Se apaixonando na biblioteca

4061 Words
A semana passara se arrastando para alguém que ansiava a chegada da sexta-feira. Theodore acreditava que ter sido honesto desde o começo fora o melhor para evitar problemas, uma vez que Gabriel se afastou de si até o dia em que o professor passara o trabalho. Pelo o que pudera ver, Gabriel ficara próximo de Sadie Mckenzie e do time de voleibol da escola. Como esperado sua popularidade crescia na medida em que seu talento atlético era lapidado pelo técnico. O aluno transferido brilhava como o sol no verão, sob os olhos claros de Theodore. O brilho era tanto que só podia ser admirado de longe. Fora um tanto quanto desapontador, admitia Theodore, não ter sido capaz de desenvolver uma boa amizade com o alfa. Mas era bem melhor do que aguentar ele e Nicolas brigando como fizeram no refeitório duas semanas atrás. Parecia que sua rotina retornara ao normal até um certo professor unir Theodore e Gabriel como uma dupla para fazerem o trabalho. Aproveitando a oportunidade, o loiro fizera a pergunta que tanto lhe rondara os pensamentos nos últimos dias e a resposta lhe deixara um tanto quanto nervoso. Não. Nervoso não. Esperançoso. Gabriel havia dito que não se sentia incomodado com sua orientação s****l e nem com sua classe. A falta de reação como se não tivesse interesse no assunto fizera o coração de Theodore acelerar. Um garoto bonito como aquele, popular atlético e um alfa, conversou consigo normalmente sem se importar com os rumores. Não tinha como não ficar feliz com isso. Por esse motivo Theodore aguardou ansiosamente pela chegada da sexta-feira. Infelizmente não fora capaz de conversar com Gabriel nem sobre o trabalho. Todas as vezes em que fora até a quadra de vôlei entregar algum relatório pedido por Nicolas, percebia que o time treinava intensamente. Na quinta-feira, quase que Theodore falecera quando chegara ao final do treino e vira os rapazes tirando as camisas suadas. Mau tivera tempo de dar uma boa olhada, pois a vergonha em seu rosto o fizera desviar os olhos antes que alguém implicasse consigo. Mas fora capaz de ver um pouquinho. Um pouquinho... Uau. Gabriel tinha braços fortes e a barriguinha lisinha. — O que pretende fazer na aula vaga? Acordando dos devaneios, Theodore piscara algumas vezes ao lembrar que estava virado para trás conversando com Nicolas. Balançando a cabeça para dispersar o pensamento sobre um certo alguém sem camisa, abrira um sorriso ligeiramente falso para disfarçar. — Por que, você tem treino? — O professor de educação física já ficou sabendo da aula vaga e quer aproveitar o tempo para treinar. — Resmungava Nicolas se deitando na carteira preguiçosamente. O sorriso envergonhado desaparecia lentamente. Imaginara que Gabriel também não poderia escapar das garras do treinador, naquele caso. Uma ligeira tristeza lhe abraçava em pensar que as coisas não dariam tão certo assim como ansiava. Observara Gabriel a semana inteira e sua intuição praticamente berrava dizendo que o alfa não seria capaz de lhe dedicar um tempo para fazerem a atividade. Mesmo que tivessem dividido e fosse necessário apenas juntarem suas folhas de respostas, Theodore queria, e muito, que eles se encontrassem na biblioteca como esperado. Mas Gabriel não viera. Na sexta-feira encontrariam-se na biblioteca antes das aulas. Theodore ficou o esperando ansiosamente sendo frustrado. Apesar de que ainda tinha esperança de eles conversarem na sala de aula, mas Gabriel chegara atrasado e nem o olhara na cara. Então aproveitara a distração da aula para fazer o restante do trabalho. Pelo menos poderiam tirar alguma nota se entregassem. — Vai precisar da minha ajuda? — Questionava o ômega querendo afastar os próprios pensamentos. — Não, iremos jogar com um time já conhecido. E vai ser só um amistoso. — Hm... Nesse caso vou para a biblioteca. — Vai ficar lendo Crepúsculo, não vai? Theodore corara violentamente desviando o olhar em uma óbvia resposta, ocasionando em um suspiro do seu melhor amigo. — Pelo menos estará ocupando sua mente com alguma coisa. Te encontro na biblioteca ao final do treino então. Quando o sinal tocara informando o horário da troca de aula, os colegas de classe de Theodore logo se espalhavam pelo pátio da escola. Ele fora o único a se manter dentro do prédio, esperando o caminho ficar vazio para seguir calmamente os corredores. Não que estivesse fugindo de algum lugar, não mesmo. Apenas que seguir o caminho até a biblioteca em silêncio era prazeroso. Theodore sempre ansiava pelos livros que gostaria de ler entre as estantes, imaginando qual seria o mundo que invadiria na leitura do dia. Torcia para que a escola tivesse conseguido alguns exemplares da nova série de vampiros. Era um sucesso que só entre as garotas, da qual Theodore fora incapaz de ignorar. Ora essa, uma garota se apaixonando por um vampiro. A história tinha que ser fantástica! Era algo novo e excitante, uma vez que o amor e o perigo andam lado a lado. Onde houvesse a chance de acompanhar romances, Theodore estava lá. Diante de tamanha empolgação, ele chegara a saltitar em seu caminho. E quando a bibliotecária apontara a estante em que os novos exemplares foram guardados, faltou Theodore gritar de emoção. Para a sua sorte ficavam ao fundo da biblioteca. Tamborilando os dedos pelas brochuras, seus olhos claros liam rapidamente os títulos até encontrar o novo exemplar. — Que grande! — Exclamava o garoto ao olhar o tamanho do livro e o comparar com os outros dois anteriores. Não perdera tempo, sentou-se ali no chão mesmo com as costas encostadas na estante. Abrira as primeiras páginas do livro e começara a mergulhar no mundo de fantasia. Diferente da protagonista, Theodore não se imaginava sendo capaz de amar um vampiro. Mesmo sabendo que ele se esforçaria em não se alimentar do sangue humano, que ele fosse bonzinho, Theodore não conseguiria não sentir medo de ter sua vida em risco constantemente. Morreria na primeira batalha. Fim da história. Aqui jaz Theodore Moss. Contudo, se todo o perigo fosse tirado... Bem o romance até que seria interessante. Um garoto popular por manter-se afastado dos demais. Uma aura misteriosa que o rondava, envolvendo lendas antigas da cidade. Um homem forte ao ponto de arrancar uma árvore pela raiz.. Bem, isso seria exagerado, imaginava Theodore. No final das contas o que lhe importava era o fato de se apaixonar por um homem que parecia fraco quando era forte. Forte o suficiente para lhe proteger. Ah, certamente essa ideia agradava Theodore. Suas bochechas, inclusive, ficavam ruborizadas quando se imaginara nos braços de um sujeito sem rosto, mas forte. Sua mente traiçoeira logo tratara de resgatar a visão de um certo alfa sem camisa, imaginando o mesmo abraçando Theodore por trás... — Parece uma leitura interessante — Assustando-se com a voz baixa, mas próxima, Theodore batera a cabeça na estante — Você está bem? — Estou bem, foi só um susto. Theodore erguera os olhos claros encontrando Gabriel apoiado nos joelhos, lhe encarando preocupado com a mão estendida para tocar em sua cabeça. Estando na última fileira de estantes próximo à janela, o brilho do sol e a cortina branca esvoaçante criavam um cenário angelical em torno do aluno novo. Oh, certo. Parecia um anjo, e não um vampiro. Desviando os olhos sentindo as bochechas queimarem em rubor, Theodore tateava o chão até encontrar o livro. O abrira rapidamente procurando a página em que havia parado a sua leitura. — N-Não deveria estar no treino? — Talvez eu devesse, mas resolvi te procurar. Erguendo a cabeça rapidamente, Theodore percebia que Gabriel se sentava ao seu lado no chão mantendo uma certa proximidade entre eles. Indo para o lado e aumentando a distância, Theodore voltava a encarar o livro em mãos. Ainda estava chateado pela sua ausência mais cedo. — Por quê? Precisa de alguma coisa? — Temos um trabalho de história para fazer, não é? Somos uma dupla. Piscando algumas vezes Theodore concordara com a cabeça em seguida. Com um semblante confuso, e levemente indeciso, o loiro lhe entregava as palavras sussurradas. — Eu já fiz. Os olhos castanhos de Gabriel se arregalavam em surpresa. — Como assim? Quer dizer a sua parte, não? — Não, respondi todas as perguntas. Cruzando as pernas, Gabriel virou-se para Theodore. — Mas a gente dividiu o trabalho. Ah, ele estava com as sobrancelhas arqueadas. Com certeza parecia irritado. Theodore sentia seu coração acelerar de medo. Não medo de Gabriel, mas medo de tê-lo irritado. — Não tem problema, você parecia ocupado com o time. Ouvia-o suspirar pesadamente. Theodore baixara os olhos para o livro, relendo a mesma linha algumas vezes. Até que desistira e deixara-se levar pela curiosidade, olhando Gabriel pelo canto de olho. O alfa estava com a cabeça encostada na estante, sendo um tanto quanto difícil interpretar seu humor. Teria sido r**m ele ter feito toda a atividade? — Se importa de revisarmos então? Não fico muito feliz em saber que você fez tudo sozinho. Inevitavelmente Theodore se surpreendia com aquilo. Seus dedos apertavam o livro ao tempo que seu coração acelerava desenfreadamente. Virando o rosto novamente para Gabriel, ele não conseguia esconder sua surpresa. Seria a primeira vez que algum garoto, além de Nicolas, que não deixaria todo o dever sobre suas costas só para evitá-lo? Fora esse pensamento que lhe rondara aquela manhã inteira lhe deixando completamente chateado. — Podemos? — Ahn? Ah... Sim. Mas... O material está na sala. — Eu vou pegar. Aproveito para trocar de uniforme. Gabriel não permitira o outro garoto de lhe responder, logo se levantou e saíra da biblioteca. Deixado para trás, Theodore marcava a página do livro com o indicador deitando a testa em seus joelhos abraçando suas pernas. — Isso é muito injusto... O coração batia acelerado. Estava ansioso. Quando finalmente acreditara ter dado conta de evitar algum problema, Gabriel agira fora do contexto. Quando pensara que o aluno transferido havia se encontrado com o próprio grupo e compreendido a linha limitante, ele resolvera ultrapassar. Por que estava falando consigo? Ora essa, por causa do trabalho. Por que estava se preocupando que Theodore fizera o dever por inteiro e sozinho? Ora essa, por ser gentil e educado. Isso era muito injusto. Levantando-se do chão seguindo para as mesas redondas em outro cômodo da biblioteca, Theodore buscara a mais afastada. Arrastando a cadeira e se sentando ali, aguardou o retorno de seu colega de classe. Deitando a cabeça sobre os braços, cobrindo parte do rosto não conseguia controlar o rubor de sua face. Mesmo piscando os olhos, a imagem de Gabriel usando o uniforme de educação física agachado na sua frente, com a mão estendida e o olhar preocupado lhe surgia na mente fazendo seu coração acelerar desesperado. Esperava que aquilo não acontecesse. Por alguns minutos rezara aos céus que não acontecesse. Não com aquela pessoa. — Pronto, aqui está. Peço desculpas por ter mexido em suas coisas. Piscando lentamente, Theodore ouvia a voz de Gabriel com atenção, decorando seu tom e suas palavras. Erguendo a cabeça e se arrumando na cadeira, sorrira da melhor maneira que poderia. — Está tudo bem, podemos começar? Puxando o caderno e o livro de história, Theodore foleara as páginas e entregara as folhas dos exercícios ao colega. Evitou ao máximo de olhá-lo ou prestar atenção em qualquer movimento seu. Até mesmo arrastara sua cadeira aumentando a distância entre eles, temendo que seu coração lhe dedurasse. Theodore queria muito se apaixonar. Era ansioso para viver o amor no colegial. Mas não se permitiria encantar-se por Gabriel. — Está muito longe. Theodore congelara. Não o olhara, tampouco respirava tranquilamente. Forçando-se a abrir um sorriso mascarado, continuou a fitar o livro de história. — O livro? D-Desculpe, vou deixá-lo ali — Dissera Theodore empurrando o livro até ficar no meio da mesa, ideal para os dois lerem. — Não. Você está muito longe. Gabriel puxara a cadeira de Theodore para perto de si, diminuindo toda a distância entre eles. Quando os olhos claros e as bochechas rosadas foram direcionadas para si com surpresa, o garoto alfa apenas sorria gentilmente. — Se ficar muito longe teremos de falar alto na biblioteca, não é mesmo? Engolindo em seco, Theodore torcia para que de maneira alguma ele se apaixonasse pelo aluno transferido. Era um verdadeiro desafio não se apaixonar por Gabriel Jones. Principalmente quando ele estava tão perto ao ponto de sentir seu perfume amadeirado, ou então de ouvi-lo suspirar enquanto seus olhos castanhos passavam pelas linhas do caderno. Principalmente quando era simplesmente impossível não ficar olhando-o tão de perto, sem conseguir controlar seu coração de bater tão acelerado. Era simplesmente impossível. Theodore sentia vontade de se mexer à todo momento mesmo que quisesse permanecer parado. Sua nuca coçava, sua perna adormecia, sentia a b***a adormecer na cadeira. Tudo incomodava. Não... O que incomodava era a presença do alfa lendo suas respostas com tanta atenção e proximidade. O que mais lhe perturbava a mente era a incapacidade em não conseguir evitar de olhá-lo. Queria observá-lo. Theodore rendera-se ao desejo. Começara a observá-lo pelo canto dos olhos, e quando sentira a área livre, passara a encará-lo descaradamente. Prestara atenção em suas sobrancelhas medianas e escuras, bem delineadas para um garoto. Os olhos escuros, que com a claridade podia notar o tom acastanhado. Sua boca fina e rosada... Queria beijá-lo. — Você realmente fez as atividades muito bem feitas... Que respostas completas. Desviando o olhar rapidamente sentindo seu rosto pegar fogo, Theodore tentava focar em qualquer outro ponto que não naquele garoto ao seu lado. — B-Bem é o esperado... Não tem motivos para ser preguiçoso com uma atividade dessas. — Ah, mas essa aqui eu tenho um ponto de vista diferente, quer discutir sobre? Virando a cabeça para o livro cuja questão era apontada por Gabriel, Theodore inclinou-se para a mesa sentindo o garoto transferido fazer o mesmo ao ponto de suas costas encostarem no peitoral dele. Um toque ligeiro, nada comprometedor. Mas o suficiente para disparar um coração sedento pelo amor. Theodore relia a mesma questão algumas vezes, sem conseguir focar nela direito. O calor do peito de Gabriel crescia em suas costas, estava começando a suar de nervosismo. — P-Pode complementar a resposta se preferir... — Se estiver tudo bem por você... — Finalmente olhando para o loiro, Gabriel arqueava a sobrancelha — Você está bem? Seu rosto está todo vermelho... — É o calor. Está quente aqui, não acha? — Será que a janela está fechada? Afastando-se do aluno transferido, Theodore entregava as folhas de resposta e o seu estojo para Gabriel enquanto o outro verificava as janelas. — P-Pode complementar a resposta se quiser, eu não me importo. Assentindo ao pedido, Gabriel então se atentou na resposta do exercício silenciosamente. Uma grande vitória para Theodore, que aproveitou a chance para afastar sua cadeira buscando ar fresco na janela. O vento gélido batendo em seu rosto era simplesmente refrescante, parecendo uma brisa de verão quando se está na beira do mar. Um alívio de ter algo afastando o calor que era tão sufocante. A diferença era de que o calor vinha de uma pessoa e não de uma estação quente. Apoiando os cotovelos sobre a janela e observando os estudantes praticando esportes, Theodore mergulhava no silêncio calmante. Fechando os olhos para se acalmar, enxergava a imagem que vira no dia anterior de Gabriel sem camisa na quadra de vôlei. Seus dedos se fecharam em punho contendo o desejo de tocar algo que não lhe pertencia. Respirando fundo tentara esvaziar sua mente dos pensamentos tão perturbadores. A imagem de um abdômen fora substituído pela mão estendida e o olhar preocupante de momentos atrás. Theodore sorria sem perceber. — Seu sorriso é bem bonito. Assustando-se com a voz baixa direcionada para si, Theodore olhava para o lado encontrando Gabriel também apoiado na janela. — Como é? — Disse que seu sorriso é bem bonito. — Percebendo que o ômega estava se afastando, Gabriel o segurou pelo pulso. — O que há? Sempre está fugindo de mim. — Eu? Não estou fugindo... Temos uma atividade para terminar, não é mesmo? — Theodore... — É imaginação sua. Mantendo o aperto em seu pulso, Gabriel tornara Theodore refém do seu olhar. Não permitira que desviasse de si, nem que tivesse qualquer outro tipo de fuga. Mesmo aliviando o aperto em seu pulso e fazendo olhá-lo em seus olhos, não permitira a sua fuga. — Olha, não precisa fugir de mim como se eu tivesse sete cabeças. — Sendo bastante sincero precisaria sim, um bicho desse só quer dizer que vai me matar. Soltando um riso baixo, Gabriel tentara ficar sério novamente. — O que eu quero dizer é que não precisa fugir de mim. Não irei te julgar pelo o que você é. Desistindo de tentar se soltar do aperto no pulso, Theodore se mostrara atento às palavras de seu colega de classe. Mesmo assim Gabriel não o soltara. — Oh... É bom saber. — Ou será que você não quer ser o meu amigo? — Não, não é isso. Digo, não me importo de conversar com você e tudo mais, só que... — Não sou como os outros. Não quero que tenha medo de mim, quero apenas ser o seu amigo. Aquelas palavras soaram como música aos ouvidos de Theodore. Finalmente ele relaxara sob o aperto de Gabriel, escolhendo escutá-lo e aceitar que era sincero em cada palavra dita. Ainda que houvesse uma pequena sombra que guardava as memórias ruins daqueles que diziam a mesma coisa, mas que no final o traíam, Theodore iria escolher confiar, um pouquinho, naquele alfa. — Vamos terminar esse trabalho. Temos que entregar na próxima aula. Assentindo para finalmente libertá-lo do aperto em seu pulso, os dois garotos logo voltavam a se sentar e a preencherem a folha de resposta. Se havia uma tristeza por não terem se encontrado de manhã, ela não existia mais. A aula vaga concedera um encontro mais precioso para aqueles dois. 「 • • • 」 Você está aqui para ajudar Nico, isso mesmo, repetia Theodore em pensamento. Comprimindo os lábios e apertando os dedos, repetia a justificativa diversas vezes em todo o seu trajeto até a quadra coberta de vôlei no pátio da escola. No instante em que pisara ali dentro e ouvira os sons dos tênis contra o amadeirado, sua mente silenciou qualquer outra desculpa esfarrapada. Seus olhos foram direto para o jogador alto de cabelos escuros e uniforme de educação física, que dedicava toda a sua atenção para a bola no alto. Não deixara de sorrir no instante em que percebia o quão concentrado Gabriel era durante o treino. Silenciosamente o garoto loiro se sentara no chão, encostando suas costas na parede abraçando suas pernas onde poderia assistir ao treino. Theodore não se considerava um grande conhecedor de vôlei, apesar de ter lido algumas coisas à respeito para ajudar Nicolas com o time. Mas era fato que assistir os treinos era sempre prazerosa. Geralmente para ver seu melhor amigo agindo como capitão do time, ajudando seus colegas a terem bom desempenho em quadra. Agora havia mais um motivo para estar ali. E seus olhos não desgrudavam desse motivo. — A princesa chegou para escolher o seu mais novo pretendente. A voz repleta de malícia arrepiara a pele de Theodore. O sorriso desapareceu no instante em que o garoto alto de cabelos loiros lhe dirigia um sorriso zombeteiro ao ficar ao seu lado, fazendo questão de espalhar seu cheiro. Milles Mckenzie era alfa e irmão mais velho de Sadie, que estava no seu terceiro ano prestes a fazer o vestibular. Assim como sua irmã, ele era popular por seu carisma e fama de galã por sempre estar acompanhado de alguma garota ômega nas festas. Se Milles não beijasse uma garota em uma festa, alguma coisa estava errada. Theodore não respondera a provocação, tornando a assistir ao treino silenciosamente. — Ora, não me ignore. Estou apenas dizendo que entendo que aqui seja um excelente lugar para você escolher o seu novo marido. — Estou aqui apenas para ajudar Nicolas, Milles. — Ah certo, você já tem o seu marido, me esqueci desse detalhe. — O olhar fulminante que Theodore dera a Milles apenas aumentara sua malícia. Sentando ao lado do loiro, o jogador apoiava os braços sobre os joelhos e olhava para a quadra. — Você é fiel ao seu marido. Bufando, Theodore coçara a cabeça tentando manter a calma. Logo a mesma se fora quando a garota com saia curta e cabelos longos se aproximara do irmão. Virando a cabeça para o lado, Theodore evitava a todo custo olhar para aqueles dois. — Milles não está treinando ainda? — Estamos fazendo rodízio, logo entro em quadra. Por quê? — Está perdendo seu tempo sentado aí... — Os olhos de Sadie foram até o outro garoto ao lado, que já estava emburrado. — Oh... Não sabia que tinham se amigado. Milles olhou de canto para Theodore e então sorriu ao abraçá-lo pelo ombro. — Estávamos conversando sobre como o nosso time é constantemente observado. Parece que os melhores pretendentes se encontram aqui. — Me deixa em paz. — Retrucava Theodore empurrando o braço de Milles antes que seu cheiro ficasse impregnado em suas roupas. — Milles, você faz parte do time, não sabia disso? — Ah, parece que não me adéquo aos requisitos do garanhão aqui. Sou muita areia pro seu caminhãozinho. A risada repleta de malícia daqueles dois irmãos irritavam Theodore. Fechando o punho contendo a súbita vontade de dar-lhes um murro, tentou ao máximo em criar uma distância entre eles. — Sabe Theozinho, você deveria ir ver o time de futebol. Garanto que os garotos de lá adoram chutar... Uma bola. Baixando a cabeça sem dar uma resposta, Theodore apenas se arrependia de estar ali. E então uma bola de vôlei simplesmente acertara a testa de Milles, tão repentinamente. O grito do rapaz ecoara por todo o ginásio, tendo todos parado o que faziam para olhar Milles acariciando a própria testa. — Foi m*l, parece que minha mira é péssima. O olhar irritadiço de Milles sobre Nicolas criara uma tensão no ginásio. — Seu baixinho maldito. — Que foi? Tá doendo a cabeça? Deveria ir na enfermaria pra ver se os chifres ainda estão em pé. — Brincava Nicolas, se agachando para pegar a bola a deixando debaixo do braço. Theodore já temia que a situação perdesse o controle no instante em que Milles marchou para o centro da quadra agarrando a camisa de Nicolas e o erguendo. A troca de farpas entre os dois obrigara o técnico a interferir junto com os demais colegas do time, interrompendo por completo o treino. — Você está bem? A voz baixa e rouca sussurrada próximo de seu ouvido surpreendia Theodore. Virando a cabeça ele via a mão estendida pela segunda vez em sua direção, junto do olhar preocupado. — Estou bem, obrigada — Intervinha Sadie puxando o pulso de Gabriel e lhe dirigindo um sorriso infantil. — Apesar da bola daquele projeto de pessoa ter acertado meu irmão e depois a mim aqui no braço. — Deveria tomar cuidado então. O que veio fazer aqui? — Bem... Eu estava prestes a te convidar para sair... — Sinto muito, mas depois do treino devo ir para casa ajudar meus pais com algumas coisas. — Sorria Gabriel, voltando-se para Theodore. — Se levante. Piscando algumas vezes, Theodore logo segurou a mão que ainda era estendida para si. Sentira os dedos longos e quentes de Gabriel segurarem sua palma e lhe puxar para ajudá-lo a se levantar. — Eu to legal, não precisa se preocupar. — Quase que o capitão te acerta também. Ficar nesse lado do ginásio é perigoso, isso costuma acontecer com certa frequência. Theodore não conseguia responder diante da preocupação tão eminente naqueles olhos escuros. E mesmo quando Sadie rapidamente abraçara o braço do atleta o puxando para longe de Theodore, o loiro não fora capaz de desviar o olhar. — Está certo. Obriga... — Eu te acompanho até sua casa, Gabi! Gabriel desviou o olhar para a garota que sorria animadamente ao seu lado. Concordando com a cabeça silenciosamente, os dois se afastaram do loiro estando ainda abraçados. Observando as costas do alfa, Theodore acariciava a mão que há instantes recebia o calor e um aperto afetuoso. Suspirando ao baixar a cabeça, ele acariciava a própria nuca com pesar. — Isso é muito injusto... Por que teria que ser você?
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