Matthew Ricci
— Martha, a senhorita Maria Walker
— Achou ela muito jovem e sem experiência para a vaga? — pergunta se retraindo.
— Não. Ligue para ela e peça que venha o quanto antes.
— Claro, senhor.
— Desmarque com as outras candidatas, por favor.
— Mas…
— A vaga é da Walker — sentencio e ela não questiona mais nada.
Martha concordou e se levantou em seguida, me deixando sozinho na sala.
Caminhei até minha mesa e abri o notebook, precisava revisar alguns processos de alguns milionários envolvidos em nosso comércio ilegal. Esses casos são pré-selecionados por mim e repassados a Romeo.
Tentei manter o foco no trabalho nas duas horas que se seguiram, mas a universitária tomou conta de meus pensamentos. Algumas vezes cheguei a ler três vezes o mesmo parágrafo para conseguir compreender o texto, de tanto que estava disperso após lembrar dela.
Fiquei concentrado em um processo até que o Romeo entrou na minha sala.
— Não te ensinaram a bater antes de entrar? — resmunguei.
Romeo deu de ombros.
— Semana que vem vai ter um leilão, vamos?
— Não, tenho outros planos.
— Qual?
Nesse momento, Martha bateu na porta e assim que a abriu, me avisou que a senhorita Walker me aguardava.
Um sorriso surge nos meus lábios.
— É sério? — Romeo perguntou. — Vai sair com uma ragazza?
— É uma entrevista. Preciso de uma secretária, não é mesmo?!
— Até que enfim. Martha anda meio irritada e aquela mulher de mau-humor é um saco. — Bufou — Ontem pedi para ela pedir meu almoço e ela perguntou se meu celular estava carregado. — Não aguentei ver a cara de derrota de Romeo e gargalhei.
— Ela é a secretária responsável por assuntos da empresa, não particulares.
— A Anna pedia.
— Porque ela tinha uma quedinha por você.
— Ela é casada, Matthew.
— Sinônimo de casada não é morta. — Levantei, indo até meu primo, que fez o mesmo que eu e envolvi seu pescoço com meu braço — Agora, se você me dá licença, preciso entrevistar uma nova secretária.
— É solteira? Porque espero que seja gostosa.
Meu maxilar travou na mesma hora. p***a ele é seu professor, será que já aconteceu algumas coisas entre eles? Não. Romeo é muito sério com sua mentoria, ele jamais se envolveria com uma aluna.
— Cai fora! — O empurrei pela porta, fechando logo em seguida, escutando seus xingamentos abafados do outro lado.
(***)
Romeo me encarou e riu quando Maria saiu da minha sala.
— Você está interessado na minha aluna? — questionou.
— Não, ela não faz o meu tipo — menti.
— Ah! Matthew! Conta outra — debochou.
— Não seja i****a, Romeo — bufei, esfregando os olhos como desculpa para tentar disfarçar minha irritação por ele conseguir me enxergar tão bem. — Avaliei todas as candidatas, tá bem? Ela parece ser a mais apropriada nesse momento.
— Espero realmente que seja isso, porque Maria é uma aluna exemplar.
— Quando foi que eu envolvi prazer com trabalho, Romeo?
— Preciso listar a quantidade de idas aos puteiros da famiglia?
Dispensei ele com uma mão e me levantei, apoiando as mãos em minha cintura.
— Que b****a é essa sua com ela, que dá abracinhos e a chama pelo primeiro nome? Sei que somos italianos e nosso costume é mais “liberal” — Fiz aspas com os dedos, enquanto me apoio em minha mesa — , mas para os americanos isso é questão de ter bastante i********e.
— Sou tutor de Maria a dois anos…
— E por que não a incorporou entre os estagiários na última chamada? Ela foi a única aluna a gabaritar sua prova. E até eu tive que pensar bastante tempo para resolver aquela simulação de caso.
Romeo abriu a boca para me responder, mas fomos interrompidos por três batidas em minha porta e autorizei a entrada.
— Desculpa interromper vocês, mas chegou essa encomenda para o Senhor Matthew.
Martha me passou uma pequena caixa, um pouco maior que um palmo.
— Quem me enviou?
— Não sei, Senhor, mas passamos pela inspeção antes de trazê-la para cá.
— E o que há dentro?
— Eu não sei dizer, mas depois da inspeção, Richard — o responsável pela segurança do prédio — , não quis me dizer o que tinha dentro, que era melhor o senhor descobrir por si só.
— Ok. Obrigado, Martha.
Depositei o objeto sob a mesa e dei a volta pra sentar na minha cadeira, mas antes que eu pudesse puxar o embrulho para mim, Romeo já o abriu.
— Che Cazzo è questo? — Se exaltou e colocou uma das mãos na boca, com os olhos levemente arregalados.
— O que foi?
— Parece que a Lisa vai se casar! — Meu queixo deve ter caído no chão e Romeo riu da minha cara,
Recolhi o embrulho, tirando dele o convite para o jantar de noivado em nome da Lisa e Noah. p***a. Ela não pode fazer isso.
Olhei mais uma vez o embrulho e retirei de dentro o Rolex e vi um bilhete escrito a mão cair sobre a mesa. Romeo se inclinou para frente, como bom fofoqueiro que é e lancei um olhar de advertência. Ele, sem falar nada, levantou as mãos em rendição, sacando do bolso do casaco o celular.
Reconheci os traçados da escrita da Lisa, em italiano:
“Olá, mio caro, você deve ter levado um susto agora. E sinto muito por isso. Na verdade, não sinto. Você deveria estar aqui, Matthew.
Mas a vida é como os ponteiros desse relógio. Para você o tempo parou, mas para mim não. Por isso, não posso mais esperar você.
Com amor, Lisa.”
Romeo jogou-se na poltrona à minha frente.
— Merda! — Joguei o envelope em cima da mesa.
— O quê? Não vai dizer que você pretende reconquistá-la?
— Se eu não conseguir um casamento por contrato, ela seria minha primeira opção, por mais que ela seja vazia e eu não tenha sentimentos — afirmei.
— Matthew, vamos ao club, lá você consegue um contrato e a arrematada pode ser exclusiva por um período de um ano.
— Você acha que uma desconhecida vai querer me dar um herdeiro? — Massageei as têmporas.
— Com um bom acordo, quem não?
— Vou reconquistar a Lisa, ela é fácil de manusear.
— Tudo bem! Você é quem sabe. — Romeo deu de ombros.
O fato de usar a Lisa apenas como uma f**a me fez perdê-la, talvez o meu pai tivesse razão e ela seja a opção perfeita, mas o fato dela ser vazia me incomoda.