— Acho que se daria melhor lá... As coisas que você faz são da Sonserina — disse rindo.
— É, mas...
— O que?
— Não é nada.
— Você é cheia de mistérios...
— Faz parte da minha natureza.
— Mas eu gosto disso.
Clara desviou o olhar.
— Será que ele não vai me responder? — perguntou nervosa.
— É tão importante assim?
— Muito.
— Por que não falou antes de vir?
— Porque... — Parou de falar bruscamente. Não poderia falar "porque tive uma visão e preciso avisá-lo".
— O que?
— Eu não posso contar.
— Por quê?
— É coisa de família.
— Ok...
Ficaram esperando um tempo a coruja voltar. Clara estava impaciente e andava de um lado para o outro. Enrico estava em pé encostado na parede, tinha os braços cruzados e não tirava os olhos dela.
— Que d***a! Por que demora tanto?
— Calma, as vezes ele está dormindo.
— Droga... — Parou de andar e encostou na parede também.
— Olha, isso deve ser realmente importante. Eu nunca vi uma pessoa tão histérica como você está.
— É muito importante!
Clara encostou a cabeça na parede e ficou olhando o teto. Estava preocupada com o pai. Enrico se aproximou dela e colocou seu cabelo atrás da orelha. Quando fez isso, Clara olhou ele. Estava bem próximo e fez ela ficar nervosa.
— Acalme-se. Ficar nervosa não vai ajudar.
— Eu sei...
— Seja lá o que você esteja passando... Eu estou aqui para te ajudar. — Se aproximou lentamente.
— Er... Obrigada...
Enrico sorriu e continuou se aproximando. Adorava ver ela nervosa quando chegava perto assim. Clara chegou mais para trás e percebeu que a parede estava ali e ela não poderia correr.
— Faço tudo por você.
Clara o olhou surpresa. Enrico a olhava diretamente nos olhos. Não sabia o motivo, mas gostava tanto dessa garota. Por que ela? Tão misteriosa e grossa, viviam discutindo e se matando, mas ele gostava tanto.
O loiro se aproximou bastante e ficou uns segundos olhando seus olhos. E que olhos... Falavam tudo. Era um azul forte e tempestuoso, assim como ela.
Clara respirava rápido. Sabia o que ele queria e por mais que quisesse muito isso, estava com medo de fazer errado.
Enrico colocou uma das mãos no rosto dela e aproximou o seu com rapidez. Antes que Clara pudesse reagir, já tinham os lábios colados. A menina arregalou os olhos e prendeu a respiração. Seu coração estava aos pulos no peito. Não sabia o que fazer. Pensou em empurrá-lo e fazer um escândalo, mas não conseguiu se mexer.
O garoto aproximou mais o corpo ao dela e pediu passagem com a língua. Clara fechou os olhos e deixou que ele conduzisse o beijo.
Não demorou muito para aprender o que devia ser feito. Em pouco tempo correspondia na mesma intensidade que ele a beijava. Agora ele a segurava pela cintura e ela tinha os braços em volta do pescoço do menino.
Clara era incrível! Ele sempre quis beijá-la, mas nunca teve oportunidade, pois sempre brigavam ou alguém interrompia. Mas agora não tinha como alguém interromper! Foi perfeito!
Enrico a empurrou mais na parede com o corpo. Nunca quis tanto sentir uma pessoa como queria senti-la. E o beijo dela era incrível! Merlin! Ele deveria ter feito isso antes!
O menino sentiu uma coisa fazer cócegas no seu pescoço. Ele tentou ignorar e continuar beijando, mas as cócegas aumentaram. O loiro se afastou de Clara, mas não muito. Continuou colado a seu corpo. A garota respirava rápido.
Uma borboleta passou perto da orelha dele e fez desviar o olhar da menina. Enrico fez cara de surpresa. Várias borboletas coloridas voavam em volta deles. Clara engoliu em seco quando percebeu o que estava fazendo. Enrico sorriu.
— Você está fazendo isso?
— E-eu...
— É incrível!
Clara sorriu.
— Como faz?
— Eu não sei...
— Mistérios e mais mistérios. — Revirou os olhos.
— Eu realmente não sei.
— Tá bom. Mas de uma coisa eu tenho certeza...
— De que? — perguntou nervosa.
— Seu beijo é muito gostoso! — Se aproximou de pressa e a beijou de novo.
Clara suspirou em surpresa, mas o beijou de volta. Por um momento pensou que ele diria que ela não sabia o que estava fazendo.
Um barulho de asas batendo fez os dois se separarem. A coruja entrou no local com alguma coisa no bico.
Assim que Clara viu a coruja, as borboletas sumiram. Enrico se afastou para que ela pegasse a carta. A coruja se aproximou e pousou no braço da menina. Clara pegou a carta do bico dela.
— Obrigada.
A coruja fez um barulho e voou para um dos poleiros.
Clara abriu o papel e leu. Assim que terminou de ler, apertou o papel em suas mãos. Se antes foi legal ver as borboletas, agora Enrico não estava tão feliz com o que apareceu naquele lugar...
Várias abelhas grandes voavam juntas em cima da cabeça dela.
— Er... Clara...
A garota olhou assim que chamou. Enrico apontou para cima e fez com que olhasse as abelhas. A menina soltou as mãos que estavam apertadas e as abelhas sumiram.
— Desculpe... — Virou de costas para ele.
Puxa vida, ela realmente era um enigma... Mas por que ele gostava mais ainda agora?
— Está tudo bem?
Ela não respondeu e continuou de costas para ele. Enrico se aproximou lentamente, Clara estava com a cabeça baixa e não olhava de jeito nenhum. O loiro puxou o rosto dela para que olhasse para ele. Ela tinha lágrimas nos olhos.
— O que foi? — Fez carinho no rosto dela.
— Meus pais estão brigados... — disse com voz chorosa.
O loiro se aproximou e a abraçou. O que a surpreendeu bastante.
— Não fica assim... Vai tudo se resolver.
— Eu não sei...
— Ei, pensa positivo. Afinal, ninguém pode prever o futuro.
Clara engoliu em seco.
— É, não pode... — Desviou o olhar. — Melhor irmos dormir.
— Tem certeza? Por mim ficaria aqui com você a noite toda.
Clara deu um t**a no peito dele.
— Ai! Sem malicia! — disse rindo.
***
Hermione não conseguia dormir direito. Rolava na cama procurando uma posição boa e nada. Isso a tirava do sério. Não dormir por causa do i*****l do marido, ou ex-marido. Irritada, ela foi até a cozinha beber água.
Bebia água olhando o armário. Aquela casa era muito parecida com a antiga que ela morava. E aquilo fez ela lembrar a vez que ela provocou Draco e ele a pegou de jeito ali mesmo...
— Hermione?
Ela olhou para o lado assustada.
— Oi, pai.
— Está sem sono, filha?
— Sim.
— O que aconteceu com você e seu marido?
— Pai...
— Olha, minha filha... Eu sei que a vida de casado não é fácil, mas se você o ama, tem que relevar algumas coisas.
— E se for uma coisa imperdoável?
— Filha, as pessoas erram. Eu não sei o que ele fez, mas você deu chance de explicar? Porque até onde eu sei, você não faz isso...
— Pai!
— Você sabe que é verdade. Vocês têm uma família linda, Hermione. Não deixe que pouca coisa acabe com isso.
— Só que não foi pouca coisa!
— Converse e veja o que foi.
— Pai eu sei o que foi! Ele é um s****o nojento!
— Ele te traiu?
Os dois ficaram em silêncio se olhando.
— Não quero falar disso... — Passou por ele indo para o quarto.
— Eu também fiz isso com sua mãe.
Hermione parou e virou de frente para ele.
— Depois que você nasceu, ela só dava atenção a você e esquecia de mim. Então um dia eu conheci uma garota nova no trabalho e... Me deixei levar pelos encantos dela. Mas isso por estar carente e não ter atenção de sua mãe. Eu me arrependi muito de tudo isso.
— E você contou o que fez pra ela?
— Sim.
— Pois é, mas o Draco não me falou! Recebi uma carta contando e perguntei para ver o que ele falava. Aí ele foi e contou. E acredita que a Clara sabia dessa nojeira? — perguntou furiosa.
— Provavelmente teve medo de te contar. Eu demorei muito a fazer isso. Mas ninguém contou no meu lugar. Ainda bem, porque quando a pessoa sabe por terceiros é pior...
— E a mamãe te perdoou assim fácil?
— Não. Tive que conquistá-la tudo de novo.
— Hum... Mesmo que ele tente... Eu não quero mais.
— Tem certeza?
— Absoluta — disse de nariz em pé.
— Não seja teimosa, filha. E nem faça as coisas de cabeça quente. Escute seu coração e nada mais.
— Ouvir coração não leva ninguém a lugar nenhum. — Virou as costas e subiu as escadas.
O pai dela suspirou. Com esse jeito teimoso, com certeza sofreria muito.
***
Draco estava sentado no chão da sala. A casa estava toda quebrada. Passou o dia encarando a mesma foto dos dois.
Não sabia o que seria de sua vida agora. Ainda mais que Clara disse que ele ia sofrer. Maldita hora que se envolveu com aquela mulher! Mas a culpa não era dela, era dele! Ele que foi lá e ficou com ela mesmo tendo a melhor mulher dentro de casa. Que burro!
Um barulho na janela fez ele despertar dos pensamentos. Uma coruja marrom estava na janela. O loiro levantou de pressa e abriu. Logo pegou o papel e leu tudo.
Pai eu tive outra visão. Não queria me meter e nem falar nada, mas não posso ficar quieta quanto a isso. Sei que minha mãe já sabe de tudo e que não foi você que contou. Por isso estou mandando esse bilhete.
Não confie na sua amante! É isso que eu tenho a dizer.
E... Se cuida pai. Mesmo que agora esteja difícil, não faça nada de que se arrependa depois. Lembre-se: eu e Ethan precisamos de você...
Ele leu e releu a carta várias vezes. Amante... Aquela mulher não era amante dele! Porque geralmente os caras gostam da amante e ele tinha raiva dela nesse momento.
Mas espera... Se ela disse não confie na amante, será que ela que contou a Hermione?
Ia tirar essa história a limpo e era agora!
Saiu de casa apressado e furioso e não respondeu a carta de sua filha. Mas a coruja não foi embora. Ficou na janela esperando. O loiro sabia que a mulher ficava em um bar trouxa bebendo cerveja toda noite.
Assim que a viu, sentiu seu sangue esquentar. Em poucos segundos estava ao lado dela.
— Foi você, não foi?
— Eu o que?
— Que contou a ela.
— Não é legal enganar as pessoas, sabia? — perguntou cínica.
Draco colocou as mãos na mesa e se aproximou dela a encarando com fúria.
— Não deveria ter mexido comigo, sabia?
— Mas você gostou do que aconteceu entre a gente. — Sorriu maliciosa.
— Gostei tanto que agora troquei a Hermione por você, não é? — perguntou sarcástico.
— Você só não fez isso por causa dos filhos. Mas eu já resolvi o problema... Agora é só me levar pra casa, senhor Malfoy. — O puxou pela camisa pra mais perto dela.
— Ficou louca? Acha que eu ficaria com você? Que trocaria a Hermione por... você? — Riu histericamente. — O que aconteceu foi um p**a erro! Eu estava nervoso, tenso e bêbado. Porque para ficar com você só bêbado mesmo, né?!
A mulher o encarou com fúria.
— Você ainda vai ser meu, senhor Malfoy.
— Pago para ver!
A mulher sorriu.
— E não chegue perto da Hermione, pois se chegar eu te mato! Entendeu? Volto pra Azkaban numa boa.
A mulher engoliu em seco.
— Não precisara me m***r. Vai implorar para me ter.
Draco riu debochado.
— O recado foi dado. Se chegar perto da minha família, será uma mulher morta!
Foi embora andando rápido.
A mulher sorriu sozinha olhando-o sair de perto. Seu plano funcionava bem.
Assim que chegou em casa, Draco viu a coruja ainda no mesmo lugar. Só assim percebeu que não tinha respondido sua filha e do jeito que ela era, estava esperando a resposta e poderia ser pega por estar fora da cama.