Bom dia Theodore

4961 Words
No domingo de manhã a casa amadeirada estava silenciosa e fresquinha. A mulher que passava o café no coador erguia os olhos castanhos para a janela ao ouvir o som do motor da caminhoneta. O alfa bronzeado descia com sacolas com pães fresquinhos e quentinhos, soltando um bocejo silencioso. Quando Bill entrara na casa deixando a sacola na mesa da sacada, fora até a cozinha depositar um selar na bochecha da noiva, a fazendo sorrir. — Por que levantou tão cedo hoje? Poderia ficar mais tempo na cama já que é domingo. — Tenho que passar na cooperativa pra resolver algumas coisas, mas quero voltar pro almoço. Abrindo um sorriso brincalhão, Maggie voltava a se concentrar em coar o café na garrafa. — Agora que se resolveram não quer perder um minuto, não é? Escondendo a vergonha, Bill pigarreou olhando a vista da janela. — Theodore não vai levantar tão cedo. Você deu os remédios para dores não? — Uhum, antes de ir te ver no escritório passei na frente do quarto dele e escutei o pobre garoto gemendo de dor. É bom deixá-lo descansar bastante. Mas e você? Conversou com a mãe dele? Fazendo uma careta desgostosa, Bill apoiava as mãos na cintura ao ficar de costas para a janela e se encostar na bancada da pia. — Fui xingado e devo ter ficado surdo do tanto que ela gritou comigo. Parece que na medida em que Aline fica velha, vai se tornando histérica. — Não fale assim dela, Bill.— Ria Maggie se divertindo com as caras e bocas do noivo. Terminado de coar o café, ela servira um pouco na xícara de porcelana a estendendo ao alfa — E o que deu a conversa? — No final acabei conversando com Pete, ele vem buscar o garoto de noite depois do jantar. Amanhã ele tem aula. — Não seria melhor ficar em casa? Se implicam com ele normalmente, imagina se verem Theodore daquele jeito... Bebendo um gole do café preto, Bill suspirava com o sabor amargo e gostoso. — Depois converso com o garoto. O casal aproveitou a manhã silenciosa para tomarem o café da manhã na varanda da casa. A brisa suave, o pasto ao longe, a calmaria que tanto amavam. Mais tarde Bill saíra de casa, deixando Maggie cuidando de Theodore. Já o ômego loiro dormia feito pedra devido o medicamento para dor, conseguindo acordar somente depois do meio dia. Quando tomara banho fizera careta para o seu reflexo no espelho, por conta dos hematomas que marcavam sua pele pálida. Após vestir uma bermuda jeans e uma camisa escura, descera para a cozinha onde o almoço já estava sendo posto na mesa da varanda. Sorrindo desconcertado, o rapaz coçara a cabeça quando sua futura madrasta aproximou-se preocupada. — Oh céus, esse roxo estraga essa carinha bonitinha. — Tá bem feio, não é? Maggie fizera uma careta dolorida ao concordar com a cabeça. — Está sentindo dores ainda? — Um pouco, mas é suportável. — Theodore passara a olhar em volta da casa, arqueando a sobrancelha — Cadê o meu pai? — Foi na cooperativa, deve voltar logo. Baixando os olhos quando se lembrava do que acontecera na noite anterior, Theodore tentava não se lamentar de ter arranjado mais problemas. Apesar que dessa vez nada fora culpa sua, já que em nenhum momento flertara com o peão da família. Seu pai havia pedido desculpas pela briga que tiveram um ano atrás, no entanto Theodore não havia se desculpado por ter causado problemas no trabalho de seu pai. Precisava saber os detalhes antes de tomar alguma iniciativa, apesar de ter receio de estragar a trégua recém instaurada. — Ei, não faça essa carinha triste. Erguendo a cabeça para olhar a ômega, Theodore tentara esboçar um sorriso apesar da leve pontada de dor em sua mandíbula. — Sabe Maggie, eu fico feliz que você tenha me convidado pra vir aqui. Obrigado. A moça parecia estupefata com o súbito agradecimento, tendo suas bochechas rosadas no mesmo instante. Rindo, balançara a cabeça dispensando palavras, apenas puxando o garoto para a varanda onde poderiam almoçar. Quando se serviram, a caminhoneta estacionara na garagem e Bill se juntara aos dois para comerem. Theodore se sentira estranho naquela nova atmosfera, já que agora não evitava seu pai por estarem brigados, mas por não saberem como agir amigavelmente. Não por muito tempo. Graças à Maggie, os dois conseguiram ultrapassar a estranheza ao conversarem sobre o casamento. Theodore aproveitara a oportunidade para saber mais sobre como eles haviam começado a namorar, se divertindo em descobrir que Bill era desajeitado e envergonhado. Uma imagem um tanto quanto estranha quando se vê aquele alf alto e forte, que era capaz de intimidar qualquer um só com o olhar. A conversa ficou tão boa que perdurou até a tarde. Depois de ajudar a lavar a louça, Theodore voltara para o quarto fazer o dever de casa e a arrumar suas coisas para voltar para sua casa à noite. Já havia sido avisado pelo pai que Pete viria buscá-lo, e questionado se queria ir para a escola. Mesmo que quisesse ficar em casa até os hematomas desaparecerem, Theodore se lembrou que era a primeira semana de provas. Não teria como escapar. Além disso, estava ansioso para receber o bom dia de uma certa pessoa. Não apenas queria ver Gabriel, mas questionava-se como seria a sua reação se o visse naquele estado. Seu lado dramático era curioso demais para saber cada reação do garoto pelo qual estava se apaixonando. Após o jantar o carro de Pete chegara na frente da casa amadeirada. Theodore fora com Maggie até o quarto pegar suas bolsas enquanto os dois homens conversavam na porta de entrada. O homem ruivo encarara o bronzeado, cruzando os braços ao se encostar no carro. Eram completamente opostos um do outro, já que Pete tinha uma aura tranquila e calma. Geralmente os dois somente se encontravam quando Theodore visitava a casa de Bill, mas depois da briga uma estranheza instaurara entre os dois homens. Estranheza essa que foi resolvida na ligação da noite passada. Bill fizera questão de esclarecer com sua ex-esposa e Pete que havia conversado com o ômega. Baixar as muralhas do orgulho era complicado de se fazer, entretanto ficava nítido o quão sincero eram suas palavras. — Como estão as coisas por aqui? Bill balançara a cabeça, deixando as mãos no bolso do jeans surrado. — Sobrevivendo a cada dia. — Resolveu as coisas no trabalho? O homem negou com a cabeça com pesar. Uma coisa seria responder por ter ameaçado alguém com uma arma, e outra seria ter de lidar com as mentiras que seu antigo peão ousara contar para se fazer de vítima. — Por Theodore ainda ser de menor, terei de lidar com a situação. — Aline e eu podemos te ajudar nisso. Você disse que ficou de olho em Theodore o tempo todo na festa, então é prova ocular de que foi o outro quem tentou abusar do garoto. — Mesmo que eu diga ter vigiando o garoto durante a festa, vão dizer que estou o protegendo por ser meu filho. — É o que se espera dos pais. — Pete apoiara a mão no ombro de Bill dirigindo o seu carismático sorriso — Já que é para o bem do menino, iremos te ajudar no que puder. A conversa fora encerrada quando Maggie surgira carregando uma mochila. Pete foi ajudá-la tratando de abrir o porta malas para carregar o carro. No instante em que erguera a cabeça e vira Theodore com o rosto todo machucado, o ruivo engolira em seco. — Meu Deus. Abrindo um sorriso envergonhado, Theodore acenava para o padrasto. — Eu sei, to horrível. — Ainda bem que vim te buscar de noite, se não Lisa iria chorar de novo. Vamos então? Theodore concordara a cabeça, virando-se para ir até Maggie e lhe abraçar em despedida. Ela tivera todo o cuidado ao apertá-lo e acariciar suas costas para não machucá-lo, e ao olhá-lo não deixara de sorrir com aqueles olhos brilhantes de alegria. — Adorei ter te conhecido, Theodore. Obrigada por ter aceitado meu convite egoísta. — Digo o mesmo. Tirando a noite, até que foi divertido passar o final de semana aqui. — Ah, antes que eu me esqueça — Maggie pegara um pequeno envelope lacrado do bolso o entregando à Theodore — Estaremos te esperando. Olhando o envelope em suas mãos, o loiro arqueara a sobrancelha para o nome dos noivos escrito no convite de casamento. Surpreso Theodore encara a madrasta, que lhe dera uma piscadela. Haviam conversado sobre o casamento mais cedo, mas não se atentara sobre a data. Na verdade, o loiro nem se lembrara de perguntar para Maggie. De toda forma, não esperava ganhar um convite tão prontamente. Tudo bem que ele seria convidado uma vez que era o filho do noivo, só que não tivera muito tempo para se acostumar com a ideia de que seu pai iria casar novamente. Parece que o próprio Theodore também precisaria de tempo para se acostumar com coisas novas. — Nos vemos em breve, tudo bem? — Certo! Maggie dera um passo ao lado dando espaço para que Theodore se aproximasse de Bill. Pai e filho pareciam envergonhados na frente um do outro, sem coragem de se olharem nos olhos e dizerem palavras amáveis. Ainda assim o loiro sorria timidamente encostando a testa no ombro do pai, tendo a grandiosa mão de Bill afagando-lhe os cabelos. Ainda que houvessem dois pares de olhos bisbilhotando a cena comovente, Bill deixara o orgulho de lado ao abraçar seu filho apertado e depositar um breve selar no topo de sua cabeça. — Se cuide garoto. Theodore assentira ao se afastar, aproximando do carro para entrar no passageiro. Antes de se sentar no banco, o loiro olhara para o pai e para a madrasta dando um último aceno de despedida. Quando o carro prateado chegara na cidade noturna, Pete relaxara os ombros olhando de canto para o enteado. — Que bom que tudo terminou bem, não é? Theodore que encarava a paisagem pela janela apenas alargava o sorriso e assentia silenciosamente. Diferente de antes onde não fazia a menor ideia do motivo de sua vinda, e achava que terminaria ainda mais ressentido com o pai, o seu retorno era coberto de alívio. Baixando os olhos claros para o envelope em mãos, tornara a abri-lo ao ver a data do casamento religioso. Dentro do convite havia um pequeno pedaço de papel com a letra de seu pai, em um pedido simples e significativo. Provavelmente teria de ser arrastado por sua mãe para encontrar um terno, já que Bill pedira que ambos usassem a mesma cor de terno para destacar o parentesco deles. 「 • • • 」 Gabriel estava ansioso na segunda-feira de manhã. Desde o momento em que se sentara na fonte antes da aula começar, e não enxergara a figura do ômega loiro sentado debaixo da tabebuia, ele sentira que algo estava errado. De modo geral, ele não era um rapaz que costumava se preocupar com mau entendidos. Dessa vez era diferente. Na sexta-feira à noite Gabriel fora para a festa junto com seu novo grupo de amigos. Como esperado de um bando de adolescentes doidos, o álcool e a pegação rolavam à solta pela casa da garota rica. No instante em que pisara no gramado do sobrado e percebera a atmosfera da festa, Gabriel torcera o nariz. Gostava de ir em festas, mas preferia algo comedido. Música alta, gente bêbada se esbarrando e casais se engolindo nos corredores não era algo apreciativo para o garoto. Ainda assim fizera um grande esforço para se divertir, já que estava acompanhado de novos amigos. E foi divertido, de fato, ver como seus amigos agiam na festa. Apenas Gabriel e Sadie permaneceram sóbrios, tendo de arrastar os demais para dentro do carro e deixá-los em suas respectivas casas. A missão árdua fora engraçado para os dois, já que Sadie parecia tão desajeitada em segurar o irmão mais velho, bem mais alto que ela. No entanto, o que deixaria o moreno mergulhado na preocupação seria um certo jogo de verdade e desafio da qual participara, onde ao ser apontado como a próxima vítima escolhera responder uma verdade. A pergunta feita o fizera rir na hora. — Você é muito próximo do Moss... Por acaso gosta dele? Também é viado? Tendo o moreno suavizado a expressão em seu rosto e dado risada fizera com que todo o círculo de amigos também rissem. E então Gabriel negara com a cabeça. — Ele é meu amigo, apenas isso. — Eeeh... Mas você sempre tá sorrisinho com ele por ali e por aqui... — Está com ciúmes? — Brincara Gabriel. — Acho que tô! Me dê atenção também, Gabriel. A fala manhosa do jogador bêbado resultara em mais risadas antes da garrafa ser girada sobre a mesa e outra rodada do jogo continuar. Depois de um tempo ela caíra novamente em Gabriel, e Milles fora escolhido para questioná-lo. No entanto, o alfa escolhera um desafio ao invés de uma verdade. No instante em que o sorriso de um Miles risonho ganhara uma ponta de malícia, Gabriel percebera que fora uma péssima ideia escolher aquilo. — Eu vou pegar leve contigo, porque gosto de você Biel. Mostra pra esses filhos da p**a o quão alfa tu é, e dê o maior beijão na minha irmã! Tinha acertado sobre ter se arrependido de ter escolhido desafio quando o seu oponente era Milles. Pois no sábado as fotos da festa já haviam sido publicadas, e muitas pessoas mandavam solicitação de amizade ao alfa. Gabriel verificou cada foto que pudera, conseguindo um ponto de paz ao se dar conta de não havia nenhuma dele. E sua paz aumentara quando um certo garoto loiro finalmente o aceitara na rede social, passando a conversarem a manhã inteira. Conversar com Theodore era divertido, principalmente quando descobrira que provocá-lo causava as reações mais divertidas. Além disso eram somente eles dois conversando, sem nenhum capitão irritadiço ou um terceiranista metido à galã para atrapalharem. Seu salvador era simplesmente alguém incomparável. Não se importaria com o fato de Theodore ser ômega e gay, desde que ele não se afastasse. Sim, para Gabriel isso era tudo o que importava. Até se lembrar do motivo de ter aceito o desafio de Milles, e ter beijado Sadie. Gabriel engolia em seco toda vez que o nó se formava em sua garganta e a confusão parecia chegar de mansinho em sua mente. Na sexta-feira de manhã, quando compartilhara o fone de ouvido com Theodore, Gabriel não somente tivera vontade de beijá-lo como quase o fez. Dissera a si mesmo que fora uma vontade criada pelo momento, já que os dois ouviam uma música romântica. Gabriel continuava a gostar de garotas, não? Pelo menos, não achara o beijo de Sadie tão r**m. O sinal do começo da aula despertara Gabriel de seu torpor, se percebendo sozinho na fonte da escola. Apertando a alça sobre o seu ombro, ele seguira silenciosamente para a sala de aula onde se sentara em sua carteira. Na medida em que outros estudantes chegavam na sala, Gabriel acenava e os cumprimentava gentilmente como sempre. E pelo canto dos olhos via Theodore de cabeça baixa parecendo dormir sobre a carteira. Estranhamente o ômega loiro estava usando o capuz de sua blusa, parecendo se esconder do mundo. — Bom dia Gabi! Virando a cabeça para a ômega charmosa e sorridente parada na sua frente, Gabriel também a oferecera um sorriso gentil. — Oi Sadie. — Sobreviveu nesse final de semana? Meus braços estão doendo por ter carregado Milles. A mera imaginação de Gabriel fora divertida o suficiente para fazê-lo soltar um riso nasalado. — Eu poderia ter ajudado, mas você não quis. Formando um bico manhoso, Sadie rira logo em seguida. — Eu realmente achei que daria conta. Além disso, ter carregado o bêbado do meu irmão me coloca em vantagem sobre ele. — Vantagem? — Uma irmã mais nova deve estar sempre pronta pra negociar com o irmão mais velho. — Muito bem, vamos sentando em seus lugares! — Anunciava a professora entrando na sala. Os alunos se dispersaram e se silenciaram enquanto a professora preparava o livro de chamada. Infelizmente não tivera a chance de ir até o seu amigo e conversar com ele, pois as provas começaram tão imediatamente. Gabriel se esforçara para se concentrar nas questões de matemática, porém era impossível não tentar espiar Theodore. Ele havia baixado o capuz e parecia cansado. Gabriel só conseguia vê-lo de perfil, tendo a impressão de que Theodore poderia estar doente. Quando planejara usar o intervalo entre as aulas para ir até o loiro, Sadie aparecia ao seu lado o perguntando sobre as avaliações. Enquanto Theodore se escondia novamente em seu capuz baixando a cabeça. O último horário seria a avaliação de educação física, sendo a última chance que poderia ter. Entretanto, enquanto os estudantes seguiam para o vestiário trocarem seus uniformes, Theodore ficara para trás a fim de conversar com o professor. Gabriel até ponderou a ideia de ficar para esperá-lo, se o seu braço não fosse agarrado por Sadie que o acompanhara até o vestiário e ainda o esperara sair do mesmo após se trocar. De braços dados os dois seguiram para o pátio externo, sem nenhuma brecha para o moreno procurar o alvo de sua preocupação. Espreitando os olhos por conta da claridade do dia, Gabriel percebia a turma do terceiro ano espalhado no pátio externo. Assim que o casal fora avistado, Milles correra até eles com seu contagioso sorriso carismático, abraçando o ombro de Gabriel. — Eaí Biel! To vendo que está mau acompanhado de uma pirralha. Sadie revirou os olhos em uma careta, arrancando um riso do moreno. — E você o que tá fazendo aqui fora? — Professor faltou, aula vaga. — Ô seu pedaço de vara p*u, o professor está te chamando. Os três estudantes se viraram para o baixinho capitão do time de vôlei, que parecia tão mau humorado quanto era de costume. — Do que me chamou? — Pedaço de vara p*u. Ou prefere gigante? Torre? Godzilla? Antes que Milles arranjasse briga com Nicolas, Gabriel passara o braço em volta do pescoço de seu colega. — O professor está te esperando, vai lá antes que isso dê merda. Acalmando-se, Milles assentira e passara por Nicolas o encarando ferozmente. Nenhum dos dois desviara o olhar, nem mesmo quando seus ombros de trombaram e cada um seguiu seu caminho. E então, o baixinho capitão bufara antes de seguir para a sua turma procurando pelo melhor amigo. — O que deu nele? Moleque estranho. O professor reunira a turma do segundo ano dentro do ginásio coberto onde fariam a prova sobre vôlei. Uma partida onde o vencedor ganharia a nota total da avaliação. Gabriel olhara para o seu time o para o adversário sem encontrar Theodore, apenas Nicolas. O apito soara e a partida começara. Gabriel balançara a cabeça se obrigando a focar na sua avaliação prática, com certo custo. Mais uma vez Nicolas estava do outro lado da rede, com aqueles olhos vazios mirando em si dedicando uma raiva transcendental. Sabia muito bem o motivo daquela raiva. Mesmo que Gabriel tivesse tomado todo o cuidado do mundo para que a noite de sexta-feira não causasse rumores estranhos, e que tivesse revirado o seu Orkut atrás de fotos, uma escapara do seu radar. Fora justamente uma foto dele cumprindo seu desafio. Ela fora publicada logo após ao meio dia do sábado. Desde então Theodore não havia entrado no MSN. Provavelmente o loiro pensaria que Gabriel e Sadie estariam namorando, assim como todo o resto da escola já que a garota não desgrudava dele a manhã toda. O mau entendido poderia ser ainda maior por Gabriel saber que quase beijara Theodore, e que o seu amigo salvador poderia pensar algo errado. Pelos céus. Se Nicolas não intervisse eles teriam se beijado. É claro que o capitão tinha motivos suficiente para detestá-lo. A confusão na mente de Gabriel só aumentava na medida em que tentava entender o que se passava. E a única resposta que lhe era disposta era de que Theodore poderia ter visto a foto no Orkut e imaginado que não teria chance com Gabriel... Isso não seria bom? Eles eram apenas amigos, não? Então não tinha motivos para ficar preocupado com o que Theodore pensaria de si, não é mesmo? A fúria do seu capitão estava bem nítida. Sim ele teria visto a maldita foto, e agora parecia querer o couro de Gabriel pra dar de presente à Theodore. O alfa, no entanto, não fugira de sua fúria. Não havia feito nada errado para fugir. Erguera o queixo e aceitara o desafio de bloquear todos os saques de Nicolas, aumentando a sua fúria e tornando a partida ainda mais acirrada. Para o restante dos estudantes era um motivo para se alegrarem, pois tirariam uma boa nota certamente. Então a partira fora interrompida para que troca de jogadores fosse feita, dando à todos os estudantes a chance de jogarem e serem avaliados. Nicolas e Gabriel foram para os bancos. Enxugando o suor com o dorso da mão, Gabriel olhava em volta percebendo a figura alta e encapuzada saindo do ginásio. Reconhecendo de imediato a pessoa que tanto ansiara se encontrar, aproveitara a distração de seu professor para seguir Theodore. No instante em que pisara fora do ginásio coberto, vira o loiro seguir para os fundos do prédio. Estranhando, se apressara para alcançá-lo. — Ei, Theodore, espera! O garoto encapuzado parara de caminhar, sem se virar para trás. Tentando acalmar sua respiração ofegante, Gabriel apoiou-se em seus joelhos antes de se aproximar lentamente do loiro. — Não consegui conversar contigo hoje. Você está bem? — Estou bem. A resposta seca fizera Gabriel engolir em seco. — Theo! — Volta aqui seu tampinha! Temos um assunto pra resolver. Gabriel fechara os olhos reprimindo a vontade de xingar ao ouvir a voz de Nicolas e Milles tão perto de onde eles estavam. — Cala a boca, seu babaca. Volta pra sua trupe que eu quero conversar com meu amigo. — Oh, já está se escondendo atrás da sua esposa. — Ei, Theo! Dá pra parar de fugir de mim? Theodore virou a cabeça minimamente sobre o ombro, percebendo aquelas três figuras o olhando tão curiosamente. Engolindo em seco, o rapaz apenas puxara mais do capuz cobrindo seu rosto. — Sinto muito, eu preciso voltar pra casa. — Você não vai fazer a prova? — Questionava Gabriel antes que o outro fugisse novamente. — Farei em outro dia, junto com a outra turma. — Eh... Parece que alguém não está confiante. — Dá pra calar a sua maldita boca, Milles? — Repreendia Nicolas com as mãos na cintura, logo se virando para o amigo tentando suavizar sua expressão. — Ei, aconteceu alguma coisa nesse final de semana? O peito de Gabriel parecia um verdadeiro rebuliço de emoções quando o final de semana fora mencionado. A única coisa que passava na sua cabeça era de que o ômega teria visto a maldita foto, e poderia agora se afastar dele. Seria um mau entendido que precisaria desfazer para não perder a amizade de Theodore. — Não aconteceu nada. — Não minta pra mim, Theo. Ele fez alguma coisa pra você? Milles e Gabriel perceberam o tom ameaçador de Nicolas, e permaneceram mudos esperando a resposta de Theodore. O loiro, por outro lado, apenas negava com a cabeça. — Não, Nico. Tem nada para se preocupar. — Então olhe nos meus olhos, se não eu não vou acreditar em você. Theodore tornara a olhar sobre o ombro, percebendo os três parados o fitando com curiosidade e preocupação. — Por que estão atrás de mim? Eu preciso ir pra casa. — Estamos preocupados com você. — Respondera Gabriel dando alguns passos perto de Theodore, tendo vontade imensa de baixar aquele maldito capuz que lhe impedia de ver o rosto alegre. — Somos seus amigos. — Eu não sou amigo dele. — E tá aqui por que então, pedaço de fezes? — Retrucava Nicolas. — Pra te acertar um soco na tua fuça, seu pivete... — Será que dá pra pararem com isso? — Esbravejara Gabriel mostrando para aqueles três, pela primeira vez, a raiva em seus olhos castanhos. — É a única coisa que sabem fazer? Irritar um ao outro? — Fica na sua. Ou melhor, deveria voltar para os braços da sua namorada ao invés de ficar correndo atrás do Theo. Gabriel revirava os olhos para Nicolas, já imaginando que as palavras ásperas seriam voltadas para si. Porém ele não respondera ao seu capitão, não quando Theodore parecera aproveitar da discussão para tentar fugir. O alfa fora ligeiro em segurar o pulso de Theodore a fim de impedi-lo, mas ouvira um gemido baixo do loiro no instante em que usara força demais. Soltando-o de imediato, Gabriel se lamentou. — Desculpa, não quis te machucar. — Dá pra você soltar o meu amigo? Theodore baixou o capuz e se virou para os três rapazes atrás de si, da qual emudeceram diante dos hematomas fortemente aparentemente no rosto do loiro. Tanto Nicolas quanto Gabriel estavam surpresos e horrorizados com o quão machucado Theodore parecia. Seu lábio inferior, mais à esquerda, estava ferido assim como canto de seus lábios. A mandíbula e maçã do rosto tinham marcas fortes, e um corte riscava sua bochecha onde o anel de Beto havia lhe ferido. Milles explodira uma risada apontando para o garoto ferido. — Está se escondendo por ter se metido em uma briga? Deve ter perdido feio pra fugir com o r**o entre as pernas... Gabriel silenciara o amigo com o soco leve em sua barriga, o repreendendo com o olhar. Nicolas, por outro lado, aproximou-se do amigo com passos lentos e olhos arregalados. — O que aquele monstro fez com você dessa vez, Theo? — Ele não fez nada. — Como quer que eu acredite nisso, Theo? — Sei bem quem fez isso comigo, não acha? Engolindo em seco tendo seus olhos cansados marejados, Nicolas puxara o cotovelo do amigo arregaçando as mangas de sua blusa onde vira mais marcas roxas em seus pulsos. Gabriel prendera a respiração em perceber que fora ali onde havia segurado momentos antes. — Onde mais ele te machucou? — Já falei que não foi ele... — Onde mais? Theodore respirara fundo desistindo de argumentar com o amigo irritadiço. Sem dizer nenhuma palavra mais, o garoto apenas erguera a blusa e a camisa do uniforme mostrando as marcas roxas em seu abdômen e costelas. Ainda virou-se de costas, onde haviam mais algumas marcas onde havia batido na maçaneta da caminhoneta. Quando Theodore baixara a blusa, percebera que seu melhor amigo cerrava o punho trêmulo. Provavelmente contendo sua raiva. — Não foi ele. Foi outra pessoa. Erguendo os olhos para seu melhor amigo, Nicolas arqueou a sobrancelha. — Outra pessoa? Quem? — Ninguém que você conheça. Não precisa ficar bravo, já estão lidando com a situação. — Brigou com alguém que tentou dar em cima? Trair seu marido não é muito bom... Mesmo com o olhar irritadiço de Nicolas sobre si, Milles não desfizera o sorriso zombeteiro. Porém, fora Theodore quem rira nasalado, em total descrença ao fitar o terceiranista loiro. — Eu dou em cima dos outros? O que faz vocês pensarem que sempre estou tentando seduzi-los? Se acham tão bonitos assim? Eu não fiz merda alguma, fiquei na minha aguentando os olhares e as fofocam à meu respeito. E ainda assim fui seguido e quase abusado. Acha isso engraçado, Milles, que eu apanhe só por dizer que gosto de homens? — Ei Theo... — Sim! Eu sou um ômega e gosto de homens. Me sinto bem quando o cara que eu gosto me abraça e me beija. Gosto quando sou tocado pela pessoa que gosto. Mas não vai pensando que só por ter um rostinho bonito ou se achar o homem mais f**a do mundo que irá me fazer te querer. — Theo não precisa perder seu tempo. O loiro virou-se para o seu melhor amigo respirando fundo. A única pessoa que permanecera muda todo aquele tempo cerrava os punhos com força. Os olhos castanhos das quais eram acostumados a transparecer a gentileza e carisma davam espaço para um novo sentimento desconhecido. Desde o momento em que vira aqueles machucados, o mundo de Gabriel parecia perder o som tornando-se lento demais. Seu corpo deixara de agir de acordo com a consciência, sua expressão se tornara vazia apesar dos seus olhos... Ah. Gabriel intervira entre Theodore e Nicolas, tendo seus olhos refletindo bem aquele novo sentimento. Milles e Nicolas emudeceram quando seus instintos berravam em alerta para o vazio e frieza que aqueles olhos castanhos transmitiam. Sua voz, então, soara tão rouca e ameaçadora como jamais ouvido antes. — Deixem ele. Agora. Nicolas estava prestes a peitar seu colega de time e colocá-lo em seu lugar, no entanto a mão no ombro o impedira. Virando-se para trás, vira Milles encarar seu amigo seriamente, como se realmente temesse a ameaça que aquela voz transmitira. Prestes a reclamar, Nicolas tivera sua boca coberta por uma mão grande e quente. Um braço forte o segurara firmemente impedindo cada debate corporal seu. Milles conseguira arrastar o seu capitão para longe, sem dizer uma única palavra. Theodore piscara algumas vezes sem compreender o que havia acontecido. Quando Gabriel virou-se para si novamente, ele sorria gentilmente como se nada tivesse acontecido. — Não estava com pressa para ir embora? — O que aconteceu? — Apenas assustei eles um pouco. — Gabriel ficara diante de Theodore, afagando-lhe o cabelo. — Mas antes você não pode ir embora sem ouvir isso. — Ouvir o quê? — Bom dia, Theodore.
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