**Prólogo
FH narrando
Desço do carro e WN sai do outro lado. Acendo um baseado e cruzo os braços, encostando-me no carro, esperando os homens de TH chegarem. Logo que eles chegam, percebo algo errado; só um carro aparece, e nada do nosso carregamento. O homem desce do carro, nos encarando com certo receio.
— Você por aqui? — digo, jogando o baseado fora e olho para WN. Sinto que algo está estranho e já fico meio alerta para puxar a arma. Não sou burro e nunca ando sozinho; tenho homens escondidos no meio do mato, prontos para agir ao menor sinal. A gente nunca sabe quando pode ser surpreendido por um policial corajoso investigando a gente ou até mesmo por um traidor.
— Cadê o carregamento? — WN pergunta.
— Não vai ter — ele responde.
— Como assim, não vai ter? E o dinheiro que eu paguei? Vai para onde?
— Não vai devolver — ele diz.
— Como assim? — WN pergunta.
— Ele disse que não vai rolar a devolução do p*******o. Ele descobriu uma dívida antiga da Babilônia.
— A gente não tem dívida antiga nenhuma! Aquele filho da p**a só pode estar brincando com a nossa cara — WN fala exaltado, e eu coloco a mão no peito dele, impedindo que avance.
— Olha aqui — digo para ele — liga para ele agora! — encaro o homem e pego a arma. — Estou mandando você ligar para aquele filho da p**a agora e dar o recado que eu quero a grana na minha mão ou o meu carregamento! A gente tem um acordo, e ele vai cumprir.
O homem pega o celular com as mãos trêmulas sob a mira da minha arma e disca o número de TH.
— Fala aí, Chodó, já deu o recado para aqueles manés? — TH pergunta do outro lado da linha.
— Eles estão aqui na minha frente — Chodó responde, engolindo seco.
— O que você quer, FH? Acho que meu homem já te deu o recado: não vai ter carregamento nenhum, p***a!
— Se você não trouxer meu carregamento, a gente quebra o nosso acordo.
— Mas é isso que eu quero; não quero mais fazer parte desse acordo — TH diz.
— Vai trair um irmão? É isso mesmo? — WN pergunta. — Você vai se arrepender disso. Está com grana nossa e sabe muito bem que o dinheiro não é só desse carregamento. Agora que seu pai morreu, era para fortalecer a aliança, não quebrá-la. No momento em que você rompe com a gente, rompe com vários morros, e só vai se dar m*l!
— Tô de boa — TH fala. — A partir de hoje somos inimigos. Não existe mais aliança entre nós, e a tua grana, relaxa, de onde veio essa tem mais. Isso aqui é troco para você! — ele dá uma risada irônica. — Teu dinheiro fica comigo.
— Isso é sujeira; você vai se dar m*l, a facção não vai deixar barato.
— Não pertenço mais à facção — TH fala. — Pode vir com chumbo, que estou esperando aqui! — ele desliga.
— Posso ir, então? — Chodó pergunta.
— Nem pensar — WN responde.
— Faz o serviço — ordeno.
WN manda esse p*u mandado, filho da p**a, se ajoelhar no chão e atira na cabeça dele sem dó. O corpo fica ali no meio da estrada, e eu volto para o morro com uma certeza: TH queria a porcaria de uma guerra, e ele iria conseguir.
Chego no morro, e Renan está na boca esperando. Descemos, e ele já manda a bomba:
— Raul ligou — ele, o chefe da facção. Eu olho para Renan.
— O que ele queria?
— Ele quer a cabeça do TH — Renan diz. — TH tá ferrado!
Acendo um baseado, sabendo que daqui em diante a guerra vai começar.
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**1 ano depois...**
Letícia entra na boca, e eu a encaro. Seu perfume doce exala pelo lugar, se misturando com o cheiro da maconha no ar. Coloco o baseado em cima da mesa, e ela me encara, toda arrumada.
— Estava te esperando para subir para o baile, só que você não foi para casa — ela fala.
— Eu não vou!
— Por que não me avisou? — pergunta, já irritada.
— Não deu tempo, estava ocupado aqui!
— Por que não vai? — ela insiste.
— WN está em uma missão fora do morro; preciso ficar de guarda.
— E o Renan?
— Tá de boa no baile! — respondo, e ela me olha desconfiada.
— Então, você não se importa que eu fique aqui com você.
— Acredito que você não tenha se arrumado para passar a noite inteira na boca cheirando a maconha — comento.
— Não tenho problema com isso — ela diz, sentando-se. Sorrio ao ver o receio dela de que eu a traia. — Gosto de passar a noite aqui!
Ela me olha e sorri. Retribuo com um olhar confuso, mas logo nossos olhares se direcionam para a porta quando entra um vapor nervoso.
— Acabei de ser avisado pelos parceiros, o carro do WN foi encontrado alvejado, e não tem corpo — ele fala.
— O quê? — pergunto, levantando-me, e Letícia faz o mesmo.