Maíra e Pezão
Eu adorava a vida que tinha escolhido para viver, amava os momentos que estava passando e os meus preferidos, sempre eram com o Pezão
Sim, eu consegui entrar na faculdade de fisioterapia e ele? Ele me apoiou no começo, está me apoiando no meio e sempre me lembra que estará ali no fim. Aquelas horas de espera, que contam desde o momento em que ele me deixa na frente da faculdade e espera até a hora de eu sair já avisando os meninos que nem adianta chamá-lo das sete às onze da noite, são prova de que ele vai cumprir o que me prometeu, com certeza
Ao que em algumas coisas, ele me deixa longe . . .
Eu ouvi os boatos que anda correndo na comunidade e não rodeiam somente na história da menina que perdeu o olho por causa de um i****a que não tem a coragem para se colocar na frente do Dante e dizer que vai matá-lo
Caramba, imagina só, o cara deixou a menina cega de um olho só para avisar o dono da comunidade quer matar ele. Provavelmente seu nome é sem coração e mais provavelmente ainda, ele não tem filha, quem coloca semente mulher no mundo, não tem coragem de fazer o que ele fez
Pelos boatos, o cara já tá mais para a idade avançada e tem cara de árabe, jeito de árabe e fala diferente, tipo essas pessoas que são do Oriente Médio mesmo. Eu não deveria, sei que não, mas isso me fez olhar a Hira diferente. Insano, mas eu comecei a ter receio dela, vigiar a menina
Como eu disse, as história na comunidade tem ido muito além, estão dizendo que algumas meninas, do nada, foram embora fugiram ou, pelas más línguas, aceitaram um bom dinheiro para viver vendendo o corpo no estrangeiro. Tem até pessoas que falam que essas mesmas meninas, foram sequestradas, porque os familiares estão aparecendo no escritório do Dante para pedir ajuda
O problema é que são meninas bem pra frente sabe, dadas mesmo, daquelas que fica quase impossível de imaginar elas sendo ludibriadas por macho. O Dante ainda precisa de mais convencimento
O fato é, alguma coisa está acontecendo e o Pezão não quer me dizer
Maíra – Você sabe que isso atiça a curiosidade de qualquer um, caramba Pezão, o que custa você me contar?
Pezão – Mas se nem eu sei da história direito . . . além disso, eu já te disse, não é pra tu ficar se enfiando nesse meio não, seu lugar é na faculdade, é abrindo a mente pra mundo e se agarrando em oportunidade de ser a minha fisioterapeuta foda
Maíra – Eu já sou foda
A gente estava na minha casa sentados no sofá, aliás ele estava no sofá e eu, sentada no seu colo. Nada de mais, só uns beijinhos mais molhados, uma reboladinha por cima da roupa, mas só isso. Eu sabia que estava acontecendo alguma coisa só pela falta de pedido do Pezão
Para não brigar eu pedi para que ele me levasse na casa da Lê, sei lá, quem sabe aquelas crianças não me faziam esquecer essa história toda. Na boa, eu não queria ter filho e isso sempre foi uma verdade para mim, mas aquelas crianças . . . nossa, elas me faziam mesmo me sentir diferente, até com vontade de ter os meus
O Pezão me levou de moto
Maíra – Já estou entrando hein
Lê – Ah, graças a Deus a tia chegou. Vamos lá criançada, bora dar um abraço gostoso, um cheiro molhado e uma canseira das bravas nela
Por mais que a Lê dissesse que estava cansada, ela não desgrudava daquelas crianças, nem mesmo o Killer conseguia fazer com que ela tirasse um cochilo enquanto ele parava o mundo para ficar ali, brincando de lego, de trenzinho e Ninja com o Thomas ou de tomar o chá da tarde e ter um dia de princesa com a Raquel. Ela sempre estava alô
Lê – Eu pensava que tinha a melhor vida que tinha realizado todos os meus sonhos e não precisava de mais nada, hoje, olhando esses olhinhos remelentos, eu consigo ver que me faltava o mais importante, me faltava eles
Pezão – A gente não era nada mesmo
Maíra – Uai, por que amor? Você queria ter saído da vacina da tua irmã? Quer mamar da t**a dela?
Killer – Nem vem que quando desses biquinhos durinhos não saírem mais leite, a minha boca vai saber o que fazer pra deixar eles todo ouriçadinhos
Revirei o olho, o Killer sempre chegava de surpresa e fazendo essas piadas e enquanto eu me concentrava em esquecer o que ele acabará de dizer, o Thomas vomitou leite com chocolate em mim
Lê – Meu Deus, bem cá Thomas, nossa, ser que ele está doentinho?
A Lê disse já verificando se o menino estava com febre. Enquanto isso, me levantei, disse que não tinha sido nada e segui para o final do corredor, onde tinha um banheiro social
Só que, por causa disso, desse pequeno detalhe, eu escutei uma coisa que me atiçou uma batedeira no coração e não sei se, por causa da minha louca desconfiança e viagem sobre a insanidade, um tanto quanto preconceituosa da minha parte, minha antena de alerta para a Hira, ficou ainda mais em pé
Hira – Eu estou dizendo, é uma boa ideia, só faz o que eu estou mandando e você vai ver, é a nossa oportunidade de fazer o baba ficar orgulhoso da gente
Não parecia nada de mais, a não sei por aquela palavra “baba”. Se não me engano, a história da Hira era de que, além de sua família terem vindo fugidos da Turquia ou do Líbano, da Arábia, sei lá de onde, eles também carregavam um medo inexplicável de um pai psicótico, mas aquela palavra . . .
“Então quer dizer que a história dela não é tão verdade assim? Será que ela é quem diz ser ou, será que eu não estou tão errada assim?”