Capítulo 20 - Preparativos do noivado

1847 Words
Pela primeira vez desde que chegou àquele mundo, Lucian se via ocupado com algo. Até então, ele poderia desfrutar de uma xícara de chá e aproveitar o silêncio da sua biblioteca vazia, fazer alguns passeios no centro comercial ou até mesmo simplesmente pensar sobre a história original. Agora, por ele ter dito que tinha pressa em se casar com Magnus, tal calmaria lhe foi retirada. — As mesas chegaram, lembrem-se de colocá-las no centro do salão, precisamos deixar espaço para a mesa maior onde ficará o bolo. — As cortinas também chegaram! — Esperem! Precisamos limpar as janelas primeiro! Chamem a equipe de limpeza para deixarem os seus afazeres e focar nas janelas agora. Todo o palácio estava uma verdadeira bagunça, refletindo a emoção de um anúncio. A festa de noivado de Lucian e Magnus estava sendo preparada há semanas e a grande noite se aproximava. Apesar de se tratar apenas do noivado deles e não do seu casamento era um ponto a ganhar atenção, já que fazia as expectativas aumentarem sobre o dia do casamento. Se com o noivado, o Imperador concedeu o seu salão para realizar a festa, o que os nobres convidados poderiam esperar do casamento em si? Principalmente por se tratar do oitavo príncipe subir no altar, o primeiro filho - dentro dos cinco vivos - a se casar? Era justificável a euforia de todos. Era incrível como Lucian podia ver a correria dos criados do seu palácio. O seu palácio ficava nas “portas dos fundos”, onde era comum ver carruagens com mercadorias chegando. E naquela tarde não era diferente, dessa vez mesas confeccionadas especificamente para o seu noivado tinha chegado e agora outra carruagem chegou com outro carregamento. Pela janela da sua sala de visitas, Lucian apenas observava aquele vai e vem. — Vossa Alteza, erga os braços e mantenha a compostura, eu preciso tirar as suas medidas. Estendendo os braços para o lado, Lucian tentava se manter imóvel enquanto a estilista tirava as suas medidas para arrumar o seu terno. Os últimos ajustes precisavam ser feitos graças a um pequeno detalhe que surgiu repentinamente. — Eu não fazia ideia que um príncipe tinha um traje específico para ser usado em cerimônias como casamentos — Comentava Lucian. — Ora, a Sua Majestade também usou o mesmo traje quando ficou noivo e se casou com o Lorde Cassander. A questão é que esse traje não caberá em você, Vossa Alteza, já que seus ombros e peitoral são menores. — Mas o que tem de diferente nesse traje? Quero dizer, por que ele é tão importante? — Questionava Argus, observando a estilista anotar as medições. — Trata-se de um código de vestimenta real. Pode comparar ao uniforme que os oficiais do exército usam, expondo suas medalhas e insígnias que determinam a sua posição social elevada. No caso estamos cuidando do casamento de ninguém menos que o oitavo príncipe. — Provavelmente se eu fosse o herdeiro do trono, tal traje seria ainda mais pomposo — Adicionou Lucian. Argus concordou com a cabeça. — E, sendo o primeiro m****o real desta geração a se casar, esperamos que isso possa fazer os seus irmãos… despertarem o interesse em se casarem também. — É mesmo, agora que me toquei, a Sua Alteza já vai fazer trinta anos e é o filho mais novo de Sua Majestade. Por que o imperador não está arrancando os cabelos de preocupação por nenhum filho ter se casado ainda? — Hoje você está curioso, Argus. — Me perdoe, Vossa Alteza, foi apenas um detalhe que percebi agora. — Tudo bem, isso não é um grande segredo — Lucian baixou os braços e vestiu um modelo que a estilista lhe entregou, para que novas medições fossem feitas — Mas respondendo a sua pergunta, acredito que há algo que pese mais do que o casamento: o herdeiro do trono. A estilista ergueu os olhos para Lucian. — Acha mesmo que esse é o motivo? — Somente uma pessoa que não tem o menor interesse nos assuntos imperiais não saberia disso — Lucian respondeu bem humorado — Considerando que muitos esperam que Raven assuma o trono por ela ser a primeira filha ômega do Imperador, e também considerando que Cadec, o primeiro filho do Imperador e um alfa, está ganhando poder político, podemos dizer que temos uma batalha pelo trono à frente. Quem vai ganhar? — Mas nesse caso, o casamento serviria como grande aliado político, não é? Se a Sua Alteza, a princesa, se casar com um homem de grandes posses e aliados, ela não teria vantagem? — É justamente por isso que eles não devem se casar com qualquer um, Argus. Afinal, estamos falando de um consorte, a posição mais alta que há socialmente. Por esse motivo que não é estranha a relutância de meus irmãos em se casarem, estão sendo cuidadosos na medida certa. — Além disso, em gerações anteriores já aconteceu de um príncipe usar um nobre aliado dele a se casar com o herdeiro do trono — Comentou a estilista, ajustando um alfinete no tecido e ajustando o casaco na cintura de Lucian — Dessa forma ele governou por trás das cortinas e o imperador regente agiu como seu fantoche. — Minha nossa, aconteceu algo assim na história do nosso império? — Aconteceram diversas coisas na história, o que mostra que para aqueles que ambicionam o trono, estão arriscando as suas vidas em um jogo estratégico e político do qual dificilmente podem escapar. — Nesse caso, a Sua Alteza está livre para casar com quem quiser já que não deseja o trono. — Isso mesmo, Argus. O criado sorriu contente por entender o motivo da euforia do seu Imperador, apesar de Lucian não dar tanta atenção a tal detalhe. Talvez o autor de tenha usado a politicagem do mundo moderno para criar o império de Roveaven. — Parece que a Sua Alteza ganhou um pouco de peso desde a última vez que verifiquei suas medidas. — Ora, devo cuidar da minha dieta? — Certamente não, Vossa Alteza, você continua elegante. Apenas terei que ajustar a sua camisa um pouco, considerando que precisa ficar confortável para a dança. Lucian fez uma leve careta ao ouvir aquela maldita palavra. Dançar era estranho demais, ele perdia completamente o controle e seu corpo se movia sozinho em movimentos estranhos e elegantes. Era muito desconfortável a sensação, como se estivesse invadindo o corpo de outra pessoa… o que era verdade, mas ele ignorava tal detalhe. Além disso, até então a sua experiência com danças sempre foi com Raven. Seria diferente se ele pudesse dançar com Magnus, mas nenhum deles gostava de dançar. — Não adianta fazer careta, Vossa Alteza, está fora de cogitação tirar a primeira dança — avisava Argus. — Não podemos negociar? — Não. — Droga. — Muito bem, terminei as medições, Vossa Alteza. Imagino que depois de hoje, não precisaremos fazer nenhuma outra alteração, mas preciso saber das jóias que usará para confeccionar os detalhes do seu casaco. — Infelizmente ainda não tive acesso às jóias, mas assim que eu as tiver, te chamarei para vê-las. — Não deixe para a última hora, Vossa Alteza. — Confie em mim, mesmo que um pouco. Batidas na porta chamou a atenção dos três. Uma criada inexpressiva curvou-se respeitosamente quando Lucian a olhou sobre o ombro e sem perder tempo a voz taciturna da criada soou pela pequena sala de visitas. — Vossa Alteza, fui enviada para buscá-lo. — Me buscar? E para onde me levará? — O consorte imperial deseja falar com a Vossa Alteza. O corpo de Lucian petrificou no lugar. Por que um personagem que nunca fez uma aparição na história original estava o chamando? — O consorte? — Isso mesmo. Adquirindo uma postura mais séria, Lucian ajeitou as suas roupas e seguiu a criada que o guiou pelos corredores do pequeno palácio do oitavo príncipe. No percurso, ele tentava - a todo custo - se lembrar quem era o consorte. Em nunca foi mencionado sobre o parceiro do Imperador. Na verdade, havia pouca menção sobre as mães dos príncipes e princesas. Se não tivessem alguma aparição na história, então era como se elas não existissem. E isso tornava alguns personagens ainda mais misteriosos, pois não se sabe sobre o seu background. Lucian era o exemplo perfeito. Quem era a sua mãe? E por que ele era um príncipe renegado? Por qual motivo o Imperador esqueceu a sua existência e permitiu que o próprio filho mais novo vivesse escondido ao ponto de quase não existir? Lucian teve um final trágico ao morrer nas mãos do vilão depois de ter sido usado por toda a história, onde estavam os seus pais que deixaram isso acontecer debaixo dos seus narizes? O Imperador claramente não fez nada, mas e quanto a mãe de Lucian? Por acaso é viva? Chegava a ser irrisório a coincidência de uma criada do consorte chamar por ele justo no momento em que Lucian falava sobre o jogo político que os seus “irmãos” estavam jogando. A criada guiou Lucian pelos corredores silenciosos, passando por uma passarela ao lado do jardim do imperador. Apesar do sol brilhante do lado de fora, as sombras criadas pelas colunas tornavam aquele caminho um tanto quanto sombrio, como se Lucian fosse se encontrar com o próprio demônio ou vilão daquela história. Para a surpresa de Lucian, eles não entraram em um novo palácio, mas sim na ala sul do Palácio do Sol. Isso significa que o consorte convive com o Imperador? A mudança brusca foi notada, se o pátio do palácio já estava agitado isso nem se comparava ao zum zum zum que havia dentro do Palácio do Sol. A decoração parecia mudar por completo nas áreas sociais, e os criados paravam os seus trajetos para se curvarem rapidamente para Lucian e então voltarem a correr. A ala sul do Palácio parecia mais calmo e silencioso. Somente quando pararam diante de uma imensa porta que a criada finalmente disse algo. — Vossa Majestade, a Sua Alteza Imperial está aqui. Uma voz masculina soou por trás da porta, o que surpreendeu Lucian. — Entrem. A enorme porta foi aberta e a criada fez uma reverência antes de se afastar. Lucian a encarou por alguns segundos antes de olhar a porta e suspirou baixo. Não precisava ter medo, deveria manter a neutralidade e evitar dar respostas que dessem margem a más interpretações. Independente do motivo pelo qual o consorte desejasse vê-lo, só deveria evitar as inimizades. Entrando naquela sala, Lucian se deparava com um ambiente claro e rico em decorações azuis e prateadas. Por um instante ele teve a impressão de realmente estar em um palácio, principalmente por ver um homem de cabelos pretos compridos e trajes escuros sentado em uma cadeira bebendo um chá. No instante em que os olhos escuros daquele homem se viraram para Lucian, imediatamente ele se levantou da cadeira e correu na direção do príncipe. Os seus longos braços envolveram o rapaz em um abraço inesperado e aconchegante, fazendo Lucian piscar algumas vezes de surpresa. — Lucian… meu menino…
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