Capítulo 22 - Desejo enfurecedor

1861 Words
Depois de tomarem chá juntos, o consorte convidou Lucian para uma breve caminhada pelo Palácio do Sol. Foi interessante ver todos os criados do palácio se curvarem respeitosamente e se manterem curvados até o consorte não ser mais visto. Muito diferente de quando cumprimentaram Lucian mais cedo, onde apenas curvaram suas cabeças e continuaram andando. — Faz tanto tempo que não vejo este lugar tão animado — Comentava o alfa. — Pensei que aqui fosse bem movimentado por causa dos nobres que buscam uma audiência com o Imperador. — Isso porque eles não são permitidos nesta região do Palácio do Sol. Claro que os príncipes e as princesas podem, que fique bem claro. Lucian apenas sorriu levemente. Por acaso estava recebendo permissão para perambular o palácio onde o Imperador e o seu consorte vivem? Era uma permissão desnecessária, considerando que Lucian queria sair dali o quanto antes. — Oh, Vossa Majestade! A voz feminina soou pelos corredores interrompendo a caminhada dos dois. Ambos viraram-se para trás, notando a presença de Raven acompanhada de uma outra mulher com expressão séria e fechada. — Olá Raven e Dáhlia. Vejo que estão muito bem arrumadas, pretendem sair para um passeio? — O consorte questionou. Dáhlia? Lucian a avaliou cuidadosamente, notando os seus cabelos loiros escuros, traço que a maioria dos filhos do Imperador compartilhavam, e os olhos escuros. Uma alfa dominante. Já ouviu falar sobre uma pessoa que batia com aquelas descrições: a segunda princesa do Império. Só era surpreendente que ela estivesse acompanhando Raven. Lucian estreitou os olhos levemente ao se dar conta daquele detalhe. — Estamos indo ver os nossos vestidos para a festa. Inclusive… — Raven se aproximou de Lucian e segurou as suas mãos enquanto fazia um bico manhoso nos lábios — Irmãozinho! Que maldade a sua em não me contar que estava com o Grão-duque. Fiquei tão surpresa quando soube disso através das fofocas. Ah, como desejava que ela só descobrisse depois que ele tivesse se mudado para a mansão Grimwood. Infelizmente, Raven era alguém muito bem informada. Lucian soltou um riso baixo e inclinou a cabeça. — Me perdoe. Acredito que a minha relação com o Grão-duque sempre foi muito discreta ao ponto de eu ter me acostumado. — Por acaso o amor te deixou t**o o suficiente para se afastar da sua querida irmã? — O amor nos torna t**o — Lucian respondeu prontamente — Certamente você entende já que está interessada no jovem lorde Sageclaw, não é mesmo? — Hm? Esse não é o jovem cavaleiro que ganhou as honras do seu pai recentemente? — Questionava o consorte, parecendo surpreso — Não sabia que estava interessada em alguém, Raven. A ômega ganhou um ligeiro rubor no rosto, e ela soltou as mãos de Lucian para cobrir as próprias bochechas quentes. — Eu apenas o admiro muito. — Se está interessada nele, deveria dizer ao seu pai. Estou certo que a Sua Majestade ficará feliz em ajudá-la. — Não! — Disse ela rapidamente, criando uma atmosfera um tanto quanto tensa — Quero dizer… — Raven, temos que ir. — Disse Dáhlia repentinamente. Que tom de voz mais frio e distante, percebia Lucian. Por todo aquele momento, ela ficou em silêncio apenas ouvindo a conversa como se não desejasse se envolver com eles. E Lucian também percebeu que o consorte não pareceu se incomodar com aquilo, pelo contrário, ele sorria amigavelmente apesar das duas não fazerem a reverência formal para o consorte imperial. Foi tão diferente de como ele agiu com Lucian horas atrás. — Sim, sim. Ah, mas antes… — Raven se aproximou de Lucian e cochichou em seu ouvido — Por acaso Cadec o convidou para algum passeio? Lucian franziu a testa e cochichou de volta. — Faz muito tempo que não o vejo, infelizmente não ouvi nada vindo dele. Por quê? — Nada demais — Raven se afastou e sorriu docemente — Se receber algo, me avise. Eu adoraria passar mais tempo com os meus adoráveis irmãos. Vejo vocês mais tarde. E assim como chegaram, aquelas duas partiram silenciosamente. Lucian observou as costas delas, em especial de Dáhlia. Ela deveria ser um ano mais velha que Lucian, e tinha um irmão gêmeo. Na obra original ela foi mencionada como uma princesa desesperada para se casar, mas que não atraía absolutamente nenhum cavaleiro ou nobre por ela ser uma alfa muito rígida e fria. Claro que se lembrava da sua participação na história, já que algumas vezes ela protagonizou cenas vergonhosas em jantares que Stephen e Maverick participaram. Só que não lembrava dela ser próxima de Raven. Droga, a cabeça de Lucian ficava uma bagunça sempre que pensava a respeito da obra original. — Parece que você se dá bem com Raven. — Bem, não diria que somos tão próximos… — Lucian ergueu a cabeça para o consorte, e se assustou com a forma como ele o encarava tão sombriamente. Um arrepio subiu pela espinha e inconscientemente ele encolheu os ombros — Até agora não tive nenhum problema com Raven. — Entendo… — O consorte suspirou e deu meia volta — Vamos. Cerrando os punhos, Lucian respirava fundo se sentindo sufocado. Por que as pessoas daquele lugar tinham que ser tão estranhas e perigosas? Os seus punhos tremiam levemente, como se fosse uma resposta natural do corpo do oitavo príncipe. Será que estava certo em temer o consorte também? Que inferno! Definitivamente ele não teria paz enquanto ficasse naquele maldito palácio. Agora que o consorte também se aproximou dele, e até mesmo o presenteou e o tratou com "gentileza", Lucian sentia a corda em seu pescoço se apertando cada vez mais. Isso o enfurecia, pois aumentava a sua vontade de sair de lá o quanto antes. Principalmente agora que ele estava comprometido com Magnus. Bem como imaginou, as pessoas daquele palácio não perderam tempo e se aproximaram dele de alguma forma. Então, ele continuou a caminhar com o consorte pelos corredores do Palácio do Sol, ambos presos em um silêncio irritante e desconfortável. Só que Lucian não se atreveria a dizer uma única palavra para quebrar o silêncio. Ele ainda sentia o arrepio em sua espinha por causa do jeito que o consorte o olhou, assim como estava irritado por se encontrar naquela teia política. — Por acaso há algo que você deseje, Lucian? — Não, Vossa Majestade — Respondeu ele, depois de algum tempo pensando. — Haa… você sempre responde a mesma coisa, não importa o quanto eu te pergunte. Hm? Por acaso Lucian já havia sido abordado pelo consorte também? Droga… quando voltar para o seu verdadeiro mundo, Luciano iria mandar várias mensagens para o autor demandando uma explicação daquela história do oitavo príncipe e do consorte! — Estou apenas sendo sincero. Não há nada que eu deseje no momento. Os dois chegaram no fim do corredor que dava vista ao jardim do Imperador. Parados na porta, eles encaravam a imensa árvore que balançava as folhas por causa do vento. Era uma sensação completamente diferente estar com o consorte e estar com Magnus perto daquele jardim. Ah, que saudade do seu vilãozinho. — Sabe, Lucian… há muitas coisas das quais eu desejo, mas os meus arrependimentos pesam muito mais. Erguendo os olhos de diamante para o consorte, Lucian percebia que o seu semblante já havia voltado "ao normal". Só que havia uma ponta de tristeza em seus olhos. — Arrependimentos? — Isso mesmo. Quanto mais vivo, mais arrependimentos eu acumulo em meus ombros, por não ter agido de tal forma, por ter feito aquilo, por não ter dito algo… Mas sinto que tive uma chance de me livrar desses arrependimentos — O consorte se virou para Lucian e tocou delicadamente o seu rosto enquanto o olhava com ternura — Aproveitarei essa chance para fazer o que acredito que seja certo, mesmo que seja um caminho tortuoso. A mão do consorte era quente e se encaixava perfeitamente em seu rosto, sendo um contraste interessante à frieza que ele viu anteriormente. Isso o deixava cada vez mais confuso. Sem saber ao certo como reagir, os seus lábios apenas deixaram que a pergunta que acabou de passar em sua mente, escapasse inocentemente e se tornasse audível. — E posso saber o que a Sua Majestade tanto se arrepende ao ponto de precisar de mais uma chance? O consorte sorriu docemente e esfregou o polegar lentamente sobre a bochecha de Lucian. — Apenas serei mais presente e o protegerei, meu filho. Só podia estar brincando. Por que demonstravam tanto carinho e atenção a Lucian, mas deixaram ele viver naquele palácio pequeno que m*l tem criados e orçamentos? Por que deixaram Lucian viver como um fantasma, sem ninguém lhe visitar? Desde que Luciano tomou o corpo do oitavo príncipe, ele vinha recebendo atenção de vários personagens. Raven tem sido mais amigável, o Imperador cuidou do seu casamento e agora o Consorte estava lhe dando presentes e o tratando com carinho paternal. Nada disso existia na obra original! Seria mentira dizer que tudo isso está acontecendo apenas porque Luciano tomou o corpo do oitavo príncipe. Até porque quando ele despertou dentro da história, Lucian não conversou com absolutamente ninguém. Foram eles quem se aproximaram! Aqueles personagens deveriam seguir com os seus papéis, mas agora eles simplesmente… agiam por conta própria! Só que Lucian continua vivendo praticamente exilado. Sendo tratado como uma marionete que só serve para obedecer ordens. Vá para o baile. Dance com a sua irmã. Tenha um comportamento digno de um príncipe! As garras estavam apontadas para o seu pescoço, e eles só sabiam fingir que se importavam com Lucian. — Me proteger? De quem? Isso chega a ser uma verdadeira piada — Murmurou Lucian irritado, cerrando os punhos — Todos vocês só podem ter enlouquecido. — Lucian? Afastando a mão do consorte do seu rosto, Lucian o encarava com raiva. Até agora ele havia se esforçado para manter a postura de um bom príncipe, justamente para evitar problemas e nem se envolver com ninguém. Tudo bem que estava usando Magnus para poder voltar ao seu mundo, mas era imprescindível a sua sobrevivência naquele mundo. E aquelas pessoas estavam o impedindo disso. — Não faço a menor ideia de qual a intenção das pessoas que vivem aqui, mas é irritante que depois de todo esse tempo venha com essa conversa de me proteger — Dando as costas, Lucian olhou sobre o ombro uma última vez — O meu maior desejo é sair deste palácio, ficar longe de cada pessoa que acha que pode me fazer de t**o. Estou farto dessa baboseira. E assim ele foi embora do Palácio do Sol. Pisando forte e apressado, Lucian saía irritado consigo mesmo e com todos ali. A sua cabeça estava uma verdadeira confusão, não fazia a menor ideia do que estava causando tanta mudança dentro do original. Só que isso aumentava a sua ânsia em deixar aquele lugar. Lucian… como você viveu em tamanha falsidade? Talvez a sua vida reclusa tenha sido a sua forma de fugir de tudo aquilo? Você tem tentado evitar aquelas pessoas apesar de desejar o afeto e o carinho deles? Bem… pelo menos Luciano sentia que era isso mesmo. Pobre oitavo príncipe, ele realmente era lamentável.
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