Após o príncipe Alon, ter se retirado do estábulo, eu me enderecei ao campo de treino dos guerreiros, para puder assistí-los.
Nós mulheres temos de evitar nos engraçar demasiado com os homens, porque não é ético. Mas eu sempre tive facilidade em me comunicar, tanto com homens e mulheres e penso que devia ser algo normal.
E na verdade, não me importo muito com essas regras, me importo com o que eu gosto de fazer.
Eles estavam fazendo esgrima, eu adoro espadas!
Fiquei os observando por um bom espaço de tempo, até que não aguentei.
- Charles, me deixa treinar? - o peço e depois de um momento em silêncio deles, eles me encaram rindo.
Típico costume machista.
- Se te machucares o mestre me mata. - ele responde, me fazendo revirar os olhos.
Eles acham que eles conseguem me machucar por eu ser mulher, eu odeio esses comentários!
- Bem, ele não está cá. - respondo, o implorando com o olhar para que me deixe.
- Não, Nirlian. - ele responde.
- Mulher foi feita para cuidar da casa, vai limpar alguma coisa. - ouço o comentário de um guerreiro que deve se achar muito engraçado e faz os outros rirem da minha cara.
Comentário machista, incêndia meu corpo de raiva.
- Pois bem, se te achas tão homem combate comigo. - o atiço e ele ri.
- Ou tens medo de perder para uma simples criada? - o desafio com o olhar e ele sorri pegando em sua espada.
Isso!
Eu tiro a espada da mão do Charles.
- Não sentirei pena, por ser mulher. - ele diz apontando sua espada na minha direcção, nem sequer o respondo e já parto para cima.
Enquanto os demais guerreiros observam.
Obviamente um guerreiro de seu porte e experiência não teria vulnerabilidade com a espada, mas eu fico horas sempre que posso, praticando esgrima, por isso sou tão boa quanto ele.
E eu vou fazer ele engolir suas palavras goela abaixo.
Nossas espadas agora, estão forçando uma contra a outra para ver quem vai ceder devido a pressão.
Obviamente ele tem mais força que eu, por isso me apresso em fazê-lo cair ao chão.
Batendo de forma passante o meu pé contra o seu, chama-se rasteira, fazendo-o se desequilibrar e cair. Aproveito sua distração para tirar a espada da sua mão, e apontá-las para a cara do homenzarrão, para ele ver quem só pode cuidar da casa.
Não resisto e um sorriso orgulhoso aparece na minha cara ao ver a cara de surpresa dele.
Mas o meu momento de glória é interrompido, ao ver que todos se apressam em fazer a vênia e o guerreiro no chão faz um sinal com os olhos para frente, dando indicação de que alguém estava nos observando.
Estou encrencada!
Me apresso em virar, e para o meu desespero era a família real que estava ali e não o meu pai, que seria igualmente pior mas seria o meu pai.
Era o Príncipe Alon, o duque Frederik que é seu primo, e as princesas que estavam em nossa presença.
Estou condenada.
Vou para a forca!
O guerreiro se levanta e faz a vênia. E eu estou perdida algures por aqui, eu vou ser punida.
As princesas chiliquentas me olhavam com desdém como sempre e um sorriso malicioso, de certeza visualizando a minha morte, com elas não me importo, é com o Príncipe e o duque que me preocupo, me viram em meio à tantos guerreiros e sem a presença do meu pai, derrubando um de seus guerreiros.
Morte certa!
Estou em pânico, não sei nem se falo, ou corro daqui para fora.
Faço à vênia, desconcertada, sem encarar ninguém e deixo as espadas caírem no chão.
- Er... com vossa licença. - digo e saio correndo imediatamente sem encarar ou esperar resposta da realeza.
Deus que me acuda!
- Eu não fiz nada de mal... - é verdade. Falo, enquanto corro em direcção a entrada das traseiras, que vai dar aos aposentos das criadas.
- Afinal, Nirlian. O que tem demais uma simples criada em pleno século XVIII, solteira e descomprometida que devia estar limpando alguma coisa, ser pega pela realeza no meio de um tanto de guerreiro viril comandado pelo pai que, por acaso está ausente, sozinha e ainda por cima com duas espadas na mão como se fosse esquartejar um guerreiro real? - me auto-questiono.
Nada demais, Nirlian.
- Nirlian! - ouço a voz da Fátima, uma amiga, e companheira de aposento me chamar. Paro de andar e suspiro, só espero que não seja outra tarefa, ou ela vindo me avisar que estão me chamando para a força.
Me viro para encara-lá.
- Nirlian. - ela diz enquanto vem mais para perto. - Porquê tanta pressa? - ela me questiona ofegante e eu suspiro de alívio porque se ela me perguntou é porque ainda posso respirar mais um pouco.
- O Príncipe Alon me viu guerreando lá no campo de treino, junto do duque e das princesas. - falo e ela suspira fundo.
- De novo armas, Nirlian. - ela implica, me repreendendo. - Te machucaram? - ela questiona.
- Eu venci. - respondo e não resisto em soltar um sorriso me lembrando da cena.
- Não acredito, você venceu um matulão daqueles guerreiros? - ela questiona incrédula e eu assinto sorrindo convencida.
- Mas agora você está em sarilhos, você sabe que é proíbido mulheres batalharem. E ainda mais com todos aqueles homens ao seu redor, Nirlian. - ela faz questão de mencionar e eu suspiro.
- Eu sei, não é necessário me recordar. - digo e ela suspira. - Porquê você estava me chamando? - questiono querendo mudar de assunto.
- Temos de ir lavar a roupa. - ela avisa e eu suspiro. - Vamos logo, Nirlian. - ela diz me puxando e vamos andando pelo corredor, em direcção à saída para a área de lavagem.
- Mas o sol vai se pôr daqui à pouco. - resmungo.
- Por isso temos de nos apressar. - ela diz e eu reviro os olhos.
Claramente que não éramos só nós às duas lavando as roupas, porque tudo nesse castelo é em grande quantidade, inclusive às roupas que são trocadas incontáveis vezes, pelos inúmeros criados.
Visto que a realeza não repete nenhuma roupa, à não ser algum uniforme real. E são os estilistas quem tratam deles, nós não.
E mesmo essas roupas, não são normalmente repetidas, mas não se questiona, não é?
- O Rei já chegou. - a Meliá, outra criada comenta entrando na área de lavagem e meu coração falha algumas batidas.
- O meu pai tinha saído com o Rei. - murmuro para a Fátima, enquanto passava a roupa pela água limpa.
- Você acha que ele já sabe? - ela me questiona, oscilando seu olhar para mim e para a sua roupa.
- Espero que não. - respondo.
Lavamos à roupa por um belo tempo e já estava escuro quando voltamos para os nossos aposentos, hoje outro grupo está encarregue de servir às refeições.
Estou em minha cama, deitada. Enquanto a Fátima retira nossas vestes.
Nós temos a mania de ir ao riacho e tomar banho à luz do luar, na verdade eu tenho e ela sempre me acompanha.
Vamos sempre após às refeições noturnas, e não passa lá ninguém.
- Ele disse que pediria minha mão aos meus pais. - a Fátima acaba de contar sobre o cavaleiro que a corteja.
- Já vai se casar, Fátima? - a Liana, outra criada companheira e amiga de aposento nos surpreende ao entrar.
- Ainda não sei bem. - ela responde demasiado corada.
Alguém está apaixonada.
E foi conversa jogada fora e por algum motivo em especial, em minha mente só passava a imagem dos olhos azuis, penetrantes, cativantes e atraentes do príncipe.
Eu nem sequer devo pensar nisso, antes que acabe nas masmorras.
Ah, lembrei! Eu já vou para lá.