Ironicamente, o dia amanheceu ensolarado e bonito, como se estivesse rindo da má sorte de uma menina desafortunada. A bolsa de Ella estava arrumada em cima da cama. Ela estava saindo com menos do que trouxe, pois o pai a havia avisado que seus vestidos simples e sem grife não serviriam para sua nova vida de mulher casada. Uma estilista estaria à disposição nos próximos dias para ajudá-la a montar um guarda-roupa feminino, adequado ao novo status de esposa de um empresário internacional.
Mas o que não a abandonava era o sentimento de medo. Ella evitava ao máximo pensar na noite de núpcias, pois tinha quase certeza de que, se parasse alguns minutos para refletir sobre isso, entraria em pânico, e nada, nem ninguém, a faria dizer sim para Xavier no altar, nem mesmo a certeza de um banho de sangue entre sua família e a dele. Mas logo teria que não só pensar nesse momento, como também suportá-lo.
Para algumas mulheres, Ella podia parecer exagerada, mas saber que teria que se entregar a um completo estranho, um homem do qual a única coisa que sabia era o medo que inspirava em seus inimigos e as histórias de terror das torturas que aconteciam em seu galpão...
Ella ficava pensando no que ele faria se ela não o agradasse, se não suportasse seu toque.
Nina bateu na porta com os olhos vermelhos de tanto chorar. Ella acreditava que a amiga chorava por ela, mas também por saber que a próxima a sair dali com destino a um casamento arranjado seria ela. Ella a abraçou e prometeu que tentaria visitá-la. Talvez fosse uma promessa que não conseguiria cumprir, mas fez mesmo assim. A saudade de Nina seria difícil de suportar.
Ella pegou sua bolsa, deu mais um abraço apertado nela e saiu. Esperava encontrar o pai esperando por ela, mas era ele...
Os mesmos olhos de aço que a aterrorizaram nos últimos três anos. Xavier, vestido em um terno preto, estava impecável, exatamente como Ella se lembrava. Mais dois carros o acompanhavam, com homens grandes e intimidadores dentro deles, mas ninguém era capaz de causar a mesma sensação de pânico que ele provocava.
Ella parou nas escadas, com as pernas se recusando a se mover. Xavier caminhou até ela e estendeu a mão. Não havia outra saída a não ser pegá-la.
Pronto, seu destino estava selado.
Quando se sentou no carro, Ella começou a imaginar que ele poderia fazer o que quisesse com ela, inclusive levá-la para casa. Ela se encolheu, e ele parecia ler seus pensamentos. Xavier suspirou e disse:
— Ella, não precisa temer. Vou levá-la para casa, só queria ver a mulher com quem vou me casar e recordar sua beleza.
Ella suspirou de alívio.
— Quero lhe fazer uma pergunta também, e espero que não minta para mim, porque mais tarde vou descobrir, e as consequências não vão ser boas.
Ella se encolheu mais uma vez.
— Seu pai me disse que esteve bem protegida de todas as atenções masculinas. Olhe para mim, Ella. Posso confiar no que seu pai me disse? É virgem?
Ella olhou para o motorista, constrangida.
— Ele não está escutando nada. — Xavier apontou para o vidro que protegia a privacidade deles. — Somos só eu e você, e desejo uma resposta aqui e agora.
— Sim, pode confiar no que meu pai disse — respondeu Ella, com uma voz tão baixa que ficou impressionada por ele ter ouvido.
No caminho, Ella começou a lembrar de Otávio, seu irmão, que já havia deixado bem claros seus planos para ela. Naquele momento, não sabia qual medo era maior, mas o nojo era certo. Otávio era um crápula que espancava e abusava da mulher desde que se casaram. Ella só esperava não estar caminhando para o mesmo destino de sua cunhada.