2- Patrícia

2637 Words
— Eu sinto muito. De verdade eu sinto muito por tudo isso, eu não queria vê-lo assim e muito menos queria estar nessa situação, eu juro que queria me lembra do que houve mas eu não consigo... Eu sinto muito, então tenha um pouco de paciência comigo...? Por favor...? — Encaro fixamente os seus olhos e ele se aproxima mais, sinto minha voz trêmula e minhas vistas arderem por não me lembrar de nada. É como se eu tivesse tido um apagão e não me lembrasse de nada, estou literalmente no escuro. — Me considero o homem mais paciente do mundo. Eu precisei adquirir essa habilidade para conquistar você, e vou te conquistar de novo se for preciso... Eu só quero que saiba que eu te amo, e mesmo que tenha se esquecido de mim, estou feliz por saber que você está bem, e vamos ter um filho. — Ele se aproxima ainda mais tocando novamente o meu rosto, me deixando tensa. Encaro fixamente os seus olhos sem saber o que dizer, mas ele encara a minha boca me obrigando a fazer o mesmo, e isso me mexe comigo me deixando mais uma vez tensa e confusa. — Ainda não acredito que estou grávida, eu preciso ver os exames, preciso de tempo para me acostumar com essa nova realidade que caiu em cima de mim... Onde eu morava antes de nos casarmos? Você não vai me obrigar a ir com você, não é? Eu preciso de tempo, Miguel, nem que seja por alguns dias. — Desvio os meus olhos dele respirando fundo e o vejo ainda mais surpreso. — Eu nunca te obriguei a nada e não vou começar a fazer isso agora, mas não vou negar... Não gosto! Não quero e me mágoa ouvir você me pedir isso, não me casei com você para depois te deixar sozinha em um momento como esse, juramos diante de Deus que estaríamos juntos na saúde e na doença, então não me peça isso, Patrícia! Eu não vou aceitar me afastar de você, isso nunca! Muito menos agora que está grávida! — Contesta irritado com um olhar severamente e isso me surpreende. — Você quer ficar longe de mim também, mamãe? Você não gosta mais de mim e do papai? — Questiona a menina ao meu lado toda chorosa e isso me surpreende ainda mais. — Mas é claro que não, meu amor... Eu... Eu adoro você mas a mamãe precisa... — Tento argumentar sobre a minha decisão mas a menina me interrompe. — Então fica com a gente como antes, mamãe? Você sempre me deixava dormir com você e o papai, eu não gosto de dormir longe de vocês... Você prometeu que nunca me deixaria... Você mentiu pra mim! — Pede começando a chorar me deixando perplexa com a sua reação. Ela se joga para o lado do pai que pega ela no colo, Olivia esconde o rostinho no pescoço dele e o mesmo se afasta decepcionado. — Espera, Olivia...! Querida não fica assim? Eu não vou quebrar a minha promessa, filha... Eu prometo, mas não fica triste comigo? — Peço calmamente descendo da cama com dificuldade e vejo Miguel parar surpreso e volta na minha direção. — Não se levante, amor! Você ainda está ferida e precisa repousar, deite-se novamente, por favor? — Pede preocupado e eu ponho a mão na costela fazendo cara de dor. — Já que antes de tudo isso acontecer nós tínhamos uma vida juntos, como uma família, eu não vou me afastar de vocês, vou continuar cumprindo o meu papel de mãe com a sua filha, mas... Eu não prometo que entre nós as coisas volte a ser como antes, como eu disse, eu preciso de tempo... Sei que tínhamos uma vida juntos mas tudo se apagou da minha mente, então eu preciso te conhecer de novo. — Me deito novamente sentindo a dor aliviar um pouco mais, fecho os olhos respirando fundo e quando abro-os novamente, ele está aqui, ao meu lado me encarando atento com a filha ainda no colo. — Não está sendo fácil aceitar tudo isso, mas... Eu te entendo e vou te ajudar no que for preciso para que você recupere logo a memória... Eu posso tocar a sua barriga? Eu sei que ainda não dá para sentir o bebê, mas... — Pede meio sem jeito mas o interrompo. — Tudo bem... Você pode tocar a minha barriga. — Encaro os seus olhos negros e ele parece surpreso. Não é porque eu não me lembro da nossa vida juntos que preciso ser tão hostil com ele. — Obrigado, isso é muito importante para mim... Não imaginava que você estivesse grávida de um filho meu, mas temos uma vida íntima bem ativa então é normal que isso acontecesse. — Ele coloca a filha sentada novamente ao meu lado e toca a minha barriga por cima da roupa hospitalar. Foi impossível não corar com o seu último comentário, afinal eu não me lembro de nada em relação a ele e muito menos em relação a nós. Ouço Miguel fungar e vejo o quanto ele está emocionado, fico m*l por estar no meio dessa situação, ele é um homem muito bonito e parece importante também, será que somos mesmo casados? Meu Deus eu estou mesmo esperando um filho desse homem? Porque tudo isso tinha que acontecer? Porque eu não consigo me lembrar de nada? Sinto o meu estômago revirar e um enjoou forte me atinge. — Oh meu Deus... Eu vou vomitar... Preciso ir ao banheiro... — Sussurro pondo a mão na boca e tento me levantar, mas sinto uma dor tão grande na costela que sinto que vou desmaiar. — Espera! Eu te ajudo! — Miguel me pega no colo com cuidado e se apressa para me levar ao banheiro. Só tenho tempo de passar pela porta do mesmo e o vômito vem com tudo, apenas me viro para não vomitar em cima dele. — Meu Deus, amor... Eu nunca vi você assim antes. Olívia! Filha pede a vovó para chamar o médico, desce da cama com cuidado, meu amor, e vai logo...! Patrícia...? Amor...? — Seu tom é apavorado e ele me põe no chão, rapidamente levanta a tampa da privada. — AHHH... Meu Deus... — Vou com tudo contra o chão ao sentir uma dor absurda na costela, me rastejo até a privada mesmo sentindo tudo rodar. — Patrícia! — Ouço sua voz desesperada segurando os meus cabelos e sinto que vou mesmo desmaiar. Coloco para fora tudo que nem me lembro que havia comido e Miguel permanece ao meu lado, segurando os meus cabelos enquanto põe a mão na minha testa. Depois de vomitar horrores eu tento me levantar, mas não consigo, Miguel me ajuda a ficar de pé e me leva até a pia para lavar a boca, mas ainda sinto uma dor terrível na minha costela, com muito esforço eu consigo tirar o gosto amargo da boca e lavo o rosto pois estou suando frio, me viro com dificuldade para encarar Miguel e vejo tudo girar, tamanha é a dor que estou sentindo. — PATRÍCIA! — Ouço o seu grito antes de não ver e nem ouvir mais nada. Tudo não passa de um borrão preto e sei que perdi os sentido, minha vida não existe mais, é como se eu estivesse nascendo agora e minhas primeiras memórias são de um quarto de hospital, com um homem lindo dizendo ser meu marido e uma garotinha encantadora me chamando de mãe, sem falar nessa história de que estou grávida e nem me lembro de quando perdi a minha virgindade, droga! Porque isso tinha que acontecer justo comigo? Porque estou passando por tudo isso? É um castigo? Que pecado eu cometi para merecer isso? Um tempo depois ouço vozes chorosas a minha volta e um carinho gostoso no meu rosto, me mexo mas não abro os olhos, minhas pálpebras pesam uma tonelada e não consigo abri-las. — Meu amor...? Patrícia...? Como está se sentindo? Abre os olhos querida? Fale comigo? — Ouço sua voz emocionada enquanto acaricia o meu rosto. Seu toque na minha pele me causa uma sensação estranha, algo que não me lembro de ter sentido antes e me deixa pensativa sobre isso. Me esforço para abrir os olhos e quando consigo, vejo-o ao meu lado com os olhos marejados. — Eu quero sair daqui... Quero ir embora pra casa, seja ela onde for... Como está o bebê? Está tudo bem? Porque a minha costela dói tanto? — Questiono tentando me sentar mas não consigo então permaneço deitada. — Você fraturou uma costela, por isso está sentindo tanta dor... Esse é mais um dos motivos para os médicos te manterem aqui. O bebê está bem apesar do acidente, mas os médicos querem que fique por mais alguns dias para terem certeza de que você não corre risco de abortar, e também para você se recuperar melhor da lesão na costela. — Explica calmamente e mais uma vez tento me sentar. — Eu não quero mais ficar aqui... Eu quero ir embora e já que faz tanta questão de dizer que é o meu marido, então me tira logo daqui! Ou eu saio por conta própria! — Contesto irritada me sentando na cama com a mão na costela onde dói bastante. — É exatamente por ser seu marido que não posso tirar você daqui agora, Patrícia! Você sofreu um acidente muito grave, está com a costela quebrada e precisa refazer os exames para sabermos o que houve com você, o porquê perdeu a memória e não se lembra de nada... Você perde a memória mas não perde essa teimosia, não é...? Fica deita, Pati, vai aliviar a dor se você não se mexer tanto, meu amor. — Seu tom é severo mas ele me ajuda a deitar novamente, me lançando um olhar carinhoso. — E quando vão refazer esses exames? Porque eu não posso me recuperar em casa? Onde está a menina? A levaram embora? — Questiono olhando para os lados e percebo que a menina não está. — Vão refazer os seus exames ainda hoje, vou tentar conseguir a sua alta em dois ou três dias... Olívia ficou muito nervosa por te ver passando m*l, então achei melhor que a minha mãe a levasse pra casa... Consegue se lembrar de algo em relação a ela? Nem que seja uma memória pequena? — Seu olhar atento estão sobre mim enquanto se aproxima um pouco mais, se inclinando sobre mim. Ofego com esse seu olhar intenso, ele encara a minha boca e continua se aproximando, mas quando sinto-o perto demais eu viro o rosto, mas ele aperta uma campainha a cima da cama, meu coração acelera e ele se afasta novamente. — Eu não me lembro de nada... Nada em relação a ninguém, nem a mim mesma. — Puxo a respiração com força e vejo-o atento a mim. — Está com medo que eu te beije? Você é minha mulher se lembrando disso ou não, então se eu te beijar não estarei cometendo nenhum crime... Eu quero muito beijar você, Pati... Faz três dias que não te beijo e não ouço você dizer que me ama... Faz três dias que não vejo aquele seu olhar amoroso de antes e não ganho um sorriso seu. Aquele pelo qual me apaixonei... — Ele se aproxima novamente se inclinando sobre mim, ele encara fixamente a minha boca e sinto o meu coração querer sair pela boca. — Miguel... Você disse que seria paciente comigo... Por favor não força a barra, está bem? Eu preciso me acostumar com tudo isso... Aii... Eu preciso de um remédio para dor, minha cabeça dói. — Tento desfazer o clima que se criou entre nós, ele suspira frustrado. — O médico acabou de sair daqui, ele injetou os remédios no seu soro então não vai demorar para fazer efeito. — Explica ainda frustrado e só então percebo o acesso com soro na minha mão. Mas quando foi que colocaram isso em mim? Quando eu estava dormindo, obvio! — Obrigada por me ajudar, mas... — Me interrompe. — Nem vem com aquela história de que posso ir embora porque eu não vou! Você é minha esposa querendo ou não, e eu jurei estar ao seu lado na saúde e na doença, então não tenta me afastar de você porque não vai conseguir! — Dispara irritado me pegando de surpresa com a sua reação. — Posso concluir a minha frase? Ou vai me interromper de novo...? Obrigada por me ajudar! Mas acho que você também precisa descansar pois está ferido...! Grosso! Tem certeza de que somos casados? Eu escolhi você para ser meu marido? Eu não devia estar no meu juízo perfeito. — Retruco também irritada com uma sobrancelha erguida, ele respira fundo esfregando as mãos no rosto. — Me desculpa... p***a eu não estou sabendo lidar com o fato de você não se lembrar de mim. Tudo isso é estranho e confuso... Num dia eu sou o amor da sua vida e no outro um completo estranho, isso é demais, Patrícia, é c***l mesmo sabendo que você não tem culpa de nada. — Vejo-o visivelmente abatido com essa situação, mas ele não é o único a se sentir assim. — Também não é fácil para mim acordar em um hospital e descobrir que sou casada, estou grávida e não me lembro de nada... Você e sua família não são os únicos que estão sofrendo com essa situação, Miguel... Eu não sei como vai ser a minha vida a partir de agora sem me lembrar de como era antes, não sei como vou me adaptar a tudo isso. — Desabafo pensativa encarando o teto, e novamente ele se aproxima mas não diz nada. Sinto seus dedos tocarem o meu rosto e mesmo querendo ignorá-lo, eu não consigo, seus olhos estão presos nos meus me deixando tensa, porém, volto a encarar o teto e ele se afasta. — Eu vou até a cantina comer alguma coisa, não vou demorar mas se precisar de alguma coisa, se precisar de mim, é só mandar me chamar... Eu já volto. — Avisa antes de se virar para sair, mas chamo por ele. — Espera! — Peço e ele para virando-se para me encarar. — Não prefere ir descansar em casa por algumas horas? Depois você volta... Você também está ferido e precisa descansar. — Sugiro realmente preocupada por ver a sua cabeça enfaixada. — Promete não fugir do hospital se eu for em casa ver a minha filha? Não quero voltar e descobrir que a minha esposa não está mais aqui. — Questiona com uma sobrancelha erguida e eu finalmente lhe dou um pequeno sorriso, que não dura muito pela dor que sinto na costela. — Não tenho como sair daqui, minha costela dói muito e eu precisaria de ajuda... Além do mas, não quero decepcionar a sua filha... Quer dizer, a nossa filha. — Tento me ajeitar na cama com cuidado e ele devolve o sorriso, um pequeno sorriso mas muito lindo. — Está bem, eu vou em casa ver a nossa filha e não me demoro, é só o tempo de tomar um banho e trocar de roupa, vou passar alguns minutos com ela e volto para ficar com você. — Avisa com as mãos nos bolsos em uma pose atraente, sua voz é mais suave que antes, mas ele se vira e sai do quarto. Tento não pensar muito no que me contaram e no que devo fazer a partir de agora, tudo que eu mais quero nesse momento e conseguir dormir e tentar esquecer essa dor incomoda na minha cabeça e na minha costela, espero que quando eu acordar a minha vida não seja tão fazia o quanto estou me sentindo agora sem me lembrar de nada.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD