Capítulo 55 - Livrando o mau humor

1877 Words
Naquela tarde chovia no Império Roveaven. Sentado em frente da janela, ainda usando os seus pijamas e enrolado na coberta, a atmosfera melancólica combinava perfeitamente com o estado de humor de Lucian. O casamento de Jesse e Victória Shang seria no entardecer, no entanto, o oitavo príncipe dispensou Argus ao dizer que só se arrumaria mais tarde. O seu criado ficou preocupado com o mestre, que repetiu a rotina de encarar a janela no silêncio desde a festa do chá. Não era para menos. Lucian não esperava que Magnus fosse… tão frio com ele. A sua testa se encostou no vidro gelado, observando a montanha embaçada ao longe. A sua mente insistia em repetir o momento em que Magnus encerrou a conversa deles, lançando aquele olhar que dizia claramente suspeitar de Lucian. Um olhar que fez Lucian se arrepender de ter sido honesto com o seu noivo. "— Essa é a coisa mais estapafúrdia que já ouvi vindo de você, Lucian." Foram as únicas palavras ditas por Magnus antes dele ir embora. Desde o começo, Lucian deixou claro que pretendia usar Magnus da mesma forma que o deixaria usá-lo também. Uma relação supérflua onde um teria utilidade para o outro, apesar de Lucian realmente gostar de Magnus e o querer inteiramente para si. Na medida em que eles se conheceram melhor, e até mesmo dormiram juntos, Lucian se via sendo ambicioso e possessivo com o Grão-duque. Isso parecia o certo para ele. Mas agora… o que restava? Deveria ter imaginado que Magnus não acreditaria na sua história de ter um dom. Certo, era algo ridículo que nem mesmo Lucian gostava de dizer, no entanto tudo era ridículo. Toda a sua realidade era ridícula e inacreditável. — Quero voltar pra casa — Murmurava Lucian, assistindo uma gota de chuva descer pela janela. Fechando os olhos, ele desejou fortemente que ao abrir os olhos pudesse estar de volta ao seu quarto sem graça do seu apartamento. Que o alarme tocaria ao fundo avisando que era hora de levantar para ir trabalhar no escritório. Até mesmo voltar a ter a mesma rotina entediante de sempre parecia melhor do que enfrentar dilemas como o qual estava lidando agora. Voltaria a ser um homem de trinta anos e solteiro, que tem receio de se envolver com as pessoas e prefere gastar o seu tempo lendo histórias na internet. Naquele dia, Lucian não fez nada além de ficar sentado na janela observando a chuva. Somente saiu daquele canto para almoçar e ter o lanche da tarde. Quando o relógio de bolso que Stephen lhe presenteou apontou o entardecer, Argus obrigou o seu mestre a sair do seu canto melancólico e se preparar para o casamento. Enquanto encarava o próprio reflexo no espelho, Lucian nem se surpreendia mais. Teria ele se acostumado a ser Lucian? Era ele mesmo, aquele homem magro de cabelos compridos, que agora eram presos por uma fita. A sua nova identidade. Não mais o homem de cabelos castanhos curtos…. não mais Luciano. Quando foi colocado o seu casaco, Argus se afastou e encarou o seu mestre. — A Sua Graça o aguarda lá embaixo, Vossa Alteza. Só de saber que Magnus estava na entrada do seu palácio deixou Lucian ansioso. Desde a festa do chá que eles não se viam. Novamente a sua mente ficou carregada de memórias daquelas palavras tão frias repleta de descrença por parte do seu noivo. Não queria vê-lo. Estava com vergonha. Magnus zombaria de si, diria que ficou louco ao ponto de acreditar que tinha visão sobre o futuro. Que era ridícula a ideia dele matando Magnus. Ainda assim… ele tinha que fazer isso. Saindo do seu quarto e caminhando pelos corredores do seu frio palácio, Lucian tentava postergar a sua chegada. Os dedos enluvados se apertavam levemente, sentindo a gelidez nas pontas dos dedos. Apesar disso, o seu coração não acelerou, tampouco a sua respiração ficou desregulada. Ele se mantinha calmo como se esperasse justamente pelo pior cenário. Assim que Lucian alcançou o topo das escadas, automaticamente procurou pelo seu noivo. Encontrou Magnus de costas encarando a janela, usando aquele traje tom de vinho e os cabelos pretos arrumados para trás. Uma figura imponente até mesmo de costas. Ouvindo o som dos passos, Magnus olhou sobre os ombros, e Lucian desviou o olhar para baixo enquanto descia os degraus lentamente. Vai ficar tudo bem. Você não está fazendo tudo isso apenas por querer Magnus para si. Está fazendo para que ambos sobrevivam. Lucian repetia aquelas palavras para si mesmo, tentando amenizar a frustração e a hesitação em ver Magnus. Decepcionar alguém querido era a pior sensação. Chegando no final da escadaria, Lucian hesitou em descer o último degrau. Os seus lábios se apertaram formando uma fina linha, e seus olhos tremeram levemente por se sentir envergonhado em autoproclamar um "vidente" ou "profeta". Tais títulos eram pesados demais para os seus ombros. Um dedo enluvado ergueu o queixo de Lucian. Os olhos de diamante carregados de hesitação se encontraram com os estóicos carmesins. A delicadeza no toque de Magnus surpreendeu um pouco Lucian, ao mesmo tempo que o príncipe se proibiu de criar esperanças. — Você definitivamente me surpreende, Lucian. Sempre fazendo essas caras que não combinam nem um pouco com vocẽ. Lucian não respondeu. Não conseguiu, na verdade. Um nó se formou em sua garganta, o impedindo de dizer algo. Os dedos de Magnus deslizaram pela mandíbula de Lucian sem permitir que ele desviasse o olhar. Ao enroscar nos fios de cabelos dourados, Magnus esfregou o polegar suavemente pela bochecha do alfa. Um gesto tão simples acendeu uma grandiosa chama dentro de Lucian. O arrepio que serpenteou as suas costas o deixou confortável com aquele singelo toque. As suas bochechas ganharam um sutil tom de pêssego, apesar dele geralmente não expressar um lado tão tímido para o seu noivo. Ainda assim, lá estava ele. — Onde está a sua prepotência que sempre demonstra, Lucian? — Sussurrou Magnus. O sutil arregalar de olhos do oitavo pŕincipe não passou despercebido pelo Grão-duque. Estava se recolhendo na própria melancolia por causa do medo de ter estragado tudo o que eles tinham. Baixando os olhos levemente, Lucian segurou o pulso de Magnus, o impedindo de afastar a sua mão e demonstrando, ao mesmo tempo, que gostava daquele toque. — Você se arrepende de ter noivado comigo, Magnus? Lucian não teve coragem de ver a reação do ômega. Contudo, ele sentia a força daqueles olhos carmesins sobre si. Uma sombra surgiu entre eles, e Lucian sentiu o espaço que os separava diminuir. Em pouquíssimos segundos, muito menos que milésimos, Lucian sentiu o hálito quente de Magnus bater em seu pescoço junto com o calor da sua pele. — Essa é uma pergunta muito tola — Sussurrou Magnus, esfregando os lábios no pescoço de Lucian — Parece que o meu noivo adora dizer coisas estapafúrdias. Se antes Lucian não se sentiu ansioso para encarar o seu noivo, com apenas aquela i********e Magnus conseguiu fazê-lo enlouquecer. Estava sendo provocado e zombado? Era e******o e irritante ao mesmo tempo. Ele estava usando aquela palavras de novo. — Não é uma pergunta tola. Você disse a mesma coisa naquele dia… — Pense no cenário onde você é capaz de me matar — Magnus ergueu os olhos para Lucian, ainda inclinado sobre o seu pescoço do príncipe. Estavam tão próximos ao ponto de ouvir a voz do outro em mero sussurros íntimos — Acha mesmo que você, agora, seria capaz de me ferir? — Não acho — Admitiu Lucian — Tampouco quero isso. — Por isso é ridículo pensar que tal futuro aconteceria. Foi um momento de realização para Lucian. Ah. Faz sentido. Magnus voltou a esfregar os lábios na pele de Lucian, aproximando-se perigosamente da sua glândula atrás da orelha. Aquela glândula que os híbridos tinham e que eram responsáveis por produzir os seus cheiros. Uma área tão sensível e íntima que com um mero beijo de Magnus, fez Lucian suspirar sôfrego e sentir o sangue correr por todo o seu corpo. As pontas dos dentes de Magnus beliscaram a pele do seu pescoço. Lucian mordeu o lábio inferior impedindo - com todas as forças - que um gemido escapasse. Quando o ômega afastou-se o suficiente para verificar o estado do alfa, podia sentir o seu cheiro sendo emanado. Uma mera provocação e um alfa aproveitaria a chance para cobrir um ômega com o seu aroma. Isso fez Magnus abrir um sorriso arrogante e empinar o nariz. — Vamos. Ainda temos um longo caminho até a propriedade Grimwood. Magnus segurou o cotovelo de Lucian e o guiou para fora do palácio. Perto dali estava a impecável carruagem do Grão-duque, que levaria eles à sua privacidade. No instante em que Lucian entrou, se sentou no banco e a portinhola foi fechada, Magnus fechou as cortinas e, inesperadamente, se sentou no colo de Lucian. O ato foi tão repentino e surpreendente que Lucian m*l acreditava no que via e sentia. O peso daquela maravilhosa b***a em contato com as suas coxas e o cheiro doce de vinho o cercando foram capazes de livrar o príncipe do seu mau humor. — Isso é meio perigoso, sabia? — Sussurrou Lucian, encarando o Grão-duque com seriedade. — De fato, é. Mas parece que preciso ensinar o meu noivo qual o seu devido lugar. Lucian inclinou levemente a cabeça. — E qual seria o meu lugar? — Somos do mesmo copo, a sua loucura é idêntica a minha e isso me chama atenção. — Magnus segurou a mão de Lucian e a ergueu deixando a poucos centímetros do próprio rosto — Então faça o que sabe fazer de melhor que é tentar me manipular para cair nas suas garras, enquanto eu te torno cada vez mais obcecado por mim, Lucian. A frase "a sua loucura se parece um pouco com a minha" pareceu ter um significado insano para Lucian. Magnus era um vilão que não media esforços para ter o que queria. Ele drogou Stephen para que ele dormisse com outros alfas. Contratou bandidos para se livrarem dele e até mesmo o desafiou a uma batalha pela mão de Maverick. Se havia algo que Magnus não hesitava em fazer, era justamente ter o que desejava independente do método. E Lucian fez o mesmo desde que chegou naquele mundo. Ele também drogou Magnus. Usou a sua moral para obrigá-lo a se casar. Demonstrou o seu ciúmes na frente de Maverick e até mesmo se mostrou disposto a ser usado de todas as formas pelo ômega. Nenhum deles seria considerado um casal saudável na sua era moderna. A mão de Lucian foi para o pescoço de Magnus, esfregando o polegar pelo seu pomo-de-adão. Não sobrou resquício algum da sua melancolia agora que o ômega lhe deu a a******a para ser obcecado por ele. — Mesmo que eu seja um maluco que acredita em prever o futuro? — Não se preocupe, farei bom uso disso também. Merda. Ele era perfeito. Lucian não demorou em atacar o pescoço do ômega e beijá-lo com todo o seu desejo. O cheiro do alfa começou a cobrir o ômega enquanto ele marcava aquela pelve com chupões. Quando os lábios de Lucian roçaram nos de Magnus, os olhos de ambos refletiam um desejo ardente que crescia.
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