Prólogo
— Estamos em um leilão.
— E o que diabos estamos fazendo num leilão? Eu não tenho dinheiro para gastar, muito pelo contrário, eu preciso de dinheiro — lembro-a.
— Esse aqui é diferente, você consegue dinheiro, ao invés de gastar — giro nos calcanhares para encarar minha a
miga.
— Como você vai conseguir dinheiro num leilão? — questiono.
— Senhorita Parker — uma senhora de uns cinquenta anos, loira, com algumas linhas de expressão, bem evidentes, e vestida com um smoking feminino, cumprimenta Alex.
— Senhora Handson.
— Fico feliz que tenha aceitado o meu convite. — Ela sorri e desvia sua atenção para mim.
— Senhora Handson, esta é minha amiga, Maria Walker.
— Prazer em conhecer Senhorita Walker.
— Ah! Por favor, me chame de Maria.
— Maria… — ela pronuncia com o sotaque arrastado — nome bonito.
— É português, em homenagem a minha avó que era portuguesa, é a tradução de Mary.
A mulher segura minha mão estendida, e faz o movimento com a outra para que eu gire no lugar, faço o que ela pede sem entender o que ela quer com isso. Ela sorri.
— Ok, Alex. — O sorriso ainda continua estampado em seu rosto. — Tenho certeza que ela consegue um bom dinheiro. — Ela analisa o meu corpo de cima a baixo.
— Ela ainda não sabe do que se trata.
— Tudo bem, fiquem à vontade — fala e se vira. — Ah! A bebida é por conta da casa. — nos deixa a sós sem mais explicações.
— Me explica o que está acontecendo — exijo.
— Senhoritas, podem me acompanhar — um homem alto e moreno pede mostrando o caminho que nos leva até uma sala.
Alex não fala nada e apenas o segue, eu os acompanho de perto ainda mais desconfiada.
Ele nos leva a uma parte que é o camarim, nos sentamos em um dos sofás pretos estilo canto alemão e em seguida entra um garçom com algumas bebidas.
Alex pega uma taça e eu pego outra.
— Não vai me dizer o que está acontecendo?
— Olha… — Alex se levanta tomando um gole longo pra tomar tempo, ela parece receosa sobre o que vai me falar, caminha em direção ao vidro enorme do outro lado da parede onde nos possibilita observar o palco mais de perto. — Sei que vai parecer estranho o que vou te dizer agora, mas preciso que você tenha mente aberta — maneio a cabeça concordando e incentivando que ela prossiga, antes que eu tenha uma síncope — É um leilão de virgindade.
Engasgo com o champanhe em minha boca. Alex corre até mim, dando pequenas batidinhas em minhas costas para que eu consiga recuperar o fôlego. Eu só consigo pensar que minha amiga acabou de ficar doida de vez.
— Um leilão do quê? — Me engasgo com a bebida.
— Veja.
Ela me ajuda a levantar, e nos aproximamos da parede de vidro. O salão está cheio de homens, e pelas suas vestes, eles devem ser podres de ricos, a mulher que nos abordou na entrada agora está no púlpito.
— Boa noite a todos, quero agradecer a presença de cada um. — Mantém uma postura firme, e todos os homens aplaudem. — Vamos começar mais um leilão. — Ela sorri. — Pode entrar a nossa primeira candidata. — Em seguida, entra uma moça com um vestido azul claro, ele é bem colado no seu corpo, tem um decote e é super curto. Não dá para ver o seu rosto, pois está usando uma máscara, mas dá para ver o seu sorriso, e ela não parece nem um pouco incomodada.
A mulher diz uma numeração, e observo que os homens procuram em um tipo de pasta.
— E um portfólio — Alex sussurra quando percebe para onde eu estava olhando. — Todas as meninas fazem um book, elas usam máscaras para se sentirem mais confortável.
— Como alguém pode se sentir confortável com isso, Alex?
— Elas estão aqui porque querem, ninguém é obrigada a nada. É assinado um termo de confidencialidade. O que acontece aqui, fica aqui. Ou entre os dois.
A mulher volta a falar e abre o leilão com o valor inicial de trezentos e cinquenta mil dólares.
Os homens começam a erguer as plaquinhas e o valor vai subindo de uma forma muito rápida, até que o lance final é de quinhentos e cinquenta mil dólares.
— p**a. Que. Pariu. Ela vai ganhar quinhentos e cinquenta mil dólares leiloando a sua virgindade, é isso? — pergunto pasma com o que acabei de presenciar.
— Sim!
— Alex. — tomo o restante do líquido em minha taça afoita — você acha mesmo que vou me vender? — ela dá de ombros — nem fedendo*, eu lá tenho cara de quem faz esse tipo de coisa? — Alex me dá um tapa no braço, e eu xingo esfregando o local onde ficou dolorido.
— Ninguém aqui é p**a, sua i****a.
— E o que elas estão fazendo, não é se prostituir?
— Por quê? Por estarem cobrando? Tu vai dar de graça é? — seus questionamentos me fazem sentir vergonha, por que sim, qual seria a diferença? Os corpos são delas. Elas é que decidem o que querem fazer. E se elas se sentem bem assim, porque eu deveria julgá-las?!
— Certo, você tem razão.
— Foi a única opção que encontrei para te ajudar, Maria. — a forma em que ela olha para o palco, o leve tremor em seus lábios, faz parecer que algo a afeta, como se ela já estivesse tido no mesmo lugar que agora uma segunda garota ruiva toma. — Você não quer aceitar a ajuda dos meus pais, e a sua mãe está prestes a perder a floricultura.
— Deve ter outro jeito, Alex, tem que ter. Eu não sei se eu conseg….
— Amiga, aqui você consegue dinheiro o suficiente para quitar as dívidas da sua família e ainda paga duas faculdades. — Ela me interrompe.
Eu não acredito que isso está acontecendo.
— Alex, eu vou começar a trabalhar em breve — afirmo.
— E que não será o suficiente. — respiro profundamente, eu sei que ela só quer me ajudar, mas isso. — Sua mãe já pediu empréstimo para todos os bancos, mas todos negaram...
— Tem o Héctor, ele vai me ajudar.
— Héctor m*l responde você, sempre está ocupado. Ele não vai emprestar, amiga, aceita que ele está apenas te enganando.
— Não, ele não está!
— Tudo bem, eu não quero forçar, mas me promete que você vai pensar no caso?
Assinto, voltando minha atenção a tudo o que acontece à nossa frente. E pensando, será mesmo, será que farei isso. Não, minha mãe nunca me perdoaria.