A noite já ia alta quando voltei para casa. Minha mente ainda estava agitada com os eventos do dia, especialmente com aquele encontro inesperado com Milena. A imagem dela fugindo desesperadamente, o medo estampado em seu rosto, não saía da minha cabeça. Enquanto eu caminhava pelas vielas do morro, não conseguia deixar de pensar em como ela era diferente. Havia algo nela que me intrigava, um misto de vulnerabilidade e força que eu não conseguia decifrar.
Quando cheguei em casa, sentei-me na sala, acendi um cigarro e comecei a planejar. Sabia que precisava fazer algo por Milena, mas não queria revelar minha verdadeira identidade. Não ainda. Eu precisava conhecê-la melhor, entender suas motivações, seus medos. Ela parecia fugir de algo, e a última coisa que queria era assustá-la ainda mais.
Na manhã seguinte, fui ao centro comunitário. O evento da noite anterior tinha sido um sucesso, mas minha mente estava em Milena. Precisava encontrar uma forma de ajudá-la sem levantar suspeitas. Enquanto supervisionava as atividades do dia, avistei-a do outro lado do pátio, conversando com algumas crianças. Havia uma leveza em seu sorriso que me fez acreditar que ela poderia encontrar um novo começo aqui, longe dos fantasmas que a perseguiam.
Depois do almoço, fui até ela. — Milena, você está bem? — perguntei, tentando soar o mais casual possível.
Ela sorriu, mas havia algo nos olhos dela, uma sombra que não podia ignorar. — Sim, estou bem. Obrigada por ontem. Não sei o que teria feito se você não estivesse lá.
— Fico feliz em poder ajudar. — Respondi, tentando esconder a preocupação na minha voz. — Pensei em algo que poderia ser útil para você. Sei que está procurando um emprego e talvez possa encontrar algo aqui no centro comunitário.
Ela pareceu considerar a ideia por um momento. — Isso seria ótimo. Eu realmente preciso de algo para ocupar minha mente e ajudar as pessoas sempre me fez bem.
— Perfeito. Vamos ver o que podemos fazer. — Respondi, sentindo um alívio crescente. — Também estava pensando em sua moradia. Sei que a situação no hotel não está das melhores. Tenho alguns contatos e posso ver se encontro um lugar melhor para você ficar.
— Sério? Isso seria incrível, Maycallison. Eu realmente agradeço.
Assenti, satisfeito com sua resposta. Tinha algumas casas espalhadas pelo morro, propriedades que usava para diferentes fins. Arranjaria uma delas para Milena, mas sem que ela soubesse que pertenciam a mim. Não queria que ela se sentisse intimidada ou desconfiada.
Enquanto a tarde avançava, nós dois trabalhamos lado a lado no centro comunitário. Milena se mostrou habilidosa e dedicada, ajudando as crianças com atividades educativas e os idosos com suas necessidades diárias. Era claro que ela tinha um coração bom e queria fazer a diferença, mesmo em meio a suas próprias lutas.
Mais tarde, naquela noite, fui até a boate para verificar como estavam as coisas. O lugar estava lotado, como sempre. Os ritmos pulsantes da música e o burburinho das conversas enchiam o ar. Dirigi-me ao meu escritório nos fundos, onde alguns dos meus homens estavam reunidos.
— Precisamos manter um olho no hotel onde Milena está hospedada. — Ordenei, acendendo outro cigarro. — Quero que alguém esteja sempre por perto, mas sem chamar atenção.
Um dos meus homens, Carlos, assentiu. — Entendido, chefe. Vamos cuidar disso.
— E quanto a um emprego para ela aqui no morro, pensei em colocá-la no centro comunitário. O que vocês acham?
Outro homem, João, falou: — Acho uma boa ideia, chefe. Ela parece ser uma boa pessoa e pode ser útil para a comunidade.
— Ótimo. E sobre a moradia, vou arranjar uma das casas que temos no morro para ela. Quero que alguém cuide disso amanhã cedo.
Os homens concordaram, e continuei a dar instruções sobre outras questões relacionadas ao morro. Mas minha mente continuava voltando a Milena. Havia algo nela que me fazia querer protegê-la, garantir que estivesse segura. Talvez fosse porque, de alguma forma, ela me lembrava de uma parte de mim mesmo, uma parte que tinha se perdido há muito tempo.
Mais tarde, quando finalmente me deitei na cama, os pensamentos sobre Milena continuaram a me assombrar. Sua imagem, seu sorriso, seus olhos esverdeados. Havia algo hipnotizante nela, algo que não conseguia ignorar. E, por mais que tentasse afastar esses pensamentos, sabia que estava começando a me importar mais do que deveria.
Na manhã seguinte, fui verificar a casa que tinha em mente para Milena. Era uma casa simples, mas bem conservada, localizada em uma parte tranquila do morro. Tinha certeza de que ela se sentiria mais segura ali do que no hotel. Pedi a um dos meus homens para arrumar tudo e garantir que estivesse pronta para ela se mudar.
Quando voltei ao centro comunitário, encontrei Milena já envolvida nas atividades do dia. Ela parecia mais tranquila, mais em paz. Aproximando-me, disse: — Tenho boas notícias. Consegui um lugar melhor para você ficar. É uma casa simples, mas acho que vai gostar.
Ela sorriu, parecendo aliviada. — Obrigada, Maycallison. Você tem sido um verdadeiro amigo.
Assenti, sentindo uma estranha satisfação. — É o mínimo que posso fazer. Você merece um lugar seguro e tranquilo.
Enquanto o dia passava, percebi que estava me apegando a ela de uma forma que não esperava. Havia algo em Milena que me fazia querer estar por perto, proteger, cuidar. E, embora ainda não soubesse tudo sobre ela, estava determinado a descobrir. E, mais importante, garantir que ela estivesse segura e feliz no Morro dos Prazeres.