Tudo resolvido

4123 Words
Os dois estudantes briguentos bufavam diante do silêncio da coordenadora da escola. A mulher de cabelos impecavelmente penteados e bem vestida tamborilava os dedos sobre a mesa, espreitando os olhos para os dois garotos surrados, que evitavam se olhar. — Quando começo a pensar que finalmente não os veria em minha sala, vocês fazem questão de aparecer. — Murmurava a mulher por fim, puxando uma pasta de capa escura para folear algumas páginas até que finalmente começasse a escrever algo nela — Bem na semana de provas. Então, qual o motivo da briga dessa vez? — Não suporto ele, isso serve? A mulher erguera os olhos friamente para Milles, o repreendendo silenciosamente. No entanto o loiro balançara a cabeça mantendo o sorriso ladino. — Então você irá bater todas as pessoas que não suporta? Devo avisar à polícia que quando se formar terão que lidar com você? Milles bufara revirando os olhos, e a coordenadora logo virara a cabeça fitando o outro culpado pela aquela briga. Nicolas não havia a encarado desde o momento em que entrara na sala e se sentara. Ficara mudo o tempo todo, engolindo o sarcasmo de Milles e esperando o castigo que receberia da coordenadora. Só que seu rosto estava prestes a ganhar um buraco de tanto que aquela mulher o encarava esperando. Parecia que poderia fazer aquilo o dia inteiro, até que o capitão desembuchasse o motivo da briga. Suspirando derrotado, ele a olhara de canto. — O que foi? — Quero saber o motivo da briga. Se há alguma coisa na escola que tenha causado isso, devo tomar as devidas providências, não acham? De braços e pernas cruzadas, Nicolas inclinou-se ligeiramente para frente. — Que tal ensinar aos novos estudantes sobre respeito por quem é diferente deles? — Há! Tá de s*******m com a minha cara. Professora, isso aí é ciúme, deveria proibir namoros na escola. Finalmente Nicolas se virou para Milles com um sorriso debochado em seu rosto. — E você irá sobreviver? Um galinha feito você seria o primeiro a quebrar a regra. — Então o motivo da briga foi por motivos pessoais? — Intervira a coordenadora, entrelaçando os dedos sobre a mesa. — Brigaram por causa de alguma garota que os dois gostam? — Professora, eu tenho bom gosto, assim como as meninas com quem eu saio. Esse aí nem de garotas gosta. Piscando algumas vezes, a coordenadora olhara de canto para Nicolas. — Se a senhora fizer um exame médico nas meninas que gostam do Milles, irá perceber que a massa cinzenta delas é defeituosa. Largando a caneta na mesa para apoiar os cotovelos sobre a mesa, a coordenadora tornara a lançar seu olhar frio sobre os dois garotos. Imediatamente eles se calaram, ajeitando-se na cadeira e tornando a se ignorarem virando o rosto para lados opostos. — Irei perguntar pela última vez, qual o motivo da briga? — Ele deu um soco no meu amigo primeiro. Só porque o Biel estava conversando com a esposa dele. A coordenadora, então, virara a cabeça para Nicolas. — Há mais pessoas envolvidas nisso? Engolindo em seco, o capitão negara com a cabeça tornando a cruzar os braços. Se mencionasse o nome de Gabriel não importaria que a peste do garoto também recebesse alguma punição, no entanto isso poderia afetar Theodore de alguma forma. E se a coordenadora visse o estado de seu amigo... Bem, no final de contas tudo se tornaria grande demais. Baixando seu tom de voz e os braços, Nicolas continuara a negar com a cabeça. — Eu que comecei, se tiver alguma punição aceitarei obedientemente. — Olha ele pagando de bom moço. A coordenadora tornara a escrever algo na pasta, a virando na direção de Nicolas lhe estendendo a caneta. — Os dois receberão a punição. Conversarei com o professor Marcos para discutir a situação. Por ora, receberão o primeiro aviso do ano. — Virando-se para Milles, a coordenadora espreitara os olhos — Já sabem, que com três avisos levarão suspensão. — Meu pai não vai gostar nada disso. — Murmurava o loiro. — Então é melhor começar a se comportar na escola, Mckenzie. Os dois garotos tiveram de assinar seus nomes ao lado do primeiro aviso de briga, e então foram liberados pela coordenadora. Nicolas se levantou saindo da sala ignorando por completo os demais presentes. Queria apenas voltar para a sala de aula, onde pudesse ficar sozinho e se acalmar. Mais tarde conversaria com seu melhor amigo, e então poderia resolver aquele problema. Já esperava que aqueles dois fossem ter alguma discussão por conta da foto, pressentira isso no instante em que a vira publicada na comunidade da escola. A primeira coisa que Nicolas pensara fora que seu melhor amigo ficaria de coração partido. De novo. Justamente para evitar tamanha confusão que havia dito pro ômega ficar longe do aluno novo. Se manter amigo da pessoa que gosta, é pedir para se apaixonar cada vez mais seguindo um caminho sem volta. Era questão de tempo até que Sadie pusesse as mãos no garoto novo. — Ei tampinha, a gente ainda não se resolveu! Parando no corredor, Nicolas virou-se para Milles. O seu maior problema era um certo alfa de um metro e oitenta que sempre aparecia nos piores momentos. Um irmão, e agora amigo, muito protetor. Rosnando baixo, Nicolas cruzara os braços petulante sem baixar a cabeça para o olhar intimidador do seu colega de time. — Quer voltar pra coordenação então? — Até quando vai ficar com essa atitude? Se liga cara! Tem alguma coisa contra o Gabriel? — Várias. Por quê? — Qual é? Vai me dizer que é ciúmes da sua esposa. — Não espero que você entenda, Milles. Gente como você, que adora pular de uma garota para outra achando ser o fodão, não tem capacidade de entender o que gente normal sente. — Tá tá, pinscher, continue a latir. Só deixa de morder o calcanhar do meu amigo e eu te deixo em paz junto com sua esposa. Uma veia saltara da testa de Nicolas com a súbita onda de raiva que vinha em sua garganta. Engolindo-a para evitar uma nova confusão, o baixinho se aproximara lentamente de Milles, fuzilando-o com o olhar. — Esposa aqui esposa ali. Está triste que a nova presa da sua irmã está todo amigável com o meu Theo? — Não encha a boca pra falar da minha irmã. — Oh... Então é você quem está com ciúmes do seu amigo e não ela? Pensei que era mais leal, mas vejo que é bem egoísta. — Não sou como você, Nicolas. Com os rostos aproximando-se ameaçadoramente, como dois cães prestes a brigar, os rapazes rosnavam um para o outro. — Exatamente Milles. Diferente de você e do seu maldito amiguinho, eu e Theodore não temos medo e nem vergonha de gostar de outro cara. — Arrumando sua postura para se afastar, Nicolas abrira um largo sorriso débil. — Não se preocupe com o teu r**o, ninguém quer te f***r. Sem dar chance de uma resposta, Nicolas dera as costas e seguira pelo corredor silencioso até a sua sala de aula. Deixado para trás, Milles rosnava alto bagunçando os próprios cabelos tentando conter sua fúria. — Baixinho maldito. 「 • • • 」 Dois garotos se depararam com a enfermaria completamente vazia. Theodore levara o seu amigo até uma das camas onde o sentara, logo indo procurar por algodão e soro. Gabriel não desgrudava os olhos de Theodore. Imaginava mil e uma forma formas de começar a conversar, sentindo que aquela seria a única chance de ser escutado. Havia notado que seu amigo ficava chateado com certa facilidade, tendo Gabriel de prestar mais atenção em suas palavras. Isso era algo que nunca se atentara. Nunca precisou medir suas palavras com os amigos que tinha. Sempre fora elogiado por ser educado com os mais velhos e com as garotas, sendo brincalhão e companheiro com os meninos. No entanto sua conversa com Theodore na noite passada comprovara que Gabriel nunca fora educado de verdade. Ele apenas queria agradar as outras pessoas, falando de um jeito que não as zangasse. Notara aquele pequenino defeito quando se vira sem saber o que dizer para Theodore. Não importa o quanto tentasse amenizar a situação, tudo parecia piorar. Era como se todas as escolhas de palavras fossem erradas. Quando se está encurralado daquela maneira, Gabriel apenas admitira a derrota e assumira seu erro. Naquele momento, sentado em uma cama observando Theodore molhar pequenas bolas de algodão no soro e se aproximando de si, o moreno tinha receio em falar. Só conseguia acompanhar o ômega loiro se sentar na cadeira na sua frente, estendendo a mão para limpar a ferida em seu lábio. Fazendo uma careta, virando o rosto com a ardência de sua ferida, Gabriel tentava não olhar tanto para o loiro. Theodore parecia tão concentrado em sua pequena tarefa, com as sobrancelhas cerradas parecendo bravo. — Para de se mexer, Gabriel. — Isso dói, não tem como controlar. — Não deveria doer mais do que levar o soco. Mesmo com tamanha braveza, Theodore tinha cuidado e leveza ao passar o algodão na ferida. Como uma pena suave passando na pele. Gabriel não resistira em continuar olhando Theodore, atentando-se em cada detalhe de seu rosto. Da última vez em que ficaram tão próximos assim, não teria prestado atenção aos detalhes no rosto de Theodore. Apenas fizera uma observação de que quando estava nervoso mordia o lábio sem perceber. E agora sentado ali na sua frente, pudera notar o seu semblante quando concentrado em alguma coisa. Era simplesmente hipnotizante. Percebendo o olhar intenso que recebia, Theodore ficara envergonhado e levemente ruborizado. Ainda assim ousara lhe olhar nos olhos arqueando a sobrancelha. — O que foi? — Nada, estou feliz que esteja aqui, só isso. Afastando-se para pegar uma pomada na mesa da enfermeira, tentando esconder o rubor de suas bochechas, Theodore organizava seus pensamentos. Voltando a se sentar na cadeira, pegou um pouquinho da pomada e estendera a mão passando sobre a ferida. — Não disse que queria me falar algo? O que era? — Desculpa. — Theodore erguera os olhos encarando os de Gabriel, tendo até sua mão parando de espalhar a pomada — Quando eu disse que não era a minha intenção te magoar, fui sincero. Baixando a mão sobre seu colo, Theodore suspirava. — Por isso Nico te avisou pra ficar longe de mim. Os outros irão achar que você é gay também, só por ser meu amigo. — Mas eu não me importo com isso. Theodore baixava os olhos, sorrindo sarcástico. — Não foi a impressão que tive. Disse que aquela foto foi uma brincadeira dos outros pra provar que não era gay, o que significa que foi na onda deles. Engolindo em seco, Gabriel se ajeitava na cama coçando a nuca. Como poderia refutar aquilo? Aceitara o desafio e beijara Sadie, imaginando que tudo ficaria na brincadeira daquela noite. Mas não havia se atentado à interpretação do desafio feito. Por que à cada momento parecia ter errado tanto na conversa da noite anterior? — Eles queriam que eu ficasse com Sadie, a nossa amizade foi apenas pretexto pra isso. O alvo deles seria eu e não você. — E se eles resolverem me tornar um alvo, pedindo pra você faça algo comigo... O que fará? Gabriel balançara a cabeça repetidas vezes, apoiando a mão no ombro do loiro. Sentira uma súbita necessidade de tocá-lo, como se dessa forma pudessem sentir a sua sinceridade. Como se fosse o suficiente para aqueles dois se conectarem. — Não o farei. Eu disse que é meu amigo, então farei meu melhor pra te proteger. Aquelas palavras soaram adocicadas aos ouvidos de Theodore, perdendo completamente o controle do rubor em seu rosto. Não somente as bochechas ficaram vermelhas como todo seu corpo parecia esquentar. Em especial o ombro esquerdo, onde uma certa mão estava pousada. Tendo de desviar os olhos para tentar se acalmar, Theodore afastara a mão de Gabriel temendo que ele sentisse as batidas desenfreadas de seu coração ou seu cheiro. Levantou-se rapidamente da cadeira fingindo guardar o soro e a pomada que havia pego. Só precisava se esconder por um tempo para se acalmar. Buscar ar fresco e se recompor. Levando a mão ao peito, sentia com nitidez as batidas aceleradas. Estava se apaixonando cada vez mais. A foto retornava em seus pensamentos. Theodore sabia muito bem que aquela poderia ser apenas o primeiro, de vários, desentendimentos. Ela gostava de Gabriel e não escondia de ninguém além do próprio alfa. Escolheria tais artimanhas para fazer a escola toda pensar sobre os dois estarem namorando, mesmo que Gabriel diga que não seja o caso. No final das contas um dos espinhos que se afundava em seu coração tinha o nome de uma Mckenzie. — Você... Gosta da Sadie? A pergunta que acompanhava seus pensamentos simplesmente escaparam de seus lábios. Rapidamente Theodore cobrira a boca assustado por ter dito em voz alta. Se antes seu coração batia acelerado por se apaixonar, agora era por puro medo. Não ousara fitar Gabriel. Permanecera de costas baixando a cabeça tentando esconder seu rosto com o boné. No entanto, mesmo tentando se esconder, Gabriel lhe respondera. E sua voz parecia estar muito perto. Pelo canto de olho, Theodore constatara que o rapaz estava em pé ao seu lado, inclinando-se em sua direção para olhá-lo diretamente. — Não. Não estou a fim dela. Apesar do alívio que sentia em ouvir aquelas palavras, Theodore ainda estava receoso. Mesmo assim retribuíra o olhar de Gabriel, em uma permissão silenciosa para que ficassem próximos. — Tem certeza? Ela é... Uma garota ômega muito bonita. Gabriel rira baixo dando um leve empurrão de ombro em Theodore. — Se for assim, então eu também estaria a fim de você já que te acho um ômega bonito. Pela segunda vez seu coração acelerava. Os olhos claros de Theodore se arregalavam estupefatos, e nada no mundo vinha até sua cabeça. Absolutamente nada. Desviando o olhar para a mesa, da qual se apoiara nela antes que suas pernas ficassem mais bambas do que já se encontravam, Theodore buscava algum ponto de calmaria. Engolia em seco, piscava algumas vezes, tentava organizar seus pensamentos enlouquecidos. Nada parecia adiantar. Havia perdido o controle de certa forma. — Não diga essas coisas, Gabriel. — Por quê? Falei algo errado de novo? Erguendo os olhos para os de Gabriel, o ômega sussurrava. — Alguém pode interpretar errado. O moreno cruzara os braços se virando de costas pra mesa, encostando o quadril nela. Inclinando a cabeça infantilmente, ele sorria. — Isso seria problema de quem ouviu. Eu disse que não me importo com isso. Quando se pensa em algo, temos consciência de que as palavras estão mantidas no silêncio da mente. Nada proferido ao mundo. Entretanto, Theodore havia perdido essa consciência desde o momento em que aceitara ouvir Gabriel naquela manhã. O aluno transferido disseram frases encantadoras para um coração carente. Theodore já estava apaixonado por Gabriel, sabia disso muito bem. No entanto se houvesse alguma chance de amenizar aquele sentimento, ele tentaria. Porque sabia que Gabriel não era como ele. Tentara usar o mau entendido como um exemplo prático do quão r**m seriam os dois ficarem próximos. Não dera certo, já que Gabriel insistia em manter a amizade, dizendo não se importar com os outros. E foi naquele momento que apenas pensara sobre si mesmo. Se ele continuasse daquele jeito... Theodore perderia o controle de seus sentimentos. Amaria aquele alfa na sua frente enlouquecidamente. Sozinho. O observando de longe. Segurando o próprio coração na mão. Seria melhor não se apaixonar. E então as palavras lhe escaparam dos lábios. — Mas eu me importo. — Respondera rapidamente. A seriedade em sua voz capturara a atenção de Gabriel, e os dois se encararam quando Theodore sussurrara — Por favor, não me faça me apaixonar por você, Gabriel. A sala da enfermaria repentinamente ficara silenciosa, como se dois garotos não estivessem por lá. Porém, Theodore e Gabriel se olhavam surpresos sem saberem o que dizer em seguida ao pedido. O primeiro a quebrar o contato fora Theodore, que baixara a cabeça mordendo o lábio inferior. Afastou-se da mesa pegando sua mochila e a de Nicolas, o loiro fugira de Gabriel depressa. — Vou indo na frente. Se sentir alguma dor, espere a enfermeira que ela te dará alguma medicação. Rapidamente o ômega deixara a enfermaria, restando apenas um moreno de olhos arregalados emudecido. Gabriel virou-se para a mesa percebendo um pequeno espelho sobre a mesma. Notara o pequeno corte no canto de seus lábios, onde recebera o soco de Nicolas mais cedo. Só que dessa vez não recordava da dor que sentira. Não. Não lembrava da dor e ardência. Mas do toque suavizado de Theodore, e todo o seu cuidado. Quando voltara a se olhar no espelho, Gabriel se surpreendia com o sorriso que despontava dos próprios lábios. Até mesmo naquele momento se dera conta de que o próprio coração batia acelerado. Havia apenas uma palavra que se repetia incessantemente em sua cabeça. Apaixonar. 「 • • • 」 — Ah! Me desculpa, Theodore! Estou muito atrasada? Theodore se mantinha encostado no muro da escola, arqueando a sobrancelha para a baixinha garota que se apoiava nos próprios joelhos. Assistira Lilian correndo em sua direção desesperada, já que fazia alguns minutos que o sinal da saída havia tocado. — Estava fazendo prova? — Aham. De português. Quando a professora pede pra fazer algum tipo de texto eu sempre me demoro. Mas tudo bem — Virando-se para o prédio da escola, a garota beta unia ambas as mãos em uma saudação — Vou tirar boa nota, amém. Rindo da garota, Theodore se desencostara do muro para seguir Lilian pelas ruas. Era um tanto quanto estranho ele ser visto com outra pessoa que não Nicolas. Ou então com Gabriel. Pior ainda com uma garota. Mesmo assim não chegava a ser desconfortável. Imaginava ser a semelhança entre ela e a pequena Lisa que Theodore sempre se lembrava. A garota baixinha parecia um anjo com sorriso inocente e pueril. Os olhos claros brilhavam como uma boneca nova. Até mesmo o tom de voz dela era calmo. Fofa seria a melhor definição. — É muito longe o lugar onde vamos? — Não, é bem pertinho. Aliás, você tinha algum compromisso depois da aula?— Questionava a garota virando a cabeça curiosamente para o loiro. Percebendo o arquear de sua sobrancelha, logo ela explicara. — Seu amigo disse que tinha treino. — Ah, não. Não tinha nada marcado pra hoje. Na verdade nem sei porque ele disse aquilo. Deveria ter perguntado à Gabriel sobre seu comportamento com Lilian mais cedo? No final das contas apenas deixara-o falar sobre a conversa da noite anterior. Respirando fundo escolhera não pensar no assunto. Não queria ter de lidar com os sintomas do amor na frente de uma garota. A cafeteria que Lilian levara Theodore era de fato perto da escola. Pequena e aconchegante, com tema dos anos oitenta tanto na decoração quanto nas músicas que tocavam baixinho. Os atendentes da pequena cafeteria usavam roupas características, deixando Theodore encantado com a energia do local. Os dois jovens escolheram uma mesa perto da janela, estando afastados dos demais clientes. O cardápio fora entregue para eles, e Theodore se via ainda mais deslumbrado com as diversas opções de café adocicado. Acabara escolhendo um com bastante chantily, nozes e um pouco de chocolate. Enquanto Lilian pedira um chocolate quente bem decorado com doces. — O que achou daqui, Theodore? Olhando em volta ele assentira com a cabeça abrindo um ligeiro sorriso. — Curti até. É a primeira vez que venho em uma cafeteria. — Imaginei. É da minha família. — Ria a garota diante da surpresa de Theodore. — Da sua família? Uau, tiveram uma boa sacada... — Escuta... Esses machucados no seu rosto... Você está bem? Theodore dera um ligeiro sorriso nervoso para a garota. Havia se esquecido completamente de que ainda estava machucado. — Vou ficar bem. Então, sobre o concurso... — Ah sim! Vamos ao que interessa, não é mesmo? Teremos um festival depois das provas a fim de promover uma torcida pro time de vôlei nas eliminatórias. Sabia disso? Theodore cruzara os braços negando com a cabeça. Apesar de ser assistente do capitão, ninguém havia lhe contado alguma coisa sobre esse festival. Questionava-se a possibilidade do técnico e do capitão saberem daquilo. Fizera uma nota mental de conversar com Nicolas mais tarde. — Por que querem fazer isso esse ano? No ano passado tivemos outro campeonato e a escola não se importou muito com isso. — Me disseram que esse ano a diretoria é nova, provavelmente foram eles que quiseram fazer algo diferente. De toda forma um comitê foi criado pra cuidar dos preparativos do festival, e eles resolveram fazer um evento principal para que os jogadores também participassem. — O tal concurso de beleza? — Isso! Por que raios alguém iria criar um concurso de beleza? Theodore jamais imaginaria que os estudantes da sua escola se importassem com tanto. Além disso, se os irmãos Mckenzie participassem de alguma coisa, já ganhariam o apoio dos próprios amigos... E no final das contas pouco importaria a opinião dos demais estudantes. — Deixa ver se eu entendi direito. Querem fazer o concurso pra que os jogadores do time de vôlei participem, promovendo as eliminatórias desse ano? — Parece que o novo diretor quer que um deles ganhe pra motivar os estudantes a irem ver as partidas. Tipo... Uma torcida organizada. — Não seria mais fácil criar um clube de torcida? Lilian soltara um riso balançando os ombros despreocupada. — Não entendo a mente dos adultos que adoram negociar em seus paletós engomados. A questão é que os professores acharam melhor que todas as classes participassem, não fechando o concurso só pros jogadores. Theodore reprimira o riso ao imaginar que os professores teriam visionado o possível resultado. Se somente os jogadores participassem, certamente Milles venceria. Não apenas por ser considerado bonito, mas por conta das garotas insistentes que sempre aparecem nas partidas pra gritar seu nome. Seria mais justo que outros entrassem pra competir à altura. Professores eram realmente assustadores. Um atendente se aproximara da mesa deixando os dois pedidos. Theodore e Lilian não se demoraram em bebericar um gole e sorrirem deliciados com o sabor doce. Ambos se entreolharam e riram com a coincidência. — Está bom o seu? — Perguntava Lilian com os olhos brilhando. — Uhm, bem doce. — Também prefere doce? Uaaaau, somos dois. Preciso de doce na minha vida. O jeito empolgado da garota falar fazia Theodore sorrir. Por um instante eles se esqueceram da conversa principal, compartilhando os seus doces prediletos. Lentamente a atmosfera fora se descontraindo, as desconfianças que formavam uma barreira se desvaneceu dando espaço para novas amizades. Quando suas taças ficaram vazias e o pequeno prato de bolo, da qual pediram pra experimentar, também se encontrava vazio, os dois adolescentes se encostavam na cadeira satisfeitos. — Voltando ao assunto, por que me escolheu pra representar a sua turma? Lilian erguera os olhos claros e se apoiara na mesa abrindo um singelo sorriso. — Porque eu gostei de você. Pego desprevenido, Theodore sentira vontade de esconder o rosto entre suas mãos. Parecia os ataques certeiros que sua irmã lhe dava, deixando encabulado o pobre ômega. Então apenas coçara a cabeça abrindo um sorriso envergonhado. — Como poderia? A gente não se conhece... — Não esperava que se lembrasse de mim — Ria Lilian se ajeitando na cadeira, baixando os olhos para as próprias mãos repousadas em seu colo — Na verdade teve uma vez, no ano passado, em que me perdi dos meus pais em um evento que teve aqui na cidade. E você me ajudou. Theodore encarava a garota perdido em pensamentos. Um estalo fizera sua memória trabalhar, recordando-se de uma pequena garota de cabelos curtos que estava prestes a chorar no meio da multidão. Fora em um dia que um circo havia chego na cidade, fazendo a maior festança ao ponto de visitantes das cidades vizinhas também assistirem ao espetáculo. O loiro havia ido com sua família, e percebera a garota perdida. Piscando para Lilian, percebia que era realmente ela. Apesar de agora seus cabelos estarem mais compridos e ela estar com um sorriso no rosto ao invés de lágrimas nos olhos. — Então nos reencontramos. — Parece destino, não é? — Ria a garota apoiando os cotovelos na mesa e o rosto sobre as mãos. — Obrigada por me ajudar daquela vez, foi como encontrar um grande irmão... Um irmãozão? Haha. Com aquele risinho infantil, Theodore parecia enxergar flores sendo emanado de Lilian. Não controlara, as mãos cobriram seu rosto envergonhado. Theodore definitivamente tinha um fraco por garotas fofas.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD