Paolo Bernardi / quinta feira, 14 de abril
Bebo mais um gole de uísque enquanto estou sentado na poltrona acolchoada do meu apartamento e suspiro levemente. Ainda é cedo e o sol nem apareceu ainda. Vejo Clara deitada na cama completamente nuä, dormindo profundamente e fecho os meus olhos respirando fundo na tentativa de criar forças para enfrentar o que vem a seguir.
O meu pai acabou de me ligar afirmando que quer me ver o mais rápido possível e não faço ideia do que seja, pois até onde eu saiba, estamos bem, sem ameaças e tudo o que eu tinha para resolver, fiz tudo ontem mesmo no galpão. Bebo o meu último gole e me levanto indo a caminho do banheiro. Praticamente não dormi essa noite e já me sinto um pouco cansado, mas como não posso dormir agora, ligo o chuveiro na água morna e começo o meu banho sem demora.
Assim que termino, caminho em direção do closet e visto o meu terno, coloco os meus sapatos e vejo que agora são pouco mais das seis da manhã. Busco a minha carteira, chaves e saio do apartamento digitando uma mensagem para Clara, avisando sobre a minha saída repentina.
Entro no elevador e aperto o botão do subsolo e espero ele descer.
Me chamo Paolo Bernardi, tenho vinte e sete anos de idade e sou o filho mais velho de Mário Bernardi, o grande Dom da Máfia italiana. Me considero um sortudo ao imaginar o poder que terei quando o meu pai me passar o cargo, pois fui treinado desde criança para ser considerado a sua altura e poder ser digno de tal responsabilidade. Treinei duro, não foi nada fácil, mas com o tempo, fui subindo os degraus.
Tenho uma irmã mais nova de dezessete anos, chamada Luana, ela é a minha paixão nessa vida, somos muito próximos e sempre tento estar presente.
Assim que chego ao estacionamento, caminho em direção ao meu carro e entro dando a partida em seguida. Dirijo em direção a casa dos meus pais somente pensando qual o motivo de ele me chamar tão cedo, e pouco depois, paro em um sinal vermelho e o meu celular vibra com uma mensagem da Clara.
-Pensei que passaríamos o dia juntos, depois me liga..., te amo.
Leio a mensagem e largo o celular ouvindo uma buzina atrás de mim, dou a partida e volto ao meu percurso chegando pouco depois. Vejo os imensos portões da mansão e os seguranças liberam a minha entrada, eu os cumprimento com um leve aceno de cabeça e vou até à entrada principal estacionando o carro.
Respiro fundo e saio do carro indo em direção à porta e tenho quase certeza de que coisa boa não é.
Não é que eu tenha medo do meu pai, é que o conheço muito bem para saber que ele não vai falar coisa boa, consigo perceber quando tem algo sério acontecendo e sei também como ele fica quando está de bom ou m*l* humor e hoje não estou com cabeça para aturar certas coisas.
-Bambino, meu filho... – Vejo a minha mãe sentada no sofá assim que passo pela porta.
-Oi, mãe..., como está? – Pergunto a abraçando.
-Bem e com saudades. – Quando ela me solta, vejo o meu pai aparecer na sala.
-Paolo, meu filho..., é bom vê-lo. – Ele diz e caminho na sua direção.
-É bom vê-lo pai..., tudo bem? – Pergunto o abraçando e ele corresponde batendo nas minhas costas.
-Te respondo já essa pergunta..., me acompanhe. – Ele se vira e vamos diretamente para o escritório.
Assim que entramos, ele fecha a porta e se acomoda na sua cadeira atrás da mesa, me acomodo a sua frente e o vejo se servir de um uísque e respiro fundo pedindo paciência.
-Então? – Falo o instigando a falar logo.
-Sabe que está na hora de se casar..., não sabe? – Não acredito que fui chamado para isso.
-Essa conversa novamente? Me chamou para isso? – Questiono já me irritando e ele brinca com as pontas dos dedos passando pelo copo.
-Lhe chamei para avisar que se casará amanhã. – Ele diz tranquilamente enquanto leva o copo a boca.
-Que brincadeira de mäl gosto é essa? – Pergunto sem acreditar no que ouvi.
Já tinha falado antes para ele que não penso em me casar tão cedo.
-Não é brincadeira..., a sua futura esposa já era prometida a você desde que nasceu. – A minha mente dá um giro enorme.
-MAS QUE PORRÄ É ESSA? – Pergunto me levantando da cadeira indignado.
-Coloca a porrä dessa bundä na cadeira agora e se gritar mais uma vez te faço se arrepender disso. – Ele diz tranquilamente e me sento novamente, mas a vontade de quebrar tudo a minha frente é muito maior. – Continuando..., fiz um acordo com o Antonio há uns anos atrás. Só estou vivo até hoje pela lealdade dele e fizemos uma aliança de juntar as nossas famílias.
-Anos atrás? E por que não me disse isso antes? – Pergunto fechando os meus punhos, o ódio me domina por completo.
-Porque não era necessário..., sempre lhe disse que teria que se casar com alguém da linhagem, para fortalecer as alianças e Antonio é um homem influente e totalmente de confiança. – Ele explica e negö com a cabeça.
-Não quero me casar... – Exclamo a mesma coisa que tinha falado na nossa última conversa.
-Mas vai..., nós não temos muito tempo. – Ele diz respirando fundo e continua. – Estou doente, Paolo. – Ele diz sem me olhar e fico completamente sem reação.
-Como assim doente? – Pergunto querendo saber o grau disso.
-Tenho um tumor no cérebro ..., já está há um tempo, mas só recentemente que foi descoberto. Eu posso morrer a qualquer momento e você precisa estar preparado para assumir o meu lugar, precisa estar casado e mostrar ao conselho que é o homem certo para assumir o meu lugar. – Ele diz me pegando completamente de surpresa.
Fico com ele por um tempo conversando sobre o que pode acontecer esses dias, mas para a minha surpresa, me casarei amanhã e não posso e não tenho tempo para contestar isso. Ele me mostra uma simples foto da moça e não acredito que terei que me casar com uma garota, ela é bem nova qu eu e na mesma hora, sou alertado de que o casamento tem algumas regras no contrato, colocadas pelo Antonio, pai da garota e uma das principais é que não pode haver nenhum tipo de agressão, não posso impedir dela estudar sem um motivo relevante e sobre filhos, dentro dos primeiros anos de casamento,eu não posso obrigá-la ou pressioná-la.
Isso é ridículo. Nunca vi um casamento com essas regras na organização.
-Mais uma coisa..., sei que tem uma amante. – Ele diz um tempo depois me entregando um copo com uísque.
-Temos um relacionamento... – Respondo tomando um gole longo.
-Não mais..., a partir do momento em que você se casar, ela se tornará a sua amante. Não envergonhe a Lina por isso, e se quiser ainda manter isso que vocês tem, o problema é seu..., mas já aviso, vai acabar errado e falo por ter vivido isso. – Ele diz com o pensamento longe e me inclino se apoiando com as costas na poltrona.
-Sei que já traiu muito a mãe... – Falo mostrando que sei das coisas.
-E me arrependo amargamente e você quase morreu por um erro meu. – Ele diz me pegando de surpresa. – Mas isso não é assunto para agora..., você precisa comprar as alianças, o terno e eu já tenho o presente de casamento de vocês. – Ele diz abrindo a gaveta da mesa e me entrega uma chave. – Comprei uma casa bem grande no centro da cidade, mas fica em um local não tão movimentado para terem sossego..., já separei os funcionários, os homens certos e a mudança está quase finalizada.
-Nossa..., pensou em tudo. – Ironizo e ele me olha bem nos olhos.
-Quando sentir a sensação de não saber se vai acordar no dia seguinte, entenderá certas coisas. – Não falo nada e ele continua. –
Bom, depois do casamento, eu vou viajar com a sua mãe..., quero aproveitar bem esses dias.
Confesso que sinto um certo medo ao ouvir essas palavras, sempre via o meu pai como um homem extremamente forte e sempre pensei que ele viveria muitos anos ficando bem idoso ao lado da minha mãe, mas pelo visto, o destino me pregou uma bela peça.