Meu próprio pai havia me entregado a um desconhecido, não como esposa como costumavam fazer nessa epoca, ele me entregou para ser amante, para ser uma diversão de um fazendeiro asqueroso que nunca disfarçou seu olhar sobre mim em toda minha vida. e no chão daquele quarto com as lágrimas descendo de meus olhos para o rosto eu procurei qualquer coisa que eu pudesse usar para me defender. acendi a luz e busquei melhor no grande armariormario nada havia, mas no criado mudo encontrei uma gaveta que tinha um fundo falso, com um revólver prateado e tinha três balas já carregadas. abri um sorriso e então resolvi esperar. depois de horas já com tudo arrumado fiquei no chão com a arma em mãos escondida entre minha saia e apenas ouvi o som da fechadura se abrindo. eu estava chorando, mas eu sabia o que fazer.
— chorando, menina? não combina com você. — dizia a voz dele que ao entrar fechava a porta. — levanta. ande, levanta e tira esse vestido que eu quero ver o que eu paguei.
— "pagou" — murmuro me levantando e então apontava a arma já engatilhada para aquele homem. — o sinhor pagou meu pai pra eu ser tua emancebada mas eu não quero não.
— quanta ingratidão. pare com isso menina, solta esse revólver.se tu não quiser por bem eu vou te tomar a força. abaixa isso antes que tu se arrependa.
— o sinhor nunca vai encostar o dedo em mim!
apenas o.som do tiro ecoou, zeca caiu ao chão. o tiro havia acertado seu ombro e ele caiu com a mão em cima, a porta foi arrombada em seguida mas eu ainda estava apontando a arma, para ele.
— sai do mêi! ande saiam! ou eu atiro nele. — digo próxima apontando a arma na cabeça do homem. seus jagunços se afastavam e quando já estava na porta soltei zeca ao chão e sai correndo pelo corredor daquela casa, até a porta do quintal que estava aberta, já que as criadas estavam lavando roupa. os homens vieram atrás de mim mas entrei em meio aquela plantação de cana de açúcar qual eu conhecia bem. acabei então esbarrando em alguém, mas era meu irmão Bento.
— Lia oque tu fez? — Ele pergunta enquanto corríamos.
— Atirei nele Bento, Atirei no Zeca. Ele queria me usar.— Digo chorando enquanto corríamos.
— Menina eu ia lhe tirar de lá. Tava tudo armado com os menino, tu é doida mesmo. — Ele me botou no ombro e começou a correr mais rápido.
Passamos pelo portão do terreno, ele continuo a correr comigo até chegarmos em uma estrada. Havia uma carroça e me deixou posta nela, um senhor com seu velho jumento.
— Tu vai agora pra cidade, procure o padre na igreja. De madrugada eu vou te arrumar um carro de aluguel pra tu ir pra capital.
— Oxe eu vou sozinha pra Fortaleza?
— Vai, Juliana cê num pode ficar aqui não. Ande, se cubra! Vá seu flor, vá.
A carroça começou a andar, e eu m*l tive tempo de me despedir. Com as mãos doloridas devido ao trabalho.
Eu sabia atirar, quando mais moça eu saia com meus irmãos para caçar preá, e também alguns pássaros para comer. Não era sempre que usávamos um revólver, costumávamos usar a baladeira mas também quando tivemos oportunidade Bento me ensinou na beira do rio a atirar, meu pulso estava doendo por conta da forca, mas eu ficaria bem. Me deitei na carroça e me enrolei com uma coberta cinza entre as mercadorias que ele levava.
Poderia pensar que eu iria ficar bem, que tudo iria ficar bem. Mas quando cheguei na igreja o padre disse que não tinha lugar para mim, então tive que me esconder entre as ruas e becos escuros. A noite passava e eu não dormia, foi apenas quando o sol raiu que vi Bento novamente, e ele me deu uma pequena quantia em dinheiro para ir para capital. Ele me colocou em um carro de aluguel, de confiança eu adormeci, e foi a última vez que o vi.
Durante o caminho eu dormi, por conta do cansaço de ter passado a noite acordada e de ter trabalhado, minhas mãos ainda doíam e eu tinha uma pequena bolsa de tecido onde havia guardado o revólver para minha defesa. em meio a todo estresse algo me deixava feliz saber que meus irmãos não me queriam ver com aquele homem,
Quando acordei com o toque suave do senhor em meu ombro, assustada olhei para os lados e ele me perguntou onde ficaria, e eu disse que não sabia. Foi nesse instante que começou meu dilema. A corrida já havia sido paga,então apenas me levantei e sai do carro. Vendo aqueles grandes prédios e casas, apartamentos e automóveis, lugar totalmente diferente de onde fui criada. Cia crianças com seus pais, mulheres acompanhadas de seus maridos. Eu estava no centro da cidade. Sentia o peso de alguns olhares , algumas pessoas chegavam até a mudar de calçada quando me viam. Eu tinha algum dinheiro, então fui em uma barraca e comprei uma tapioca.
Agora com a fome um pouco saciada, passei a ir em alguns bares e restaurantes. Alguns me expulsavam, mas outros diziam que não precisavam de ninguém para trabalhar. E depois de tanto andar naquela selva de pedra e não chegar a lugar nenhum, uma mão delicada tocou em meu ombro, uma pele alva e olhos castanhos, usando um vestido bem modelado nós quadris. Parecia jovem e me deu um sorriso alegre.
— Moça, cê tá bem? Te vi agorinha num bar procurando trabalho. Tem onde ficar não?
— Oxe, oi. Perdoe, é que tô avexada de mais procurando um lugar. Vim do interior e preciso de um emprego. Licença moça. — Digo mas ela começa a caminhar.
— Ei pera deixe de aperrei. Eu acho que sei sim onde tu pode trabalhar. Olhe, prazer. Sou Doralice.
— Juliana. — Digo sorrindo para ela.
Acompanhei Doralice por um caminho que não devia, mas a fome e o desespero me fizeram cair em sua teia de armadilha.
Cheguei em um prédio, um prédio em bom estado. Na verdade era mais uma casa enorme afastada do centro, quando a porta foi aberta após subirmos em uma pequena escada, notei um letreiro que não entendia ainda, mas ao entrar e passar por um corredor, vi um grande salão de festa com algumas mesas e um palco, nas laterais escadas que tinham corrimão de ida para alguns quartos. Eu não entendia bem aquele lugar. Havia diversas mulheres de todas as cores e formas ensaiando números de dança. Aquilo era um teatro? Quando então observando cada detalhe, a mulher alta de postura fina e elegante que tinha os olhos marcados por uma maquiagem e os lábios vermelhos se aproximou de mim, segurando um leque em mãos começou a se abanar.
— Me diga minha flor, Doralice comentou que veio de longe. Juliana é?
— Sim senhora. — Digo olhando para tudo ainda sem entender.
— Me chamo Meire, pode me chamar de Meirinha, ou só de Dona, tu que escolhe. Agora, me diga. Tu quer trabalhar com o que?
— Oxe, eu sei cozinhar. Servir mesa, limpar. Sei fazer de um tudo.
Algumas mulheres riram ao fundo, Meire se virou e elas se calaram, ela então me olhou dos pés a cabeça e me perguntou.
— Minha fia sabe que aqui é um bordel, num sabe? Se trabalhar aqui mesmo de limpeza, fama r**m vai pegar.
— Diabéisso? — Pergunto confusa e até ela deu uma leve risada.
— Cabare, bordel. Casa do amor. Oxente menina sabe que tô falando não?
— Perdoe, num sei bem não. Só por cima...
— Hum... — Meire continuo me analisando, e vendo minha inocência ela se aproveitou.
Segurando em minha mão nos sentamos e começamos a conversar. Contei um pouco mais, que ia ser dada para amante, e foi aí que ela me viu como sua galinha dos ovos de ouro.
— Entao, minha fia nunca deitou mais homem não? É virgem?
— Sou sim senhora.
— Sabe, tu pode ganhar muito dinheiro só com uma noite. Fazer isso apenas uma vez e nunca mais precisar fazer de novo.
— Oxe mas do que a senhora tá falando?
— Tu é mocinha, se tu leiloar tua virgindade tem uma ruma de homem que pagaria fortunas de dinheiro por isso. Tu pega metade e vai embora. Pode até comprar casa longe, ninguém precisa saber.
— Oxe dona Meire. perdoe mas quero ser quenga não.
— Só vai uma noite, depois tu vai embora, bem longe e ninguém precisa saber o que aconteceu aqui. Muita menina fugida fez isso já e se deu bemz hoje é rica, não depende de marido pra nada. Tu devia aproveitar a chance que o destino tá lhe dando.
— Mar donax sei não. Eu nem... Nunca beijei. Eu sempre sonhei me deitar com alguém por amor.
— Minha flor, amor num enche o bucho. E tem muita menina que fez de graça e agora tá sendo quenga. Tu pelo menos vai sair com dinheiro e vai poder viver a vida sossegada. Aceite Juliana, tu vai se dar bem princesa.
Ingenuamente eu acreditei nas palavras de Meire, Elas preferiram não me contar bem todos os detalhes, me deixar ingênua seria melhor pois quanto mais inocente mais os homens iriam pagar. Por dentro eu me arrependia por ter aceitado aquilo. Mas quando me senti de banho tomado, barriga cheia e descansei, me senti uma outra pessoa. Mandaram-me descansar, algumas garotas me chamavam de burra, mas apesar disso eu já havia tomado a decisão. A notícia havia sido espalhada em bares, e até em outros bordéis. Boatos das meninas que vinham grandes empresários. Com o dinheiro que eu tinha. Usei para pagar uma roupa especial que teria que usar naquela noite. Uma camisola branca transparente que no lugar dos s***s não tinha tecido, era extremamente sugestiva. Até me era dada luvas e meias longas brancas para ser arrumada. Meus cachos foram bem tratadosz sem batom forte ou maquiagem, elas queriam me deixar com a imagem mais pura e inocente possível.
Entre musica dança e muita bebida, passou-se algumas horas. E quando deu a meia noite foi chegada a minha hora. Fui anunciada com muito clamor e animação, senti um grande aperto em meu peito, de certo não era aquilo que eu queria fazer. Senti medo, angustia e o sabor amargo do arrependimento quando vi todos aqueles homens olhando para mim com aquele mesmo olhar de desejo. Havia apenas um que evitava olhar. Ele estava de palitó, arrumado de postura.impecavel e bebendo. Mas não olhava, o restante tinha o.mesmo olhar de Zeca sobre mim, um olhar sujo de luxúria que do queria me fazer o m*l.
Os lances foram iniciados, e fechei meus olhos para não ver aquilo, preferi ignorar tudo, mas quando o lance iria fechar uma voz rouca soou dando um lance maior, era o homem de pele bronzeada que estava evitando olhar para mim. De repente ele e outro homem branco.passaram a brigar entre diversas propostas. Até que ele deu uma enorme batendo com a mão na mesa, e Meire gritou "Vendido"
"vendido" essa palavra passou a me aterrorizar nos minutos seguintes. Levada para um quarto eu estava trêmula, o homem que me até então era desconhecido foi acertar questões de p*******o. E eu esperando no quarto para que ele desfrutasse do que pagou. Eu contava os segundos temendo, até que quando já sozinha ouvi o clique da maçaneta se abrir, e então ele entrar. De postura impecável e segurando uma bengala, barba bem feita e delineada, seus olhos amendoados tinha uma expressão seria. Ele ficou em silêncio por alguns instantes até que finalmente falou.
— Boa noite. — Disse.
— Boa... Noite. — Digo tremendo.
— Eu paguei por sua virgindade. — Ele dizia se aproximando de mim em passos lentos. Tirando a parte de seu palito e jogando sobre a cama. Se aproximou de mim e tocou em meu queixo, que me fez sentir meus pés e mãos gelarem — Tem noção do que isso significa, menina?
— Que eu... Lhe pertenço essa noite sinhor.— Digo gaguejando de nervoso.
— Porque você fez isso?
— Ah?
— Porque quis leiloar sua virgindade? — Ele solta meu queixo e volta a caminhar pelo quarto, pegando uma garrafa de alguma bebida e se serviu.
— Mas... Eu num quis. A dona Meire que falo.que... que... Que ia dá dinheiro pra eu poder viver. Disse que eu num ia precisar fazer a vida não.
— Quantos anos você tem? — Ele pergunta e em seguida da um gole da bebida. Fazendo uma careta e me olha esperando a resposta.
— Fiz dezoito a pouco tempo.
— Certo. Certo. Muito bem. Como se chama? — Ele pergunta voltando a caminhar mas com as mãos nos bolsos.
— Lia.
— Não tô falando do seu nome de rapariga, e sim de batismo.
— Juliana,.sinhor. — O vejo então me encarar dos pés a cabeça e ele sorri de maneira gentil.
— Juliana, Meire vai querer que você faça esse trabalho de novox setenta por cento vai ficar com a casa. E o resto não vai dá nem pra você alugar um apartamento ou um quarto. Faz o seguinte. Eu moro em uma casa muito grande, minha esposa faleceu e o lugar parece um cemitério. Eu p**o uma diarista para limpeza mas você pode morar lá, eu te p**o pelo seu serviço. Você pode sair e vir quando quiser. Eu fico mais no escritório trabalhando então... Eu acho que é melhor do que você ficar aqui. O que me diz, você aceita?
— O senhor num vai me tocar? — Questiono com meus olhos nublando cheios de lágrimas.
— Que isso menina eu só paguei porque achei ridículo te leiloando ali na frente daquele bando de animal como se fosse sei lá um colar de diamante. Uma marmota medonha. Mas, então. Você quer? Você junta um dinheiro até começar sua vida, se casa.