Capítulo 1
1 ano depois...
**Bruna narrando**
Desço do ônibus após uma viagem longa até o Rio de Janeiro. Deixei muita coisa para trás em Diamantina, mas sei que logo voltarei, levando tudo o que preciso para seguir minha vida em frente. Minha vinda para o Rio, mais precisamente ao morro da Babilônia, não foi programada. Cresci aqui e fui embora aos onze anos, quando meu pai morreu e minha mãe resolveu voltar para sua cidade natal. Agora, o destino me trouxe de volta, e só sairei daqui quando alcançar o que quero.
Depois de caminhar um bom tempo com uma mochila nas costas, olho para frente e vejo o Morro da Babilônia. Confesso que, quase dez anos depois, lembro pouco daqui e dos becos. Antes de começar a subida ao morro, paro em um bar e compro algo para comer. Peço para usar o banheiro e, ao me olhar no espelho, percebo que estou muito arrumada; preciso mudar isso. Começo a bagunçar meu cabelo e, com um canivete que tenho na bolsa, faço um corte lento no braço. Franzo os olhos e cerro os dentes com a dor, mas já estava preparada. Enrolo uma faixa no braço para destacar o corte, e bato minha testa várias vezes contra a pia até criar um hematoma. É isso que eu preciso para parecer que estou fugindo de um namorado violento.
Ao chegar na escadaria do morro, sou parada por um vapor.
— Moradora nova? — ele pergunta.
— Meu nome é Bruna, sou prima de Renan, preciso falar com ele! — digo, e ele me examina de cima a baixo.
— Pode deixar ela subir — ele ordena, e olho para ele, que mancando, carrega um fuzil atravessado.
— Manco? — pergunto, e ele me encara.
— Foi fácil me reconhecer? — diz com um baseado na boca.
— Nem precisei me esforçar.
— O que faz aqui? — ele pergunta.
— Preciso falar com meu primo, urgente! — respondo em tom desesperado.
— Vamos! Ele tá na boca geral!
Subo com ele em silêncio. A escadaria é enorme até chegarmos à boca geral, onde Renan está conversando com um homem sem camisa, todo tatuado.
— Renan, é pra você! — Manco avisa.
A atenção dos dois se volta para mim, e Renan me encara surpreso, os olhos arregalados.
— Bruna? — ele pergunta, como se não acreditasse no que via. — O que você faz aqui?
— Preciso da sua ajuda! — digo, cruzando os braços e cobrindo os cortes. — Podemos conversar?
O homem ao seu lado me lança um olhar sombrio e intrigado. Eu sabia muito bem quem ele era: FH, o dono do morro!
Vou com Renan até uma salinha próxima, e ele fecha a porta.
— O que faz aqui? — ele pergunta, intrigado. — Faz mais de dez anos que a gente não se vê!
— Preciso ficar aqui.
— Como? Por quê? — ele questiona.
— Fugi de Diamantina, do meu namorado — ele me olha, sério.
— Nunca mais tive notícias suas desde que foi embora.
— Eu não tenho ninguém, e você sabe disso. A única pessoa que tenho perto de uma família é você. Sei que não temos i********e e nem mantínhamos contato, mas preciso da sua ajuda. Não tenho onde dormir, nem dinheiro, nada. Tudo que eu tinha gastei para chegar aqui. Só preciso de um lugar para dormir; eu me viro.
— Por que me procurar?
— Já disse, não tenho ninguém mais. Ele tentou me matar, olha meu estado. — Mostro as marcas. — Não foi a primeira vez que ele tentou algo. Se eu continuasse lá, ele acabaria me matando. Estou cansada de sofrer. Por favor, me ajuda, me dá só um teto, e eu me viro.
Renan me observa com atenção. Minha voz carregava apreensão e minha expressão era de desespero. Precisava parecer convincente; por mais que minha história tenha mentiras, a situação que me trouxe até aqui era real e desesperadora.
— Vem, vou te levar até meu barraco — ele diz, sem muita conversa.