Brenda narrando -
Albert havia sumido novamente, não se deu ao trabalho de entrar em contato depois da noite que passamos juntos e isso havia me esgotado mentalmente. Durante todo esse tempo tive diversas crises de ansiedade mas me mantive firme e não o procurei.
- Você está péssima. - Alicia disse enquanto trabalhávamos.
- Obrigada. Você é um doce. - Respondi para ela ainda focada nos papéis que estavam em minhas mãos.
- Sério, vale a pena? - Parei por um momento enquanto sentia ela se aproximar. - Brenda, olhe para você, olhe como você está nos últimos dias. Vale a pena? - A encarei pela primeira vez, abri minha boca para tentar dizer algo, mas não saiu nada. - Você é jovem, bonita, inteligente, divertida, uma pessoa maravilhosa. Só consigo listar qualidades. Pode ser chata as vezes? Pode! Insuportável? Pode! Tagarela? Muito! Mas ainda é uma ótima pessoa. - Consegui sorrir genuinamente pela primeira vez em dias.
- Está tentando me animar ou me insultar? - Perguntei revirando os olhos.
- Estou tentando te mostrar que não existe apenas uma opção no mundo. Você está virando uma casca, e acha que vale a pena? Tudo isso!? Vale a pena estar assim? - Apenas abaixei a cabeça tomada por pensamentos.
Albert nunca me assumiu, não tínhamos um relacionamento, ele aparecia quando queria, me usava e depois sumia, dizia estar confuso, precisar de espaço, sempre a mesma história. A verdade é que para ele era muito conveniente ter alguém à disposição sempre que quisesse, não ter que dar satisfação, não ter que conquistar a pessoa de novo e de novo já que eu estava sempre disponível. A verdade era que estava me anulando por alguém que se quer tinha algo comigo.
Foi um dia longo, sai um pouco mais cedo apenas para andar pela cidade, não tinha rumo certo, não sabia para onde queria ir, estava apenas andando por aí perdida em pensamentos, tentando descobrir quando foi que me perdi tanto de mim mesma.
- Albert narrando -
Todo mundo resolveu ficar doente e eu já estava a três longos dias no apartamento de Beatriz com Jeremy, não conseguimos fazer a troca de segurança, não tínhamos agentes qualificados o suficiente para suprir aqueles que adoeceram.
- Cara, se continuarmos aqui minha mulher vai me deixar. - Jeremy reclamou enquanto jantávamos na sala de vigilância.
Eu queria respondê-lo mas estava muito ocupado observando uma pequena figura no canto da tela, uma menininha de cabelos pretos e olhos grandes, Stella, filha de Beatriz, minha boca estava seca e minha respiração parada na garganta, se o documento que li mais cedo estava certo, Stella tinha quatro anos e meio, logo completaria cinco anos, e faziam exatos cinco anos que Beatriz me deixou!
- Chefe! - Jeremy exclamou me tirando de meus pensamentos.
- Desculpe, não estava prestando atenção. - Falei me ajeitando na cadeira.
- Você precisa sair daqui mais do que eu! Esse ambiente não está te fazendo nada bem. - Ele disse apoiando a mão em meu ombro.
- Termine seu jantar, vou fazer uma ronda. - Respondi empurrando sua mão e saindo da sala.
Parei na porta da cozinha enquanto ouvia uma voz doce cantando, seguida de risos infantis.
- Essa música é muito boba mamãe. - A garotinha dizia para Beatriz, me peguei a encarando com sentimentos conflitantes.
Tinha uma pequena chance dessa criança ser minha, eu sei que tinha, a não ser que ela tenha me traído durante nosso relacionamento, mas Beatriz nunca me enganaria dessa forma, não é mesmo!? Pablo jamais criaria o filho de outro homem, ou criaria!? Como posso ser tão ingênuo, ela dizia que me amava mas fugiu com um homem mais rico, e Pablo! Esse seria um ótimo triunfo em suas mãos.
- Albert, tudo bem? - Ouvi Beatriz me chamar, e quando dei por mim as encarava cerrando o punho. Pude perceber a inquietação e olhar assustado de Stella.
- Sim, desculpe. - Me virei e sai. Se minhas suspeitas sobre a vida dessa criança estivessem certas, eu com toda a certeza do mundo acabaria com Pablo com minhas próprias mãos.
Jeremy cochilava, todos estavam dormindo, já se passava das 23:00 da noite e eu estava sentado no sofá da sala olhando as câmeras através do notebook.
- Café? - Beatriz se aproximou com uma xícara na mão e a esticou para mim.
- Obrigada. - Aceitei dando um grande gole.
A TV estava ligada em um canal aleatório, não prestava atenção no que passava, o volume estava baixo, eu podia sentir meu coração batendo na orelha quando ela se aproximou e sentou ao meu lado.
- Extra forte, sem açúcar, passado no coador como você gosta. - Ela disse e então suspirou editando um pouco antes de dizer. - Você ainda gosta assim, não gosta? - Questionou.
- Sim, ainda é como eu gosto do meu café. - Respondi erguendo a xícara para ela e dando mais um gole.
Beatriz então encarou os dedos e começou a brincar com o polegar, ela parecia querer dizer algo mas estava sem coragem, e eu torcia para que essa coragem nunca chegasse.
- Eu sinto muito. - Ela disse em um sussurro e eu não pude deixar de engolir seco, a sorte não estava comigo. - Eu realmente sinto muito Albert, por tudo, por tudo mesmo. - Podia ver lágrimas escorreram por suas bochechas, meu coração se quebrou em mil pedaços, vê-la tão frágil, tão vulnerável.
Eu estava prestes a correr para longe, não aguentaria essa proximidade por muito tempo, não poderia resistir à tentação de toca-la, quando então um soluço saiu de sua garganta, Eu queria abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem, ergui seu queixo limpando a lágrima que escorria por seu rosto, seus olhos estavam vermelhos, seus lábios trêmulos e entreabertos, ela se aproximou e meu coração errou uma batida, estávamos tão próximos, eu podia sentir sua respiração. Então fechei os olhos, quando um choro estridente cortou a sala.
- Mamãe! - Uma voz infantil gritou do quarto, me afastei apressadamente de Beatriz que parecia atordoada.
Ela se levantou sem dizer uma palavra e eu segui para a sala de vigilância.
- Acho que precisamos sair daqui. - Jeremy disse assim que entrei, ele tinha um olhar sombrio no rosto, e eu sabia que ele havia visto mais do que eu queria.