Acordei com um sobressalto, o som da porta do meu quarto se abrindo de forma brusca me despertou de um sono que havia começado a ser repousante. A luz da manhã invadiu o quarto, e antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, a figura da dona do hotel apareceu na entrada, com uma expressão de raiva que era a antítese completa da sua atitude gentil quando me alojei em seu estabelecimento dormitório. Nesse triplex.
— Você é uma verdadeira p**a! — ela exclamou, com uma fúria que parecia quase palpável.
Eu me sentei abruptamente na cama, o coração batendo acelerado com o choque da acusação. A confusão tomou conta de mim. Eu nunca poderia imaginar que algo assim pudesse acontecer. Eu ainda estava vestida com o que havia usado na festa comunitária, e o calor da manhã parecia sufocar o ambiente.
— O que está acontecendo? — perguntei, minha voz tremendo de surpresa e medo. — Do que você está falando?
A senhora avançou para dentro do quarto, suas palavras carregadas de desprezo.
— O chefe do morro está interessado em você. E agora você está aqui, embaixo do meu teto, se fazendo de santa? Não sou ingênua, sabia que você estava chamando atenção demais.
Eu estava atônita. Não tinha ideia do que ela estava insinuando. O que eu sabia era que eu estava aqui apenas para encontrar um lugar seguro e começar uma nova vida. Nunca imaginei que poderia despertar a ira de alguém, muito menos ser acusada de algo tão grave.
— Eu não faço a mínima ideia do que você está dizendo. Eu não tenho nada a ver com isso! — minha voz estava desesperada enquanto tentava me levantar da cama. — Eu estou aqui porque preciso de um lugar para ficar, nada mais.
A dona do hotel cruzou os braços, a expressão dela não mostrando nenhum sinal de suavização. Ela parecia mais irritada do que eu poderia compreender.
— Não se faça de desentendida. O chefe do morro não é alguém com quem se deve brincar. Você deve saber que a sua presença aqui pode trazer problemas para todos nós. — ela me olhou com um misto de raiva e desprezo.
Eu não sabia como responder a isso. Meu passado tinha sido tumultuado, mas nunca pensei que pudesse chegar a esse ponto. Eu estava aqui para fugir de uma vida que eu não desejava, e agora parecia que o destino estava se vingando de mim.
— Eu vou me arrumar e sair — falei, tentando controlar a voz para não transparecer o pânico que sentia. — Não tenho interesse em causar problemas. Só preciso de um emprego e um lugar seguro para viver.
A dona do hotel não disse mais nada e saiu do quarto com a mesma raiva com que havia entrado. Eu respirei fundo, tentando acalmar os batimentos acelerados do meu coração. Vestindo-me rapidamente, decidi que precisava sair dali e encontrar alguma solução para a minha situação.
Depois de me arrumar, saí do quarto e me dirigi para fora do hotel, decidida a procurar um emprego. Entretanto, ao sair para a rua, me deparei com uma cena que me fez parar em seco: cinco homens usando toucas ninja, completamente armados, estavam vigiando a entrada do hotel. Seus olhares eram implacáveis e suas posturas eram de total vigilância.
O medo se apoderou de mim, e eu corri pelas vielas da favela, o coração batendo forte enquanto tentava me distanciar do local. As ruas eram estreitas e labirínticas, e eu me movia com a pressa de quem está desesperado para escapar.
Enquanto corria, o caos interno se misturava com o medo físico. Eu sabia que precisava encontrar um lugar seguro, mas também não tinha ideia para onde ir. Finalmente, ao chegar ao final da rua, avistei uma figura familiar — o homem que conheci na festa comunitária.
Ele estava parado ali, e eu me lancei em direção a ele, sem pensar nas consequências. A sensação de ver alguém conhecido, alguém que parecia acessível e confiável, foi como um farol de esperança em meio à escuridão.
— Por favor, me ajude! — exclamei, abraçando-o com força. — Há homens armados vigiando o hotel onde estou hospedada. Preciso de ajuda!
O homem parecia atônito, suas expressões mudando rapidamente de surpresa para preocupação. Ele olhou para mim, confuso, enquanto tentava entender a situação.
— Calma, respire. — ele disse, tentando se recompor. — O que está acontecendo?
— Não sei — falei, a voz embargada pela ansiedade. — Apenas preciso de um lugar seguro. Eles estavam vigiando o hotel, e eu não sei para onde ir.
Ele parecia hesitar, mas a expressão de preocupação em seu rosto indicava que ele estava considerando minha situação seriamente. Eu sabia que estava pedindo muito, mas a situação estava fora de controle e a necessidade de segurança era urgente.
— Ok, vamos conversar. — ele disse, tentando manter a calma. — Vamos para um lugar mais seguro e você me conta o que aconteceu.
Enquanto ele me guiava para longe da área, eu sentia um misto de alívio e apreensão. A ajuda que eu precisava estava finalmente ao meu alcance, mas ainda havia tantas questões não resolvidas. A sensação de estar sendo cuidada, ainda que por alguém que eu conhecia tão pouco, era reconfortante em meio ao caos.
Eu me perguntei o que mais o destino tinha reservado para mim. Se eu estava correndo de um perigo ou parecia que estava prestes a encontrar um novo aliado. Mas, por enquanto, o que importava era que eu estava recebendo ajuda em um momento de necessidade desesperada. E isso, no meio de tudo, era uma pequena vitória.