História do passado

3004 Words
A família Mckenzie era muito conhecida naquela pequena cidade. Não seria para menos, uma vez que um pequeno garoto que sonhava em viajar pelo país crescera e tivera a ideia de criar uma rede de hotéis espalhado pelo território brasileiro. Mesmo que a prosperidade agraciasse a família Mckenzie, aquele homem – que um dia fora um garoto sonhador – não abandonou suas raízes no interior. Por ter tamanho prestígio carregado em seu sobrenome, Sadie fazia questão de manter a dignidade da família até na sua respiração. Pagasse o preço que fosse, nada poderia sujar o sobrenome. Dedicaria cada esforço seu para que a prosperidade advinda do sonho de seu pai apenas aumentasse. Justamente por visar um futuro brilhante, é que seus maquiados olhos castanhos recaíram sobre um alfa inteligente e dedicado que combinava exatamente com seu sonho. Gabriel Jones era o cara ideal para fazer parte do seu futuro. Sadie já havia namorado outros caras, mas nenhum deles parecia ter agradado a sua família. Quando seus pais torciam o nariz e mantinham-se em silêncio quando chegavam aos seus ouvidos os rumores de namoro da ômega, Sadie já compreendia que era o momento de terminar o relacionamento. No final do seu primeiro ano do ensino médio já se sentia frustrada por não saber exatamente que tipo de rapaz seria ideal para trazer em sua família. Não que seus pais estivessem lhe pressionando para namorar, muito pelo contrário incentivavam-na a estudar ao invés de paquerar. Porém ela queria correr em direção do seu objetivo de vida o quanto antes. E fora no meio dessa frustração que ela finalmente compreendeu o que chamou de sinal divino. — Tenho certeza de que os Jones serão capazes de nos ajudar por aqui. — Ouvira o pai dizer para sua mãe durante o café da tarde — Com eles na gerência, esse pequeno problema que tivemos será resolvido e esquecido. Nunca recebi um relatório r**m dos outros gerentes sobre esse casal. — Mas será que estão preparados para serem gerentes? Ela pode ser a chefe das camareiras, mas ele... É um cargo importante, meu querido. — Sim, sim, eu sei. Estou com grandes expectativas neles e comecei a motivá-los a fazer o melhor por nosso hotel. — Que comecem os mimos. O homem de cabelos brancos soltara um riso abafado e divertido ao olhar para a esposa ômega. — Ouvi dizer que o filho deles é bastante dedicado aos estudos, além de ser promissor. Ofereci uma bolsa de estudos para o jovem na mesma escola que nossas crianças. — Não acha que exagerou nisso, papai? — Questionava Milles, o filho mais velho, enquanto surrupiava um biscoito da bandeja sobre a mesa. — Parece que está subornando eles. — Tenho a esperança de que o jovem garoto possa ser uma boa influência para você já que ambos são alfas. Milles revirou os olhos mordendo o biscoito, preferindo não responder. — Para que possa colocar juízo na cabeça de meu irmão será necessário alguém que seja pior do que ele. — Cala a boca, pirralha. — Não me chame de pirralha, sou apenas um ano mais nova que você. — Pirralha. — Crianças, discussões sobre a mesa não é nada agradável. — Desculpa mamãe. — De toda forma, ano que vem o filho dos Jones entrará na escola de vocês. Quero que sejam educados e ajudem o rapaz a se acostumar com nossa pequena cidade. O pedido do pai fora simples. Sadie, na verdade, esperava que seu irmão cuidasse do assunto ao se amigar com o garoto, contudo Milles não dera tanta importância assim. Uma vez que imaginava que o garoto em questão seria um nerd baixinho com sardas, Milles já dispensara a ideia de ser amigo de um alfa fraco e chato. Sadie, de início, também torcera o nariz sobre a possível aparência do tal garoto. Isso logo mudara quando acidentalmente ela encontrara o seu perfil na rede social Orkut. Imediatamente seus olhos brilharam e seu coração disparou. Um alfa bonito, alto, aparentemente bastante popular já que seu perfil continha vários depoimentos. E o melhor de tudo... Seu pai o aprovava. Era sua única chance. Naquela noite, Sadie logo enviara solicitação de amizade ao rapaz e aguardou ansiosamente para conversar com ele. Demorara dois dias para que ele aceitasse conversar consigo e passasse seu MSN para Sadie, da qual ela imediatamente o adicionou e chamou para conversar. Aproximar-se de Gabriel Jones já era uma missão de sucesso, o próximo passo era fazê-lo se apaixonar por si. Tarefa essa que ela tentava arduamente desde o primeiro dia em que conversaram pela internet, e que até então não surtira efeito. Gabriel era um alfa difícil se comparado com seus ex’s. Sadie aproveitaria cada oportunidade que surgisse, principalmente quando notara sua proximidade com Moss. Sadie simplesmente odiava Theodore. Assim que o treino de vôlei terminou, Sadie agarrou o braço de Gabriel e fez questão de levá-lo para longe do garoto ômega. Tampouco se importara com a rusga de seu irmão mais velho com o capitão do time, ambos foram deixados para trás pela garota. Seu único objetivo naquele momento era manter Gabriel longe de Theodore. Sob o pretexto de levá-lo para casa, o alfa não teve escapatória. Teve de acompanhá-la pela rua ao final da tarde, com Sadie agarrada ao seu braço. Apesar de conversarem amigavelmente, ela notava que o rapaz tinha as sobrancelhas arqueadas como se pensasse em algo. Inclinando a cabeça para olhá-lo melhor, Sadie cutucou o braço do rapaz. — Há alguma coisa errada? Parece preocupado. Gabriel a olhou por um instante e então engolira em seco antes de desviar o olhar e suspirar. — Apenas me perguntando o motivo de sua briga com Theodore. A mera menção do nome do ômega fizera a garota desfazer o sorriso e dar lugar à uma carranca. Fora sua vez de suspirar pesado, mas de maneira alguma ela soltara Gabriel do abraço. — Aquele moleque é mau carácter. Assanhado e sem vergonha. Surpreso com as palavras de Sadie, Gabriel pareceu mais interessado no assunto. — Por quê? Aconteceu alguma coisa? A garota soltou o braço de Gabriel para caminhar um pouco na sua frente. Virando-se de costas para o caminho, e de frente para o alfa, ela sorria docemente. — Ele destruiu o vida do meu querido primo. Aquela frase dita com sorrisos surpreendera o rapaz, que arregalou os olhos curiosamente. — Como assim? — Eu tenho um primo alfa que é da mesma idade que Milles. A gente cresceu juntos e ele era da nossa escola. Mas quando ele conheceu Theodore... acabou sendo expulso de casa. Gabriel simplesmente parara de caminhar. Percebendo ter jogado uma bomba sobre o rapaz, Sadie aproximou-se dele segurando sua mão delicadamente o convidando a continuarem seguindo caminho. — Por quê? O que houve para isso acontecer? — Não precisa saber disso, Gabi. Apenas saiba que não implico com ele sem um motivo. Theodore criou uma ruptura em minha família por causa do egoísmo dele. Ele merece todo o ódio dos Mckenzie. Gabriel parecia atordoado com a pequena história, apesar de não saber os pormenores. O restante do caminho para sua casa fora silenciosa, ele não ousara dizer uma única palavra. Apenas ouvia Sadie tagarelar sobre o quão divertido era sair com seus amigos, convidando-o para ir em uma festa no final de semana. O rapaz apenas aceitara o convite sem nem prestar atenção nas palavras de Sadie. Quando estava prestes a entrar no portão de sua casa, teve seu pulso segurado pela garota. Erguendo os olhos para encarar Sadie, ele percebia um leve sorriso medroso. — Não pense que estou sendo egoísta em pedir que se afastar de Theodore. Eu gosto de você, e por isso não quero que se torne a próxima vítima dele. — Não sei se estou te entendendo, Sadie. Até agora Theodore não me fez nenhum m*l, muito bem pelo contrário ele tenta fugir de mim. — Isso é bom. Por enquanto ele está com medo justamente por você estar comigo. Irei te proteger a todo custo, Gabi. Foi então que Sadie ficara nas pontas dos pés para beijar a bochecha de Gabriel, se virando para ir embora. O rapaz a assistia se distanciar sem saber o que pensar daquela conversa. Mas de uma coisa ele tinha certeza: haviam mais coisas naquela história do que ele imaginava. 「 • • • 」 Batucando os dedos sobre a mesa de estudos, Gabriel ponderava sem desgrudar os olhos do perfil de Theodore no Orkut. Havia enviado a solicitação de amizade que até então se mantinha pendente, o que lhe incomodava. Já havia dado uma olhada no perfil de Sadie, visitando o perfil de cada pessoa cujo sobrenome fosse Mckenzie. Havia encontrado um rapaz jovem e bonito que tinha amizade tanto com Sadie quanto com Theodore. Jake Mckenzie parecia ser bonito, mas aos olhos de Gabriel ele era a encarnação do capeta. Seus cabelos eram platinados e tinha olhos claros, sendo o típico garoto alfa que as meninas surtariam por puro prazer. A principio não concluíra o seu desgosto ao primo de sua amiga, mas ao ler os depoimentos mais antigos no perfil de Theodore, o desgosto fora concretizado como uma lei universal. “Se você acordar E Estiver Sendo Carregado Por Um Monte De FORMIGUINHAS.. ._/ (")/ -(_) /(_) ._/ (")/ -(_) /(_) ._/ (")/ -(_) /(_) Bem Feito! Quem manda VC ser esse DOCE de PESSOA...!!! te adoro!!! ;-)” Pelo jeito que Sadie havia contado mais cedo, imaginava que Theodore e o tal Jake poderiam ter brigado ao ponto de trocarem socos e jurarem a inimizade eternamente. Como duas gangues que ocupam o mesmo espaço e vivem brigando para demarcar o seu território. No entanto, aquele maldito depoimento dizia o contrário. Eles eram amigos. Amigos muito próximos. — Mas que merda. Jogando a cabeça para trás, Gabriel fechava os olhos tentando controlar o calor que subia em seu peito. Não conseguia imaginar outra coisa que não fosse Theodore sorrindo docemente para o sujeito de cabelos platinados. Um sorriso encantador enquanto recebia um afago na cabeça. Sua mente fora maldosa em continuar a imaginar a cumplicidade que aqueles dois poderiam ter. Algo da qual não lhe era permitido. Desde que chegara na escola, Theodore não havia baixado sua guarda para Gabriel. m*l o aceitava como amigo. Só conseguiam conversar direito quando tinham algum trabalho para fazer. Imaginá-lo sorrindo tão abertamente para outra pessoa era... Sufocante. — O que está acontecendo contigo, Gabriel? — Resmungava o alfa para si mesmo, apertando a testa com as pontas dos dedos — Você não é assim, cara. Ainda assim não conseguira se desfazer daquela sensação. Tanto que fora para a escola, no dia seguinte, de mau humor. Fora a primeira vez que seus colegas de classe o viam carrancudo e monossilábico. Ignorando os convites para irem à algum lugar ou então as conversas sem sentido sobre garotas e p****s. Mesmo antes da aula, enquanto estava sentado na fonte junto de seus novos amigos, Gabriel não desviava os olhos da tabebuia amarelada onde um ômega loiro estava sentado lendo. Antes que fosse pego o fitando, o moreno baixara os olhos e suspirara baixo. — Qual é cara, levou um fora de alguma menina pra tá com essa cara de acabado? Diferente de si que estava pra baixo, Milles era todo sorriso. A alegria daquele pequeno grupo de amigos eram as gargalhadas e brincadeiras do jogador. Recebendo um abraço ladino do mais alto, Gabriel apenas respirara fundo erguendo a cabeça. — O que te faz pensar que eu levaria um fora? — Uh... Tá todo murcho como uma bola velha, quer que eu cante uma música pra te afundar na deprê? — Cai fora — Ria Gabriel ao dar uma leve cutucadela na costela de Milles, o fazendo soltar do abraço — Não estou deprimido por causa de uma garota. — Tua cara me diz que tá sim. Sofrendo por amor. Revirando os olhos e sorrindo, Gabriel não respondera à brincadeira. É claro que ele não estava sofrendo por amor... Por que estaria? Não fazia sentido. Principalmente quando a causa daquilo tudo nem era uma menina... Mas sim um garoto. Mais precisamente, um garoto que estava alguns metros de distância, sentado debaixo de uma tabebuia lendo Crepúsculo. Não havia a menor chance de Gabriel gostar de outro garoto. 「 • • • 」 Infelizmente Gabriel era completamente incapaz de esquecer o assunto. Ainda assim, esforçou-se para manter o sorriso no rosto fingindo que tudo estava bem. Ou era isso, ou teria de aguentar Milles dizendo sobre ter levado um fora. Sua angústia fora guardada para ser extravasada no momento certo. No treino de vôlei. Nem mesmo as broncas de Nicolas o incomodaram, muito pelo contrário, aumentaram sua curiosidade ainda mais. Segurando a bola debaixo do braço enquanto esperava o aquecimento terminar, Gabriel mordia o lábio inferior indeciso em ir falar com o seu capitão ou não. Sentia que se fosse questioná-lo, ele iria brigar consigo sem dar a resposta que queria. Mas se não fosse... Bem, quem mais poderia saber? Estava fora de cogitação em questionar próprio Theodore. Pelo menos por ora. — Qual é cara, tu tá com essa cara o dia todo. Assustando-se com a chegada repentina de Milles ao seu lado, Gabriel suspirou baixando a cabeça. Ele era irmão de sua amiga, provavelmente também saberia o que teria acontecido entre Theodore e o primo... Mas estava receoso com a reação dele caso questionasse. Erguendo os olhos para fitar o capitão novamente, Gabriel estava prestes a escolher a quem perguntar. Milles seguira o seu olhar, e espreitara os olhos quando percebia Nicolas desenhando alguma coisa na prancheta do treinador. — Ele te fez alguma coisa? — Não! — Respondia Gabriel de imediato. — Por que ele faria alguma coisa comigo? — O porteiro de maquete é um marido bem ciumento com a sua esposa. Apertando os olhos em frustração, Gabriel fitara o novo amigo. — Por que fala desse jeito? — Que jeito? — Esposa, marido... Eles são amigos, não são? — Oh.. Eles estão sempre juntos e eu tenho certeza de que Theozinho é passivo daquele beta metido. Gabriel engolira em seco ao perceber que a orientação s****l de seu colega de classe era de conhecimento de Milles. Desde a sua chegada e do momento em que Theodore dissera ser ômega gay, não ouvira nenhum rumor sobre o assunto. Ainda mais sobre o motivo da rusga entre ele e Sadie. Ou era ele mesmo que não teria percebido sobre a escola inteira saber do assunto? Percebendo o silêncio do amigo, Milles se surpreendeu em vê-lo pálido. — Vai me dizer que tu não sabia dessa? — Gabriel apenas erguera os olhos para o amigo, que logo continuara. — Pensei que minha irmã tinha contado. Imediatamente Gabriel erguera os ombros diante da chance que brilhava para si. Apertando a bola em suas mãos, aproximou-se do ouvido de Milles para lhe sussurrar. — Ela só me pediu pra ficar longe de Theodore, porque não queria que repetisse o que aconteceu com seu primo. Fora a vez de Milles empalidecer. Estando tão perto do jogador, Gabriel percebia a mandíbula dele ficar tensa. Sua reação só aumentara a sua curiosidade, o fazendo se questionar o quanto deveria insistir no assunto. Para a sua sorte, e surpresa, o próprio Milles lhe respondera. — E ela não contou o que aconteceu? — Não. Ela disse que eu não precisava saber. Mas eu não tenho motivos para não ser amigável com Theodore. — Nós temos. — Isso não se aplica a mim, Milles. É o que eu quero dizer. Theodore sempre foi um cara bacana comigo, não tem porque eu odiá-lo do jeito que sua irmã deseja. O cotovelo de Gabriel fora segurado pelo mais alto, sendo apertado em seguida. — Ela está apenas preocupada contigo, cara. Nós sabemos que gente como Theodore não presta. — Terá de ser mais claro se quiser me convencer disso. Os dois rapazes trocaram olhares até que Milles suspirara derrotado. Puxando Gabriel para um canto afastado, logo lhe segredou. — Theodore passou o cio com o meu primo na casa dele. Pela segunda vez Gabriel empalidecera, todo seu corpo ficara rijo como pedra diante de tal confissão. Não conseguia imaginar o garoto loiro na cama com alguém, Theodore parecia ser gentil demais para isso... Ou inocente demais. Mas as palavras íntimas daquele depoimento no Orkut assombravam sua memória. Descartar a possibilidade de que os dois fossem íntimos o suficiente para dormirem juntos seria burrice... — Como é? — Os dois transaram. Meu tio acabou chegando na hora e deu a maior confusão. Só sei que depois disso meu primo foi emancipado e se mudou pra capital do estado. Meu pai proibiu a mim e a minha irmã de perguntarmos como Jake está. Jake. O perfil que vira na noite anterior brilhava em sua mente. Sua intuição estava correta sobre o rapaz. Era ele quem causara a discórdia entre Theodore e Sadie. O gosto amargo surgia em sua boca, tendo Gabriel fazendo careta ao súbito nervosismo que lhe surgia. — Eu sei que é bem nojento isso cara. Mas acredite, Theodore foi responsável pela briga entre meu primo e tio. E eu gostava daquele cara, era gente boa pra c*****o. — Dando tapinhas no ombro de Gabriel, Milles lhe dirigia um sorriso de conforto — Eu sei que tu é maneiro e quer amigar com o pessoal aqui. Mas o conselho de minha irmã é válido, fique longe de Theodore se não quiser se tornar a próxima vítima. Deixado sozinho no canto, Gabriel fechara os olhos por um instante. Já havia ficado surpreso quando Theodore lhe dissera na cara sobre ser ômega e gay, e tivera uma longa noite de pensamentos ao ponto de ignorar tal informação. Afinal, recebera a sua ajuda porque Theodore era gentil, não porque tinha segundas intenções consigo. Só que agora as coisas haviam mudado de figura. Gabriel ficara irritado. E não era por Theodore ser gay. Mas o motivo ainda lhe era um segredo.
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