Capítulo 5 Sassá

1195 Words
Sassá Narrando Tudo começou a acontecer, ao contrário do que eu imaginava. Pedi tanto ao meu pai e à minha mãe para não ter baile de boas-vindas... que esperássemos uma semana no Rio, e aí sim faríamos um baile. Mas, antes que perguntássemos, Mateo já jogou em cima da gente que haveria o baile de boas-vindas. A Marcela e a Fabiana já chegaram com as roupas, e não dava para fazer desfeita com a família. Sei o quanto a Sofia ficou constrangida, porque ela sabe que, de certa forma, ainda me sinto desconfortável. Somos assim: quando uma sente, é como se a outra sentisse também. Não é difícil de entender, né? Somos gêmeas idênticas, geradas na mesma placenta. Isso nos dá sentimentos e pensamentos parecidos. Decidi deixar o meu "eu" de lado, me vestir e me arrumar com ela, sorrir e subir... só não queria ter dado de cara com o Vinícius logo no início. Foi o que quebrou minhas pernas. Esse cara mexe comigo, e não é pouco. Eu nunca demonstrei, mas sempre fui apaixonada por ele, desde os meus 14 anos. Sassá — Você não devia ter feito isso. — senti minha voz falhar e fiquei ofegante. Mesmo sem querer, acabei retribuindo o beijo que ele me deu. Avalanche — Foi mais forte que eu, mas desculpa aí... não faço mais. — Ele se afasta, levantando as mãos, e me encara de longe, com a mão na cintura, olhando de cima a baixo. Sassá — Vinícius, aproveitando que estamos aqui, quero deixar uma coisa bem clara: eu não sou a mesma Samira de oito anos atrás. Se naquela época eu já não gostava de certas coisas, esses oito anos só me fizeram uma mulher muito mais resistente. O que aconteceu comigo me fechou para muita coisa, e só peço que respeite meu espaço. Um dia, quem sabe, todos saberão o que aconteceu. Mas, por agora, é algo que só diz respeito a mim. — Ele dá dois passos à frente, e eu me afasto, dando dois passos para trás. Avalanche — Se um não quer, dois não brigam. Mas preciso dizer que aquele sentimento de querer estar perto de você e gostar da sua companhia não era falsidade. Eu só não tinha uma estabilidade... — Sorrio e levanto a mão, indicando que ele parasse de falar. Sassá — Sim, eu sei. Acreditei em cada palavra sua todas as vezes que me chamou para sair. Acreditei até naquele baile em que você disse que tinha preparado tudo pra gente. Mas, se não deu certo, é porque não era pra ser. Coloquei na minha cabeça que não foi uma perda, foi um livramento. — Junto às pontas dos dedos, levando-os aos lábios, e explodo no ar, como se estivesse mandando um beijo para ele. Não sei como vai ser daqui para frente. Posso ficar com ele? Sim. Mas do mesmo jeito posso nem querer olhar para a cara dele. O dia de amanhã pertence a Deus. Assim como ele é livre, eu também sou. Vida que segue. Avalanche — Já falei e repito: você foi a única que entrou no meu coração. E, se depender de mim, não vai sair, porque você é a dona dele. Pra mim, não importa quem seja o pai da criança. Pai não é quem faz; é quem cria. — O jeito como ele fala me faz morder os lábios. Eu me afasto da mesa, ajeitando-me para sair. Tudo que envolve gravidez ainda me lembra muito do que aconteceu, e eu não quero isso agora. Não quero lembrar algo que nem é passado ainda. Sassá — Deixa como está. Você sabe o que foi pra mim, não preciso repetir. Mas existem amores e amores. Somos jovens, e o mundo dá voltas. Quem sabe, em uma dessas voltas, a gente se encontra, ou talvez nos afastemos de vez. — Pisquei, passando por ele e batendo de leve em seu peitoral. Saí da sala com o corpo pegando fogo, lembrando da mão dele firme em volta do meu corpo, do gosto da boca dele... um misto do gosto maconha, com o álcool, a mágoa e raiva explodindo em um sabor de adrenalina que fazia meu coração disparar. Master — Tá tudo bem? — Ele pergunta assim que passo por ele, sentado à mesa com minha mãe e alguns aliados. DJ — Um minuto de silêncio, vamos ouvir o nosso anfitrião, o grande Imperador. — Era como se ele estivesse só esperando por mim. Imperador — Fala, família! Aqui é o grande Imperador! — A voz dele parece que vai estremecer o local, e a galera vibra assim que ele se apresenta. Eu e Sossô levantamos e nos aproximamos da grade. Sassá/Sossô — Vovô babão! — Gritamos as duas juntas, e a galera lá embaixo, na pista, olha para cima. Imperador — Não humilha, gatas! Assim vocês jogam a autoestima do coroa lá embaixo. — Ele fala, cheio de graça, arrancando risadas. XXX — Olha se não são as gêmeas mais desejadas do Rio de Janeiro... — Não consegui distinguir quem era pelo timbre da voz. Sassá — Pena que não podemos dizer o mesmo. — Eu e Sofia nos viramos juntas, olhando para ele de boca aberta, e depois olhamos uma para a outra. Sassá/Sossô — Carälho. — Falamos juntas e colocamos a mão na boca. XXX — Vão dizer que não lembram de mim? Principalmente você, Sassá. Se as paredes dessa quadra falassem... — Fechei a cara e olhei firme para ele, esperando se ia inventar alguma coisa. Sossô — Cuidado para não falar algo de que você vá se arrepender depois. — Sofia já mandou o recado. Sassá — Não venha bancar o garanhão por algo que você não teve, Chacal, ou pode perder qualquer chance no futuro. — Pisquei para ele e voltei minha atenção ao coroa. Imperador — Só para constar, elas estão na área e logo estarão à frente de tudo isso. Exijo respeito. Do jeito que respeitam a mim, à minha Imperatriz, ao Master e à nossa Barbie, exijo o mesmo respeito a elas. E vocês, mulheres, que se acham mais do que são, cuidado. Não tenho idade nem paciência. Aqui, é tudo na base da Glock ou do fuzil. Recado dado! Tuiuti, recebam Samira e Sofia! — Uma chuva de tiros de comemoração estoura e a galera vibra. Sossô — Já percebeu que essa Cristiane vai dar trabalho, né? — Ela comenta, e eu sorrio por dentro. Ela já era louca, imagine agora, grávida. Que ela tente a sorte. Chacal — Sejam bem-vindas, gatinhas. A gente se esbarra, Samira. — Ele chama minha atenção. Avalanche — Você não acha que já urubusou demais, não, cara? Se liga na caminhada e cuidado para não olhar para o que não é seu. — Eu olho para Sofia, respiro e reviro os olhos, fazendo um sinal com a cabeça. Ela dá a volta por trás do Chacal, e eu passo ao lado de Avalanche, que continua encarando o Chacal, mas lança um olhar rápido para mim. Finjo que não é comigo e passo direto, paro ao lado da minha mãe, que acaricia minha barriga e beija meu rosto.....
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