Cap 17:Um fim trás novas histórias

1640 Words
Jogando minhas chaves sobre a mesinha no canto da porta de minha casa,deixei que meu corpo caísse sobre aquele chão frio e que minha ferida sangrasse sem nenhum tipo de coisa lhe pressionando. Erick havia feito,ele havia puxado o gatilho no momento em que mataria aquela mulher, sem hesitar ou sentir remorso após meu ato. Ao contrário do que pensei,ele realmente defendeu alguém que mentiu e escondeu um segredo que nos pertencia. (…) Como os papéis em minhas mãos,arremessei ambos contra o rosto de Lorena. Seus olhos se arregalaram no momento em que os leram rapidamente: era um exame de DNA, um atestado de óbito e minha certidão de nascimento. Erick nunca foi meu pai,nunca tive seu sangue percorrendo por minhas veias. Dentre aqueles documentos, acredito que o atestado de óbito seja pertencendo a pessoa que deveria ter chamado de pai desde o início. Porém,mesmo que tivesse o nome do falecido escrito no tópico do documento, não tive interesse em lê-lo e muito descobrir quem era aquela pessoa. O exame de DNA era claro que havia sido feito entre mim e Erick sem que soubéssemos,e a certidão de nascimento era completamente diferente da que tenho guardada comigo; essa não constava o nome do meu " pai". — Onde você conseguiu isso? — perguntou, após demonstrar o quão surpresa e amedrontada havia ficado. — O que são esses papéis, Lorena? — Erick perguntou,da mesma forma que fiquei ao ter aqueles documentos em minhas mãos. A vendo se negar a falar, tive a confirmação de que o homem apontando uma arma para mim era outro que desconhecia a verdadeira história, desconhecia os resultados de um DNA feito às escondidas. Sem me preocupar com o quão tempo aquela situação iria durar, sentei-me no sofá apoiando meus braços abertos sobre o encosto. — A v********a mentiu! — com amargura em minhas palavras, revelei indiretamente o que os documentos diziam — você nunca foi meu pai,nunca tivemos o mesmo sangue. Ela sempre foi uma infiel que te traía. Jardineiro, entregador, cabeleireiro, massagista ou até mesmo seus melhores amigos. Se sabe lá com quantos essa mulher gemeu. — O quê? — Erick demonstrava estar incrédulo, mas não desapontado. — Abriu as pernas para qualquer um, engravidou e jogou as responsabilidades sobre você. Simples e prático — com um sorriso brincando em meus lábios, suspirei. Era libertador saber de algo assim,pois não precisaria me sentir culpada por tudo que fiz em meu passado, não precisaria me sentir uma pessoa desprezível por ter tido relações com o homem à minha frente. Saber que a mulher à minha frente teve inúmeros relacionamentos e acabou engravidando de alguém que ela sequer sabe o nome,isso sim pode me deixar um pouco irritada,pois tenho a certeza que a história não terminaria naquela sala de estar. Certamente, Erick gostará de investigar sobre minha paternidade. Com um suspiro profundo e exaustivo,me coloquei de pé novamente e brinquei com a arma que me acompanhava desde que saí daquela prisão. Olhando para os três parados à minha frente,tive três tipos de sentimentos; o primeiro se resumia em ódio, desprezo e repugnância, tudo voltado para a mulher que me deu a vida. O segundo se remetia à indecisão,pois olhando para Dulce sentada diante meus olhos,conseguia ver que não poderia lhe cobrar nada,mesmo que tenha demonstrado me amar como ninguém. O último sentimento era de pena e satisfação,pois,por um instante,enxerguei que Erick seria capaz de puxar o gatilho contra mim e isso me deixava satisfeita. Ele mostraria para quê foi treinado e para quê trabalhou durante anos. — Nunca me importei com o que você dizia a meu respeito. Sua indiferença? Essa não me fazia nenhum tipo de m*l. Você nunca deveria ter sido chamada de mãe, nunca deveria ter tido a oportunidade de ser chamada por um nome tão único — destravando minha arma,apontei para a mulher que se encontrava estática — se algum dia pensei que te amava, agora tenho a certeza de que te odeio com todas as minhas forças. Então,pronta para puxar o gatilho exibindo um sorriso em meus lábios,a arma disparou, mas não havia sido a minha. Sentindo uma queimação atingir o lado esquerdo de meu corpo e o sangue começar a sujar minha roupa,tive a certeza de que Erick havia protegido a mulher que mentiu para si uma vida inteira. Virando-me em sua direção,o encontro com a arma ainda apontada em minha direção e seu olhar neutro de emoções e sentimentos que pudesse descrever o que estava sentindo naquele momento. — Malia...— ouvindo a voz de Lorena ao permitir que minhas pernas falhassem fazendo-me cair de joelhos naquele chão e me encostar naquele sofá,desviei meu olhar para o ferimento. — Não iria deixar que matasse ela — Erick afirmou fazendo menção de se aproximar,porém apontei a arma em sua direção. — Isso prova o quão fraco você é! — exclamei friamente — defender alguém que mentiu para você, alguém que escondeu uma verdade que poderia mudar toda sua vida. Você é um completo i****a! — Não,eu não sou um assassino e não sou fraco. Você é,pois está sendo influenciada — rebateu nervoso — ninguém te abandonou, ninguém lhe deixou sozinha naquele penitenciária,sequer sabíamos o que se... O vendo mencionar o mesmo assunto, forcei-me a ficar de pé e seguir para a saída daquela casa,pois mesmo que desejasse acabar com tudo isso de uma única vez,a ferida em meu corpo estava resultando em uma enorme perda de sangue. Isso prova o quão ele não pensou em um lugar para me atingir,pois a única certeza que tenho é de que ele jamais me mataria. Erick foi impulsivo ao puxar o gatilho contra mim. (…) Arrastando-me para o centro daquela sala de estar,pego a garrafa de whisky sobre minha mesinha de centro e a abro. Erguendo minha blusa, molho o ferimento com boa parte do líquido que resultou em uma ardência intensa e dolorosa. Ao contrário do que muitos possam pensar, ser ferida desta forma ou até mesmo em outras não era nada comparado com as diversas vezes que senti as pessoas me dilacerarem por dentro,as vezes que senti meu coração se partir de maneira brutal e quase incurável. O ser humano é capaz de tudo, inclusive de matar os sentimentos mais puros e inocentes de outras pessoas. Tive tantas desilusões que me admira ter me rebelado contra as pessoas somente agora,me admira ter dado outras inúmeras chances para que me diminuíssem levando-me ao pó. Demorei para me reerguer e enxergar tudo o que fizeram e estavam fazendo a mim. — Merda,merda,merda...— murmurava em gemidos contidos,pois mesmo querendo que fosse diferente,a dor e a ardência estavam tomando conta de meu subconsciente. Fechando meus olhos,dou um longo gole na bebida em minhas mãos e torno a molhar meu ferimento mais uma vez. Precisava remover a bala alojada em meu corpo,precisaria desinfetar e fazer um curativo,pois estava perdendo uma grande quantidade de sangue. Com muito esforço e um gemido alto que escapou de meus lábios ao me obrigar a ficar de pé,segui para as escadas subindo com cuidado. Então,parando em frente a meu quarto,empurrei a porta e adentrei fechando-a logo em seguida. Erick havia atirado em mim,havia demonstrado o quão estava disposto a proteger aqueles que ainda restam para fazerem parte do que tenho em mente,porém jamais imaginei que protegeria a mulher que mentiu por anos,a mulher que lhe deu uma paternidade que não lhe pertencia. Sim, queria matá-la naquele momento em que apontei a arma em sua direção, desejei puxar o gatilho e faltava pouco para acontecer,se Erick não tivesse feito primeiro contra mim,nesse momento ela estaria morta. Ouvindo a porta de minha casa ser aberta e fechada,puxei a primeira gaveta de meu criado mudo e peguei uma outra arma. Poderia estar sentindo dor e prestes a ficar inconsciente, porém não permitiria que alguém entrasse em minha casa sem minha permissão,poderia muito bem ser alguém querendo tentar contra minha vida,o que se torna irônico,pois estaria morta em poucos minutos ou horas se não houvesse fugido e me abrigasse. Quando desci as escadas encontrei nada menos e nada mais do que minha porta aberta e uma caixa amarronzada e o bilhete fez-me suspirar cansada: “ Um passado coube em uma caixa ”. A puxando para dentro de casa com meu pé,fecho a porta, trancando e acionando o alarme e os sensores de movimento no jardim,era uma ótima forma de me manter segura e manter as pessoas que me querem morta,longe. Não sei quanto tempo levei para tentar me recompor e fazer o curativo, porém tinha a certeza de que foi tempo o bastante para desejar deitar em minha cama. As roupas sujas e os objetos necessários para a remoção da bala se encontravam em meu banheiro,assim como a água gélida e avermelhada na banheira,uma que usei para anestesiar um pouco da dor enquanto fazia minha pequena cirurgia. É, tenho tido inúmeras experiências que exigiram de mim esses tipos de " cuidados", talvez tenha muitas histórias para contar e cicatrizes para esconder. Sentindo meus olhos pesarem e meu corpo relaxar completamente por estar sob o efeito de analgésicos,pude finalmente descansar minha mente perturbada com os acontecimentos que me cercam,pude me permitir respirar sem que pensasse em alguém se vigiando, alguém monitorando meus passos a cada minuto. Felizmente pude fechar meus olhos e descansar. “ É,era surpreendente ver como uma história pode continuar após um ponto final, surpreendente perceber que nada possui um fim definitivo. Temos nossos momentos,nossas vidas complexas e complicadas o bastante para uma única pessoa conseguir se organizar,e assim como tudo que nos cerca, teremos de colocar um fim em nossas histórias e deixar que outras pessoas contem as suas. Entretanto, não seremos esquecidos em um lugar escuro e frio,sempre haverá alguém para lembrar de quem realmente “fomos” e quais ações fizemos durante nossa vida. Mesmo que não percebam,somos eternos!”
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD