Capítulo 24 - Conselho de pai

1467 Words
Dentro da carruagem pairava o desconforto por três pessoas compartilharem o espaço sem dizer uma única palavra. Rehael erguia os olhos claros para Lucian, que por sua vez encarava o lado de fora sem parecer interessado em conversar. Desde que Cassander lhe contou sobre o desabafo enfurecedor do oitavo príncipe, Rehal se sentia incomodado. Era justificável a sua vontade de sair do palácio e mantê-lo longe da batalha pelo trono, só que feria o seu orgulho saber que o seu esposo se tornou alvo das palavras de Lucian. O Imperador queria questioná-lo ao mesmo tempo que se mantinha de boca fechada por já imaginar qual a resposta receberia. Ainda assim, ele tentaria. — Lucian, você sabe onde estamos indo? — Questionou o Imperador. O rapaz olhou em sua direção, inexpressivo e com um tom calmo, ele respondeu como se deixasse claro a distância entre eles. — Ao Templo das Almas para conseguir a permissão para o meu noivado. — Isso mesmo. Como deve saber, o templo é um grande aliado nosso, pois nos ajudam a cuidar do nosso povo. Conseguir a aprovação do templo é o mesmo que receber a benção da Deusa Kronasis. — Entendo. Lucian deu uma resposta tão curta que o assunto terminou ali mesmo, frustrando o Imperador de tentar chegar ao ponto. Ele até recebeu um pouco de conforto do seu esposo, que acariciou o seu braço sutilmente, mas era um pouco irritante ver o seu filho mantendo distância. Era como ver a si mesmo quando mais novo, sem realmente entender a importância do templo. O Templo das Almas tinha várias sedes espalhadas pelo Império Roveaven, auxiliando nos cuidados primários aos cidadãos, em especial os plebeus. Desde oferecer tratamento médico para primeiros socorros até acolher crianças órfãs, o templo simplesmente era forte por ter a gratidão e a fé do povo que acreditava e cultuava a Deusa Kronasis. Ter o templo como aliado político era algo que os interessados no trono queriam obter, mas o Imperador pediu ao atual Sumo Sacerdote para serem cuidadosos com a sua escolha. Graças a isso, o templo se tornou neutro desde que os filhos do Imperador alcançaram idade para serem apontados como herdeiro. Assim que a carruagem parou em frente ao imenso templo, um sacerdote os recepcionou com uma reverência formal. Os três desceram da carruagem e subiram as escadarias para o templo, que continuava sendo um lugar calmo e brilhante, como um pequeno castelo bem cuidado. — O Templo das Almas deseja as boas vindas à Família Imperial. — Muito obrigado, sacerdote, por nos receber. — De maneira alguma, Vossa Majestade. Por favor, me acompanhem. O beta que guiou eles parecia ser um sussurro do vento, até mesmo a sua presença era calma. Era completamente diferente do ambiente caótico do palácio e os problemas a serem resolvidos com os nobres. Ali Rehael se sentia confortável para apenas… existir e ser ele mesmo. Não era para menos, absolutamente tudo naquele lugar remetia a tal conceito. Como esperado daquele lugar, havia um belo jardim muito bem cuidado onde algumas pessoas passeavam e conversavam. Sacerdotes e estudantes passavam de um lado para outro, cumprimentando o Imperador e o Consorte ao vê-los. Mesmo estando um pouco longe, ainda assim foi possível ouvir risadas das crianças que viviam acolhidas no templo. Era um verdadeiro lugar calmo. O sacerdote guiou os três para a entrada do templo, onde havia um enorme corredor que dava acesso a várias salas e o altar central, que parecia parcialmente vazio naquela tarde. Ali eles foram recebidos por outro sacerdote, que se curvou formalmente para cumprimentá-los. — Vossas Majestades, Vossa Alteza, o Sumo Sacerdote se encontra ocupado com alguns clérigos, por isso peço que esperem por ele, que não irá demorar muito. Desejam ser guiados até a sala de espera? — Não será necessário — Respondeu Rehael diretamente — Podemos ficar aqui mesmo já que também esperamos pela vinda do Grão-duque. — Por favor, fiquem a vontade enquanto aguardam. — Neste caso, irei orar um pouco — Cassander disse, arrumando a manga do casaco. — Ficarei feliz em guiá-lo, Vossa Majestade. Cassander sorriu docemente para Rehael em uma despedida silenciosa, e então ele seguiu o sacerdote que o levou para dentro do templo. Rehael o observou, percebendo a enorme estátua da deusa que tinha na parte mais alta do altar. Próximo à estátua, alguns estudantes estavam ajoelhados orando, e Cassander se uniu a eles ao se ajoelhar também. — Então essa é a Deusa… O sussurro que o Imperador ouviu provavelmente era apenas Lucian pensando consigo mesmo, mas não passou despercebido. Cruzando os braços, ele aproveitou aquele momento e continuou a observar o seu marido apesar de suas palavras serem direcionadas ao rapaz ao seu lado. — Não obrigamos ninguém a acreditar na Deusa Kronasis. As pessoas podem receber a ajuda do templo independente do que acreditam, porque os sacerdotes fazem o trabalho voluntário por amor. — É muito considerativo dar tal liberdade às pessoas. — É apenas o certo. Eu mesmo não era alguém devoto, nunca me importei de verdade com essa coisa de religião. Mas depois de perder três filhos, me vi sem chão e encontrei o acalento que precisava. Lucian ergueu uma sobrancelha ao olhar para o Imperador, que se mantinha inexpressivo e de braços cruzados feito uma muralha de ferro. O Imperador sabia que a sua postura não condizia com as palavras de um pai que ainda não superou a tragédia dentro da família, só que tal armadura era muito difícil de tirar, já que a frieza se tornou a sua melhor defesa. Sem receber uma resposta, o Imperador apenas continuou a falar. — Por eu ter me casado com um alfa, a situação do palácio se tornou insustentável. Muitas amantes minhas, com quem me aventurei quando solteiro, usaram os meus filhos para conseguirem posições elevadas dentro do palácio. Perdi filhos queridos por causa da ganância, e por isso fiquei receoso quando descobrir carregar um filho de Cassander. Ainda assim, prometi a ele que cuidaria daquela criança, independente do quão difícil fosse. E então, você pôde nascer em segurança. O Imperador olhou na direção de Lucian e afagou levemente o seu ombro. — Fiquei sabendo da sua conversa com Cassander, e fico feliz por finalmente poder ter ouvido um desejo seu, mesmo que seja um pedido para sair do palácio. — O senhor fala como se eu jamais tivesse pedido algo a vocês antes. A Sua Majestade também fez parecer assim no outro dia. — É porque, de fato, você nunca pediu. Não importa o quanto perguntássemos, nós demonstramos a nossa disposição em satisfazer as suas vontades, Lucian, você é que nunca pediu nada a ninguém. Rehael notou a surpresa nos olhos do seu filho, que o encarou silenciosamente como se desse conta de alguma coisa. Não era a sua intenção dar um sermão em Lucian, apesar de que como pai era o seu dever guiá-lo independente da idade que tivesse. Só que eram tão raras as chances de se aproximarem e de conversarem daquela forma, que Rehael simplesmente não queria deixar passar. — A luta pelo trono ainda vai demorar para se resolver, mas isso é algo que cabe a mim dar o último passo. Se a única coisa que posso lhe dar é a liberdade que tanto deseja, que assim seja. Porém, Lucian… — O Imperador olhou seriamente para o seu filho — Independente de onde você for, continuará sendo um Saint Richmond, por isso não se afaste demais da sua família. Cassander o ama muito e já sofreu muito para conseguir a chance de tê-lo conosco. Lucian abriu a boca, prestes a dizer algo, mas o cheiro doce de vinho se tornou presente junto com a presença do Grão-duque, que chegava acompanhado de um sacerdote. Era um pouco triste que a sua única chance de conseguir conversar com sinceridade com Lucian chegasse ao fim, só que ao mesmo tempo, o Imperador ficou aliviado em ver o Grão-duque ali — Olá, Grimwood. — Boa tarde, Vossa Majestade. Acabei de chegar, peço desculpas pelo meu atraso. Como esperado, Magnus Grimwood o cumprimentava com reverência demonstrando o seu respeito. Rehael deu uma espiada em Lucian, percebendo que ele ainda estava calado e com a testa levemente franzida. Haa… Ele já fez o que estava ao seu alcance. Talvez fosse hora de deixar o Grão-duque encontrar alguma forma de confortar Lucian. — Está tudo bem, já que você chegou, deixarei Lucian com você — Rehael olhou para dentro do templo onde o seu esposo continuava orando ajoelhado — Eu também preciso fazer uma prece. E assim, Rehael entrou no templo deixando para trás o seu filho e o Grão-duque, sem saber qual foi a reação de Lucian às suas palavras e muito menos o que poderia mudar na relação daquela família cheia de segredos.
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