Por dentro da máfia

Capítulo 2

Lina Fontana / sexta feira, 15 de abril

Desde criança fui ensinada a ser uma boa esposa, cuidar da casa e de mim mesma, saber agradar o meu futuro marido e mostrar uma bela imagem de um casamento perfeito na frente de todos, mesmo que não fosse verdade. Acho isso tão injusto, pois não tenho culpa de ter nascido mulher, e não acho certo não saber de nada sobre algo que irá afetar a minha vida até que eu morra.

Com a minha mãe foi assim também, ela se casou sem ao menos saber quem era o meu pai e sofreu por isso, e no começo, era largada dentro de casa, via o meu pai a trair bem na sua frente, e muitas vezes, foi humilhada na frente dos funcionários da casa. Isso durou anos e só mudou quando o meu pai foi cobrado para ter um filho, e mesmo diante de tudo o que ela passou, a minha mãe nunca poderia dizer que não queria e foi aí que nasceu o meu irmão mais velho, Pietro.

Mas a minha mãe me contou que antes dele nascer, as coisas começaram a melhorar entre ela e o meu pai.

Ele estava mais presente, chegava mais cedo em casa e a levava para jantar fora fazendo algum agrado a ela, e quando souberam que viria um menino, foi aí que tudo mudou completamente, o meu pai se transformou em outra pessoa e ela se deu a chance de viver algo que antes parecia impossível. Bom, ela não tinha outra escolha, e com o tempo, aprendeu a conviver com ele.

Hoje posso ver o quanto ele é louco por ela, sempre ciumento e atencioso, a forma como ele olha para ela é diferente de tudo, mas por mais que as coisas estejam muito melhores hoje, ainda posso ver um pouco de mágoa nos olhos dela, mas nunca tive coragem de perguntar detalhes do que realmente houve.

Quando nasci, Pietro já estava com quase dez anos de idade, e a minha mãe me contou que quando souberam que eu viria, que seria uma menina, foi uma felicidade enorme, pois teriam um casal de filhos. O meu pai sempre me tratou muito bem, me dava de tudo, mas a minha mãe sempre me ensinou a não se tornar uma menina mimada e me ensinou a sempre ser uma mulher forte, me contou algumas coisas que ela passou e foi quando ela me contou que quando me tornasse uma jovem, teria que me casar.

E quando eu poderia conhecê-lo? Essa pergunta eu me faço todos os dias.

Sempre estudei na melhor escola, fiz algumas amizades, mas nunca poderia me aproximar de um garoto, pois era contra as regras, a minha mãe sempre me explicou que isso não poderia mudar, pelo simples fato de que não poderia, jamais, haver sequer algum tipo de boatos sobre eu e alguém, então, sempre tive somente contato com garotas, e de homens, somente com o meu pai e o meu irmão.

Tenho um bom relacionamento com Pietro, ele sempre me protegeu desde criança, e quando começou o seu treinamento, ficou cada

vez mais protetor e ciumento comigo, mas, sempre que ele tinha um tempo livre, fazia questão de me levar para passear e fazer compras com o intuito de me distrair um pouco.

Recentemente terminei os meus estudos e hoje é o meu aniversário de dezoito anos e a cada dia que passa um medo me domina, pelo simples fato de saber que os meus dias na casa dos meus pais estão contados. Praticamente não dormi essa noite só imaginando que a pouco irei receber a notícia de que terei que me casar e confesso que ultimamente não tenho dormido.

Como terei que me casar com alguém que não conheço? Que nunca vi na vida? Como poderei fazer algo se nunca tive experiência de nada? E se ele for um velho? Ou pior, um louco?

Não paro de imaginar o quanto poderei ser tratada como uma pessoa qualquer, que poderei ver o meu futuro marido me trair e não ter o direito de fazer nada, e nem questionar nada.

Por mais que já soubesse de certas coisas, nunca deixei de imaginar em como seria se eu me casasse por amor, a curiosidade de querer saber como é ser amada e ter alguém que possa me amar, seria o mínimo para ter uma vida digna, pois, deve ser horrível se casar sem amor, sem nem saber como é a pessoa, e mesmo podendo ter de tudo, acredito que o amor é essencial.

Vejo o dia amanhecer e fico encantada em como a natureza é perfeita, tenho uma visão bem ampla aqui da janela do meu quarto e vejo admirada o dia clarear, e depois de o sol nascer, me levanto já indo para o meu banho matinal.

[...]

-Bom dia, minha caçula. – Pietro diz depois de entrar no meu quarto.

-Bom dia, que milagre é esse? – Pergunto indo abraçá-lo.

As vezes passo dias sem ver o meu irmão por conta das suas obrigações na Máfia, e quando ele aparece, fico extremamente feliz.

-Hoje é um dia importante..., feliz aniversário. – Ele me entrega uma caixinha de veludo vermelha.

Abro um sorriso enorme e recebo a caixinha, e quando abro ela, vejo um par de brincos de diamantes, bem delicados e fico de boca aberta.

-Pietro..., não precisava, deve ter sido muito caro. – Falo ainda chocada e encantada com os brincos.

-Nada que eu não possa pagar..., mas vem, vamos descer..., os nossos pais estão esperando. – Ele diz segurando a minha mão e deixo a caixinha na minha cama.

O acompanho saindo do quarto e descemos as escadas juntos, vamos diretamente para a cozinha e vejo um bolo de aniversário na mesa e a minha mãe começa a cantar os parabéns onde o meu pai e Pietro a acompanha.

-Feliz aniversário, meu amor... – A minha mãe diz chorando e a abraço apertado.

-Obrigada mãe, mas não precisa chorar. – Falo sentindo o seu aperto maior e ela alisa os meus cabelos.

-Parabéns, minha princesa... – O meu pai me abraça beijando os meus cabelos.

Nos acomodamos na mesa e tomamos o nosso café todos juntos, mas eu percebia que tinha algo errado, pois eles não falavam nada e eu sentia um clima estranho no ar. Tudo o que se ouvia na sala de jantar, eram os sons dos talheres e xícaras sendo colocadas a mesa, então, olho para cada um deles percebendo que eles estão muito de cabeça baixa e é quando tenho a plena certeza de que tem algo errado.

-O que houve? – Pergunto olhando para eles e o meu pai respira fundo me olhando.

-Desculpe meu amor, hoje é o dia do seu casamento, minha filha... – Ele diz de uma vez me pegando de surpresa.

Fico completamente sem ação e a minha xícara escorrega da minha mão.