Capítulo 09 Sassá

1330 Words
Sassá Narrando É como se todo mundo estivesse sentindo o que eu tô sentindo. Sei que cortar essa conversa agora só vai prolongar outra amanhã, então é melhor eu colocar logo tudo pra fora. Tentar seguir em frente, empurrando com a barriga. Daqui a alguns meses, vou estar enorme, e talvez só me resta rastejar. Flashback on Samira:Eu só queria entender por que você foi tão covarde de fazer o que fez comigo dopada – o olhar dele, pensativo e vago ao mesmo tempo, me deixa com ainda mais ódio. Fabrício: Que dopada o quê, Samira? Você sabia o que estava fazendo. Ouvi você gemer meu nome enquanto fazíamos amor do jeito que eu sempre prometi a você... – ele diz com um tom sarcástico, sempre me rondando desde a primeira vez que nos vimos, e eu sempre tentando mantê-lo à distância. Samira: VOCÊ É UM NOJENTO, UM ABUSADOR DO CARÄLHO! SAI DA MINHA FRENTE AGORA! – grito, esmurrando o peito dele. Ele morde os lábios, me olha de cima a baixo, e eu aperto as mãos no meu vestido, sentindo nojo de mim mesma. Flashback off Depois que conseguimos todas as gravações do local onde a Sofia me encontrou, minha vontade era matar o desgraçado. Era um lugar bem isolado, mas conseguimos descobrir as câmeras. Não assisti às imagens para me torturar; assisti a tudo que ele fez comigo para ter noção do que eu realmente passei. Durante 30 dias, assisti duas vezes por dia, o que acabou matando a velha Samira e me transformou na mulher forte que me tornei em quatro meses. Fiz isso para ter certeza de que o que não me matou me deixou mais forte. Barbie:– Talvez a hora seja agora, vamos colocar pra fora o que tá te prendendo aí dentro – ela me tira dos meus pensamentos conturbados. Sassá:– Aproveitando que estamos só entre mulheres, prefiro que essa conversa seja assim e agora, pra que possamos dar uma trégua e colocar um ponto final nesses olhares, cochichos e até nessa agonia que tá me arrancando o peitö – as meninas já estavam todas na piscina. Pérola:– Primeiro você vai comer! – É como se ela tivesse jogado sorvete no colo de uma criança; levantei tão rápido que dona Priscila até se espantou. Imperatriz:– E esse é o prato preferido do Pastor, meu irmão – ela disse, e deu uma saudade do titio; amo essa família. Sossô:– Como é que não se apaixona? Essa mulher tem mãos de fada! – As meninas se juntam ao redor da mesa, e alguém buzina lá fora. Fabiana já sai correndo pra atender a porta. Marcela:– Calma, tô indo te ajudar! – diz, correndo na direção dela para ajudar com as sacolas. Sassá:– Mais comida? Amo! – digo como se tivesse despertado, comendo. No baile, só tomei água e passei raiva. Barbie:– Vocês realmente não vão querer ser batizadas? Mas vocês sabem... – dou um beijo na bochecha dela e coloco o dedo na frente da boca dela pra que não fale. Imperatriz:– Filha, batizadas ou não, a gestão do morro e do Comando são de vocês. Como são as primogênitas, Gabriela decidirá qual parte vocês vão gerenciar e qual parte será passada para o Mateo. Mas quanto ao batismo, expor-se é escolha de vocês – espero aliviada com as palavras da vovó. Sassá:– Sei que vamos precisar assumir uma responsabilidade bem maior do que apenas ser filhas de dois homens tão importantes e de duas mulheres que não tenho nem palavras pra expressar o quanto são especiais. Mas, por enquanto, vamos deixando assim – Marcela e Fabiana, as caixas que estão recheadas de esfihas, mini-pizzas, empadas e muito brigadeiro gourmet sobre a mesa, junto das bebidas. Helô:– Lógico que a titia pensou na grávida – ela diz, trazendo pra mesa uma jarra de 2 litros do meu suco favorito, manga com gotinhas de limão, especialidade dela. Comemos, e elas me deixam a par de tudo o que está acontecendo no Tuiuti e nos outros morros, que são interligados ao Tuiuti sob a direção do grande Master, tia Helô e Heloísa, e a bisa Milly, que não está nada bem de saúde. Sassá: Vocês são demais, mas preciso tirar isso aqui do peito. Como a mãe falou, nunca fui de guardar segredos, e esses últimos quatro meses foram horríveis – Sossô confirma com a cabeça, passando a mão no rosto. As meninas, já de roupões, se sentam. Sossô:– Vou falar pra vocês, me senti tão culpada que não consegui dormir nem um dia enquanto estava no hospital com a Samira. Sei que não tive culpa de ficar doente, do mesmo jeito que ela não teve culpa de ter sido chamada pra aquele treinamento. Às vezes penso que foi armado, mas recalculando, não tinha como burlar a empresa – passo a mão no rosto dela, bagunçando seu cabelo. Mari:– Por que acha que não tem como burlar uma empresa? Se hackeiam até contas secretas do governo, nada é seguro. Imagine no país e no submundo. Sassá:– Primeiro, quero agradecer por todos estarem aqui comigo hoje. Passamos por muitos altos e baixos em Roma, vencemos obstáculos. Em 10 anos, só viemos ao Brasil duas vezes, e vocês foram lá quatro vezes. Imagina a saudade nesses dois últimos anos que não nos vimos. Mas estamos aqui. – Todas fazem coraçãozinho com as mãos. Sossô:– Tudo aconteceu em um dia chuvoso em Roma. Pedimos comida, mas, de madrugada, acordei passando mal... Caraca! – ela grita, chamando atenção – Meu estômago a minha bebida também foi alterada! Putä que pariu, Sassá! – Ela se levanta e começa a andar de um lado para o outro. Sassá:– Já tinha pensado nisso, só não queria te deixar pior do que você já estava – ela fecha a cara, coloca a mão na cintura. – Acordei como você estava se sentindo horrível e fui trabalhar, pois tinha um treinamento pra dar na faculdade no lugar de uma professora que faltou. Eu e a Sofia temos três formações, exercendo duas áreas e dando aula nas outras duas. No caminho pro campus, parou um carro ao meu lado e jogaram algo, mas não consegui ver o que era. Só lembro de acordar com o corpo todo dolorido... – As lágrimas escorrem sem eu nem perceber. minha mãe , ao meu lado, murmura. Barbie: Filho da putä do caralhö – arregalo os olhos e olho pra ela. Sassá: Quando acordei, foi como sair da morte. Sofia estava comigo e eu só sabia chorar. Já estava no hospital sendo medicada, mas não lembro como fui parar lá. Não sei onde ou como aconteceu, mas a sensação era de que todo mundo sabia o que aquele homem tinha feito comigo. A Sofia me achou pelo rastreador do meu telefone; estava num quarto subterrâneo, parecia um cofre – a expressão de raiva na face da mamãe, tia Pérola e vovó era evidente. Pérola: Esse cara merece ser caçado. Deveríamos nos juntar todas, bem treinadas, e pegá-lo de um jeito... Vou dizer, eu ia fazer ele pagar. Se fosse por mim, essa história não chegaria no Master, muito menos no Imperador, já teria até uma tortura preparada calculada para ele – ela diz. Minha mãe levanta a mão e ela bate de punho fechado na mão da minha mãe e na mão da grande Imperatriz também, mas eu balanço a cabeça, negandö. Sassá: Podem parar vocês três. Dona Priscila, a senhora representa a paz; dona Imperatriz, a senhora mantém a ordem; dona Pérola, respire. Não estou falando de uma terceira guerra mundial. Eu estudei tudo sobre ele, e sei que já fez favores pro grande Imperador, e o Imperador também já fez favores pra ele. A vingança é um prato que se come frio, e não tem nada melhor do que saboreá-lo no momento certo – digo, travando os músculos do rosto e cerrando o maxilar.....
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