Capítulo Quatro

1850 Words
"Um milhão de milhas de liberdade, um milhão de milhas na estrada, mas eu ainda não sei por onde eu começo." → The Killers O endereço onde a equipe se encontrava ficava em South Los Angeles, o novo nome oficial da área, mas os moradores preferiam se referir ao local usando o nome antigo, “South Central”. Composta por diferentes áreas, que incluem bairros e pequenas cidades comumente de baixa renda, o antigo nome era considerado sinônimo de degradação urbana e da criminalidade de rua. A violência estava em todo lado graças as gangues, dentre as principais: Crips e Bloods as gangues de afro-americanos, a Mara Salvatrucha gangue de salvadorenhos e a 18th Street Gang gangue de hispânicos. Ao andar pelas ruas não era difícil encontrar pessoas completamente tatuadas mostrando fidelidade a suas respectivas gangues. Em cada canto uma cultura diferente identificadas pelas músicas: reggaeton e outros ritmos latinos, rap e assim por diante.   Por fora a casa do grupo, com um tom azul desbotado e uma varanda parecia completamente abandonada, mas o seu interior estava limpo e bem arrumado. No canto da pequena sala, ocupada por dois sofás, uma escada levava aos quartos, um pequeno corredor levava a cozinha e a uma área para treinamento. Anexo a casa havia um galpão onde ficavam os carros.   Quando Alyssa chegou junto a Ethan e Caitlin encontrou a equipe tomando café e conversando, exceto por Jimena que permanecia calada. Seu olho direito estava com um hematoma, no seu braço um pequeno curativo.   — Os agentes têm alguma pergunta a fazer? — Luke questionou fitando o trio, ainda estava um pouco desconfiado, mas não havia nada que pudesse ser feito.   Alyssa assentiu e desBriannaou para uma cadeira livre no extremo da mesa.   — Como a droga passa pela fronteira?   — Há pelo menos umas cinquenta rotas diferentes. — Belinda deu de ombros. — Túneis subterrâneos, o porto, estradas esquecidas entre outras.   — Pela investigação que fizemos consta que vocês fazem a maioria dos transportes.   — Apenas as cargas mais valiosas, o Pablo nos avisa sobre a carga e a envia logo após. Temos que chegar no local antes da carga e aguardar, a partir do momento em que nos é entregue é nossa responsabilidade. — Luke respondeu.   — Por isso usamos rotas abandonadas, mas ainda assim corremos riscos de algum roubo ou ataque. Os caras de Juárez quase sempre tentam nos roubar. — Veronica completou.   — E onde é entregue?   — Depende, há várias células de distribuição espalhadas pelo país. — Belinda voltou a falar.   — Temos um acordo, mas como isso funcionará na prática? — Caitlin indagou.   — Muito simples, Abbott. Façam o trabalho de vocês que fazemos o nosso. Vocês têm vinte minutos antes de sairmos. — Jimena se levantou deixando para trás seus amigos e os policiais em silêncio.   — Aproveitem que a Jimena está de bom humor e comam alguma coisa porque a viagem será cansativa. — Veronica comentou antes de enfiar um pedaço de bolo na boca.   Luke se levantou e foi atrás da amiga. Se no primeiro dia já estava assim não queria sequer imaginar o que estava por vir. Encontrou-a no quarto arrumando uma mochila.   — Jimena, o que foi aquilo? — Perguntou antes de fechar a porta atrás de si e ir até à amiga.   — Não é um bom momento para conversar. — Resmungou sem fitar o homem.   — Eu não quero te pressionar, mas a nossa liberdade depende disso.   — Eu sei, Luke.   O homem parou em frente a Jimena colocando a mão esquerda sobre o ombro dela.   — Imagino que não deve ser fácil ter que conviver com eles de novo, mas a melhor coisa a se fazer agora é ajudá-los. Quanto mais rápido eles conseguirem o que querem mais rápido ficaremos livres.   — Tudo bem. Eu vou tentar okay?   — Melhor que nada.   — Avisé-os que assim que voltarmos da viagem as perguntas serão respondidas.   — Okay — respondeu antes de apertar o ombro da amiga e sair do quarto.   Jimena jogou mais alguns objetos na mochila, haviam poucas coisas suas naquele quarto. Dormia ali apenas quando havia alguma carga à espera. Sentou-se na cama e puxou a correntinha que mantinha no pescoço. O pingente era um dog tag, havia sido um presente de Alyssa, e tinha os seus nomes gravados. Em certo momento pensou em se livrar do objeto e tentar esquecer tudo o que havia acontecido, mas não conseguiu. Apesar do que acontecera não queria e não podia esquecer-se de tudo.   Exceto quando treinava mantinha o objeto sempre consigo, ocultado pela roupa. Seu polegar traçou as letras bem desenhadas, desejando por um instante voltar anos atrás.   — Jimena, tudo pronto. — A voz de Veronica soou após duas batidas na porta.   Voltou a ocultar o pingente, capturou a sua mochila, óculos e as chaves do carro. No galpão todos já estavam a sua espera.   — Mesma formação, Rodríguez ? — Luke perguntou.   — Quase, vamos precisar de outro carro, já que temos a companhia dos agentes.   — Vai ficar nos chamando assim até quando? — Ethan perguntou m*l-humorado parando frente a Jimena.   A morena retirou os óculos fitando os olhos do homem à sua frente. Aquele cara não iria pagar de macho alfa para ela, não mesmo.   — Algum problema? Se quiser posso te chamar de Little Peter? — Jimena perguntou séria sabendo que ele odiava o segundo nome . Mesmo com certa diferença de altura a ex-lutadora parecia exercer uma figura de maior força que o homem.   Caitlin riu, ou melhor, gargalhou recebendo um olhar indignado do homem que tinha o rosto avermelhado. Os amigos de Jimena tentavam não demonstrar nada, falhando claramente, até mesmo Belinda tentava controlar o riso. Alyssa fingia estar distraída fitando suas unhas com uma exímia concentração.   — Vamos antes que o Santiago resolva nos ligar. — Dustin entrou no caminhão sendo seguido por Luke.   — Tem razão, Luke. Hey Belinda, já conferiu os comunicadores?   — Tudo certo.   Belinda e Veronica logo se encaminharam para o outro carro, seguidos por Caitlin que parou rapidamente próximo a Jimena.   — Você é f**a, mestre. Muito f**a. — Falou para morena antes de continuar seu caminho.   Jimena recolocou os óculos e entrou no seu carro, logo Alyssa se aproximou junto a Ethan.   — Aqui não tem espaço para você. Vai com a Brianna. — Jimena apontou para Ethan. — Bri pega o Dogde.   — Vai Ethan. — Alyssa mandou antes que ele pudesse contestar.   Meio contrariado Ethan foi até o carro onde Brianna o aguardava. Logo saíram na formação já conhecida; Jimena sempre a frente liderando, seguido por Luke no caminhão logo atrás Veronica e por último Brianna.   Alyssa sentia um ar quase nostálgico estando ao lado da morena naquele carro. Era como se tivesse voltando a época da academia, quando saiam escondidas e iam para o mirante. Jimena permaneceu em silêncio todo o tempo, enquanto a policial apenas fitava a paisagem desértica.   Após três horas de uma viagem silenciosa o toque do celular se fez presente. A ex-lutadora o retirou do bolso e colocou no viva-voz.   – ¿Qué pasó Santi?   Alyssa fitou o perfil da morena que falava em espanhol. Embora tivesse descendência mexicana ainda não compreendia muito bem o idioma.   — Obrigado pai! — Alyssa murmurou m*l-humorada com um revirar de olhos.   — Onde está? O chefe me ligou perguntando se a entrega já havia sido feita. — A voz grave soou através do celular.   — Tive um problema na estrada e precisei atrasar a viagem.   — Rodríguez, sabe que o chefe não gosta de atrasos.   — Não se preocupe em menos de dois dias a entrega será feita.   — É melhor não se atrasar mais, tenho uma informação para você.   — Okay. — Jimena logo desligou o celular e o devolveu ao bolso resmungando algo ininteligível.   A primeira parada foi feita horas depois em um posto de gasolina em estado decrépito. O atendente da loja de conveniência era barrigudo, com uma barba m*l feita além de ter um cheiro horrível.   Ele lançou um olhar avaliativo sobre Alyssa, que comprava um pacote de biscoitos, e sorriu asquerosamente. Jimena que estava próxima à porta logo se aproximou da agente levou sua mão aos cabelos e desBriannaou entre os fios negros e sua camiseta, branca com estampa dos Beattles subiu um pouco revelando uma arma e parte de uma cicatriz. O sorriso do homem logo desapareceu ao ver o brilho da arma. Aquela era uma área isolada e perigosa já vira pessoas serem assassinadas e sabia que a polícia jamais descubriría.   — Tudo certo? — Jimena perguntou a Alyssa assim que parou ao seu lado, seu olhar ainda fixo no homem.   — Sim. — A agente respondeu sem entender aquela atitude.   Logo voltaram a estrada, Jimena continuou dirigindo em silêncio. A mulher havia se tornado uma incógnita, calada e séria com um olhar frio e respostas rápidas. Parecendo sempre distante como imersa em pensamentos. Como alguém poderia mudar tanto?   (...)   Se o posto de gasolina já parecia decrépito e abandonado o motel em que pararam a noite era ainda pior. Depois dos desvios das rodovias os únicos lugares que ainda ficaram abertos pareciam sempre abandonados.   (...)   O corpo suado, a respiração descompassada e a sensação de iria morrer. Jamais seria capaz de se acostumar a isso. Se levantou rapidamente e ainda cambaleante pegou sua arma antes de sair daquele pulgueiro que chamavam de motel. Do lado de fora Brianna e Luke conversavam enquanto mantinham vigilância sobre a carga.   — Brianna, vai dormir — ordenou Jimena.   — Tem certeza Jimena? — Brianna perguntou incerta.   — Tenho, se quiser também pode ir Luke. Eu não vou voltar a dormir.   — É melhor alguém ficar aqui com você.   — Brianna…   — Não se preocupem, eu ficarei aqui. — A voz de Alyssa soou enquanto ela andava em direção aos três.   Luke fitou a amiga que assentiu em consentimento, logo ele e Brianna caminhavam em direção ao prédio antigo.   Jimena foi até seu carro e se sentou sobre o capô. A brisa fresca soprava e a morena logo sentiu o cheiro de Alyssa. Ela continuava a usar o mesmo perfume feminino e delicado. Se o coração da morena estava acelerado antes, agora parecia bem pior.   — Por que entrou para o cartel? — Alyssa logo perguntou. Queria entender o que havia acontecido durante todo esse tempo.   — Se veio até aqui para fazer um interrogatório está perdendo o seu tempo.   — Você precisa colaborar com a investigação.   — E vou fazê-lo, mas você terá apenas informações sobre o cartel e as minhas escolhas não estão incluídas.   Alyssa fitou a mulher por um momento tentando entender o porquê daquela frieza, Jimena sequer a olhava nos olhos.   — O que aconteceu com você?   — Eu tive o desprazer de conhecer o inferno e voltar viva de lá. — respondeu entre dentes.   — Jimena, o que…   — Você já teve sua resposta, agora me deixe em paz.   E Alyssa se afastou, confusa. Aquela era a principal palavra que poderia usar para descrever como se sentira nos últimos dias.
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