Prólogo
Atibaia Narrando
Eu observo o cara amarrado na minha frente, soltando um sorriso discreto enquanto seguro o cigarro entre os dedos. A fumaça sobe devagar, misturando-se com o clima tenso do ambiente. Esse momento eu esperei por muito tempo, finalmente terei a chance de encerrar essa história de uma vez por todas.
Fabianinho, o sujeito na minha frente, sempre foi um problema no morro do Atibaia. Desde a época em que meu tio ainda comandava, ele já causava problemas, tentando tomar o controle e desestabilizar o que meu tio construiu. Ele foi responsável pela emboscada que resultou na morte do meu tio, num dos momentos mais delicados da guerra de facções. Agora, chegou o momento de ajustar as contas.
— Onde está a esposa desse sujeito? — pergunto para o Castro, mantendo meu olhar fixo no prisioneiro.
— Deixa minha esposa fora disso! — ele reage com desespero na voz, mas tudo o que faço é soltar uma risada curta.
— Tu sabe como as coisas funcionam, né? — falo num tom frio, sem me deixar abalar pela súplica dele. — Ela não vai sair dessa ilesa. Antes de tudo, ela vai ter que assistir ao que vai acontecer contigo.
— Seu covarde! — ele grita, furioso e impotente.
— Ela tá com os nossos homens — Castro responde de forma objetiva.
— Perfeito — comento, satisfeito. — Já era pra você, meu amigo. Tu faz ideia de quanto tempo eu esperei por isso? — pergunto, me aproximando mais enquanto seguro uma ferramenta pesada nas mãos. — Muito tempo, acredite. Desde que tu tirou meu tio de cena, eu venho planejando o que vai acontecer agora.
— Se eu não tivesse feito o que fiz, você nunca teria chegado onde está agora. Você seria apenas mais um perdido tentando chamar a atenção do seu tio — ele responde com um sorriso debochado. — Atibaia, você deu sorte com a saída dele, e agora quer colocar a culpa em mim? Fala sério!
— Ele era minha família, meu único parente de verdade. — Minha voz sai carregada de amargura.
— Mas sem ele, você não teria o poder que tem agora. — Ele continua, tentando me provocar.
— Cala a boca com essa conversa fiada!
— Você sabe que tô falando a verdade — ele insiste, mantendo aquele sorriso irritante.
— Tu realmente acha que vai me manipular com essas palavras? — encaro ele, meu olhar endurecido. — Aqui no morro, quem controla a mente dos outros sou eu. — Levanto a ferramenta e desço com força sobre o pé dele, arrancando um grito de dor.
— Seu covarde! — ele se contorce, tentando se soltar.
— Eu tô no comando porque sou o único herdeiro legítimo desse lugar, e ninguém vai me tirar desse posto. — Ele me olha e, de repente, começa a rir, um riso sarcástico que só me deixa mais irritado. — Tá rindo de quê, parceiro?
— Você tá achando que tá no topo, mas sua queda tá mais perto do que você imagina — ele responde com aquele tom debochado.
— Tá rindo de quê, cara? — pergunto, tentando conter a irritação.
Ele continua rindo, o que me deixa com mais raiva ainda. Pego a ferramenta de novo e acabo com o outro pé dele. Jogo a ferramenta de lado e pego uma furadeira.
— Vai, fala agora! Abre essa boca e solta logo o que tu tem pra dizer! — ligo a furadeira, me aproximando mais.
— O morro do Atibaia tem outro herdeiro — ele solta a informação com a voz embargada. — Uma filha perdida. Eu tô fora, mas esse segredo vai comigo. Quando essa herdeira descobrir que ela é a verdadeira dona do morro, quando a facção souber, você perde tudo e volta a ser um qualquer.
Essas palavras me atingem como uma bomba, mas não deixo transparecer. Eu sabia que o passado do meu tio guardava segredos, mas nunca imaginei algo assim. Mesmo com essa revelação, não posso permitir que ele saia vitorioso dessa situação.
— Você não vai ter a chance de espalhar isso por aí — digo com frieza, antes de usar a furadeira para silenciá-lo de vez.
O ambiente fica em silêncio, exceto pelo som distante do vento soprando lá fora. Olho para o corpo inerte no chão, o sangue escorrendo e manchando o piso. Toda a tensão acumulada parece desaparecer por um instante, mas logo sou trazido de volta à realidade pelo som da voz de Castro.
— Que herdeira é essa, Atibaia? — ele pergunta, preocupado. — Se isso for verdade e a facção descobrir, estamos encrencados.
Eu respiro fundo, ainda assimilando a situação. — A gente vai encontrar essa pessoa antes que vire um problema. Ela não vai ter a chance de tirar o que é meu.
— Tu tá maluco? — ele retruca. — A gente pode estar mexendo com algo muito maior. E se isso for mais complicado do que parece?
— A gente vai dar um jeito — respondo, firme. — Não passei por tudo isso ao lado do meu tio pra agora perder o controle de tudo. O comando é meu, cê tá entendendo? — dou um passo em direção a ele, e Castro levanta as mãos em sinal de rendição.
— O comando é teu, eu tô contigo — ele concorda, balançando a cabeça. — Se você cair, eu caio junto.
— Não importa quem seja, a gente vai achar essa pessoa e resolver essa questão de uma vez por todas. — Falo com determinação, sentindo a raiva crescer dentro de mim. Não vou permitir que nada ou ninguém tire o que eu construí. Seja quem for essa herdeira, ela não tem ideia do que a espera.
A partir de agora, o foco é descobrir quem é essa pessoa e garantir que ela não se torne uma ameaça. Eu sei que o jogo de poder é sujo e traiçoeiro, mas estou pronto para enfrentar.