CAPÍTULO 05

1945 Words
GABRIELA CASTRO TRÊS DIAS DEPOIS — Bom dia senhorita, qual o cardápio para o almoço de hoje?— uma das funcionárias pergunta, estava no escritório verificando as anotações de Bernardo. — Sinceramente falando, eu não sei, nessa parte podem ficar a vontade para decidir o que é melhor, E por favor, me chame de Gabriela. — Desculpe, já vou providenciar tudo, com licença. — Ei, espere um pouco, pode me dizer seu nome?— Acho que tenho que aprender o nome de todos, assim vai ser mais fácil. — Me chamo Barbará. — Muito bem. Barbará poderia chamar a Ilda aqui, queria muito conversar com ela e faz quase uma semana que ela me evita desde aquele dia que cheguei aqui. E também quero muito pedir um favor para mais tarde. — Claro, pode pedir. — Eu queria muito aprender o nome de todos vocês, queria que mais tarde andasse comigo pela casa e me apresentando todos e suas funções.— ela arregala os olhos. — Isso vai ser difícil, somos muitos, nem mesmo o Sr De Lins conseguiu memorizar o de todos. — Eu preciso aprender, quero de alguma forma não ser só a patroa de vocês e sim, uma pessoa que podem contar quando precisarem.— ela abre um sorriso envergonhado. — As vezes acho que a senh... quer dizer, você é um anjo.— dito isso ela sai me deixando com meus pensamentos ali. Desde quando cheguei aqui, tenho trabalhado dia e noite, mandei montar um escritório para o meu irmão para ele ter mais privacidade para trabalhar, em um dia, eles conseguiram. Albert tem ficado na fazenda para me ensinar algumas coisas dela, mas em breve ele vai ter que voltar a Belo Horizonte para a fabrica. As anotações que Bernardo deixou, tem me ajudado bastante a entender melhor sobre o café, e preciso aprender logo, depois do evento de Ouro Preto, vai acontecer a plantação e eu quero está lá presente. Tive de comprar roupas novas, em especiais calças e botas já que pisar na grama ou em qualquer parte da fazenda do lado de fora de salto, não é uma opção, muito menos de chinelos. Algo que adoro é ficar descalça ou de chinelos em casa, até mesmo passear no shopping ou na beira da praia, mas aqui não tem esses costumes e até eu me adaptar, vai demorar, mas enquanto isso não acontece, dentro da casa, uso meus belos chinelos. Outra coisa que pedi foi a reforma no quarto que era de Bernardo, quando entrei lá, senti algo pesado, tudo ali parecia triste demais, então mandei fazer uma reforma para que eu ficasse lá, enquanto isso, durmo em um outro quarto, próximo ao do meu irmão. Sobre a carta de Bernardo, Albert revelou algo, uma condição imposta pelo seu cliente e amigo, que eu só abrisse a carta na colheita de maio ou junho, é estranho esse pedido e nem Albert entendeu nada, mas eu decidi fazer a última vontade dele. Uma outra coisa que não sai da minha cabeça, é Noah Monteiro, como um homem que só vi uma vez e troquei poucas palavras, pode me fazer pensar assim tanto nele? Como se o conhecesse a anos, como se olhar para os olhos dele, me fizesse sentir uma paz tão grande? Isso é muito errado, o homem é casado e jamais tentaria algo, é algo proibido demais. Então porque ele não sai da p***a da minha cabeça? Saio dos meus devaneios com alguém batendo na porta, permito a entrada e logo Ilda entra. — Me chamou, senhora? — Poderia se sentar, preciso conversar com você.— sem dizer nada, ela puxa a cadeira a frente da minha mesa e se senta.— Queria muito fazer algumas perguntas a você e por favor, responda com a mais pura sinceridade. — Antes de começar-mos, quero me desculpar por ter saído praticamente correndo quando chegou aqui, eu estava assustada e surpresa demais. Albert me contou sobre como Paola havia morrido e que tinha deixado uma filha, mas ele não mencionou nada de você ser a cópia dela.— Ilda estende uma foto para mim e quando pego e vejo do que se trata, sinto uma certa emoção; — Uau.— é tudo que consigo dizer de ante disso, é como se essa foto fosse minha. Olhos pretos, cabelo longo, liso e escuro, pele branca mais com leves bronzeados, nariz arrebitado, lábios carnudos e um sorriso com poucas covinhas. — Sim, por isso fiquei tão assustada, por mais que seja idêntica a ela, herdou a bondade, a liderança e a sinceridade do seu pai. Você é a mistura deles. — Me conte como eles se conheceram, como eles chegaram a ter algo. — Sua mãe veio pra fazenda com a sua avô para trabalhar, assim que Bernardo a comprou, vim para cá com ele para ser sua governanta. Ele conheceu a esposa ainda em Belo Horizonte, no começo estava tudo indo muito bem, a fazenda estava próspera, Bernardo havia começado a exportar café, tudo parecia ir muito bem, até o nascimento de Oswaldo, seu irmão mais velho, ou melhor dizendo, do filho de Antonio Monteiro.— arregalo os meus olhos. — Como assim? Oswaldo não era filho de Bernardo?!— estou em choque. — Ninguém sabe disso, nem mesmo Albert, seu melhor amigo, mas teve um dia que vi Bernardo chorando bem bêbado e me contou tudo, isso foi um mês depois que Oswaldo havia nascido, mas ele descobriu a traição da esposa quando foi ao hospital onde o menino nasceu buscar os exames que ela fez antes e depois do nascimento, o parto do menino Oswaldo foi difícil, Olga quase morreu. Os médicos disseram a ele que o bebê havia nascido de oito meses, mas nos exames dizia que era com nove. Bernardo fez as contas e disse que era impossível. Ele tinha feito uma viagem alguns meses antes dela anunciar a gravidez e pelas contas dele, era para o bebê nascer com um mês a menos, mas não foi. Ele questionou os médicos e pressionando a todos, revelaram que foram pagos para mentirem. Quando ele chegou em casa, desolado, teve uma briga feia com Olga e exigiu saber quem era o pai do filho dela. — Eu quero saber, com quem você foi pra cama, porque esse menino que dorme naquele berço, não é meu! — Amor, da onde tirou isso?— Bernardo jogou os exames em cima dela e quando Olga pegou para ver, ficou palida. — Vai mentir pra mim? Enquanto eu estava trabalhando, para poder dar a você o melhor de tudo, você estava fodendo com outro homem!— Bernardo chorava, estava desolado e com raiva. — Foi um deslize, eu tinha saído para o bar da cidade, estava me sentindo sozinha e lá conheci esse homem, conversamos a noite toda e quando dei por mim, já estavamos nos beijando. Eu ia te contar isso, por favor, me perdoa.— Olga se ajoelha perante a ele em prantos. — Ia me dizer isso quando? Quando Oswaldo estivesse na faculdade?! Eu quero saber quem é a p***a desse homem! — E ela contou quem era? — Só foi revelado no dia da morte de Olga, além dela contar que ameaçou sua mãe para que ela fosse embora de vez, ela contou a ele quem era o pai. Lembro bem dele bem triste e surpreso, mas ele decidiu não fazer nada, Bernardo pegou amor a Oswaldo e quando ele se matou, sofreu tanto quanto na morte de Orlando. — E como ele conheceu a minha mãe?— posso sentir as lágrimas em meus olhos. — O casamento de Olga e Bernardo ficou horrivel depois dessa traição. O amor e admiração que ele sentia por ela, não era mais o mesmo, mas mesmo assim, ele aceitou a responsabilidade de cuidar de Oswaldo. Paola estava servindo a mesa do jantar quando ele a viu pela primeira vez, ela antes trabalhava só na faxina então ele nunca a tinha visto, mas justamente naquele dia, eu resolvi pedir a ajuda dela para servi o jantar já que a moça que é encarregada disso, estava doente. Eu vi, o momento em que os olhos daqueles jovens se encontraram, parecia coisa de cinema ou novela, mas foi amor a primeira vista. Os dois começaram a ter encontros as escondidas, durante três anos, Olga se quer desconfiou, eu sempre os aconselhava a pararem de fazer aquilo, mas era difícil, pedir que duas pessoas deixem de se amar, é impossível. Quando Owaldo tinha cinco e Orlando dois, seu pai tomou a decisão de pedir o divorcio, Olga questionou o porque, ele somente dizia que era por não amar mais ela. Olga achava que o nascimento de Orlando iria salvar o seu casamento, mas ela estava errada, seu casamento já estava fadado ao fracasso quando ela o traiu primeiro. Em uma noite, onde Bernardo havia ido ao celeiro, Olga resolveu o seguir e chegando lá,ela se escondeu e viu e escutou tudo. Bernardo e Paola planejavam se casar depois do divórcio, Olga, furiosa, partiu pra cima de Paola que tudo fez ficar quieta e dizendo que merecia cada tapa, mas que não se arrependia de amar Bernardo, ouvir aquilo deixou Olga mais furiosa ainda. Bernardo a puxou e arrastou para fora dali, quando entraram na fazenda, brigaram feio, ele jogou na cara a traição dela, ela ficou sem argumentos, e tentou reverter a situação, mas já era tarde, Bernardo estava decidido a se divorciar. Meses depois, o papel do divorcio havia saído, tudo estava indo bem para que o casamento deles chegasse realmente ao fim, mas Paola se viu gravida, eu não soube disso, e até hoje, não sei como Olga descobriu. A única coisa que soube foi que Paola foi embora sem se despedir de ninguém. Bernardo ficou desolado, passou muito tempo tentando encontrar ela, mas parecia que Paola havia sumido do mapa e o resto da história você sabe.— estou bem chocada e surpresa de ante de cada palavra dita por Ilda, nunca achei que tudo poderia ter mais complexidade. — Eu simplesmente estou muito surpresa e sem saber o que dizer.— Ilda me surpreende ao pegar na minha mão e me olhar bem nos olhos. — A única coisa que tem que por na sua cabeça é que seus pais, eram pessoas incríveis e por mais dificuldade que tinham, sempre amaram um ao outro, Bernardo até seu último suspiro amou Paola com toda a sua força e acredito que ela também. — Antonio Monteiro, ele é o pai de Noah, certo? — Sim, ele sabe de toda a história, mas só soube que Oswaldo era seu filho, no enterro dele. Ele ficou desolado, mas se manteve quieto e nunca tocou no assunto, sua esposa que descansa em paz e nem mesmo Noah, devem saber disso. — Acho que vou precisar de dias para assimilar tudo com clareza.— ela sorri. — Eu te entendo, e novamente quero me desculpar pelo outro dia, acho que deveria ter te recebido melhor, afinal, Paola era como uma filha pra mim, e quando a mãe dela morreu, eu fiquei encarregada da criação dela. — Então isso a tonar a minha vô? Porque acredito que meu pai também era como um filho pra você.— o sorriso dela me contagia e sorrio em meio as lágrimas. — A senho... — Por favor, você mais do que nunca deve me chamar pelo nome, você e Albert, são o vinculo que ainda me liga aos meus pais de verdade e quero que me trate como se fosse da sua família. — Se assim desejar, vai ser um prazer, Gabriela.
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