Capítulo Três

1900 Words
"Às vezes olhamos para o passado e parece que tudo aquilo aconteceu ontem. Outras vezes olhamos e parece que essas lembranças são da vida de outra pessoa." → Skins Quando os amigos de Jimena adentraram a sala, ela finalmente pôde respirar um pouco mais tranquila. Enquanto os agentes que os acompanharam deixavam o interior da sala ela analisou cada um deles e comprovar que eles estavam relativamente bem. Reunidos ao em volta da mesa eles pareceram compartilhar da mesma sensação de alívio. Assim que ficaram a sós não se demorou a ser o mais direta possível.   — Temos duas opções: podemos continuar presos ou ajudar os agentes.   Houve cerca de dez segundos de silêncio em que o grupo pareceu compartilhar da mesma insegurança até que Dustin se aproximou, o homem n***o e alto logo indagou em um tom desconfiado:   — Ajudar como?   — Faríamos um acordo. Seríamos soltos, essa prisão apagada da nossa ficha e a situação da Belinda seria legalizada, mas para isso precisamos colocar agentes no cartel.   — Quer dizer um topo? — indagou Brianna enquanto prendia as tranças afro presas em coque.   — Basicamente.   — Isso é muito arriscado, Jimena — Luke comentou ao cruzar os braços.   — Não posso negar, mas também não posso deixar que sejam presos.   — Se o Aaron descobrir… — Dessa vez fora Veronica a argumentar.   — Todos seremos mortos, eu sei.   Luke apoiou suas mãos sobre a mesa fitando os olhos de Jimena e ela podia ver o quão hesitante ele estava sobre toda aquela ideia.   — Mas se colocarmos esse agente lá dentro ficaríamos livre dessa acusação, mas não do cartel. Continuaríamos a trabalhar para o Aaron, sabe que não há muita possibilidade de sair do cartel.   — Se a operação der certo, o cartel será destruído.   — E nós seremos destruídos juntos — Dustin resmungou ao gesticular o resto da equipe.   — Não Dustin. Ficaríamos livres de acusações por ajudar o governo e a Belinda ganharia o Green Card.   — Não sei não, Jimena.   O ex-policial estava inseguro e ela entendia os motivos do amigo, mas não poderia arriscar que todos fossem presos. Belinda, Brianna e Luke não suportariam um dia na prisão, Dustin tinha um passado como policial e Veronica era como uma criança que seria jogada em meio ao caos.   — Vocês não querem e não podem ser presos e esse é o único jeito. Não vou deixar que sejam punidos por uma dívida minha. — Jimena fitou a morena que se mantinha calada. — Belinda?   — Devemos saber todos os prós e contras desse acordo. Creio que deva conversar com o major e saber exatamente quais as condições.   — Alguém tem algo mais a dizer? — Jimena fitou os amigos que permaneceram em silêncio. — Então é isso que faremos.     (…)   Usando a mesa como apoio Jimena estava pensativa, a equipe havia saído a poucos minutos. Tinha certeza que havia tomado a melhor decisão para o grupo, mas era impossível não deixar aquela sensação de insegurança tomar conta. Ergueu o olhar ao ouvir o barulho da porta sendo aberta e respirou fundo assim que ouviu a voz de Alyssa.   — Tudo certo?   — Sim — murmurou ao arrumar a postura. — Mas antes de tomar a minha decisão, posso conversar com o major?   — Vou levá-la até ele — disse antes de pegar as algemas presas ao seu cinto.   — Isso é realmente necessário?   — É o protocolo — respondeu Alyssa em um sussurro.   Jimena assentiu meio contrariada e estendeu os pulsos sentido o contato com o metal frio logo em seguida. Manteve o olhar baixo, sem fitar a agente enquanto era conduzida pelos corredores do prédio e pegaram um elevador. Percebeu a policial estalar os dedos e respirar fundo parecendo desconfortável.   — Você ainda tem medo de elevador.   — Algumas coisas não mudam.   O comentário da mais nova a incomodou e Jimena voltou a fitar as algemas nos pulsos. Nas últimas horas tudo não passava disso: incomodo, tristeza, vergonha e mais um monte de emoções que a deixavam em um grande conflito interno.   Assim que saíram do elevador seguiram até o fim do corredor, Alyssa bateu na porta e logo uma voz masculina ordenou que entrassem. Jimena arrumou a postura aos ser analisada por Simon que mantinha um olhar sério. — Rodríguez, eu esperava alguém diferente — comentou indicando para que as duas mulheres se sentassem.   — Um homem? — indagou em um tom de desdém.   — Não exatamente. Creio que a agente Baker explicou sobre o acordo.   — Explicou. Eu acho loucura, mas se vocês querem brincar de k******e quem sou eu para impedir?   Um sorriso discreto se formou no rosto do homem e Jimena não gostou nada de como ele a fitava, mas naquele ponto não poderia retroceder.   — Ótimo senso de humor, mas vamos ao que interessa. Vai aceitar o acordo?   — O que me garante que um de vocês não vai me prender na primeira oportunidade?   — Eu garanto. Vocês nos ajudam e nós os mantemos livres. A Srta. Flores conseguirá o Green Card, essa prisão será apagada dos registros e eu realmente espero nunca vê-los novamente, mas para isso há algumas exigências.   — Quais?   — Vocês terão que conviver diariamente com os três agentes que estão a frente da operação e deverão usar localizadores.   — Vocês querem saber sobre cada passo que dermos?   — Exatamente — respondeu movendo a cabeça.   — Não acha que isso é um pouco demais?   — Não. Posso ter aceitado esse acordo, mas vocês ainda são criminosos, não posso confiar.   — Ninguém pode, não é mesmo? — Resmungou com ironia — Mais alguma exigência?   — Os três agentes deverão ingressar no cartel, com a sua ajuda, para conseguir as informações necessárias e você e seus amigos também ajudarão fornecendo informações.   — Para isso dar certo vou precisa de liberdade para executar as mesmas tarefas e fazer as coisas ao meu jeito.   — Prossiga.   — Eu não posso simplesmente dizer que os três fazem parte do cartel. Para entrar é necessário ganhar a confiança do Matt. Isso pode demorar, não quero outros agentes no meu pé a todo momento e tem que acontecer de forma sutil. Não quero que as minhas atitudes sejam questionadas.   O major permaneceu com o olhar fixo no da ex-lutadora alguns segundos parecendo ponderar cada palavra.   — Você poderá agir como bem entender, mas lembre-se de que estarei de olho. Basta um passo fora do lugar e estará presa antes mesmo de pensar em fugir e farei questão de que dessa vez não consiga sair tão cedo.   — Não se preocupe major, tem a minha palavra que eu e meus companheiros iremos ajudar. E a propósito preciso da carga apreendida, afinal o senhor não quer que alguém desconfie de algo.   — A agente Baker cuidará disso enquanto Abbott e Parker cuidam dos localizadores — contestou o homem após fitar Jimena por alguns segundos.   — Parker? — Jimena indagou contrariada enquanto a policial retirava as algemas.   — Sim, algum problema? — O tom de voz do major deixava claro que ele sabia muito bem que a antigira.   — Na verdade, todos. Tenho outra opção?   — Sinto informar que não.     (…)     — Tudo pronto. Os localizadores estão funcionando em perfeito estado. — Caitlin anunciou.   Os localizadores eram como as tornozeleiras eletrônicas, mas com uma estrutura muito menor que as convencionais e com uma alta funcionalidade e que poderiam facilmente serem ocultadas sob a roupa.   — A carga já foi liberada. — Alyssa falou ao adentrar a sala.   — Vamos deixar a carga na casa e amanhã cedo saímos. Aproveitem para descansar. — A ex-lutadora se pronunciou recebendo a chave do seu Mustang.   Depois de todo o processo Jimena finalmente poderia descansar um pouco, ou tentar. Teriam que reiniciar a viagem e precisaria de uma boa desculpa para explicar ao chefe o motivo do atraso.   — Não pense que vai pagar de líder para mim também — Ethan disse ao se aproximar de Jimena.   — Não Parker. Eu jamais teria na minha equipe alguém como você. — Jimena resmungou antes de se afastar deixando o policial irritado.   >>>>>>>>   A noite após sair do trabalho Alyssa assitia uma série qualquer esperando por Ashley. A médica de cabelos castanhos e olhos escuros era a voz da razão entre as amigas, claramente a mais responsável. Estava na última etapa do seu curso de medicina como a melhor aluna da turma e fazia residência em um dos melhores hospitais de L.A.   Assim que a campainha tocou Alyssa desistiu de tentar entender aquela série e foi atender.   — Desculpa pela demora. Tive uma emergência para atender. — Ashley explicou antes de beijar o rosto da amiga e sentar-se no sofá.   — Sem problemas. — Respondeu deixando escapar um suspiro cansado.   — O que houve? Fiquei preocupada com a sua mensagem.   — O que a frase “preciso conversar com você” tem de tão preocupante? — Alyssa indagou ao se acomodar no sofá.   — Nada de bom vem depois disso, acredite. Então, sobre o que quer conversar?   — A Jimena apareceu — Alyssa respondeu em um tom baixo enquanto brincava com o controle remoto.   — Aí meu Deus!   — Pois é. — Soltou analisado os botões com extrema concentração.   — Explica direito como isso aconteceu. Você conversou com ela? Quando ela saiu da cadeia? — A jovem médica dava pulinhos de animação sobre o sofá.   — Ashley, uma coisa de cada vez. Lembra que eu havia falado sobre uma operação?   — Sim, algo importante e confidencial, mas qual a ligação?   — A Jimena foi presa nessa operação… transportando drogas.   Ashley parou por um instante tentando ligar os fatos, mas por fim apenas perguntou:   — Estamos falando da mesma pessoa?   — Sim, eu acho — murmurou sem muita convicção.   — Alyssa, como assim você acha?   — Ela está diferente. Não olha nos olhos, está fria.   — A cadeia muda as pessoas. Não deve ser fácil ficar confinada a um lugar.   — Eu sei, mas você não viu a forma que ela atacou o Steve.   — Ele até que merece — comentou Ashley com um dar de ombros.   — O foco não é esse.   — Eu sei, mas você conseguiu conversar com a Jimena?   — Não exatamente, mas acho que teremos tempo o suficiente para isso.   — Alyssa… — O tom de ameaça na voz dela era claro e um tanto amedrontante para alguém com menos de 1,60 de altura.   — Convenci o major a oferecer um acordo para a Jimena. Ela e os amigos seriam soltos e ela me ajudaria a entrar no cartel.   — Alyssa Symone Baker, que história é essa de entrar no cartel?   — Precisava falar o meu nome completo? — indagou fazendo careta.   — Não fuja do assunto.   — Tecnicamente isso é confidencial — argumentou antes de se levantar e seguir em direção a cozinha.   — Não importa — Ashley resmungou antes de seguir a amiga — Poderia ser um segredo do presidente, mas se você vai correr algum risco eu preciso saber.   — Vou me infiltrar no cartel para conseguir informações sobre o tráfico na fronteira.   — Me diz que a Caitlin não está no meio disso, por favor.   — O Ethan vai estar com a gente.   — Mas ele odeia a Jimena. — Ashley suspirou — Você tem ideia de que está de metendo na próxima guerra mundial?
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