Beijo na quadra de vôlei

4300 Words
Gabriel estava irritado na tarde de quarta-feira. No dia anterior logo após se despedir de Sadie e Milles, Gabriel seguira o seu rotineiro caminho de casa com um olhar vazio. Em sua cabeça matutava que em algum lugar estaria Theodore junto daquela garota baixinha bonitinha. Ora essa, Theodore não era gay? Então por que raios estava de mãos dadas com uma garota beta? Nunca o vira ao lado de uma garota em todos aqueles primeiros meses de aula, e de repente aparecia uma. O sentimento tão estranho que se apossara de si no instante em que os vira no corredor, o fizera marchar para separá-los imediatamente. Já não bastava o grande empecilho que era seu capitão do time de vôlei, agora surgiria mais uma pessoa para roubar Theodore de si? Imediatamente Gabriel parara de andar. Roubá-lo de si? Quem? O Theodore? Por quê? Ele era seu amigo, poderia fazer amizade com quem quer que fosse. Não seria bom ele ter outras amizades além de Nicolas? Para que a escola parasse de criar rumores estranhos à seu respeito? Deveria estar feliz pelo seu amigo. Mas não estava. — Mas que droga está acontecendo com você Gabriel? — Resmungava o rapaz para si mesmo, voltando a caminhar. Em meio à sua tentativa de amenizar os pensamentos confusos, seus olhos se ergueram para a fachada de uma cafeteria nova. Descendo sua atenção para a janela, sentia a sensação estranhar vir à tona como uma locomotiva descontrolada. Era aquela garota junto de Theodore. Os dois juntos. Rindo. Theodore sorria tanto que suas pequenas presas ficavam à mostra. Irradiava como um sol o seu esplendor para aquela garota quase que exclusivamente. Aquela imagem ficara presa na sua memória ao longo do dia. Não conseguindo se concentrar nos estudos, e muito menos dormir. A angustia não era apenas de ter visto Theodore com uma garota, mas o motivo de ele mesmo se importar tanto. Por que ele ficava com aquela sensação estranha e desgostosa no peito? Por que sua mão formigara querendo segurar o pulso de Theodore e o arrancar dali? Por que Gabriel queria monopolizar Theodore? E então na quarta-feira à tarde, quando o treinador reunira o time para retomar os treinos, Gabriel se encontrava em péssimo humor. — Que bicho te mordeu pra tá com essa cara, hein? Virando o rosto para seu amigo e colega de time, Gabriel suspirava negando com a cabeça. Não valeria a pena ser sincero com Milles quando nem mesmo ele se entendia. — Minha cara está melhor que a sua, que tá toda ferrada. Fazendo uma careta, Milles passava a ponta do dedo sobre o hematoma próximo do olho, resmungando baixinho. — Aquele pivete tem a mão pesada. Se olhar bem pra ele, acha que o vento é capaz de levar embora de tão mirradinho que é. Mas o filho da p**a é bom de briga. — Não se cansa de brigar com ele não? Soltando um riso alto, Milles abraçava o ombro de Gabriel. — Não é questão de cansar. Eu quero vencer. Só isso. Enquanto eu não conseguir vencer o baixinho numa briga, continuarei a infernizá-lo até encontrar sua fraqueza. Gabriel revirara os olhos no mesmo instante que o treinador apitara avisando o inicio do aquecimento. Os jogadores se espalhavam pelo ginásio para se aquecerem, tendo Gabriel a visão ideal para a porta. Pudera assistir a chegada de Theodore no ginásio acompanhado de seu melhor amigo, que iam até um canto conversar com o treinador. Então, Nicolas ia para o vestiário enquanto o loiro abria sua mochila para tirar um caderno continuando sua conversa com o professor. — Me fala uma coisa, Biel. Tu apanhou do baixinho por causa da loira do banheiro, foi? — De quem? — Do cara ali. — Milles apontava com o queixo para Theodore. Movendo o ombro pra afastar do abraço de seu amigo, Gabriel suspirava baixo. — Tive uma pequena discussão com Theodore, e o amigo dele veio pra cima. Nicolas sempre tenta me afastar do Theodore. — Por acaso Theodore é tão gente boa assim? Você sempre está com ele. — Ele é meu amigo, é claro que é gente boa. Deveria dar uma chance de conhecê-lo melhor. Milles fizera uma ligeira careta, sem desviar os olhos do assistente. — Bom... Desde que você não vire gay também, não me importo se continuar sendo amigo dele. Mas não acho que o nosso capitão pense da mesma forma. De certa forma, Milles tinha razão. Nicolas não pensaria da mesma forma. Gabriel sentira naquele soco uma raiva guardada somente para ele. Desde o dia em que se conheceram o seu capitão não lhe dera um sorriso se quer. Nem bom dia dava quando cumprimentava Theodore nas manhãs. Nada tirava da cabeça de Gabriel que o seu capitão poderia ter algum sentimento por Theodore. — Hein, Milles, você sabe se o capitão é como o Theodore? — Como assim? — Arqueando a sobrancelha em uma mensagem silenciosa, Gabriel aguardou seu amigo compreender. Milles suavizara sua expressão em seguida — Aliás, você não vai acreditar nisso. — No quê? — Ontem, depois de sairmos da coordenação, tentei ir atrás do tampinha pra acertarmos as contas. Eu disse que se te deixasse em paz eu também não encrencaria com ele, mas aí vem a bomba. — Milles aproximou-se de Gabriel para então lhe sussurrar — O capitão assumiu que também é gay. — O quê? O grito de Gabriel ecoara por todo o ginásio, fazendo os demais jogadores se virarem para os dois amigos. Milles dera um empurrão na cabeça de Gabriel, que se desculpara pela reação exagerada. — Ele disse isso com todas as palavras? Que era gay? — Na verdade disse que ele e Theodore não tem vergonha em dizer que gostam de outros caras. Isso deve ser uma afirmação, não? Os olhos castanhos voltavam para Theodore, que abria um singelo sorriso para Nicolas que havia retornado do vestiário com o uniforme de educação física. Os dois conversaram e logo se separaram, tendo o loiro indo se sentar em um banco pra fazer alguma anotação no seu caderno. E como de costume, Nicolas entrava em quadra pra se aquecer fuzilando Gabriel e Milles com seu típico mau humor. Isso significaria que Nicolas tinha realmente ciúmes de Theodore com Gabriel? Por isso seria tão arisco, tentando fazê-los se distanciarem à todo custo? Gabriel imaginava que o único motivo seria a sua amizade com Sadie, que já fora explicado em seus primeiros dias de aula. Mas agora já não tinha tanta certeza. Um sorriso malicioso surgia no rosto de Milles, o que causara diversos tipos diferentes de arrepio nas costas de Gabriel. — Parece que o marido é bem ciumento com sua esposa. — Vamos lá meninos, hoje iremos treinar o recepção de vocês. Em formação! Depois do chamado do técnico, Gabriel não tivera nenhuma chance de questionar o seu amigo sobre o motivo daquele sorrisinho b***a na cara. Certamente iria aprontar alguma coisa só pra provocar Nicolas. Se fosse isso, Gabriel queria ficar de fora. O treino de vôlei fora puxado para os jogadores, que ficaram cinco dias livres para estudarem para as primeiras provas. Com poucas restando, os treinos retornaram preparando o time para as eliminatórias da semana seguinte. Gabriel encontrara ali uma forma de tentar livrar sua mente dos pensamentos que tanto lhe incomodaram nas últimas vinte e quatro horas. O que fora uma falha total, pois enquanto esperava na fila para receber a bola, seus olhos fugiam para o banco onde Theodore estava sentado. E então seus olhares se encontraram. Ah, Theodore estava o assistindo treinar. Um sorriso surgia nos lábios de Gabriel, sendo imitado por Theodore. Pobre coração que acelerava em ver o loiro o observando e lhe dirigindo um sorriso tímido. Gabriel ainda erguera a mão acenando, porém o outro não retribuíra. Theodore olhara em volta antes de erguer a mão e acenar de volta, tímido e escondido. Mordendo o lábio inferior sem esconder a felicidade de estar de bem com seu amigo, Gabriel alargava seu sorriso deslumbrante sem desviar sua atenção. Percebera que quanto mais fitava o ômega, mais ele ficava envergonhado tentando desviar os olhos para outro canto. Porém sempre espiando para verificar se Gabriel ainda o olhava. Quando chegara a sua vez o alfa se posicionara no fundo da quadra observando o professor levantar e cortar a bola. Vindo em sua direção, Gabriel flexionava os joelhos esticando os braços para frente, sentindo a bola bater em suas mãos. A jogara o mais alto que conseguia do outro lado da rede, impressionando os demais jogadores com a boa jogada. Retornando para o final da fila, Gabriel voltava a olhar para Theodore, erguendo o punho fechado celebrando sua pequena vitória na atividade. O loiro ria balançando a cabeça, cobrindo o sorriso com a mão tentando disfarçar parte do rubor que lhe tomava a face. Sim, era exatamente aquilo que Gabriel queria. Era muito melhor ter o sorriso de Theodore para si, do que o vendo lhe ignorar propositalmente. Se sentia mais vivo e feliz de ter seu amigo de bem consigo. Ainda bem que insistira em resolver o m*l entendido. Tudo bem, não chegava a sorrir da mesma forma como sorrira para aquela garota na cafeteria, mas Gabriel conseguia fazê-lo se sentir envergonhado e isso era um verdadeiro prêmio. Para si era o suficiente por ora. O treino seguira seu cronograma com o time dividido em dois para uma partida treino. Dessa vez Gabriel ficara no mesmo time que Nicolas, tendo de trabalhar em conjunto com o baixinho levantando algumas bolas para si. Fora um alívio que o alvo da fúria do capitão daquela vez seria Milles, que se encontrava no time adversário. Gabriel poderia ter uma folga de acompanhar seu capitão tão irritadiço, e podendo rir um pouco em assistir seu amigo suando a camisa pra tentar bloquear os cortes de Nicolas. Quando a partida findara, o técnico reunira todo o time na quadra olhando um folheto em mãos, virando-o para os rapazes. — Fui comunicado essa manhã de que a escola pretende criar um festival para promover nosso time nas eliminatórias. — Os atletas logo começaram a cochichar empolgados, precisando o professor soar o apito para retomar suas atenções. — O principal evento desse festival é uma espécie de concurso de beleza, e foi pedido que nosso time escolhesse um jogador para participar. — Concurso de beleza? Desde quando a gente se importa com rostinhos bonitinhos? — Também achei estranho, mas aparentemente foi o evento mais votado dentre os estudantes. — Aposto que foram as cocotinhas do Milles, que querem ver ele em cima de um palco. — Então minha lista de contatinhos está mais cheia que a sua, Thunder! Os risos entre os garotos dispersavam suas atenções, e mais uma vez o professor tivera de calá-los com o apito. — De qualquer forma a nova diretoria está bastante ansiosa pra promover nosso time e a escola ao mesmo tempo. Por isso vamos jogar de acordo com as regras. Então... Quem vai representar nosso time? — Não deveria ser Milles? — É o único com chances de ganhar... — Sinto muito, já fui abordado pra representar minha turma. — Que injusto, assim a gente não ganha. — Que tal o Gabriel? Ele tem feito sucesso com as garotas também. Os olhares recaíram sobre Gabriel, que até então estava abraçado à suas pernas completamente alheio ao assunto. — Por que estão me olhando? — Não quer entrar no concurso pra nos ajudar não? — Não. — Respondera categoricamente, causando uma onda de reclamações por parte de seus colegas. — Qual é! Está com medo de sua namorada brigar com você? Aposto que ela também apoiaria sua entrada no concurso. Gabriel cerrara o cenho em confusão. — Mas eu não tenho uma namorada. — Não adianta negar, todo mundo já sabe que ficou com a irmã do Milles. Erguendo os ombros desconfortável, Gabriel olhara para o banco onde Theodore estava. Ficara aliviado em notar que o rapaz estava com fones de ouvido escrevendo alguma coisa, sem prestar atenção na conversa. Então voltara a olhar para seus colegas, abrindo um sorriso amistoso. — Não estou namorando a Sadie, parem de falar besteiras. — Isso não importa, quero saber se vai entrar no concurso ou não. — Repreendia o técnico já sem paciência. Gabriel não se importava com atividades como aquelas, então não queria participar. Só que haviam vários pares de olhos pedintes, implorando para que aceitasse e desse alguma chance do time vencer. Se recusasse, provavelmente o time o culparia por alguma coisa, o que seria tão irritante quanto aceitar. No final das contas, Gabriel aceitara o convite recebendo os abraços de seus colegas. — Muito bem, depois vá conversar com a comissão que tá organizando o evento. No mais estão dispensados, continuamos amanhã. Dispensados do treino, os jogadores se levantavam indo para o vestiário. Gabriel permanecera sentado no chão suspirando pesado já arrependido de ter que participar de uma atividade tão exaustiva. Concursos de beleza parecia algo tão superficial, que somente as garotas gastariam tempo apreciando. Ser o centro das atenções, sendo obrigado a parecer bonito sem que se importem com o tipo de personalidade que ele tinha... Gabriel definitivamente não conseguia se animar. — Cansado, senhor representante? O toque da garrafa gelada em seu pescoço quente assustara Gabriel, virando a cabeça para trás encontrando aquelas presas à mostra em um sorriso angelical. Segurando a garrafa para beber um gole, o moreno suspirava pesado ao se levantar do chão. — Só arrumam pra minha cabeça. — Pode ser divertido, não acha? — Participar de um concurso? Milles também vai participar, provavelmente 70% dos votos vão pra ele. Theodore rira concordando com a cabeça. — Vale a pena tentar do mesmo jeito. Até eu vou participar. Bebendo um gole da água, Gabriel o cuspira imediatamente quase se engasgando. Sua reação divertira Theodore, que ria baixo. — Você? Por quê? Mas como? — Fui requisitado para participar. Talvez por ser o seu amigo eu tenha me tornado popular. — Há! Até parece. Eu é quem deveria dizer isso, já que sou novo por aqui. — Não é mais novo, já é de casa. Está no time de vôlei, anda com os descolados, as garotas já o colocou na lista dos meninos mais bonitos da escola. Gabriel não escondera o sorriso. — Está bem informado sobre minha reputação, por acaso está me espionando? As pontas das orelhas de Theodore se avermelharam, tendo o loiro virando a cabeça pra fugir do seu olhar. — Claro que não. A conversa logo fora interrompida com a chegada de Nicolas com seu olhar vazio e sonolento. Com uma toalha em volta do pescoço, segurando as duas pontas, o capitão fuzilara Gabriel com o olhar. — Parece uma sombra que fica perseguindo. — Olá capitão. — Sem brigas. — Pedira Theodore, dando um leve cutucão no braço do melhor amigo. — Já não basta o que você aprontou ontem. — De nada! — Já disse que não te pedi ajuda. Pare de ficar arrumando briga sem sentido. Nicolas não respondera, apenas revirou os olhos se mantendo do lado de Theodore. Gabriel guardara aquela informação, provavelmente os dois amigos teriam discutido sobre a briga do dia anterior. A chegada do capitão era um claro sinal de que Gabriel não poderia ficar sozinho com o ômega. Sinal esse que fora devidamente, e orgulhosamente, ignorado pelo atleta. — Então, sexta temos prova de história, não é? — É a última desse trimestre. — Afirmava Theodore. — Podemos estudar juntos amanhã depois do treino? Percebi que você é bom nessa matéria, enquanto eu sou deplorável,. Os olho claros de Theodore ganharam um brilho ao mesmo tempo que o sorriso tímido surgia em seus lábios. Ele tentara conter sua euforia, apesar de ser nítido, fingindo ser um convite normal vindo de um amigo. Gabriel achara aquela reação adorável. — Por mim tudo bem. Podemos nos encontrar na biblioteca então. — Marcado então. — Bielzinho, por que ainda não foi se trocar cara? Oh... Foi m*l, não vi que estava m*l acompanhado. A quarta presença fizera Nicolas revirar os olhos e Theodore encolher os ombros. Gabriel dera um passo para o lado parecendo dar espaço para Milles, porém sua intenção fora dar um leve afago nas costas de Theodore para acalmá-lo. Os dois rapazes trocaram olhares antes de Gabriel sorrir para o seu amigo de time. — Estava falando com Theodore sobre o concurso. Mas você também não se trocou ainda. — Eu ia, mas vi vocês conversando e pensei que poderia precisar da minha ajuda de novo. Milles espreitava os olhos para o capitão, que por sua vez bufara se mantendo em silêncio. Uma atitude um tanto quanto estranha, percebia Gabriel, já que estava acostumado em ver os dois discutindo feito dois cães nervosos. — É uma conversa amigável, apenas isso. — Então eu vou indo Gabriel — Avisava Theodore, prestes a sair. A gente se vê depois. — Espera, então está marcado na biblioteca, certo? Theodore corara e assentira com a cabeça, sorrindo belamente para Gabriel. Milles notara a interação e então começara a rir apontando para o loiro. — Qual é a graça palhaço? — Questionava Nicolas irritado. — Tu ta afim do Biel. — Ria Milles continuando a apontar para Theodore. O loiro paralisara no lugar, ficando pálido e sério por seu segredo parecer ter sido revelado pela última pessoa que deveria saber. Gabriel arqueara a sobrancelha pro amigo. — Mas de novo essa bobagem, Milles? — Não, não, olha a carinha dele. Eu estou certo, ele tá afim de você, Biel. Virando a cabeça para o amigo, Gabriel percebia o olhar vidrado de Theodore. Uma reação estranha percebia o alfa, principalmente pelo outro desviar os olhos e baixar a cabeça sem dizer uma palavra. Sua reação apenas aumentava a risada de Milles, que batia palmas todo alegre. — p**a que pariu! É sério? Hahahaha. — Por que raios o Theo iria gostar do seu amigo? Ele tem bom gosto. — Ah tampinha de garrafa, não adianta tentar proteger a sua esposa que está doida pra pular a cerca. Gabriel ainda estava surpreso fitando Theodore, que não ousara lhe olhar nos olhos. Nunca havia pensado na possibilidade de seu amigo gostar de si. Na verdade, imaginava que havia uma linha traçada entre eles, limitando-os de se aproximar de maneira a permitir que algo assim acontecesse. Ora essa, Theodore pedira que não o fizesse se apaixonar. Foram essas as suas palavras no dia anterior, na enfermaria. Isso não deveria significar que ele não gostava? Duvidava muito que Theodore estivesse gostando de si. Não poderia ser. Não poderia. Não fazia sentido. Eles eram dois garotos. Dois homens. Não deveria, certo? Então... Por que seu coração batia tão acelerado, como se uma onda de felicidade inundasse o seu peito? Porém o ômega soltara um riso nervoso, respondendo com a voz trêmula. — Isso é um mau entendido. Gabriel é apenas um amigo. — Não é não... Tá escrito na tua testa que tu quer ser fodido pelo Biel. Olha isso, ele tá ficando mais vermelho! Uaaau, não sabia que tinha pensamentos tão sujos, pequeno Theo. Nicolas intervira empurrando o ombro de Milles. — Está passando dos limites, seu pedaço de bosta. — Não sou eu quem está passando dos limites, seu hipócrita. Veja só a carinha da sua esposa, está todo envergonhado... Com certeza tem sonhos eróticos com Gabriel. A mente de um certo alfa se encontrava em uma verdadeira bagunça. Theodore sonhava com ele? Que tipo de sonho? Por quê? Será que realmente gostava de si? Não... Theodore não iria gostar dele. Os dois tinham uma amizade como qualquer outro. — Está enganado, Milles. Gabriel é apenas amigo, nada mais. Como seria uma facada no peito? Seria igual a sensação que aquelas palavras causaram em Gabriel? — Aposto que quer ser beijado pelo Biel — Milles continuava provocando, sem que a diversão desaparecesse de sua face. — Aliás, me diga, como é beijar um cara? — Por que, tá a fim de beijar o Theo? — Estou apenas curioso — Milles erguia as mãos em sinal de rendição. — Aposto que deve se imaginar beijando vários caras... — Não. Eu não imagino — Respondia Theodore erguendo os ombros com coragem. Aos poucos a cor voltava para seu rosto, parecendo ter controle de sua consciência, ao contrário de Gabriel — Não beijaria qualquer boca. — Oh veja só ele ainda é exigente. Diga, quem mais você já desejou beijar, pequeno Theo. — Vamos embora Theodore, não dê palco pra palhaço. Nicolas segurara o braço do amigo tentando puxá-lo, porém Theodore permanecera no lugar encarando Milles de volta sem afugentar. — Você com certeza nunca fez parte da lista. — Então tem uma listinha... Que fera indomável. Milles ameaçadoramente aproximou-se de Theodore, criando uma disputa de olhares entre os dois. Nem Nicolas e nem Gabriel conseguiam acompanhar a conversa daqueles dois, cujas entrelinhas eram carregadas de ofensas um para o outro. — Por que se importa? Está com medo de que eu seduza o seu amigo? — Apenas estou me perguntando como você se sentiria se um outro cara viesse e te beijasse do nada. Acho que isso iria te ensinar o quão perigoso você é. — Perigoso? Eu? Por que está com medo de também gostar de homens? Ou... De ficar afim de mim? Pela primeira vez Gabriel via Theodore revidar Milles daquele jeito, peito a peito de queixo erguido. Sem medo, sem fugir, apesar da constante tentativa de Nicolas puxá-lo para irem embora. Só que infelizmente a ousadia do loiro parecia enfurecer Milles. — Deve se achar irresistível, hein Theodore. Mesmo que me beijasse nunca eu correria atrás da sua b***a. — Tente. Milles detestava ser desafiado, Gabriel sabia disso já que seu amigo sempre fazia questão de mostrar que era bom em tudo. Fazer alguém perder o desafio elevava sua moral e o fazia se sentir um verdadeiro vencedor. Por isso nunca fugiria. Não somente Gabriel sabia, como Nicolas também conhecia aquele lado do jogador alto. E ambos os rapazes se desesperaram quando Milles segurou o queixo de Theodore o erguendo, aproximando os rostos prestes a beijá-lo. Um beijo que não seria afetuoso. Não haveria desejo por nenhuma das partes. Apenas um querendo derrotar o outro. Ainda assim, Gabriel sentira aquela sensação estranha banhar seu coração. Seus olhos castanhos ficara frios e toda a felicidade de outrora ficara de lado para dar lugar à cólera que surgia repentinamente. Não queria que Theodore fosse beijado na sua frente. De maneira alguma. Imediatamente Gabriel fora atrás de Theodore, cobrindo sua boca com a palma da mão e lançando os olhos frios para o seu amigo alto. Milles erguera os olhos para Gabriel, sentindo um arrepio na espinha diante da atmosfera tensa que pairava o alfa novato. Usara força demais, puxando Theodore a se encostar em seu peitoral mantendo-o preso, sem libertar sua boca. — Não ouse fazer isso, Milles. — Qual é? Acha mesmo que eu ia cair de joelhos pra ele? — Não me faça repetir. Milles engolia em seco. Parecia ver um assassino na sua frente, prestes a apontar a faca no seu pescoço para decepá-lo friamente. Entretanto o jogador não perderia a compostura como da última vez, abrira um sorriso ladino como se brincasse com a situação. — Estava apenas curioso pra saber como ele se sentiria em ser beijado por um cara que odeia, nada demais. — Ah, então você quer saber como é? — Rosnava Nicolas ao soltar o braço de Theodore para fitar Milles. — Tudo bem, te farei entender como é. Sem espaço para reações, Nicolas aproximou-se de Milles retirando a toalha em torno de seu pescoço para jogá-la em volta do pescoço do loiro alto. Segurando as duas pontas da toalha o capitão fizera força para puxá-la, obrigando o outro a se abaixar para que seus rostos ficassem na mesma altura. E assim, tão ligeiro quanto possível, os lábios de Nicolas se encontraram com os de Milles em um singelo e demorado selar. A surpresa não fora apenas do jogador beijado, como também dos outros dois que arregalavam os olhos ficando boquiabertos pela atitude tão repentina. Nicolas era alguém vingativo quando tinha energia. Certamente havia muita vontade de esmagar Milles pelos dois anos que se conheciam e da constante briga que tinham. Então não se importaria de esmagar a consciência do rapaz ao brincar um pouco com ele. Certamente Milles pensaria duas vezes antes de mexer com os dois amigos gays novamente. Os lábios de Nicolas estavam úmidos abraçando os de Milles com certa força. Entreabrindo os lábios ele passara a ponta da língua sobre o lábio inferior do mais alto, sugando-o suavemente e então mordiscá-lo com força a ponto do gosto de ferro entrar na boca do capitão. Milles não respondia, nem mesmo se quisesse poderia fazê-lo. Nicolas segurava com força a toalha, mantendo-o preso naquela posição. Além disso, os lábios macios e úmidos do capitão sugavam dos seus com provocação. Não sabia o que fazer. Então, Nicolas se afastara abrindo um sorriso ladino digno de um vencedor daquela disputa. Soltando a toalha para retroceder alguns passos, o baixinho erguia o queixo petulante. — Agora sabe como é ser beijado por outro cara. Espero que não tenha sonhos eróticos comigo, grandalhão. Nicolas deixara a quadra de vôlei com a vitória em suas costas. Theodore piscara algumas algumas vezes, logo virando-se para Gabriel despedindo-se silenciosamente antes de correr atrás do amigo. Já o moreno olhava para o próprio amigo, que limpara o filete de sangue escorrido em seu queixo com o polegar. Imaginando a confusão que estaria na cabeça de Milles, o puxou pelo braço para o vestiário antes que ele pudesse explodir e correr atrás de um certo baixinho para matá-lo.
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