainda limpar os banheiros. — Ah... Certo, certo. Valeu aí Theo. Aturdido, Nicolas se levantara do banco depois de agradecer o amigo, indo até o outro corredor dos armários pegar seus pertences. Ainda sentado no chão, Theodore respirava fundo se debruçando no banco formando um bico manhoso nos lábios. — Isso não vai dar certo, Gabriel. — Vamos embora Theo! — Gritara Nicolas do outro corredor. — Eu to indo! Theodore concluía que seria melhor Milles dizer a verdade para Nicolas antes que as coisas piorassem.
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