POV Camila Cabello
O clima na sala era tenso, a mulher n***a sentada, que eu supunha ser a diretora, olhava de mim pra doida de olhos verdes.
-Vocês se conhecem? - Perguntou.
-Já nos esbarramos por aí. - Disse a de olhos verdes.
-Não. Você esbarrou em mim. Aliás você deixou uma mancha roxa no meu vestido caríssimo.
-Ah que tragédia, eu manchei seu vestido. Se quiser eu mancho seu rosto de roxo também pra combinar.
-Lauren. - Disse em tom de aviso a mulher n***a.
-Desculpa Mani. - Falou a olhos verdes. - É que eu tenho uma certa intolerância a pessoas arrogantes.
-Escuta aqui... - Comecei, mas fui interrompida pela diretora.
-Chega. Por favor, estamos aqui pra resolver o problema da Luna e da Candy, não pra arrumar outro.
Eu e a olhos verdes nos olhavamos com raiva, deixando bem claro a aversão mútua que existia ali.
-Falando em Luna, como a conhece? - Pergunto numa voz baixa e calma.
-É o segundo ano que sou professora dela. Você é muito bem informada da vida da sua filha hein...
-Parem. - Disse a diretora antes que eu pudesse responder. - Por favor.
Nesse momento uma mulher entrou pela porta, tinha um ar claro de pessoa debochada e irônica, mas eu gostei dela. Seu cabelo era loiro e longo, amarrado cuidadosamente em um r**o de cavalo. Usava um macacão jeans com uma alça solta, que ia até a canela, nos pés um tênis branco, mesma cor da camisa por baixo do macacão. Sua pele tinha um tom bonito de caramelo e ela era incrivelmente alta.
-Licença. - Disse e seu tom era suave. - Sou mãe da Candy Hansen. Dinah Jane.
-Muito bem. - Disse a n***a. - Essa é Lauren Jauregui. - Apontou pra olhos verdes. - Professora da sua filha. E essa é Karla Estrabao, - disse apontando pra mim - mãe da Luna, a aluna com quem sua filha brigou.
A mulher de pele caramelo me olhou.
-Lauren, conte o que aconteceu por favor.
A olhos verdes nos olhou e suspirou.
-Eu havia pedido pros alunos fazerem um cartaz, uma pequena apresentação pro dia dos pais. - Meu coração gelou. - Notei que Luna não estava fazendo a tarefa e fui até ela perguntar porque. Ela me disse, de forma muito educada, que não tinha pai. Perguntei como e ela citou mãe, avó, tia e um gato, mas disse que não tinha pai. Candy ouviu e disse que todo mundo tem pai. Luna disse que ela não, as duas seguiram nessa discussão até Candy chamar Luna de burra. Luna respondeu que burra era ela. Candy empurrou a colega e elas começaram a se agredir. Eu separei as duas e trouxe o caso até Mani.
Ouvimos um suspiro pesado e Dinah começou a falar:
-Olha, eu sinto muito mesmo pela Candy. Ela tá passando uma fase difícil desde que eu e o pai nos separamos, ela é adotada e já faz três meses que meu ex-marido não a vê e eu...
-Senhora Hansen, tudo bem. - Disse Normani. - A senhora já conversou comigo sobre a Candy, me explicou que ela tá fazendo o acompanhamento psicológico, mas eu preciso que vocês entendam que elas passaram pra agressão física. Isso é intolerável aqui na NYES e se elas fossem mais velhas seriam expulsas. - Abri a boca mas Normani continuou a falar. - Eu preciso incutir em vocês e nelas a gravidade da situação. Não vou expulsá-las, até porque são boas alunas, comportadas em geral, mas vou suspender as duas pelo resto da semana e espero das senhoras que conversem com elas sobre a gravidade do que aconteceu.
-Claro. - Digo rapidamente.
-Eu vou conversar com ela. - Garantiu Dinah Jane.
-Eu também acho que seria de bom modo fazer as duas se desculparem, uma com a outra e com a professora Lauren também. - Completou Normani.
-Sem problemas. - Disse Dinah.
-Tudo bem. - Digo simplesmente.
-Eu vou buscar elas. - Disse Lauren e logo saiu da sala
Esperamos em silêncio e logo a olhos verdes voltou com as duas meninas.
Luna entrou de cabeça baixa e parecendo bastante envergonhada, a outra menina também parecia envergonhada, mas mantinha a cabeça erguida.
-Bom meninas, - disse Normani - eu conversei com as mães de vocês. As duas estão suspensas o resto da semana. Agora nós queremos que vocês peçam desculpas uma a outra.
Luna agora levantou a cabeça e ficou olhando a colega. Eu sei que minha filha é doce, mas também é orgulhosa, por isso eu sabia que ela não seria a primeira a se desculpar.
Passado um minuto de silêncio onde as duas se encararam, Candy disse baixo:
-Desculpa.
Luna a olhou.
-Desculpa. - Disse minha filha.
-Agora quero que peçam desculpas a professora. - Disse Normani.
A situação agora era outra. Luna olhou pra Lauren e seus olhos se encheram de lágrimas.
-Me desculpa professora. - Eu senti um arrependimento muito verdadeiro em minha filha e também pude perceber um carinho grande dela com relação a de olhos verdes.
-Desculpa professora. - Disse Candy.
-Tudo bem. - Disse Lauren. - Mas que isso nunca mais se repita certo?
Luna e Candy confirmaram com a cabeça.
Dinah segurou a mão de Candy e se despediu ao conduzir a filha pra fora.
Luna e Lauren ainda se olhavam, minha filha com o rostinho manchado de lágrimas.
Lauren se ajoelhou pra ficar do tamanho dela.
-Hey, não precisa mais chorar. Vai ficar tudo bem.
Luna me surpreendeu ao jogar seus braços ao redor do pescoço de Lauren e esconder o rosto na curva ente o ombro e o pescoço da mulher.
A olhos verdes rapidamente abraçou o corpinho de minha filha e acariciou suas costas.
-Tudo bem Luna, já passou.
Eu ouvia o soluço de Luna.
Era muito desconcertante a cena em mim frente. Minha filha abraçava apertado uma mulher que eu nem conhecia direito e por quem tive uma grande aversão desde o primeiro encontro. Mas por algum motivo eu não as interrompi, apenas fiquei olhando.
Depois de alguns minutos elas se soltaram e Lauren fez um carinho no rosto de minha filha, lhe lançando um sorriso doce.
-Vamos Luna. - Chamei baixinho.
Minha filha segurou minha mão e deu um tchauzinho pra Lauren e Normani enquanto saíamos da sala.
Ally pegou Luna no colo assim que nos viu.
Quando entramos nos carro eu olhei minha filha.
-Luna, precisamos conversar.
-Camila eu... - Começou Ally.
-Ally, eu te amo, você é madrinha da Luna, mas isso realmente precisa ser entre eu e minha filha.
Ally se calou, Luna por sua vez me olhava de forma temerosa.
-Você sabe que o que você fez foi muito errado né? Você não podia, nunca, ter brigado de mão com a sua colega daquele jeito.
-Mama, eu não queria ter brigado, foi ela que me empurrou.
-Você devia ter deixado a professora resolver.
-Mama...
-Eu não quero desculpas, você está de castigo. Uma semana.
Luna abaixou a cabeça.
O carro mergulhou em silêncio, até que minha filha me chamou.
-Mama?
-Oi?
-A Candy não sabia o que estava dizendo não é?
-Como assim?
-Ela disse que todo mundo tem pai, mas eu não tenho, não é?
Meu coração apertou. Por um instante me vi de novo com 17 anos.
*Flashback on*
Eu olhava para o rosto do garoto que eu amava enquanto ele dizia aquelas palavras que eu não estava conseguindo processar.
-Você entendeu o que eu disse? - Perguntei esganiçada.
-Eu entendi Camila, mas quero que você entenda o que eu estou falando.
-Que é o que exatamente?
-Eu não posso ficar. Eu tenho uma vaga na faculdade desde os seis anos, vou ser doutor. Eu não vou desistir dos meus sonhos por... Isso.
Ele apontou para a minha barriga.
-Isso é um filho nosso. De nós dois. Eu não fiz sozinha.
-Camila, escuta bem. Eu-não-vou-desistir-da-minha-vida. Eu p**o pra você tirar isso.
-Você enlouqueceu. Só pode. Eu não vou tirar nosso filho.
-E eu não vou parar minha vida.
-Tá falando que não vai assumir?
-É isso mesmo que eu tô falando.
-Você não presta.
-Pense o que quiser. Eu não vou estragar minha vida com um filho. Agora eu preciso ir embora, tenho um avião pra pegar.
Foi a última vez que o vi...
*Flashback off*
Olhei pra Luna com o coração na mão. Ela ainda é criança demais pra entender que o pai dela é um vagabundo, eu não posso contar a ela.
-É filha. Você não tem pai.
Ally me olhou com um ar de reprovação, mas nada disse até que tivéssemos deixado Luna em casa e estivéssemos voltando pra editora.
-Você devia ter contado pra ela Camila, Luna tem o direito de saber quem é o pai dela.
-Ela não tem pai. Aquele canalha nem sabe que era uma menina que eu tava esperando.
-E se ele aparecer?
-Ele não tem porque fazer isso, nunca quis saber de mim ou do filho que eu tava esperando quando ele foi embora.
-Mas...
-Chega Ally. Eu não vou contar pra Luna e ponto final.
Ally se calou, mas continuou me olhando com reprovação.
Eu estou tomando a decisão certa, Luna não precisa sofrer por ter sido abandonada antes mesmo de nascer.
Ela tem eu, minha mãe, Sofia e Ally.
E Lauren, pensei com uma pontinha de ciúmes.