O inicio de tudo
Isabella sabia de suas responsabilidades, desde cedo ela tinhas as mesmas responsabilidades.
O seu pai havia sumido no mundo há muito tempo, sua mãe trabalhava doze horas por dia em um café no alto do Ipiranga.
Havia dias que Isabella nem via a sua mãe.
Lilian era o nome de sua mãe, uma mulher extremamente batalhadora, sempre tirava um coelho da cartola quando se tratava de sua filha.
Isabella a admirava gostaria de fazer mais, mas não tinha como.
O dia se iniciou como todos os outros, Isabella acordou, levantou, tomou seu café, foi para a escola, voltou, almoçou, limpou a casa, fez seu dever, saiu na calçada para falar com seus amigos Victor e Rafaela, entrou em casa, fez o jantar, sentou para aguardar a sua mãe. A rotina de sempre.
Porém aquele não seria um dia como os outros.
Isabella esperou, esperou, esperou, mas sua mão não chegou.
Ela passou a se preocupar, ligou para o celular de sua mãe várias vezes, sem sucesso.
Ligou para sua tia Rita, amiga de sua mãe desde o seu nascimento, ela a tranquilizou.
- Bella, talvez sua mãe esteja fazendo um extra. Não se preocupe logo ela estará aí.
- Não sei, estou com um pressentimento r**m.
- Vire essa boca pra lá! Santa Maria mãe de Deus! Menina não chama maldição que ela vem. Sua mãe já já chega.
Passou se mais três horas.
O Telefone fixo tocou
- Alô?
- Gostaria de falar com algum parente de Lilian?
- Pode falar, eu sou filha dela.
- Mocinha, tem alguém um pouco mais velho?
- Não, somos apenas eu e ela.
- Não sei nem como dizer isso, sua mãe sofreu um acidente... E infelizmente ela faleceu.
Isabella soltou o telefone e sentou se no chão. Não teve reação alguma a não ser o choque. Do outro lado da linha podia ouvir o homem chamando por ela, não conseguia responder.
Vamos pular a parte do enterro, choro e tudo mais, o fato é que a mãe de Isabella havia morrido, já não existia mais nesse plano. E o desenrolar dessa história é mais profundo.
Isabella foi adotada por Rita, amiga de sua mãe. Criada como parte da família juntamente a seus melhores amigos, Rafaela e Victor.
Nós avançaremos um pouco mais nessa história, não faz sentido para nossa narrativa contar quantas vezes Isabella tirou quatro em matemática, ou quantas vezes pulou corda, ou rasgou o joelho subindo em uma amoreira.
Vamos avançar para os dezessete anos de Isabella.
Foi nessa fase que sentiu o olhar de Victor mudar sobre ela.
Ele a olhava como se fosse devora La. Rolavam os flertes, o interesse e principalmente o ciúme. Sempre que Victor a via falar com outro garoto o seu sentimento era que estavam lhe tirando algo que lhe pertencia. Isabella é uma menina baixa, porém com o corpo estrutural, cabelos pretos encaracolados e a pele morena. Os olhos pretos como duas jabuticabas, o sorriso era fácil, sempre muito inteligente chamava a atenção.
E ela dividia os seus sentimentos por ele com Rafaela.
- Bels isso não vai dar certo, Victor é muito estranho.
- Rafa você acha isso por que ele é seu irmão. Ele é lindo! O jeito dele, não sei, sempre me fazendo rir, sempre presente.
- Não acredito que você se apaixonou por esse i****a Isabella!
Victor era magro, sempre alto e sorridente, cabelos pretos e olhos castanho claro, que no sol ficavam quase verdes.
Sempre foi o alvo das meninas, mas ele só queria uma. Nenhuma das outras chamava sua atenção, via em Isabella a idealização perfeita entre beleza e personalidade. Amava o seu gênio forte, e de como ela se empolgava ao falar dos assuntos que amava. Amava o fato de ela passar horas falando de história mundial, livros e autores, e após essas horas se divertida com leveza com seu reality show preferido na TV.
Ela sabia que era linda, mas parecia não ligar. Ela odiava flores por que sempre a lembravam de enterros, ela sempre conferia se a porta estava trancada duas vezes antes de dormir, odiava matemática e amava todo tipo de música, Isabella odiava quem se achava demais, e tinha horror a mentiras.
E ele sabia mais que os outros garotos, ele sabia que ela era linda quando ia dormir e permanecia assim ao acordar.
Victor a estudou em todos os aspectos, e sabia responder qualquer pergunta sobre ela.
Pensava nela quando ia dormir todos os dias até adormecer totalmente.
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Todas as vezes que nadavam na chácara da avó Belmonte, ou que saiam os dois era pura faísca. Só não via quem não queria ver!
- Isabella eu posso te beijar – disse Victor
- Pode.
Embaixo daquela árvore de uma chácara em Ibiúna tomou forma algo que já havia nascido fazia um tempo, e que poderia vir a ser um amor.
Nunca mais deixaram um ao outro, os familiares já acostumados, torciam por um final feliz.
Dona Rita se alegrou ao ter como nora uma filha de coração.
- Bels, deveríamos fugir daqui, ter uma vida mais relevante. Eu e você!
- E para onde iriamos Victor?
- Para qualquer lugar, desde que eu esteja com você, eu acho que te amo.
- Eu iria para qualquer lugar com você Victor, eu acho que te amo também.
As coisas se desenrolaram rápido para os dois, bilhetes, beijos acalorados, a paixão o fogo entre os dois, talvez acentuados pela adolescência, talvez não. Mas estava ali, era real!
A primeira noite de amor aconteceu quando Isabella completou dezoito anos, os flashes daquela noite jamais saíram de sua cabeça. O seu corpo colado ao de Victor, os beijos por todo seu corpo, os olhos de Victor fixamos nela e a expressão dele ao chegar ao clímax. Porém sua parte favorita era a parte onde ela deitava em seu peito, e eles riam, e planejavam. Ali era o seu lar, ela havia encontrado o seu lugar no mundo.
Quando Isabella completou dezoito anos e um mês o mundo viria a desabar novamente.
- Isabella precisamos conversar.
- Então fale! Que agonia eu tenho quando alguém quer falar algo importante e não desembucha logo!
- Você não vai gostar... Mas vamos lá, lembra aquela inscrição que eu fiz para cursar administração fora do país? Eu fui aceito!
E foi assim, entre os dois não havia enrolação. Tudo era bastante direto.
- Mas essa é uma notícia ótima para você meu amor, por que eu ficaria brava?
- Vamos ficar separados, longe um do outro! Não sei se é certo aceitar... Temos nossos planos aqui.
- Você vai aceitar isso é algo maior... Não pode desperdiçar, que tipo de pessoa eu seria se eu dissesse para você recusar?
- Mas e como ficamos? Eu não quero te deixar aqui sozinha.
- Você precisa aceitar Victor! Não tem como recusar!
Victor abraçou tão forte Isabella, e a beijou. Um beijo lento e carinhoso.
- Meu amor, eu te prometo... Eu vou voltar para te buscar, vamos nos casar!
- E eu vou esperar por você, eu te amo Victor!
A realidade é que o medo de Victor era perder Isabella, sua posse mais precisa.
Anos se passaram Victor de fato nunca retornou. No inicio as ligações que no inicio eram constantes, depois reduziram se a nada.
Nos primeiros contatos não fez questão nem ao menos de contar como estava sendo o seu curso, ou se havia feito algum amigo.
Nenhuma satisfação jamais foi dada.
Isabella ouviu sermões da família toda sobre como a vida de Victor estava diferente, e que ela de fato, deveria seguir em frente.
No inicio até pareceu difícil, mas Isabella não havia sido criada por Rita para ser fraca, muito menos criada para choramingos.
Ela pegou o que lhe restava de confiança e seguiu em frente, assim fez a família toda. Victor se apagou no meio de tantas novidades, noivados, casamentos, doenças, bebês, e ele foi se apagando. Como uma lembrança distante no coração de todos.
Isabella por sua vez pensava nele de vez em quando, mas não se permitia a tristeza. Afinal de contas, ele estava perdendo bem mais do que ela. E o papel de mocinha sofredora não lhe cabia.
Reergueu-se, começou sua faculdade, e seguia pagando seus estudos, cuidando de sua mãe adotiva. O pilar da família, maior orgulho de Dona Rita! Que agora já não se encontrava com tanta saúde como antes.
Isabella trabalhava em uma famosa boate, o requinte do lugar era difícil de dizer em palavras, mas ela era apenas uma simples garçonete. Sonhava com o dia que poderia se livrar daquele emprego.
- Linda, hoje você não parece muito bem? Precisa de algo? – Disse Lucas
Lucas era o melhor amigo de Isabella, conhecido por sua simpatia, ele era o ideal, lindo e loiro, faria até a mais durona se derreter com apenas um sorriso, bastava que ele lhes desse um pouco de atenção, mas ele estava ocupado demais apaixonado por Isabella.
- Bem, estou um pouco fadigada... Mas o expediente vai acabar e podemos assistir alguns filmes lá em casa, o que você acha?
- Nunca ouvi ideia melhor!
Isabella e Lucas assistiam a filmes de terror sempre que podiam nunca se cansavam da companhia um do outro. Isabella deitava a cabeça nas pernas de Lucas que acariciava o seu cabelo. Comentavam sobre as dificuldades da vida, sobre livros e sobre o que fariam a partir daquele momento.
Sempre dormiam juntos, mas não como Lucas gostaria.
Ele sempre se pegava imaginando como seria sentir os lábios de Isabella nos seus, como seria ser mais que um ombro para chorar, imaginava poder derrubar todos os muros que Isabella havia construído a sua volta. Como seria o calor de seu corpo junto ao dela, como seriam as suas expressões, seu gosto, e como seria bom sentir o cheiro de seus cabelos enquanto ela estivesse deitada em seu peito.
No outro dia bem cedo, Isabella ainda sonolenta preparou o café da manhã, sua amiga Rafaela, que morava no apartamento ao lado entrou sem se anunciar. Como toda manhã.
Lucas já havia ido embora, e isso dava espaço para as amigas fofocarem.
- Lucas dormiu aqui de novo Bels?
- Sim, o que tem?
- Não é justo com ele, você sabe dos sentimentos dele!
Isabella sabia mesmo, mas não queria dar o braço a torcer.
Isabella sentia algo por Lucas, e toda vez que ele estava com ela à calmaria a invadia, porém ela não poderia perde lo. E envolvimento significava que de uma hora para outra ele iria embora.
As amigas tiveram tempo das fofocas, de Rafaela contar as novas aventuras de seu marido infeliz, agressivo e abusivo. Isabella já havia aconselhado, brigado, de nada adiantava... No fim Rafaela voltava ao centro do problema.
Rafaela era casada com Fábio, um corretor de imóveis presunçoso e preguiçoso. Machista até sua raiz a fazia agradecer pela dádiva de lhe dar uma vida de m***a!
A conversa foi interrompida quando o programa de fofocas se iniciou.
“O casamento do ano, Bilionário Victor Belmonte com a modelo Serena Villario promete abalar as estruturas, avaliado em uma fortuna o casamento foi anunciado na coluna social de Manhattan”.
Isabella e Rafaela se olharam sem acreditar na notícia, realmente aquela notícia era real? Nada parecia fazer sentido, talvez fosse algum outro Victor.
Nunca tiveram a ideia de procurar o irmão ou o namorado no Google, para ela, seu nome até então era anônimo. Ele não mantivera nem redes sociais.
Era certo que isso se tratava apenas de uma coincidência h******l.
Isabella se arrumou para trabalhar sem muito ânimo.
Passou para visitar Rita
- Oi tia, como você está?
- Bem minha filha, que bom que você passou por aqui hoje!
- Bem, algo engraçado aconteceu hoje, ouvimos o nome de Victor na televisão, mas é claro que se trata de outro Victor, e não o nosso. Eu e Rafaela nos chocamos no inicio, mas depois foi fácil perceber.
Rita ficou com uma expressão sombria, de quem sabia mais do que queria dizer, porém Isabella, já atrasada para o trabalho, não deu atenção.
- Tia, depois passo aqui com mais tempo, não se esqueça do remédio de pressão.
- Vá com Deus minha filha.
Rita guardava um segredo, e esperava que assim permanecesse, iria silenciar quem quer que fosse para que de fato isso acontecesse.
Chegando a boate Isabella avistou a equipe reunida.
- Pessoal hoje o clima vai ser mais tranquilo, a boate está fechado para vinte caras. É uma despedida de solteiro, acredito que sem muita agitação. Porém estamos com a equipe bastante reduzida hoje, precisaremos nos ajudar. – Disse Vicente, gerente da boate.
Todos concordaram e começaram os preparativos.
- Quem será que fechou a casa né Bels? Deve ser podre de rico! – Disse Luísa, funcionária da boate.
- Bem, eu não sei. Só espero que tenha alguma resistência a bebidas, da última vez que tivemos uma festa particular tinha mais vômito que com a balada cheia. – Disse Isabella
- Ah, com certeza algum playboy fechou a casa, e vai vir com outros amiguinhos iguais. O mesmo tipo de sempre, b****a, arrogante e que malha mais os braços que as pernas – Disse Lucas
Os três riam da situação, Isabella ria sem nem entender a profundidade do que estava por vir.
Os amigos do tal noivo foram chegando um a um.
Alguns falavam em inglês, outros em português, mas todos tinham a mesma postura arrogante que Isabella abominava.
A chegada do anfitrião foi marcada por risos altos e palmas, Isabella estava na cozinha naquele momento, mas mesmo assim conseguiu ouvir.
- Bels, preciso de um favor enorme – Disse Lucas – Preciso preparar alguns drinks para os caras, só que não conseguirei levar sozinho, e todo mundo hoje resolveu passar m*l. Normalmente não te pediria para servir uma mesa cheia de caras mas...
- Para de chorar Lu, vamos lá! O que devo levar primeiro?
- Leve os negronis, eu vou preparar as caipirinhas, por que será que esses gringos são todos iguais?
Isabella seguiu confiante até a primeira mesa, serviu os negronis sorridente. Ao se virar deu de cara com um demônio de seu passado.
Victor estava realmente ali, em carne e osso. Apesar da postura de Isabella parecer chocada e abalada ele parecia saber do que se tratava aquele momento.
- Olá, prazer em vê la.
O tom da voz era quente, ele não parecia se sentir intimidado, não tinha a postura de quem queria pedir perdão pelo m*l que causou.
Isabella saiu sem responder, caminhou até a cozinha e foi seguida por Victor que nunca desistia.
- Não vai me cumprimentar?
Isabella continuou ignorando.
- Falta de educação a sua não me lembrava de você assim... Não era tão arisca nem em nossos momentos juntos.
Aquela frase a perturbou, e finalmente ela reagiu.
- Victor se afaste de mim, eu não vou cumprimenta lo, eu nem ao menos quero olhar a sua cara.
Victor chegou mais perto, mais do que Isabella gostaria, quando estava perto dele ela ficava fraca.
- Pensei que ficaria feliz em me ver, depois que fui expulso da cada da minha mãe hoje mais cedo, pensei que pelo menos você permaneceria a mesma. Pelo visto me enganei.
- Tia Rita? Você foi vê la?
- Hoje cedo. E fui expulso a pontapés
- Se afaste de mim! Você revira o meu estomago!
- Você está morta de vontade de me beijar, essa é a verdade, só não sabe como fazer isso. Você precisa que eu lembre você de como era bom?
- Não sei quanto você bebeu, mas eu não quero beijar, quero que você me esqueça, me deixe em paz e siga seu caminho.
Lucas entrou na cozinha procurando por Isabella.
- Bels, está tudo bem? Precisa de ajuda?
- Não, está tudo bem. O Senhor aqui errou o caminho do banheiro.
Victor lançou para Isabella um olhar ameaçador e saiu pela sala.
Isabella se manteve afastada pelo resto da noite, mesmo Victor lhe lançando olhares maliciosos que arrepiaram até o último fio de seu cabelo.
Ao final de noite ela foi para casa sozinha, precisava colocar sua mente nos eixos. Não acreditava que Victor havia voltado, ainda mais com essa postura tão diferente e soberba, de quem nem ao menos se sentiu m*l com o que havia lhe feito passar.
Recebeu uma mensagem de Lucas:
“Bels sei que não estava tudo bem, não sei bem o que houve, mas também sei que não foi bom, qualquer coisa me ligue ou me mande uma mensagem, eu sempre estarei aqui para você”
Minutos depois outra mensagem
“Eu te amo”
Isabella não se conteve e acabou respondendo
“Eu estou muito confusa, sinto que vou desmoronar, sinto muito te arrastar para minha confusão, eu sei o seu real sentimento por mim”.
“Você sabe?”
“Sim L”
“Então sabe também que eu vou te esperar o tempo que for necessário, vou ser o que você precisar que eu seja”.
“Esse é o meu medo, você consegue compreender? Estou te pedindo muito”. “Não quero te perder, e quero que você espere... Não parece justo!”
“A decisão não é sua, é minha.”
“É pedir muito que você venha dormir aqui comigo?”
Lucas não respondeu mais, Isabella pensou que talvez estivesse sendo bastante egoísta talvez por isso Lucas tivesse ignorado.
Isabella tomou um banho, olhou o que tinha em sua geladeira e nada pareceu satisfazer.
Colocou em uma série de comédia na televisão, e com o celular em mãos esperou uma resposta de Lucas.
A campainha tocou
- Oi Bels, vim dormir com você... Eu trouxe Pizza!
Isabella não pensou e mais nada, beijou Lucas ali mesmo. Não houve tempo para considerações, apenas para ação. O beijou tão forte e tão intenso que ficaram sem fôlego.
Quando Lucas deixou a pizza em cima da mesa ele a olhou com surpresa.
Andou em sua direção, e sem pressa olhou em seus olhos. Beijou sua testa, e depois disso a beijou, sua boca parecia ter necessidade da boca de Isabella como se tivesse esperado por isso sua vida inteira.