Adesivos do ômega

4214 Words
— Que merda é essa? Tente não gamar? Quem raios ele pensa que é pra me fazer de trouxa desse jeito? Theodore assistia seu melhor amigo andar de um lado para outro resmungando e xingando aos quatro ventos sem parar. Mesmo com um hambúrguer em suas mãos, mordendo grandiosos pedaços, o baixinho não deixava de falar. — Eu te disse que aquele beijo iria trazer problemas, mas você não me ouviu. — Joga na cara! Sabe muito bem o motivo de eu ter feito aquilo, e é assim que me agradece. — Nico, sabemos muito bem que você fez aquilo mais pra irritar Milles do que pra me proteger. Além disso, Gabriel estava lá... — Gabriel, Gabriel, Gabriel. Toda vez que tu abre a boca é pra falar daquele filho da p**a. — Repentinamente Nicolas parara de andar, virando-se furiosamente para o amigo lhe apontando o indicador — Por que caralhos você está com o cheiro dele, hein? Theodore suspirava baixo mordendo o próprio lanche tentando organizar os seus pensamentos. Não fugiria de seu melhor amigo por muito tempo, Nico era perspicaz quando se tratava de assuntos do seu interesse. O ômega sabia muito bem que nenhum segredo seria perdido no mundo por muito tempo, eles seriam descobertos em algum momento. Seria melhor que seu amigo soubesse através de si do que de outras pessoas que poderiam distorcer os fatos. Respirando fundo para tomar coragem, Theodore bebera um gole do guaraná antes de lançar a bomba. — Eu fiquei com o Gabriel. Nicolas petrificara no lugar com os olhos esbugalhados. Estaria respirando ainda? Nem saberia dizer se ele estava pálido, já que era costumeiro de seu amigo ser branco como papel. — C-Como é? Acho que ouvi errado. — Ouviu certo, eu fiquei com Gabriel. — Ele te forçou, não é? — Não Nico.. — Claro que deve ter te forçado. Eu deveria saber que aquele abutre não esqueceria o que o palhaço do Milles disse naquele dia. Argh! Não acredito! — Nicolas!— Gritara Theodore conseguindo calar o amigo para lhe escutar — Não foi forçado, eu decidi por conta própria. — Ele sabe que tu gosta dele e deve ter usado isso pra te manipular, tô’ sacando qual a dele. — Se for pensar em como tudo desenrolou, seria lógico dizer que isso aconteceu por culpa sua. Nicolas arregalou os olhos apontando para si mesmo depois de dar outra mordida no lanche. — Minha? Que caralhos eu tenho a ver com isso? — Olha a boca... — Theodore balançava a cabeça — Foi por causa do que fez com Milles naquele dia. Gabriel ficou curioso como seria ficar com outro cara. Finalmente Nicolas se sentara no gramado, ficando de frente ao seu melhor amigo o encarando com seus olhos cansados e esbugalhados. Percebendo o silêncio do outro, Theodore apenas sinalizava para ele comer enquanto começara a contar o começo do seu sonho que se transformara em realidade. A história que Gabriel pedira para ler, os bilhetes trocados na sala de aula, o primeiro e o segundo beijo trocado atrás da escola ao final do treino. Até mesmo contara sobre Lilian e seu ardiloso plano para chamar atenção de Gabriel naquele dia. Fora sincero com seu melhor amigo não escondendo nenhum detalhe, sendo escutado silenciosamente. Como se estivesse assistindo um filme do seu interesse, Nicolas almoçava sem desgrudar as vistas de Theodore. Não ousara lhe interromper, deixando que a sinceridade fosse aparecendo lentamente em sua narrativa. Theodore se dera conta de que muitas coisas haviam acontecido desde sexta-feira. Quando terminara de falar, percebera que seu amigo já havia terminado de comer se mantendo silencioso. Estaria processando as informações? Ou será que sua cabeça criava mil e uma palavras para criar um belo sermão? — Já estamos no outono, não é?— Sussurrava o mais baixo, inclinando a cabeça para trás fitando o céu — Já deu de sonhar e é hora de colher o que plantamos... Você se apaixonou por ele, e agora deve estar feliz por terem ficado, não é Theo? — Seria mentira dizer que não estou feliz. Mas não posso me iludir muito. Lembrando que Sadie estava dando comida na boca de Gabriel, estando agarrada em seu braço fazia o peito do ômega se apertar. Até Milles parecia contente brincando com sua irmã, criando uma atmosfera feliz entre aqueles três. Pareciam tão unidos, tão felizes... Erguendo os olhos claros para seu melhor amigo, Theodore tentara imaginar aquela mesma atmosfera entre ele e Nicolas com Gabriel no meio. Franzira o nariz em uma careta do quão estranho era aquela visão. Seria impossível terem harmonia daquele jeito. — Não quero ser o estraga prazeres, mas já sendo... O que você acha que acontecerá se aquela garota descobrir isso? — Theodore engolira em seco quando se lembrava do escarcéu que Sadie havia criado no ano anterior quando descobrira sobre ele e Jake. — Gabriel não tem relação alguma com a família dela, até onde eu sei. — É pior justamente por ela gostar dele também. Theodore de maneira alguma isso pode chegar aos ouvidos daquela garota mimada. — Estamos no mesmo barco, já que você beijou o irmão dela. — Até onde percebi, Milles não é do tipo que se deixa levar pela irmã... Ele mesmo vai fazer minha vida um inferno. Além disso, aquela garota não é b***a de querer se meter comigo. Como poderia esquecer que o seu esquentado amigo era capaz de fazer Sadie Mckenzie tremer os joelhos? Diferente de si que seria um alvo fácil de acertar. Percebendo que seu amigo levantara para ir até a lixeira jogar a lata de refrigerante fora e então se sentar ao seu lado, Theodore suspirava focando no próprio almoço. — Quando você ficou com o mala sem alça — Theodore arqueara a sobrancelha pro amigo, prestes a repreender o novo apelido dado à Gabriel, mas Nicolas nem o olhava parecendo perdido nos próprios pensamentos. Até mesmo sua voz estava mais baixo do que de costume. — sentiu alguma coisa diferente de quando ficou com o palerma do Jake? Para dar uma resposta sincera, Theodore relembrava os momentos que tivera com o primo dos Mckenzie. Um rapaz alto e bonito, que sorria para si genuinamente. Diferente dos irmãos que implicavam consigo por causa do cheiro estranho que sempre lhe cercava, Jake era educado. Sempre o protegendo estando por perto o defendendo. Jake havia compartilhado seu primeiro beijo e o seu primeiro cio. Fora a primeira vez que alguém tocou seu corpo, tomando um cuidado extremo como se Theodore fosse de vidro. Ainda tinha marcado em sua pele as sensações gostosas que seu primeiro amante havia deixado em si. Se sentia amado. Estava feliz por ter Jake em sua vida. Mas não era a mesma coisa do que quando beijara Gabriel. — Com Gabriel tudo é intenso. — Respondera por fim, olhando para suas mãos — Quando estou afastado consigo agir naturalmente, mas é só ele aparecer que meu mundo fica bagunçado. Com Jake era o contrário, eu me sentia em paz. — O que isso significa? Erguendo os olhos para seu amigo, Theodore notara uma pequena ponta de necessidade em Nicolas, como se estivesse desesperado para alguma explicação mais lógica. Notara que naquele momento, o baixinho não estava interessado em saber o que realmente Theodore tinha para dizer, mas sim para se identificar. — Você lembra quando minha mãe contou pra gente quando se encontrou com o Pete? Que ela sentiu que ele seria sua alma gêmea? Nicolas abrira um sorriso nostálgico. — Você chorou pedindo desculpas por ter nascido de alguém que não era alma gêmea de sua mãe. Theodore rira da própria inocência. Ora essa, ele ainda era pequenino, não compreenderia os sentimentos dos adultos com tanta facilidade. Não como agora poderia compreender. — Mamãe disse que sentiu completa e feliz. Estar com Pete era tudo o que precisava para sorrir, porque sentia ser o certo. — Theodore desviara o olhar envergonhado. — Eu pensei que estava sentindo coisas demais por apenas ter beijado um alfa como Gabriel, mas quando ele me beijou hoje... Foi diferente. Me senti conectado a ele, como se tivesse encontrado o meu lugar nesse mundo. — E você nunca se sentiu desse jeito antes? — Não. — Né, Theo... Você acredita que almas gêmeas existem? — Acredito, e você? Observando Nicolas atentamente, a suave brisa balançava os cabelos escuros do capitão mostrando os olhos cansados e os ombros curvados com o peso do mundo. Nicolas baixava os olhos para os próprios pés chutando a terra com a ponta do tênis. — Sei que existem, mas nunca quis procurar a minha já que não quero passar pelo mesmo que minha mãe. Mas os meus instintos adoram me trair, e eles devem ter buscado a maldita pessoa inconscientemente. O que posso fazer quando o encontrei? Lentamente o ômega apertava os dedos no banco amadeirado em que estavam sentados. Theodore arregalava os olhos e abria a boca sem proferir palavras. O semblante de seu melhor amigo era dolorida e triste, como jamais vira em toda a sua vida. Ainda assim ele abria um sorriso. Nicolas ainda sorria para seu melhor amigo. — Encontrou sua alma gêmea... Não me diga que é... — Os instintos de alfa já devem estar reagindo da mesma forma que os meus estão desesperados. Logo ele vai descobrir, Theo. — Mas como? Digo... Como seria ele? E você se cuida melhor do que eu, não tem como ele saber. — Só me resta saber o que ele vai fazer quando descobrir que eu sou um ômega também. 「 • • • 」 Para Nicolas, Milles era uma pessoa irritante que despertava o seu pior lado. Desde o momento em que se conheceram e disputaram o espaço para ser capitão do time, os dois vivem brigando. Só de ficar no mesmo lugar já era o suficiente para seus nervos saltarem ansiando por um embate. Xingá-lo e derrotá-lo era sempre prazeroso. E quando saiam no soco era revigorante, pois sentia que algo em si sempre ficava feliz. Por que era tão bom odiar uma pessoa como Milles? Proteger o seu melhor amigo era sua missão enquanto estivessem naquela escola. Lutaria contra quem fosse necessário para livrar Theodore de ser abatido por qualquer um que ousasse. E se a pessoa que enfrentaria fosse Milles, então usaria cada gota de sua força. Porque valeria a pena. Theodore estava certo sobre uma coisa. Havia beijado Milles para emputecê-lo. Queria ver a cara de derrotado quando se desse conta de que fora beijado pela pessoa que mais odiava. E se ele fosse gostar, então seria mais glorioso ainda, porém não perdia seu tempo esperando o impossível. Só de ter guardado em sua memória os olhos escuros arregalados tão perto de si, sem palavras para retrucar suas provocações eram o seu troféu. Até o momento que passara a escutar seus instintos. Nicolas era um ômega assim como Theodore. Também sentia atração por outros garotos, e era assumido. Mas diferente de seu melhor amigo, ele nunca entrara em um relacionamento. Jamais se apaixonara. Mesmo que os dias de cio lhe abraçassem, tudo o que fazia era procurar um parceiro que fizessem seus instintos calarem a boca. Sexo e apenas isso. Imaginava que sua vida se resumiria a isso. Dias de cio passando em um bairro de procedência duvidosa para ser usado, e nos demais dias fingindo ser um beta para seguir no time de vôlei e conseguir ser alguém na vida. Jamais se comprometendo com alguém, jamais se entregando. Até o dia que seus instintos se recusavam a calar a boca. Desde que o momento em que seu melhor amigo passou ser protegido por si, Nicolas suprimira seus instintos. Usava adesivos que injetavam supressores de tempos em tempos quando estava em quadra, inibindo seus cios e o fazendo se passar por beta. Pois assim conseguiria ficar ao lado de Theodore para o que der e vier. Principalmente quando a pessoa que mais odiava se tornara constante em suas brigas. Mas a partir do momento em que trocar socos com Milles se tornara rotineiro, e sua proximidade ficando estreita, os instintos de Nicolas se tornaram irritantes. Sonhos com a força de alguém lhe tocando. A boca bem desenhada lhe beijando. O calor envolvendo seu esguio corpo e a sensação de que não precisaria mais lutar eram confortáveis. Nunca vira o rosto da pessoa em seus sonhos, mas as sensações eram marcantes. E quando beijara Milles, seus instintos berraram em sua mente de que ele seria quem tanto procuravam. Para o seu desespero e desgosto. Jogara video-game até cansar. Impedira a si mesmo de dormir se negando a sonhar com Milles. Treinara intensamente buscando a saída mais cansativa para calar aqueles desejos. A competição das eliminatórias fora aguardada ansiosamente por Nicolas, pois era a única coisa que traria paz para sua cabeça. Agora que refletia melhor, Nicolas tinha de concordar com Theodore. Ficar sem um Mckenzie era ensurdecedor, uma agitação e bagunça sem fim que só seria apaziguada quando um deles estivesse por perto. Para o desespero de Nicolas, esse alguém era Milles. Às três da tarde os jogadores se posicionavam em quadra novamente. Nicolas ficara no banco entre o assistente e o técnico, fuzilando com o olhar um certo alfa de cabelos escuros que descaradamente encarava Theodore. — Foca no jogo seu imbecil... — Rosnava o baixinho mau humorado, olhando para seu melhor amigo que parecia tranquilo. — Vai continuar com seu teatro é? — Quero saber até onde vai. Não estamos juntos, apenas ficamos, então preciso ser bobo na frente dele? Nicolas abria um sorriso ladino para seu melhor amigo, passando o braço em torno de seu ombro. — Quer vê-lo com ciúmes? Eu topo. — Não quero provocar ciúmes, ele ficou todo de grude com a Mckenzie e eu me recuso a parecer um perdedor. Você tem razão sobre eu precisar tomar cuidado, eu não faço a menor ideia do que Gabriel pensa sobre o assunto. — Ah estou emocionado, vai nevar no Brasil já que meu amigo resolveu usar o juízo que tem. — Já que eu resolvi usar o juízo... Que tal me pagar vendo High School Musical 2 comigo? — Cabou o amor. — Nicolas afastou do abraço com uma careta, fazendo seu amigo rir. — Abusando de mim desse jeito. Me recuso a ver o filme onde todos ficam dançando pro nada. Sinceramente, é uma alegria do nada. — Vou assistir com Lisa, já que vai passar hoje na Disney. Que tal dormir lá em casa? Nicolas arqueara a sobrancelha. Lisa era a garotinha mais bonitinha da face da Terra, e certamente ela era idêntica ao seu irmão mais velho quando se tratava de filmes de romance. Os dois seriam fãs do musical, o que tornava insuportável quando qualquer um deles lhe pedia para assistir ao filme. Seria engraçado ver os dois irmãos fissurados no filme, não seria? Pelo menos poderia lhe render em uma boa noite de sono, que fora privado nos últimos dias. — Fechado, volto contigo então. O apito soara e a bola fora jogada. O time adversário era forte, e parecia saber bem quem seriam os jogadores mais fortes. Nicolas não se surpreendia que o técnico pedisse que ficasse no banco em um primeiro momento, para que junto de Theodore ambos analisassem o time adversário. Quando pisasse naquela quadra, Nicolas queria ter uma tática que acabasse com aquele jogo garantindo sua vitória. O capitão do outro time estava em quadra jogando na posição de levantador. Conseguia ser bom, se não melhor, que Gabriel se adaptando aos seus colegas de time. Seus levantamentos eram precisos, tendo vez ou outra criando fintas para enganar Milles e Thunder no bloqueio. Nos primeiros minutos de jogo o time adversário conseguira vantagem no placar. Era simplesmente frustrante como eles conseguiam enganar o bloqueio e fazer uso de espaços abertos para marcarem ponto. Além disso, trocavam olhares zombeteiros com os jogadores de uniforme escuro, provocando-os. — Não caiam nessa, se ficarem pilhados vão errar mais. — Murmurava o técnico balançando a perna nervoso. — Vamos lá Mckenzie, você está sendo o capitão nesse set, guie o seu time... O líbero entrava no lugar de outro jogador e cumpria bem o seu papel de receber a bola e a erguer o mais alto possível para ganhar tempo de seus colegas se organizarem em quadra. O ataque feito por Milles garantira um ponto para seu time. Da arquibancada os gritos eufóricos preenchiam o ginásio. Os dois ômegas olhavam para as garotas eufóricas que pouco se importavam em atrapalhar os jogadores com sua torcida. Um rosnado escapara dos lábios do baixinho com a barulheira, principalmente quando o alfa responsável pela balbúrdia distribuía seus sorrisos à torcida. Quão exibido ele conseguiria ser? Que irritante! — Que estranho... — Ouvira seu amigo sussurrar. — Não é novidade ele ser um exibido. — Não é isso. Eles não costumam ser mais agressivos quando jogam com a gente? — Lembrara Theodore. Nicolas olhara em direção do outro time que se posicionava esperando o saque vindo. — Não me parecem estar levando a sério. — Estão zombando de nós por estarem na frente no placar. — Não sinto que seja isso... Geralmente os palpites de Theodore eram certeiros. Nicolas voltara a encarar o time que recebia bem a bola e não tardara em jogá-la para o outro lado. Se moviam organizadamente dentro da quadra, evitando que um entrasse no espaço do outro. No ano anterior quando se enfrentaram eles eram mais agitados em quadra, tentando acompanhar os ataques rápidos de Nicolas. Os jogadores do uniforme azulado marcaram mais um ponto e olhavam em direção dos bancos de seu adversário. Theodore espreitara os olhos junto com seu amigo. — Quantos convites de escolas que participam desse torneio você recebeu ano passado, Howard? — Alguns, por quê? Percebendo a voz rouca do técnico, Nicolas erguera os ombros voltando a encarar seus adversários. — Eles estavam inclusos na sua listinha? Se você rejeitou eles pra ficar mais um ano com a gente, então não é de se admirar que estejam sedentos para nos derrotar. Um sorriso ladino despontava no rosto do mais baixo. — Oh... Interessante. Estão esperando que eu entre pra levarem à sério? Só pode estar de s*******m com a minha cara. O grito eufórico mais uma vez ecoava pelo ginásio, e Nicolas fechara os olhos por um momento. Que merda era aquela? Por que elas insistiam em fazer bagunça no meio de um torneio? Queriam envergonhar a sua escola? No instante em que abrira os olhos, assistira Milles fazer o segundo ponto do time celebrando com os demais jogadores. Continuava com sua aura esplendorosa e brincalhona que paquerava as meninas na torcida sem pudor algum. Estaria ele levando à sério o jogo? Não deveria sorrir daquela maneira, estavam perdendo o set. Estavam tendo rally longa demais e ainda ousava brincar com suas cocotinhas? Os dedos se fechavam em punho sobre sua perna. O sangue fervia na medida em que via aquele maldito alfa afagar os cabelos dos outros jogadores e conversar com eles antes de tomarem as posições para sacar. Os zumbidos em seu ouvido voltavam com força preenchendo sua cabeça. As vozes que passara a ouvir desde o fatídico dia, enervavam ainda mais seu humor. “Apodere do seu alfa”. Balançando a cabeça tentando se esquivar da própria voz, Nicolas continuava a fuzilar Milles com seus olhos escuros. “Ele te pertence”. Somado ao som da torcida, dessa vez organizada, das garotas de sua escola, Nicolas respirava fundo mudando o alvo de seu fuzilamento para a arquibancada. Conseguia sentir o cheiro daquelas garotas serpenteando as quadras, e Milles respirando fundo sorrindo para elas mesmo que não tivesse se movido de sua posição. — Nico, você está bem? — Ouvira a voz do seu amigo soar baixinha em meio a imensa barulheira que abraçavam seus tímpanos — Estou começando a sentir seu cheiro, e isso não é bom. Trouxe os adesivos com você? Seu cheiro estava escapando? Como? Por quê? Droga! Olhando de canto para o técnico que continuava atento à partida, Nicolas virou-se para o amigo apontado para a sua própria bolsa. Todo seu corpo se enrijecera evitando ao máximo de fazer movimentos bruscos. Se o seu cheiro ficasse mais forte, seria um grande problema não somente para ele como para Theodore. O ômega loiro puxara a bolsa esportiva preta e abrira o bolso lateral encontrando a caixa dos adesivos escuros. Com as mãos ainda no bolso, Theodore olhara para Nicolas que erguera dois dedos indicando a quantidade a ser pega. Depois de ter pego os adesivos, Theodore se ajeitara no banco deixando a perna esquerda sobre a direta, podendo esconder os adesivos. Nicolas certamente aguentaria mais um pouco de hormônio em seu corpo. Já houveram situações em que dez daqueles malditos adesivos foram grudados em sua pele. Obviamente o efeito colateral quase o transformou em um urso hibernando. Mas eram em situações de emergências que precisava aguentar qualquer dano colateral. E essa era uma delas. Porque desde o momento em que beijara Milles, seria necessário mais adesivos para esconder a sua classe. Sentira Theodore erguer sua camisa com cuidado e tatear seu abdômen em busca de um espaço livre para grudar o primeiro adesivo. O que fora difícil, uma vez que já havia um por ali. — Que droga, como vou colocar um longe do outro desse jeito? — Chegue mais perto — Sussurrava Nicolas para o amigo, guiando a mão de seu amigo para o meio do peito. — Coloque aí. Theodore olhara em volta enquanto colava o adesivo, tentando ao máximo não chamar atenção. Porém o coração de Nicolas acelerava na medida em que assistia o jogo, tornando seu cheiro ainda mais perceptível. — Pronto... Onde devo por o outro? — De baixo do calção. — Tá de s*******m? — Gritara Theodore, tendo o treinador olhando os amigos. — Foi m*l. — Eu sei, eu sei o jogo tá tenso. Acho melhor entregarmos esse set e recuperar no segundo. Tentamos a sorte com o terceiro. Nicolas e Theodore suspiravam aliviados pela falta de percepção de seu professor de educação física. O ômega loiro esperou que o professor estivesse distraído novamente para aproximar da orelha de seu amigo e continuar a lhe sussurrar. — Tem certeza de onde quer por? Seu cheiro está ficando forte, não seria melhor por debaixo do braço? — Tenho dois debaixo do braço, coloque logo antes que meu cheiro se espalhe mais. — Rosnava Nicolas. Theodore respirou fundo preparando o adesivo, e então puxou a blusa de moletom de Nicolas a jogando sobre o colo do amigo. — Muito bem, me perdoa a intromissão. Serei rápido. A mão de Theodore fora rápida em ir debaixo do moletom, enroscando os dedos no elástico do uniforme escuro do amigo. Passado o calção restava apenas a boxer, que logo fora driblada pelos dedos ágeis do loiro. Theodore engolira em seco enquanto dedilhava o baixo ventre de Nicolas, olhando o amigo atentamente para saber onde deveria colocar o maldito adesivo. Porém o baixinho mantivera-se tenso e calado, tendo que Theodore descer a mão cada vez mais. Que tipo de situação estava colocando o seu melhor amigo? Tudo bem, não era a primeira vez que Theodore o ajudava com os adesivos, mas aquela situação como um todo era complicada. Tudo porque eles não estavam cumprindo com a sua função de inibir seus feromônios de ômega. Justamente quando seus instintos berravam. De maneira alguma entraria naquela quadra naquela condição. Se estivesse daquele jeito, não focaria no jogo e perseguiria Milles. Não se permitira rebaixar daquela maneira. Nem fodendo. Enrijecendo mais seu corpo para conter seu próprio cheiro, Nicolas continuava a fingir que assistia ao jogo. No instante em que finalmente encontrara o local ideal, Nicolas soltou o ar de seus pulmões trêmulo junto de um gemido baixo sinalizando para Theodore colar o adesivo. Sentira aquele adesivo gelado encostar em sua pele e imediatamente alguma coisa lhe pinicar. O alívio lhe tomara por completo, podendo relaxar seu corpo e baixar os olhos. — Deu certo? Foi? Já está fazendo efeito? Nicolas rira da preocupação de seu amigo, o olhando ainda com a cabeça baixa. — Estarei pronto pra jogar depois do intervalo graças a sua ajuda. Theodore sorrira largo tirando a mão do calção do amigo. Nicolas voltaria a prestar atenção no jogo se não fosse um olhar ladino e intenso mirado em si. Ora essa, não seria apenas um, mas dois olhares intensos. — O que há com esses dois? — Questionava o técnico cruzando os braços. Theodore retirou a mão do moletom de Nicolas engolindo em seco. O capitão do time também espreitava os olhos para aqueles dois alfas que faziam questão de encará-los intensamente. Repentinamente a quadra se transformara em um lugar deveras perigoso. — Eles estão olhando pra cá. Será que estão perdidos e precisam do capitão de volta? — Tornava a questionar o técnico. — Nico será que eles... Nicolas arqueava a sobrancelha e despontara um sorriso malicioso em seu rosto. Então imediatamente segurou a mão do seu amigo e o enfiou debaixo do moletom sem desgrudar os olhos daqueles alfas. — Já que você gosta de um teatro, vou te ensinar a como fazer um de verdade.
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