Capítulo 3
Chefe narrando:
Saí daquela sala com a sensação de que finalmente, depois de dois anos, a vida ia voltar a ser minha. O corredor parecia mais estreito, as paredes mais pesadas. Cada passo era um eco de tudo que eu deixava pra trás. Mas dessa vez, eu não ia voltar. A liberdade tava esperando lá fora, e eu não ia desperdiçar.
O advogado foi na frente, trocando meia dúzia de palavras com os guardas, enquanto eu mantinha a cabeça baixa, só focando em chegar na saída. Aquele cheiro de cadeia, de cimento mofado, nunca mais queria sentir.
– Então, Max, eu comprei uma boate e hoje é inauguração vai estar bombando. Se quiser aparecer lá mais tarde .
– Já é, eu tô precisando mesmo . Se eu resolver isso eu te mando mensagem pedindo a localização.
Quando a porta se abriu, o sol bateu de cara. Parecia até que tinha esquecido como era a sensação de respirar o ar de fora. Dei uma puxada funda, sentindo o gosto da liberdade. Lá fora, o Gringo já tava encostado num carro preto, aquele sorriso debochado de sempre no rosto.
— Demorou, hein, chefe! Achei que cê ia querer ficar mais um pouco nesse hotel cinco estrelas aí — ele falou, rindo.
Eu dei uma risada seca, sacudi a cabeça e fui direto pro abraço.
— Tá tirando, Gringo? Não vejo a hora de voltar pro morro. — Respondi, enquanto batia nas costas dele.
Ele abriu a porta do carro, e eu entrei sem pensar duas vezes. O advogado veio logo atrás e fez um toque comigo e com o Gringo e eu já falei que ia mandar o resto da grana dele e o Gringo deu partida.
— E aí, como tão as coisas? — perguntei, enquanto a gente saía daquela área de tranca.
— Tranquilo, chefe. Segurei tudo do jeito que cê deixou. O morro tá na paz, mas sabe como é, né? Tem sempre um ou outro querendo testar os limites. — Ele me olhou pelo retrovisor, com aquele olhar esperto de quem sabe que a guerra nunca para totalmente.
— Quem? — perguntei seco, já ficando atento.
— Uns moleques do lado de lá, morro do Índio, ficaram achando que podiam vir pra cima enquanto cê tava fora. Mas nada que não dê pra resolver agora que cê tá de volta.
Suspirei fundo, encostando a cabeça no banco.
— Esses arrombados vão aprender do jeito difícil. Primeiro, preciso resolver uns assuntos com a Juliana, depois a gente senta pra planejar. Não pode ter brecha, Gringo. Não agora.
Ele assentiu, já ciente do que precisava ser feito.
— Fica de boa, chefe. A Juliana não tá sabendo de nada. Do jeito que cê pediu. Ela acha que cê ainda vai ficar mais um tempo lá dentro.
Dei um sorriso de canto, meio amargo. Essa história com a Juliana ainda ia dar dor de cabeça, mas, por enquanto, tudo tava no controle. Era só questão de tempo até eu resolver o que precisava.
— Demorou, Gringo. Agora vamo direto pro QG, preciso falar com os manos. A guerra vai começar, e eu quero tá na linha de frente.
Ele acelerou o carro, e a gente sumiu pelas ruas, deixando pra trás a cadeia e as lembranças. A vida no morro me esperava, e dessa vez, ia ser do meu jeito.
Cheguei no morro, e logo o Gringo parou o carro perto do QG. Assim que desci, o clima já mudou. Os mano tudo perceberam na hora, os olhares de respeito e aquela energia que só quem comanda sente. Fui andando em direção à minha sala, e conforme passava, os caras vinham me cumprimentar.
— Chefe, tá de volta! p***a, por que não avisou? A gente ia fazer uma festa daquelas pra te receber! — Um dos manos chegou trazendo uma cerveja, sorriso largo.
Peguei a garrafa e dei um gole, mas mantive a cara séria.
— Foi tudo no sigilo, parceiro. Queria primeiro botar a mente no lugar, respirar um pouco. — Respondi, cortando a empolgação dos caras. Eles já sabiam que quando eu falava assim, era pra segurar a onda.
Entrei na minha sala, o lugar de sempre. A mesma mesa, as cadeiras, os quadros que eu tinha deixado antes de ser preso. Tudo tava como eu lembrava. Sentei na cadeira, enquanto os manos iam puxando conversa, comemorando minha volta. Mas o assunto que eu queria resolver tava na minha cabeça.
Virei pro Gringo, que tava na porta, e perguntei:
— E a Juliana? Qual foi o corre dela hoje?
Ele deu um passo pra frente, cruzou os braços, e respondeu tranquilo:
— A Juliana saiu de tarde, foi pro outro morro, onde a mãe dela mora. Acho que vai ficar por lá, porque ainda não voltou.
Eu balancei a cabeça, meio aliviado. Não queria ter que lidar com ela logo de cara. Precisava de espaço pra pensar e me reorganizar.
— Tá bom. Cê sabe que essa parada com ela eu vou resolver, né? Mas, por enquanto, deixa quieto. — Falei, olhando pro Gringo, que só assentiu.
Depois que os manos foram saindo, olhei de novo pro Gringo.
— E o apartamento lá no asfalto? Tá de boa? — perguntei.
— Tá sim, chefe. Eu deixei tudo pronto pra quando você quisesse ir. Só avisar que tá no esquema.
Dei um sorriso de canto e concordei.
– Eu vou passar a noite lá. Tô precisando comer uma b****a diferente e beber até encher a cara, amanhã cedo eu volto aí .– eu digo e ele concorda .– Se tu quiser ir comigo, deixa o Guga na frente do morro – eu digo e ele concorda .
– Claro, pô. Vamos comemorar a sua volta .
Continua .....