Devoto ao meu marido

Capítulo 05 - Conversa secreta

No andar superior havia salas de descanso onde os convidados poderiam usar caso precisassem de um refúgio. Alguns usavam para cuidar de algum convidado que estivesse passando m*l, ou para trocar de roupa caso se sujassem. Mas Lucian estava usando como seu pequeno refúgio.

Bebendo champanhe, o oitavo príncipe aproveitou o seu descanso. Nunca gostou de participar de festas, e para piorar, naquele mundo a etiqueta nobre era essencial para não sujar o nome de sua família. Lucian poderia até saber uma coisa ou outra, mas duvidava muito que sua língua ficaria quieta se alguém tentasse bancar o engraçadinho com ele.

Por isso era melhor evitar a multidão.

— Oh, você está aí, irmãozinho!

A bela Raven Saint Richmond, irmã de Lucian, trajava um vestido levemente decorado cujo tecido certamente deveria custar caro. A cor clara do tecido realçava o seu cabelo platinado e os olhos de cor de pêssego, colorido como todos os ômegas tinham.

Estava espetacularmente linda para alguém que ele deveria ser cuidadoso. Claro, todos os irmãos eram considerados perigosos para Lucian, que poderia ser usado por eles quando menos se espera. No entanto, deveria evitar levantar suspeitas desnecessárias.

Prontamente Lucian abriu um sorriso gentil para a sua “irmã”.

— Pensei que você estaria lá embaixo dançando, Raven. Afinal, foi você quem organizou esse banquete.

Raven soltava um riso gracioso e se sentava no sofá. Lucian deixou a sacada para se sentar no outro estofado, dando atenção à sua “irmã”.

— Estou esperando um certo cavaleiro me convidar para dançar.

— Um certo cavaleiro? — Lucian inclinava a cabeça, fingindo não saber quem se tratava — Hm… alguém chamou a sua atenção?

— Mas é claro! Não ficou sabendo das notícias da guerra? Parece que temos um futuro candidato a chefe da guarda real.

Lucian se manteve em silêncio, fingindo estar surpreso com a notícia.

É claro que ele saberia do que se tratava. Um certo alfa que tinha uma aura nobre apesar de sua família estar quase indo à falência. Um homem que sabia como lutar e, para a sua desgraça, era o protagonista daquela história.

— Há alguém tão pomposo assim entre os nossos soldados?

— Ora essa, meu irmão, não seja assim. Maverick é um bom homem e daria um ótimo príncipe consorte.

— É mesmo?

— Aff, vocês alfas nunca se interessam em falar desse tipo de assunto, não é mesmo? — Reclamava Raven cruzando os braços — Não pode ficar feliz pela sua irmã estar se apaixonando por alguém?

— Estou feliz por você, por favor, continue assim.

— Não sinto que foi sincero.

Na verdade ele foi sincero, pois assim um certo vilão não teria nem chance de se apaixonar ainda mais por Maverick, certo?

Se fosse honesto, deixaria Raven perplexa diante dos seus xingamentos dedicados carinhosamente para Maverick. Mas por ora se manteria elegante, já que estava fingindo ser um príncipe naquele sonho.

— De qualquer forma, deveríamos descer já que o banquete começou — Raven se levantava, parando em frente a Lucian — Espero que não se importe em dançar comigo de novo, caso o meu coração seja partido por não ter o meu cavaleiro.

— Seria uma honra.

Segurando a mão de Raven, o oitavo príncipe e ela deixaram o quarto de descanso. Mas em apenas quatro passos uma criada apareceu com um semblante preocupado.

— Algum problema, Mary?

— Vossa Alteza, a bainha do vestido da filha do Marquês rasgou.

— Minha nossa, posso dar um jeito nisso — Raven sorria docemente e então virou-se para Lucian — Me espere aqui, tá bom? Nada de fugir.

— Certo, certo.

Lucian assistiu a sua irmã indo em direção a outro corredor acompanhada de sua criada. Claro que ela aproveitaria a oportunidade para mostrar o quão altruísta ela é. Quando pequenos problemas surgem, tais como esses, é a oportunidade perfeita para criar uma conexão.

Para evitar a humilhação de estar desarrumado, uma pessoa serviria no papel de “fada madrinha” e assim uma amizade surgiria. Raven parecia disposta a se tornar próxima da filha do Marquês ao mesmo tempo que queria manter o seu irmão mais novo por perto.

— Haa… que saco. Acho que isso vai demorar.

Durante o tempo em que esperava o retorno de Raven, o rapaz andou pelo corredor ponderando se deveria voltar para a sala de descanso ou aproveitar o momento para fugir, afinal ele não sabe dançar. Enquanto ele decidia qual a melhor opção, Lucian caminhava observando a decoração do palácio imperial.

O tédio o pegou ao ponto dele começar a ver as pinturas e seguir pelo corredor. Haviam quadros pendurados nas paredes, assinados com nomes de artistas que Lucian desconhecia. O tédio poderia durar uma eternidade, até ele ouvir uma voz um tanto quanto frutal pela sua profundidade e força.

— Sim, eu recebi a carta de Sua Majestade. Fiquei surpreso por ele ter mandando algo como uma proposta de casamento.

Parando de andar e virando-se para trás, Lucian sentiu leves cócegas na sua orelha ao ouvir aquele tom de voz. Silenciosamente ele seguiu pelo corredor até chegar numa porta entreaberta. Pela fresta da porta, ele viu um homem de costas com um terno tom de vinho e cabelos pretos. Através daqueles míseros detalhes, Lucian sentiu em seu âmago quem era.

Magnus Grimwood.

O seu coração chegou a acelerar um pouco de animação por poder ver o seu vilão de costas. Pela sua silhueta, dava para notar que ele era mais ou menos da sua altura e tinha um corpo magro.

Muito bonito de costas… se é que você o entende.

— Ele até pode ser o seu irmão, mas não estou disposto a gastar o meu tempo com um príncipe tão inútil, Cadec.

Cadec? Ele também estava lá?

Lucian deu um passo para trás, garantindo que não fosse visto enquanto ouvia a conversa por trás da porta. Uma segunda voz estóica se fez presente e Lucian se inclinou para ouvir mais.

— Por acaso você realmente pretende cortejar o Maverick? Trocar o oitavo príncipe imperial por um cavaleiro de uma família em ruínas não é um bom plano.

— A família dele pode estar em ruínas, mas ele é um bom cavaleiro. O fato do Maverick saber lutar no campo de batalha e se tornar o herói do Império tem grande peso. Já o oitavo príncipe se parece com um rato que se esconde, e a única coisa que já ouvi alguém considerar digno de comentar é que ele tem longos cabelos loiros claros.

— Magnus…

Cruzando os braços, Lucian continuava ouvindo a conversa. Apesar dele estar bastante emocionado por estar espionando o seu personagem preferido, Lucian se sentia ligeiramente decepcionado que ele tenha tal impressão sobre Lucian.

Quer dizer, ele não estava mentindo.

Lucian era covarde e vivia se escondendo para evitar os olhares que sempre o julgavam. Até onde se lembrava da história, Magnus e Lucian só tiveram uma única interação e que foi dramática e misteriosa. No entanto, o Lucian que existia agora era completamente diferente.

Deveria tirar proveito disso?

— De qualquer forma, deixe claro para o Imperador que não pretendo aceitar esse pedido absurdo.

Desencostando da parede, Lucian deixou de escutar a conversa. Seria melhor ele ir embora antes que fosse pego, já que - em teoria- ele deveria ficar longe de Cadec. Além disso, algo chamou a atenção do oitavo príncipe. O Imperador foi rápido em falar com Magnus sobre o casamento. Considerando que Lucian teve uma audiência com o Imperador pouco antes do anúncio do fim da guerra, parece que o pai de Lucian colocou aquele assunto como sua prioridade.

— O Imperador parece estar desesperado para manter os Grimwood do lado do palácio imperial. Duvido muito que Magnus conseguirá o Maverick agora que está na mira do Imperador.

— Lucian! Já terminei, vamos pro salão.

Com a aparição repentina de Raven, Lucian acordou dos seus devaneios e sorriu para a sua “irmã”. Apesar de Magnus ter ferido um pouco do seu orgulho, Lucian se sentia contente por estar conectado de alguma forma ao seu personagem preferido. Além disso, ele era ligeiramente vingativo. Talvez fosse divertido se vingar um pouco do orgulho ferido.

Abrindo um sorriso diabolicamente misterioso, Lucian tomava a mão de sua irmã.

— Claro.

De braços dados, os dois irmãos finalmente desciam as escadas para o salão.

Sendo membros da realeza, obviamente eles atraíam muitos olhares. Na escadaria, Lucian dava uma boa olhada entre os convidados, vários deles completos desconhecidos que nem valem a pena se esforçar em decorar seus nomes.

— Ah, Maverick está aqui!

— Tá não, ilusão sua.

— Ora essa, Lucian! Eu estou vendo ele ali, perto dos… Grimwood?

Contra vontade, Lucian olhou na direção que sua irmã apontou discretamente, e pela primeira vez ele sentiu um arrepio passar pela sua espinha.