Alicia Narrando
HORAS ANTES
Eu observava Fabinho com uma sensação crescente de inquietação. Ele parecia estranho, passando a maior parte do tempo com o celular na mão e um sorriso satisfeito nos lábios. O jeito como ele se comportava estava me deixando nervosa.
— O que está acontecendo? — pergunto, tentando esconder minha preocupação enquanto ele liga o notebook.
— Descobri algo importante — ele responde, com um brilho nos olhos.
— O que exatamente você descobriu? — A curiosidade me corrói, mas a ansiedade é ainda mais forte.
— Algo que pode tirar aquele sujeito, o Atibaia, do comando. — Fabinho sorri com uma confiança que parece quase excessiva.
— Fabinho, você deve esquecer o Atibaia — falo, com um tom de preocupação na voz. — Tem tantos outros donos do morro com quem você poderia lidar. Por que se fixar nele? E você sabe que ele está te ameaçando, e me ameaçando também.
— Ele nunca vai encostar um dedo em você, meu amor — ele diz, tentando me acalmar. — Especialmente agora com o que eu descobri.
Aquela resposta não me tranquilizou. Eu podia sentir que a descoberta de Fabinho era algo significativo, e o entusiasmo dele estava me assustando. Ele parecia tão envolvido com isso que era como se nada mais importasse. Eu deixei o assunto pra lá por enquanto, esperando que ele me explicasse em seu próprio tempo.
Fabinho se levanta e pega as chaves do carro, e uma sensação de apreensão toma conta de mim.
— Onde você vai? — pergunto, tentando esconder meu nervosismo.
— Preciso levar essa informação para alguém — ele responde, com um tom decidido.
— Que pessoa? — inquiro, tentando entender a situação.
— Alguém em quem eu confio muito.
— Fabinho, volta aqui — digo, tentando impedir que ele saia. — Você não pode simplesmente sair sem me dizer o que está acontecendo.
— Eu volto para jantar — ele promete, com um sorriso que não me convence completamente.
Ele sai, e eu fico ali, sozinha com um sentimento de inquietação que não consigo ignorar. Vejo o notebook dele ainda ligado na mesa. A curiosidade me puxa, mas eu sei que mexer nas coisas dele seria um grande erro. Fabinho é extremamente cuidadoso com suas coisas, e eu não queria invadir a privacidade dele. Então, apenas desligo o notebook e o guardo na gaveta da cômoda.
As horas passam lentamente e, com o tempo, meu nervosismo só aumenta. Fabinho não volta para casa e, cada minuto que passa, minha preocupação cresce. Decido ligar para ele, mas a ligação vai direto para a caixa postal. O coração começa a bater mais rápido, e eu me pergunto se algo deu errado.
Enquanto estou imersa em pensamentos, ouço um barulho vindo da porta. Sinto um alívio momentâneo, pensando que talvez Fabinho tenha voltado.
— Fabio, você chegou? — pergunto, indo em direção à porta, mas, ao abrir, levo um susto.
Na porta está um homem alto, com tatuagens visíveis no pescoço e uma cruz tatuada embaixo dos olhos. Sua presença é intimidante, e ele não tem um semblante amigável.
— Não é o Fabio — diz o homem, com um tom que não transmite boas intenções. — Eu não esperaria que você ficasse feliz com a minha visita.
Sinto uma onda de pânico e desconfiança. Quem era aquele homem e o que ele queria? A atmosfera na sala ficou pesada e tensa. O comportamento dele não sugeria boas notícias, e a falta de Fabinho só adicionava mais perguntas não respondidas.
— O que você quer? — pergunto, tentando manter a calma, mas a voz tremula um pouco.
— Onde está o Fabinho? — pergunta o homem, seus olhos percorrendo a sala com uma atenção afiada.
— Ele saiu para encontrar alguém. Não sei exatamente onde ele foi — respondo, tentando ser honesta.
— Ele não devia ter saído — o homem diz, dando um passo para dentro da casa, como se estivesse examinando o ambiente. — Tem algo que você precisa saber.
Um frio na espinha percorre meu corpo. Eu me sinto presa entre a necessidade de saber o que está acontecendo e o medo do que o homem possa fazer.
— Diga logo o que está acontecendo — imploro, tentando manter o controle.
O homem me encara com um olhar penetrante. Eu posso ver a intensidade em seus olhos e o peso das palavras que está prestes a dizer.
— O Fabinho descobriu algo que não devia ter descoberto. Ele se meteu em algo grande, e agora a situação está fora de controle. — Ele pausa, como se estivesse medindo as palavras. — Se ele não voltar logo, pode ser tarde demais para todos nós.
O medo se instala ainda mais fundo. Eu estava desesperada por respostas e o comportamento desse homem só aumentava a sensação de que algo muito r**m estava por vir.