"A primeira vez que a pessoa se apaixona muda a vida dela para sempre, e por mais que você tente, o sentimento nunca desaparece."
→ O Diário de uma Paixão
Central da DEA — Los Angeles — 3:03 pm
A Drug Enforcement Administration (DEA: Órgão para o Controle/Combate das Drogas) é um órgão de polícia federal do Departamento de Justiça dos Estados Unidos que divide responsabilidades com o FBI, o único órgão do país encarregado de investigações do narcotráfico no exterior.
Naquela tarde a central estava movimentada como de costume. Sirene nos arredores, os murmúrios de conversas no interior do prédio soavam quase como um enxame de abelhas, agentes circulavam entres as mesas cheias de papéis, onde a parte burocrática funcionava, pessoas detidas eram escoltadas para interrogatório.
Quando Caitlin chegou na agência soube que a amiga já havia chegado e sabendo que faltava algum tempo até a reunião resolveu falar com Jimena. Os corredores a caminho das salas de interrogatório estavam um pouco mais tranquilos que o saguão. Abriu a porta da sala devagar e Jimena pareceu nem mesmo notar. Ela estava com o olho direito um tanto roxo e com um curativo tão m*l feito quanto o do braço.
— Mestre? — chamou-a como costumava fazer antes, mesmo que ela ainda não tivesse aquele nível de graduação, fazia como um ato de mais puro respeito com a mulher que tanto a ajudou.
Quando ele desviou o olhar da parede a fitando nos olhos por poucos segundos seu olhar parecia surpreso, mas não teve tempo o suficiente para identificar ela logo voltou a fitar a parede.
— Não sou mestre muito menos professora, não mais.
— Por que não? O que aconteceu? — indagou antes de sentar-se em frente a Jimena.
— Assim que fui condenada a WMC* retirou meu título de professora alegando que eu não sou honrada o suficiente para té-lo.
— Pensei realmente que a minha mente estivesse brincando comigo quando te vi sair daquele carro — confessou analisando o comportamento da mulher.
— Ao que parece apenas o Parker sempre desconfiou do meu desvio de caráter — respondeu Jimena com um tom carregado de ironia.
— Por que está trabalhando para o cartel? — fez a pergunta que a atormentava a horas.
— Acha mesmo que vou falar alguma coisa? Caitlin apenas vá embora e esqueça que me viu novamente.
— É o meu trabalho, mestre.
— Porque insiste em me chamar assim? Eu não sou mais a sua professora — grunhiu última parte lançado um olhar sério.
— Foi graças a você que continuei lutando, mesmo depois daquela derrota no campeonato você me incentivou a continuar e também me ajudou a amadurecer em um momento onde apenas as loucuras que eu fazia era o que me destacava. Você sempre será minha mestre.
— Então escute: eu não darei informação nenhuma a vocês. Portanto YUD.**
Com aquela voz de comando sabia que ela não falaria mais nada, então respirou fundo e se levantou se afastando da mesa, mas antes de sair encarou Jimena. Juntou as mãos à frente do rosto, seguindo-se uma pequena flexão frontal com a cabeça e tronco e a saudou.
— Sawadee kaa. ***
— Sawadee kaa — Jimena respondeu à saudação após a fitar por alguns segundos.
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Alyssa terminava de organizar a documentação quando Caitlin adentrou a sala mais uma vez se jogando em uma das cadeiras. Desviou o olhar para ela por um breve instante antes de voltar a atenção para os papéis.
— Acabei de passar na sala onde a Jimena está.
— Conseguiu algo? — indagou rapidamente transferindo toda sua atenção para a amiga.
— Nada. — Caitlin fez uma pausa parecendo pensativa. — Ela está… diferente.
— Então você também notou? Pensei que fosse coisa da minha cabeça.
— Olhar distante, poucas palavras e o jeito que ela atacou o Steve, ele até que merece mas…
— Caitlin, esse não é um bom momento para exaltar o seu ódio pelo Steve — resmungou antes de revirar os olhos.
Caitlin fez menção de responder, mas logo Ethan surgiu com um semblante irritadiço.
— Vamos? O major está esperando. — Ethan adiantou-se.
Não se demoraram, logo os três já estavam no elevador a caminho da sala do major. O breve percurso foi feito em silêncio e nenhum deles parecia muito disposto a conversar. Alyssa seguiu a frente batendo na porta e pedindo permissão para entrar.
O major Simon Hoffman estava sentado na cadeira atrás da grande mesa de madeira escura, com os dedos entrelaçados frente ao queixo ele fitava a TV que exibia o telejornal.
— Soube que a missão foi bem sucedida — comentou Simon sem desviar olhar do aparelho.
— Conseguimos prender os integrantes da equipe e apreender a carga — Ethan respondeu.
— Agente Baker, como se seguiu o interrogatório? — indagou parecendo mais interessado no conteúdo exibido na TV.
— Iniciamos um interrogatório, mas nenhum deles cooperou.
Simon não era um homem de muitas palavras, era conhecido por sua autoridade e pelas condecorações recebidas por seu serviço ao país. Comandava a agência há cerca de dez anos e era responsável por grandes operações. Quando ele finalmente desviou o olhar da TV e fitou os três agentes parados a sua frente, demorando-se um pouco mais em Alyssa.
— E como vai prosseguir?
— Se me permite, major. Creio que fazer um acordo com eles seja a melhor forma.
— Acordo? — indagou arqueando a sobrancelha grisalha.
— Já tem algum tempo que buscamos uma oportunidade de nos infiltrar no cartel e creio que o momento chegou.
— Explique melhor, agente — pediu ajeitando-se na cadeira.
— Acredito que se nos dispusermos a limpar essa prisão da ficha deles e ajudarmos a Srta. Flores com o Green Card conseguiremos cooperação.
— Abbott, Parker o que acham?
— Pode funcionar perfeitamente, major. Tenho certeza que após uma conversa com a líder poderemos chegar a um acordo — Caitlin respondeu com firmeza.
— Eu não sei, major. Tenho meus motivos para desconfiar daquela mulher —o rapaz respondeu insatisfeito com a proposta da amiga.
Simon ficou em silêncio por um tempo, parecendo ponderar a ideia, seus olhos permaneceram todo o tempo fixos em Alyssa.
— Agente Baker, você vem realizando um ótimo trabalho por isso confiarei na sua opinião. Tente arrancar algo deles caso não consiga terá a liberdade para realizar o acordo.
— Obrigada, senhor.
Permaneceram mais alguns minutos em uma conversa sobre os próximos passos a serem seguidos. Quando finalmente saíram da sala do major, Ethan ignorou Caitlin e puxou Alyssa para uma sala vazia.
— De onde você tirou essa ideia de acordo? Não podemos confiar naquela mulher — grunhiu irritado.
— Qual o problema, Ethan? Ela é a chave para o cartel.
— Ela poderia ser a chave para o paraíso, Alyssa. Eu não confio nela e você também não deveria, acho que há motivos suficientes para isso.
— A sua implicância talvez? — resmungou ao se esquivar do homem e caminhar em direção a porta.
— Implicância? — ele indagou com descrença barrando a passagem dela — Alyssa, essa mulher foi presa por um motivo e agora faz parte de um dos cartéis mais perigosos da atualidade. Acha mesmo que é apenas implicância?
— Você sabe que ela foi presa injustamente.
— Eu não acredito nisso, afinal se fosse inocente ela não estaria presa agora não é?
— Eu não vou continuar aqui discutindo isso. — Alyssa se afastou rapidamente saindo da sala e caminhando a passos largos.
— Lyssa, me desculpa. — Ethan suspirou e seguiu a amiga — Eu me preocupo com você e talvez reviver o passado não te faça bem.
— Conversamos depois, agora eu preciso falar com a Jimena.
Ignorando os protestos de Ethan, ela simplesmente o deixou para trás em direção a sala de interrogatório encontrando Caitlin no caminho, a amiga logo lhe estendeu um copo de café.
— O que ele queria?
— Reclamar como sempre. Obrigada pelo café.
Não se deteve por muito tempo e logo seguiu em direção ao seu destino. Jimena, que dessa vez estava livre das algemas, continuou na mesma posição.
— E então, recuperou sua memória? — indagou após tomar um gole de seu café e depositar o copo sobre a mesa. Permaneceu de pé com os braços cruzados e o olhar fixo na mulher.
— Não e talvez não aconteça.
— Quando a Jimena que conheci se transformou em uma traficante miserável? — Alyssa perguntou fitando-a. Uma tristeza tomava conta de si ao ver Jimena daquela forma.
— Fique fora disso. — A resposta foi em tom baixo, mas firme.
— Por quê? O que está escondendo?
— Não há o que falar, quer me manter aqui? Sem problemas — resmungou após um dar de ombros.
— Por que insiste em dificultar as coisas? Saiba que os seus amigos também sairão perdendo.
— Deixe-os fora disso! Eles estavam comigo por que não tiveram escolhas, eu os obriguei a isso.
— A srta. Flores está vivendo no país ilegalmente? Também a abrigou a cruzar a fronteira?
Pela primeira vez desde que se encontraram Jimena a olhou nos olhos. Ela parecia irritada, mas havia algo mais, porém não teve tempo para identificar.
— O que você quer? — perguntou por fim.
— Um acordo — disse ao apoiar as mãos sobre a mesa.
— Que tipo de acordo?
— Eu solto a você e a seus amigos, apago qualquer informação de que essa prisão tenha sido efetuada e ainda posso legalizar a situação da srta. Flores.
— O que quer em troca?
— Quero entrar para o cartel.
Jimena fitou a mulher antes de sorrir ironicamente, e levantou-se apoiando suas mãos sobre a mesa diminuindo a distância entre elas.
— Você deve estar brincando comigo.
— Não estou brincando e você sabe disso. O único jeito de acabar com o cartel e saber como ele funciona e a melhor forma é estando dentro dele. Não adianta tentar negar que faça parte do cartel.
— Você tem ideia do que nos aconteceria se descobrissem que coloquei um topo* lá dentro?
— Considerando o tempo de investigação e o histórico, tenho uma ideia — murmurou displicente.
— E mesmo assim quer arriscar? O que você quer, assinar nosso atestado de óbito?
— Quero impedir a entrada de drogas e acabar com o tráfico na fronteira e preciso da sua ajuda para isso. Conheci o suficiente de você para saber que não está envolvida com esse tipo de coisa por conta própria.
— Eu não sou mais a pessoa que você conheceu — Jimena respondeu em um tom amargo.
— Eu sei, m as a sua essência não mudou completamente. Vou te deixar pensando um pouco e amanhã você me dá uma resposta.
— Preciso conversar com a minha equipe.
— Vou pedir para que os tragam até aqui.
* Conselho Mundial de Muaythai.
** Stop — ordem de final do combate.
*** Saudação feminina do Muaythai
**** Espião, agente duplo, traidor.