Capítulo 21 - O Consorte Imperial

1388 Words
— Ham… O que deveria fazer? Retribuir o abraço? Tratar com frieza? O que raios estava acontecendo? O homem continuava a abraçá-lo apertado, não dando nenhum sinal de que o soltaria tão cedo. O desespero foi crescendo e Lucian só tentava se lembrar de alguma menção sobre aquele homem na história original. Aquela sensação era ainda pior do que encarar o Imperador com aquela intensidade e presença. Afastando-se de Lucian, o homem ainda o segurava pelos braços e seus olhos escuros avaliavam o semblante do oitavo príncipe com preocupação. — Me diga como está se sentindo. Por acaso se lembra de algo? Aconteceu algo? — Eu deveria estar sentindo algo… Vossa Majestade? Por um instante aquele homem ficou hesitante e calado, como se não esperasse aquelas palavras vindas de Lucian. Droga, teria ele dito algo errado? Por acaso Lucian tinha algum envolvimento com aquele senhor? Qual era? Ah, iria enlouquecer! — Não, claro que não. Me perdoe, acho que devo ter te assustado, não? — Um pouco, admito. — Venha, sente-se. Eu pedi que o chef preparasse alguns biscoitos amanteigados. O homem finalmente soltou Lucian do abraço e apontou para a mesa preparada para um chá da tarde. Ainda hesitante, o príncipe se sentou em frente ao senhor e foi servido pelo próprio consorte com uma xícara de chá. — Você ainda gosta de chás, não é? — Sim, mas não precisa me servir… — Não se incomode com isso, meu querido. Está tudo bem. Como era desconfortável andar naquela história sem informação alguma! Aliás, deveria tratar aquele homem da mesma maneira como trata o Imperador? Afinal, se ele é chamado de consorte, isso deve significar que é o atual esposo do Imperador, certo? E se o Imperador era um ômega, e estava casado com outro homem, então o consorte seria um alfa, certo? Enquanto Lucian tentava encontrar uma saída para aquele pequeno dilema, ele saboreava o forte gosto da erva em seu chá. Era levemente amargo que tornava perceptível o açúcar que quebrava o sabor. Apesar de sua vida como Luciano ele não ter sido um grande admirador de chás, por algum motivo ele se sentia à vontade quando bebia o pequeno estoque do oitavo príncipe. Depois de experimentar o chá, Lucian deixou a xícara sobre a mesa e alcançou um dos biscoitos amanteigados. Ele queria fazer uma pergunta que soasse casual e inofensiva para não alarmar o consorte. — Há algum motivo em especial para ter me chamado, Vossa Majestade? — O meu único filho irá se casar, como eu não poderia vê-lo? Lucian se engasgou com o biscoito, começando a tossir quase sem fôlego. O homem imediatamente levantou-se preocupado e foi até ele, dando leves batidinhas em suas costas e o encarando desesperado. — Você está bem? Há algum problema? Ele tinha ouvido certo? Aquele homem disse que Lucian era seu filho? Por acaso ele se referia assim a todos os filhos do Imperador? Afinal, todos eles tinham mães diferentes. Mas que droga, por que o autor daquela história nunca mencionou sobre o consorte? Bebendo um gole do chá para acalmar a garganta irritada e a sua respiração descompassada, Lucian conseguiu se recuperar do engasgo. Erguendo a mão em sinal de que estava bem, ele tentava controlar o leve rubor de vergonha que surgia em seu rosto por ter desencadeado uma situação tão embaraçosa. — Me desculpe, acho que comi com muita pressa. — Minha nossa, Lucian. Sei que gosta muito desses biscoitos, mas deve comer mais devagar e mastigar bem o seu alimento. — Tem razão, me perdoe — Lucian pigarreou novamente e secou os lábios com um guardanapo tentando recuperar o pouco de dignidade que havia sobrado. — Está tudo bem, imagino que tenha ficado surpreso por eu tê-lo chamado até aqui. Mas considerando a notícia repentina do seu noivado, senti a necessidade em vê-lo. O seu noivado? Bem, era esperado que as pessoas ficassem chocadas com a notícia, mas Lucian lembrava que a ideia partiu do próprio Imperador. Por acaso o pai do verdadeiro Lucian nunca comentou sobre o assunto com o seu consorte? Se não, isso já dizia muito a respeito da relação entre eles. Talvez Lucian devesse jogar verde… — Eu entendo, mas a ideia do noivado partiu inteiramente do Imperador e eu apenas tive sorte do Grão-duque ter aceitado. — Sim, eu sei, afinal eu e seu pai discutimos muito a respeito desse assunto. — Vocês… discutiram sobre isso? — Questionava Lucian com surpresa observando o consorte voltar ao seu lugar. — É claro. Com certeza as mães dos seus irmãos devem fazer o mesmo com eles. Nós discutimos sobre quem seriam os melhores parceiros para os nosso filhos e o seu pai dá a aprovação final — O homem explicou calmamente, parecendo não se importar em dar mais detalhes a Lucian — Veja bem, também me comprometi a cuidar do casamento de Cadec por causa da situação dele. Sim, a história de Cadec era conhecida, afinal tratava-se do melhor amigo de Magnus. Em Cadec era uma figura recorrente por acompanhar Magnus nas investigações sobre os rebeldes, e também por ser uma figura que tinha forte apoio político para se tornar o príncipe herdeiro mesmo ele sendo um alfa. Por isso o autor dedicou alguns parágrafos para contar a sua história brevemente. "Se havia alguém naquela terra que era capaz de entender Magnus, era Cadec. O amor de uma família sempre viria em primeiro lugar, principalmente para aqueles que já a perderam". Muitos leitores pensaram que Cadec perdeu a mãe e por isso recebeu mais atenção do Imperador do que os seus irmãos. Infelizmente os detalhes da morte não foram tão bem explicados, apesar de ser explícito que foi uma tragédia envolvendo o trono. Seria justificável que ter a atenção do Imperador desencadearia a inveja nos demais irmãos, pelo menos Lucian acreditava que fosse o caso agora que ele estava preso na história. — Entendo… Eu não sabia que havia tal processo. O homem calmamente estendeu a mão sobre a mesa, segurando a mão de Lucian com carinho. — Eu preferiria que você pudesse ao menos encontrar a pessoa que ama para ficar junto, mas ouvi do seu pai que tem se dado bem com o Grão-duque. — De certa forma nós nos damos muito bem. Apesar de ser um casamento político, nos respeitamos bastante. Uma mentirinha não faria m*l, não é? O consorte não precisava saber dos pormenores… Lucian poderia sorrir inocentemente e garantir que tudo estava indo como planejado, não é? — Fico feliz em ouvir isso. Espero que realmente o Grão-duque o faça feliz — Aquelas palavras…. elas soaram tão estranhamente nos ouvidos de Lucian, que ele ficou sem ter o que responder — Ah, certo! Tenho um pequeno presente de noivado, espero que goste. O homem fez um sinal e a criada - que se manteve parada e calada feito uma estátua por todo aquele tempo - se retirou da saleta para então retornar alguns minutos depois com uma caixa em mãos. Ela parou ao lado de Lucian, que encarou a caixa embrulhada com curiosidade. — Um presente? — Isso mesmo. Espero que goste. Lucian desfez o laço impecável e abriu o embrulho e a tampa da caixa. Dentro havia uma peça de roupa que parecia um sobretudo branco com detalhes em azul. Um bordado na barra retratava um pássaro prateado com os olhos azuis, feito com delicadeza que parecia puxar fio se esbarrasse descuidadamente no tecido. Era fino, não parecendo esquentar muito no inverno, mas ainda assim muito bonito. — Uau… obrigado, Vossa Majestade. — Espero que goste, eu mesmo bordei. — Realmente gostei…. Espera, o que? — Lucian olhou surpreso para o consorte, que sorria docemente. Um consorte… espera um pouco, uma figura tão nobre gastou o seu tempo para bordar um sobretudo e entregar a um príncipe renegado? Por algum motivo, aquilo deixou Lucian desconfortável. Era como se as informações faltantes da história original o deixassem num vazio que causava uma pequena angústia. Quem era aquele homem de verdade e por qual motivo ele estava tratando o renegado príncipe com tanto carinho? Deveria desconfiar dele? Deveria imaginar que o consorte está colhendo informações para entregar a um dos seus irmãos? Ou estaria ele próprio interessado no poder político que Magnus tinha? Era uma incógnita. Lucian realmente não sabia lidar com as incógnitas.
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