Ella saiu do quarto que Helena ocupava com seu irmão, desesperada ao imaginar que o mesmo destino a aguardava: um casamento onde, a cada dia, haveria um novo motivo para espancamentos, tapas, ou até mesmo chutes. Helena tinha marcas por todo o corpo.
Ao entrar no corredor seguinte, ela se assustou ao ver um homem alto como um touro, com um olhar tão assustador quanto o de Xavier, parado na porta de seu quarto. Ele percebeu o medo dela e disse simplesmente:
— Estéfano, senhora. O chefe me mandou.
Ele entregou-lhe uma sacola e sentou-se em uma cadeira colocada bem em frente ao quarto dela. Ella se perguntou se ele pretendia passar 24 horas ali, como um cão de guarda.
Ela abriu a sacola e encontrou um celular novo, ainda dentro da caixa, junto com um bilhete com uma caligrafia impecável:
> Amanhã iremos a um coquetel.
> Busco você às 20:00 horas.
> Hernandes Xavier.
Logo abaixo, havia um número de telefone, que ela imaginou ser o dele.
Ella jantou no quarto com Helena. Consolaram uma à outra, e ela convenceu a cunhada a dormir com ela, como já haviam feito outras vezes, quando Otávio não estava em casa. Dormiram com a TV ligada, mas de madrugada, após um pesadelo, Ella acordou com Helena a chamando e com batidas insistentes na porta. Ao levantar, deparou-se com Ricardo e Estéfano do lado de fora. O soldado de Xavier a olhava sentado na cadeira de forma enigmática.
Ella mostrou que estava tudo bem e voltou para sua cama.
— Você gritava o nome dele e pedia para que parasse — afirmou Helena.
— O quê?
— Seu pesadelo era com ele, Ella. Você está tão apavorada com o casamento que, durante o sono, implorava para que ele não a tocasse. Acho que o soldado dele escutou tudo. Aliás, ele também me dá calafrios. É enorme.
— Ele vai contar para Xavier, Helena. E então ele saberá o quanto me apavora e terá mais uma arma para me dominar.
— Sinto muito — disse Helena. Mais do que ninguém, ela sabia como era estar presa em um pesadelo em forma de casamento.
Ella dormiu pensando na infelicidade delas.
Quando acordou, estava sozinha na cama. Tomou banho e vestiu um vestido longo e florido que pertencera à sua mãe, de corte simples, com botões na frente. Nina costumava dizer que até mesmo o hábito das freiras era mais sexy do que aquele vestido, mas Ella o adorava.
Ela se lembrou de que, no dia anterior, não precisou ligar para Xavier para dizer que não tinha roupas para acompanhá-lo à noite. Mas hoje não poderia evitar. Pegou o telefone e discou o número do escritório anotado na agenda. A chamada foi atendida por um homem, que logo transferiu, e Ella ouviu a voz de seu futuro marido:
— Sim.
— Não posso sair à noite.
Ouviu um suspiro forte do outro lado.
— Está se negando a sair comigo? É isso, Ella?
Ela gaguejou.
— N-não... não tenho roupa. Todas as minhas roupas foram costuradas no convento ou eram da minha mãe.
Mais um suspiro.
— Se arrume. Estéfano vai levá-la para comprar algo. Uma pessoa estará esperando para te auxiliar. A estilista que contratei está viajando, então ele terá que servir.
— Até logo. — E ele desligou.
Ella ficou pensando em quem era ele. Tomou café e saiu, acompanhada por Estéfano e Ricardo. O lugar para onde Xavier a mandou era enorme. O homem a escoltou até um rapaz com roupas excêntricas e femininas, e Ella entendeu o que Xavier quis dizer.
— O chefe a mandou? É só um vestido para festa.
O rapaz sorriu e se apresentou como Washington, levando-a a uma sala fechada. Saiu e voltou com vários vestidos, cada um mais curto que o outro.
— Não vou vestir isso. É como estar nua.
— O chefe gosta assim. Experimente. Vai ficar bem.
Ella vestiu o maior que encontrou, olhou no espelho e se sentiu exposta. Seus braços, s***s e todo o resto podiam ser vistos através do vestido colado. Ela o tirou imediatamente e começou a chorar.
O rapaz bateu na porta, mas Ella não respondeu. Pegou o celular e ligou para Xavier. Ele atendeu aos gritos, soltando palavrões em italiano.
Quando ela não respondeu, ele perguntou quem era. Ella disse seu nome em um sussurro, misturado ao choro. Ela ouviu o momento em que ele mandou alguém sair.
— Não sabia que era você. O que aconteceu, Ella?
— Não me faça usar isso, por favor! É vergonhoso.
— Um vestido de festa é vergonhoso?
— É curto demais, colado. Tentei argumentar com o rapaz, mas ele disse que você gosta assim. — Ella choramingou mais uma vez, implorando.
— Me aguarde onde você está. Não saia daí.
Ella ficou encolhida no chão do provador, com lágrimas descendo pelo rosto. Não entendia por que ele queria que usasse algo tão revelador. Nem as roupas que usava para atividade física eram tão pequenas. Alguns minutos se passaram.
Ela ouviu batidas na porta. Como não respondeu, Xavier empurrou, e a porta frágil se rompeu. Ele olhou para Ella no chão.
— Levante-se agora.
Ella obedeceu, trêmula. Ele parecia irritado.
— Mostre-me a roupa que ele escolheu para você.
Ella pegou as peças nos cabides e mostrou. Ele analisou e deu um grito que a fez tremer, mas, felizmente, não era dirigido a ela.
— WASHINGTON!
O rapaz veio correndo.
— Sim, senhor?
— Como ousa oferecer roupas de p********a para minha mulher?
— Mas... mas... eu não sabia que o senhor era casado, chefe. Achei que era mais uma daquelas garotas. Estéfano não explicou nada.
— Ela é minha noiva. Vamos nos casar em breve. Não se atreva a insultá-la comparando-a com aquelas garotas. Quero você no meu escritório assim que fechar aqui. Vamos ter uma conversa: você, eu, e Estéfano. — O rapaz tremeu. Todos conheciam as histórias de tortura que aconteciam no subsolo do escritório de Xavier.
— Xavier, por favor! O que vai fazer com ele?
— O que alguém que me ofende merece. Ao ofender você, ele me ofendeu.
— Mas ele não sabia. Não foi intencional, por favor, não faça isso. — Apesar do medo que sentia, Ella precisou defendê-lo. Estéfano sabia se proteger, mas Washington não.
Xavier fechou os olhos por um tempo, e, quando os abriu, a turbulência escura já estava contida.
— Tudo bem. Escolha a roupa que quiser. Estarei esperando lá fora.
Com a ajuda do rapaz, agora mais calmo, Ella escolheu um vestido azul-turquesa longo, com colar e brincos combinando. O sapato de salto preto já estava embalado. Ela deu um abraço no garoto, que ainda tinha um olhar assustado, e pediu desculpas. Ele sorriu e disse que foi um m*l-entendido, agradecendo por ela ter interferido.
Ella saiu da loja, e Xavier estava encostado no carro com Ricardo. Estéfano não estava. Ela pensou em perguntar por ele, mas Ricardo balançou a cabeça, sinalizando que era melhor permanecer em silêncio.
Ricardo assumiu a direção, e Ella e Xavier se sentaram no banco de trás.
— Atendi a um pedido seu. Agora quero algo em troca.
Ella o olhou, mas se recusou a responder, permanecendo em silêncio durante todo o percurso.
Quando chegaram em casa, Ricardo desceu do carro. Ella pretendia fazer o mesmo, mas Xavier segurou sua mão.
Ela imediatamente começou a tremer.
— A vida do rapaz por um beijo seu. É uma troca justa. Enquanto isso, penso no que fazer com meu soldado que deixou o m*l-entendido acontecer.
Ella balançou a cabeça em negação.
— Tudo bem. Não vou forçá-la a me beijar. Mas farei uma visita àquele rapaz mais tarde.
A ameaça fez com que ela cedesse. Xavier a puxou para seu colo. Ella sentiu seus lábios primeiro em seus cabelos, depois em seu rosto, e finalmente em sua boca.
— Abra a boca, Ella. Me deixe entrar.
E, naquele momento, o mundo girou. O que ela pensou que seria h******l acabou sendo demasiadamente agradável. Quando ele a soltou, Ella estava vermelha, pelo beijo e também pela vergonha. Pegou suas sacolas e correu sem olhar para trás.