CAPÍTULO 26

1537 Words
VITÓRIA Acordo mais um dia com o incômodo da luz nos meus olhos, e claro a maldita dor nas costas não me abandona, tanto pela surra quanto pela maca e o fino colchonete em que me encontro deitada a três semanas. Nesse período evito o máximo olhar pras pessoas, tenho vergonha de estar assim e o olhar de pena que fazem eu dispenso completamente. Não vi meu reflexo no espelho ainda e não sei em que dia estarei pronta pra isso. Agradeço que aqui só tem um espelho no banheiro e faço questão de virar o rosto toda vez que entro pra usar o mesmo. Quanto ao meu ódio pelo Kaue, esse só tenho a dizer que aumentou, e a tendência é ficar cada vez maior. Vou esperar e me recuperar, no tempo certo eu me mando desse morro. Sei que poderia pedir ajuda ao meu pai ou o tio Rael, ao Menor, mas eu escolhi largar tudo, deixei minha antiga vida para trás, então agora que to na lama vou voltar chorando sendo que na hora de abandonar tudo fiz sorrindo? Não! Fui mulher pra entrar nessa furada vou ter que ser mulher pra sair dela. Gritar por socorro eu não vou. Meu sonho é reencontrar minha família, mas só farei isso quando estiver bem. Depois de toda essa tempestade, ai sim vou poder olhar nos olhos do meu pai e dizer: Lutei e venci! E o principal, poder fazer aquela pergunta importante: Me perdoa? Imagino essa cena em minha cabeça dia após dia, imagino o colo da minha mãe, as brincadeiras bobas do Gabi e as loucuras da Maju, meu peito dói ao lembrar deles, amo tanto minha família, meus amigos, pena que fui dar valor depois que perdi. Imagino que a madrinha Jéssica agora me diria: Se fudeu garota! Ela é doida isso é fato, minha mãe contou que ela sempre teve uns parafusos a menos na cabeça, e concordo com isso. Kaue: Bom dia amor - aí c*****o! Eu ainda nem fiz as minhas higienes e o ser já está aqui? - Eu disse, bom dia amor! - ele segura meu maxilar forte Vitória: Bom dia Kaue - puxo o rosto mas ele segura mais firme ainda e sinto o gosto do sangue na boca. Ainda não estou 100% Kaue: Fala direito comigo p***a! Quer ganhar outra surra antes de sair daqui? - ele aponta o dedo na minha cara - Bom dia amor? - Kaue fala entre dentes e sinto que ele fica cada vez mais bravo Vitória: Bom dia Kaue! - falo grossa e mais uma vez, levo um belo de um tapa no rosto logo de manhã cedo Kaue: Tu não cansa de apanhar não? - ele se afasta e passa a mão na cabeça em sinal de nervoso Vitória: Tu pediu por isso, agora aguenta. Não o que tu diz pra mim? Eu escolhi ficar contigo e tô aguentando, tu escolheu ficar comigo, aguenta também - dou de ombros e ele me olha puto Kaue: Cala boca! i****a, burra! - por mais que doa eu não permito uma lágrima cair - É o seguinte, vou viajar por uns dias, como tu ta m*l aí, toda arrebentada e com a cara igual um bicho de feia - ele fala pra me machucar eu sei, mas também sei que isso é verdade, cada palavra - Vou deixar um chegado meu de olho em tu. E não adianta ficar de gracinha, ele é fechamento e vai me contar, e ai bebê, quando eu chegar, te mando fazer uma visitinha pro d***o tá ligada? Não demonstro reação alguma, por mais que a vontade de chorar esteja entalada na minha garganta faço o possível e o impossível pra não chorar. Agora, não posso fazer de conta que esse tal chegado não me preocupa, não faço idéia de quem seja esse indivíduo, e se ele for pior que o Kaue? E se me estuprar e me bater? Meu Deus, me dá forças. A visita do Kaue foi bem curta ainda bem, somente ficar na presença dele me incomoda, imagina ainda ter que ouvir as merdas que ele fala. Isso é tortura pura. A curiosidade de saber quem é esse chegado me corroeu o dia todo, e no final do dia quando o médico passou no quarto e disse que no dia seguinte eu estaria com o papel da alta, meu sangue gelou. Kaue já foi viajar essa noite então, pela manhã quem vem me buscar é esse tal chegado, meu futuro carcereiro. Já não estava muito afim de voltar pro mesmo teto que o Kaue, agora então com alguém que não faço idéia de quem seja, só me dá mais vontade de ficar aqui. A noite passou se arrastando e eu não consegui ter um sono profundo, minha noite foi cheia de pesadelos e a curiosidade de saber quem vai "tomar conta" de mim me deixou quase louca, sem contar a preocupação de como vou sair da merda que me enfiei, como vou embora daqui, só quero esquecer que um dia fui tão burra a ponto de largar tudo e todos. Vera: Bom dia linda - a enfermeira entra sorridente como todos os dias - Então hoje é teu último dia aqui comigo? Que triste, mas fico feliz porque vai embora Vitória: É, uma hora tenho que ir né - sorrio sem graça, tudo o queria era não ter que voltar mais Vera: O médico já vem te ver e trazer sua alta, vou só retirando o acesso - ela faz tudo com tanto cuidado, com amor - Prontinho, se cuida Vitória - nos despedimos e ela sai ja dando passagem pro médico. Dr: Bom dia moça - ele fala, e fala várias coisas, a cada palavra ele parecia me repreender por estar casada com um bandido, e também parecia me culpar por ter apanhado. Por favor! - Tchau e se cuida - sorrio sem mostrar os dentes e querendo dar um soco na cara dele. Bom, agora é começar a arrumar minhas coisas e esperar o tal chegado do Kaue, só espero que Deus me proteja! Depois de tudo pronto me sentei na cadeira ao lado da cama, se passou uma hora, duas horas e nada do cara aparecer, meu estômago roncava alto e a vontade de me jogar de volta na cama era absurda. Rodrigo: E aí, foi m*l a demora novinha - ergo minha cabeça em um movimento rápido e me deparo com o x9 do meu pai, sério isso?! O cara fica calado por alguns segundos e acabo lembrando que agora estou um horror e trato de voltar a baixar o rosto - Ei, vamos? Quer ajuda, quer um colo? - ele se aproxima, mas levanto e saio do quarto. Não quero ter que olhar pra ele assim. Não quero olhar pra ninguém. - O meu, espera aí Não parei ou olhei pra trás, só segui o caminho da saída. Mas como não tinha escolha, parar e esperar por ele foi minha única opção. Sério? Ele, o tal X9 do meu pai o Kaue colocou para me vigiar? Pensei que ele fosse mais esperto, que tipo de gente coloca o inimigo dentro de casa? Hello? ********************************** JULIA A falta que a Vitória faz está me matando, meus dias são de desespero desde o dia em que soube que ela estava com o Kaue. Não entendo porque ela fez isso, depois de tudo que contei, depois do tanto que alertei ela. Fui uma mãe irresponsável, não criei minha filha como deveria ser. Não fui o bastante e por isso ela fugiu. Fez o que fez. Não teve a maturidade de saber que aquilo seria o errado. O Bruno não quer ouvir falar no nome dela, diz que se ela quis ficar com ele então que fique pra lá, não importa o que ela esteja passando ele não quer saber. Conheço meu ogro o sei o quanto ele é cabeça dura, assim como a Vitória, os dois são orgulhosos e não darão o braço a torcer. Não durmo ou como direito, meu único pensamento é minha filha. Como ela está, onde ela está! Bruno abandonou os negócios e tirou alguns dias pra ficar em casa comigo, porem só resultou em briga, eu quero minha filha e não abro mão disso. Ele precisa entender e aceitar. Enterro meu rosto no travesseiro da Vitória sentindo o restante do perfume dela, o choro e meus soluços soam por todo o quarto. Não sei mais viver sem minha filha, preciso da minha família unida e feliz como éramos a tempo atrás, antes desse demônio do Kaue entrar em nossas vidas e virar a cabeça dela. Com a ajuda da Jessica e da Amanda descobri que o Bruno tem um X9 em Nova Holanda, um tal de Digo, entrei em contato com ele e pedi pra ir atrás da Vitória, isso já tem quase um mês e até agora nada de uma resposta. O que me deixa mais aflita ainda, essa falta de resposta me mata aos poucos. Tudo o que eu queria ouvir é um "mãe eu to bem, to voltando pra casa" sonho com isso todas as noites. Meu único desejo é minha filha, mais nada.
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