Prólogo
Você se lembra do seu primeiro amor?
A pessoa que despertou em você a sensação inocentemente doce de ter borboletas na barriga. Aquela capaz de te arrancar suspiros quando sorri ou te faz corar incontrolavelmente com um simples oi.
Você não escolhe quem vai amar, simplesmente acontece, e a única coisa sob nosso controle é o que vamos fazer com esse amor que muitas vezes nunca será correspondido.
Meu primeiro amor foi um garoto que vi em uma festa e decidi mantê-lo em segredo, guardando-o em um lugar especial dentro do meu coração. Um lugar que cria histórias de como vocês um dia se casariam e teriam uma linda família, mas que no fundo sabe que tudo não passa de um sonho.
E de tanto sonhar, um dia, quando ele finalmente me notou eu entreguei tudo o que tinha em uma louca aventura de uma noite.
Infelizmente, o problema dos sonhos é que você acorda no dia seguinte. A pessoa que eu idealizei, aquela para quem eu entreguei minha virgindade em troca de meia dúzia de palavras me ignorou como se nunca tivesse me visto.
Em teoria ele não me viu, ou melhor, não me reconheceu, mas eu, sem saber disso, tentei transformar todo o amor em ódio. Meu coração nunca foi capaz de deixar mais ninguém entrar nele. Odiando e amando por tanto tempo a mesma pessoa que não sobrou nada para mais ninguém.
E nessa confusão de sentimentos, quando a verdade apareceu, o destino decidiu brincar novamente com nossas vidas colocando um oceano entre nós.
A distância adiou nossos beijos e abraços, mas será ela capaz de finalmente acabar com esse amor? Meu primeiro e único amor até hoje.
[...]
Taylor Davis
Bahia de wildwood
Era fim de tarde, a praia estava praticamente vazia. Uma brisa levemente fria soprava, nada insuportável, mas ainda assim capaz de arrepiar os pelos dos meus braços. Eu tremo e Adam me abraça, compartilhando o calor do seu corpo comigo.
- Eu te daria meu casaco se tivesse um - ele diz com um sorriso brincalhão que não chega aos seus lindos olhos azuis. E como poderia, ele acabou de deixar para trás tudo o que um dia conheceu como 'família', mesmo que o sangue seja a única coisa que aparentemente ele já recebeu dos pais.
Chamávamos a atenção das poucas pessoas com quem cruzávamos em nossa silenciosa caminhada. Imaginem a cena, um rapaz com uma bermuda florida e uma camiseta regata dessas de souvenir caminhando de mãos dadas com uma garota com vestido de festa. A única coisa em comum entre nossas roupas e o ambiente eram os horríveis chinelos de plástico que comprei.
Nós caminhamos sem rumo ou palavras, satisfeitos com a companhia um do outro. Ele já disse tudo o que queria nas breves conversas que tivemos no caminho até aqui e sinceramente o silêncio entre nós era tão natural que mesmo toda a situação que nos levou até aquela praia ficou em segundo plano por um momento. Nosso momento.
Depois de não sei quanto tempo nos sentamos em um dos bancos do pier. O sol estava começando a se pôr enchendo a praia com seus tons de laranja.
Somos atraídos pelo som das risadas de uma criança de cerca de uns 3 anos de idade correndo em volta das pernas de seu pai enquanto a mãe empurra um carrinho de bebê com outra criança de não mais que 1 ano.
O olhar de Adam está fixo na cena, já sua mente parece vagar em um lugar cujas memórias são bem diferentes daquele alegre passeio familiar. Como se precisasse salvá-lo de suas próprias memórias pergunto a primeira coisa que me vem à cabeça.
- Você quer ter filhos? - Adam vira a cabeça e me encara com uma sobrancelha levantada. - Uma criança fofa e sorridente como aquela. - Aponto para o menininho brincando com a brisa como se fosse a coisa mais divertida do mundo, seus cachos negrøs balançando a cada salto que ele dava. Adam ri, provavelmente achando engraçado eu ter iniciado de repente uma conversa tão aleatória.
-Você está querendo que eu roube aquela criança para você? - sua piada me indica que tenho os pensamentos dele novamente comigo, ou melhor, aqui, nesta praia, e não em algum lugar sombrio que seu pai criou dentro dele.
- Quero dizer no futuro, se você vai querer ter filhos um dia? - ele pensa sobre a minha pergunta por um minuto antes de responder.
-Eu não sei. - Ele desvia o olhar para cena mais uma vez - Eu amo crianças, mas não sei se seria um bom pai.
- Por que você acha isso? - questiono confusa. Não era esse o rumo que eu estava imaginando para nossa conversa.
- Eu não tive um pai que me levasse para brincar na praia ou me ensinasse a jogar bola. Nem sei se posso dizer que o que eu tive é algo perto de uma relação pai-filho minimamente normal, mas foi assim que eu cresci. Isso foi tudo que me ensinaram e meu maior medo é fazer com um ser inocente o que fizeram comigo.
- Sua preocupação em ser diferente é o maior indício de que você seria um pai maravilhoso para qualquer criança. - Encosto minha cabeça em seu ombro - Sabe por que está praia é meu refúgio quando estou triste? Porque eu gosto de ficar olhando os casais, principalmente os mais idosos, enquanto passeiam. Alguns parecem ser mais que felizes, eles parecem satisfeitos. Como se suas vidas estivessem completas. Essa sensação de plenitude, de ter alcançado o nirvana em vida, é a verdadeira felicidade. É o que eu quero ter um dia. - Olho para ele - É o que eu desejo que você tenha um dia, por que, para mim, você merece ser mais que apenas feliz.
- Você deveria me odiar e não desejar minha felicidade.
- Mas se eu seguisse te odiando quem nunca seria capaz de ser feliz sou eu. - Olho para ele - o amor não convive bem com o ódio.
- Lola, o que te faria feliz? - eu sorri
- Ser completa. Eu tenho um vazio aqui dentro que eu não sei de onde vem - aponto para meu coração - mas que grita todos os dias que eu devo buscar essa parte que falta em mim.
- E o que você achar que é essa parte? - ele pergunta.
- Não sei - eu ri - mas quando descobrir vou me agarrar a ela com unhas e dentes. Grrrrr - Imito um tigre mostrando as garras
- Não imaginei que você tivesse um lado selvagem?
- Não tenho, mas talvez seja exatamente isso que me falta. E você, o que te faria plenamente feliz?
- Encontrar alguém capaz de me veja de verdade. Que enxergue além da máscara que eu mostro ao mundo. - A conversa começou a ficar profunda. Nossas almas desnudadas em palavras.
- Adam, você é muito mais do que seu pai jamais foi capaz de ver, não deixe as palavras vazias dele te consumirem.
- E como você sabe? - ele pergunta baixinho
- Porque eu vejo você. - Eu o beijo. Sim, eu tomei a iniciativa de beijá-lo. Eu queria que ele soubesse que não eram apenas palavras, que eu realmente sei quem ele é de verdade.
Após um momento de surpresa Adam passa a retribuir o beijo. Era urgente e necessitado. Ele clamava com seus lábios por amor e tudo aquilo que eu pensei que havia enterrado bem fundo no meu ser, jurando veementemente que não existia mais em meu coração, transbordou em poucos segundos, apenas com o toque dos seus lábios nos meus.
Nosso beijo, nossas carícias, pareceram eternas. O dia deu lugar a noite e restaram apenas nós e o mar naquele canto esquecido da praia. Assim como aconteceu há um ano e meio atrás, eu estava pronta para entregar tudo sem me importar com onde eu estava.
Uma das alças do meu vestido estava no meio do meu braço, revelando um dos meus mamiløs já enrijecido pela explosão de excitaçãø que nossos beijos cada vez mais intensos estava despertando em mim. Eu deixo escapar um gemido abafado que, ao invés de estimular Adam a seguir, o para.
- Não - a voz de Adam soa rouca - Você merece mais do que tivemos a última vez, muito mais que uma rapidinha em uma praia pública e por mais excitante que fosse te tomar aqui e agora, prometi a mim mesmo que se algum dia eu tivesse a chance de te ter em meus braços novamente faria sexø com você do jeito que deveria ter sido sua primeira vez, lento e cuidadoso. - ele me olha tão profundamente que sinto como se ele estivesse encarando minha alma - Volta comigo pra Nova Jersey e me deixa te mostrar como uma garota como você merece ser amada até ver fogos de artifício.
Eu me sinto fraca, ou melhor, ele é a minha fraqueza e novamente me vejo sendo levada por uma emoção crua capaz de despertar uma Taylor que eu não conheço. Consigo apenas fazer que sim com a cabeça e me vejo sendo puxada pela mão até o meu carro. Foi Adam quem dirigiu de volta para a cidade, me tocando, beijando ou apenas cheirando em cada oportunidade que tinha durante todo o percurso.
Fomos até um luxuoso apartamento no centro onde um porteiro nos aguardava com a chave assim que entramos no saguão. O local pertencia ao seu primo Thomas e apesar de toda beleza e requinte foi desocupado a poucos dias pois ele decidiu preparar um apartamento decorado aos gostos da namorada dele, minha amiga Rebeca.
Aparentemente, a partir de hoje essa seria a nova casa de Adam. Na sala, uma caixa com um celular novo e diversas sacolas de roupas de marca o aguardavam. Ele sorri ao ver que foi tudo cuidadosamente preparado para ele. Um sorriso genuíno que aqueceu meu coração, pois sei que Adam tem o apoio dos outros membros de sua família.
Ele não se preocupa em conferir os pacotes e assim como fez na praia, me guia pela mão até o andar de cima.
Caminhamos até um dos quartos e sob as luzes da cidade que invadiam o cômodo ele volta a me beijar.
Pelas próximas horas eu entrego o meu corpo, alma e coração para o garoto que eu sempre amei.
Mesmo que ele não saiba disso.