Cap13: Blasfêmia

1704 Words
[…] E ali estava ele! Tão lindo e tão sereno! Seus olhos refletiam um brilho no qual jamais pensei existir,o sorriso brincava em seus lábios e a leveza em seu corpo transbordava felicidade. Era Inacreditável! A surrealidade estava a todo instante fazendo-me questionar se tudo não passava de uma projeção da minha mente,mas nem mesmo eu poderia lhe responder com tamanha exatidão. Real ou não, Erick estava a minha frente e sorrindo como se estivesse tendo a melhor imagem de toda sua vida,como se nada mais importasse,ou tivesse valor. Era somente eu e ele! Seus passos lentos tomaram direção a mim,e no momento em que tocou minha face com suas mãos macias e quentes,uma onda elétrica percorreu por cada centímetro e célula de meu corpo. Aquele jardim seria nosso lugar,seria o único a saber de segredos tão profundos e pertencentes a nós. Seus dedos fizeram caminho por minha bochecha, contornaram meu nariz e se estabeleceram em meus lábios avermelhados devido o tanto que os pressionei uns contra o outro em sinal de nervosismo e insegurança,pois não se sabe o que se passa na mente incompreensível desse homem. — Não poderá ser para sempre,mas poderá ser o suficiente para guardarmos em nossas mentes e jamais esquecer — em um sussurro e com os olhares banhados em carinho,Erick sussurrou em sinal de promessa. — O quanto durar? — ficando nas pontas dos meus pés para poder alcançar seus lábios, murmurei. — Enquanto durar! — devolveu em uma afirmação verdadeira. Seria intenso. Seria verdadeiro,porém sabíamos que uma realidade bateria em nossa porta uma hora ou outra, sabíamos que as decisões poderiam ser feitas de modo errado e as promessas seriam esquecidas. Naquele momento,com seus lábios a centímetros dos meus e suas mãos tocando em meu rosto,acreditei em suas palavras,acreditei que poderíamos fazer valer a pena, acreditei que não haveria nada forte o suficiente para derrubar todos os escudos de proteção feitos por mim. Porém, não contava com a realidade: não havia um sentimento forte o bastante para nos proteger, não haveria nada que pudesse garantir a nossa segurança. Eu lutaria por incansável dias e noites, lutaria por ele e venceria por nós,mas Erick destruiria todas as minhas forças e seguranças. Somos tão diferentes. […] Ouvindo o toque irritante de meu aparelho sobre o criado mudo ao lado daquela cama, sento-me levando minhas mãos em direção a minha cabeça ao sentir a terrível consequência de uma noite descontrolada. Sentindo a presença de alguém ao meu lado,tive a certeza de que fiz tudo valer a pena. As roupas espalhadas por aquele quarto,os pacotes de drogas e as garrafas de bebidas entregavam o quão havia sido intensa a minha noite. Cada centímetro de meu corpo reclamava, inclusive minha cabeça que parecia explodir. Me levantando cautelosamente para não acordar o homem completamente nú por baixo daqueles lençóis, apressei-me em pegar minhas roupas e as vestir,para segundos depois,estar fechando a porta daquele quarto de hotel. O conhecia e tinha a certeza de que era um completo i****a,mas não significava que não poderíamos nos divertir juntos. Não me lembro de seu nome,mas estava ciente de que se tratava do mesmo babaca da pista de corrida. E no estacionamento daquele hotel,encontrei meu carro. Parecia tão real,a intensidade entre nossos corpos e o calor que seus toques transmitiam para meu corpo,tudo parecia verdadeiro. Ignorar o que aconteceu entre nós a anos atrás me faz perguntar se realmente havia sido importante aqueles momentos,se realmente fez alguma diferença em minha vida. Então,a resposta surgia como de imediato, surgia avisando que passe o tempo que for jamais conseguiria apagar aquelas semanas,mesmo que me doa para lembrar. Erick foi marcante! Ao estacionar meu carro em frente a minha casa,pude finalmente observar tudo aquilo que me pertencia. Não era o dinheiro, não era a mansão,os diversos carros caríssimos,nada daquilo era realmente importante. Se havia um propósito para estar ali,deveria me manter com a mente ocupada, deveria pensar em cumprir com o planejado,mas havia algo que estava me impedindo,havia um sentimento que dizia para parar, dizia para que esquecesse essa obsessão doentia,porém não seria feito fácil assim,meu passado grita mais alto,minha estadia naquele inferno fazia-me insistir. Mesmo que não consiga tocar neles por agora,farei isso mais tarde,nem que precise me obrigar a atos drásticos. Adentrando aquela pequena fortaleza de infelicidade, após deixar meu carro na garagem,segui diretamente para meu quarto,onde poderia me desfazer de pensamentos indesejados, pensamentos que me deixavam prestes a alcançar o ápice da loucura. Tudo em seu devido lugar,tudo organizado como deveria, exceto minhas emoções,às vezes gostaria de poder colocar alguém para organizá-las,do início ao fim,em ordem alfabética ou por ordem de surgimento. Os seres humanos são complicados, ou gostam de dificultar tudo. […] Um lugar onde fazia anos que não colocava meus pés,um lugar onde deveria ser crime ter minha presença,porém acho que ninguém se importaria com isso,pelo menos é o que gostava de pensar. Não que me importe com as opiniões alheias, apenas prefiro não desestabilizar ainda mais aquilo que já se tornou um caos descontrolado e impossível de organizar. É possível sentir uma aura diferente,uma sensação de acolhimento e misericórdia,apesar de não acreditar em tal coisa,pelo menos não fielmente,gostaria de me abrir com alguém,um alguém que não possa sair espalhando meus planos,meus objetivos e minha motivação. Preciso de sigilo e seria nesse lugar que encontraria. Um confessionário,um padre e meus pecados,somente isso seria o suficiente para aquele lugar. Os rostos não são vistos,porém tenho a certeza de que se torna impossível esquecer uma voz,ainda mais uma que pronuncia tamanhos pecados. Sei que esses homens vestidos em uma batida sabem muito bem quem entra e quem sai desse lugar,assim como estabelecem uma penitência de acordo com o pecado mencionado. Porém há uma pergunta que me faz sentir uma tremenda hesitação: será que,em algum momento,ambos ouviram uma confissão dessa magnitude? — Acho que não é necessário dizer as palavras de sempre, certo? — brincando com os anéis em meus dedos,me pronunciei totalmente à vontade com a situação. — Faça como se sentir melhor, filha! — sua calmaria fez-me revirar os olhos e me perguntar se realmente queria fazer isso. Não iria me arrepender e também não deixaria de praticar tais atos. — Vejo pessoas entrando e saindo dessa igreja,vejo outras se confessando e pedindo perdão por seus pecados. Mas me pergunto se estão sendo sinceras,se estão realmente prontas para se arrepender — retirei o anel e o coloquei de volta. — Se seu coração pede por perdão,se torna um pedido verdadeiro — explicou brevemente. — Aqueles que tanto chamei de família, aqueles que defendi até mesmo de mim mesma,todos eles me viraram as costas,me deixaram sozinha para arcar com todas as minhas consequências e com minhas dores. Agora, quero os fazer sentir tudo o que senti,quero vê-los gritarem como gritei, chorar como chorei e implorar como tanto fiz durante as noites em claro — um sorriso sádico surgiu em meus lábios. — Você não deve fazer coisas que possa se arrepender,coisas que possam lhe condenar a uma vida inteira de sofrimento e dor! Somos responsáveis por nossas ações, portanto, também devemos arcar com nossas consequências. A sua família não te abandonou,filha, eles apenas não poderiam tomar suas dores. — tentou me convencer através de suas palavras. Confesso que pensei muito em tudo o que faria e estava fazendo,porém em momento algum me ocorreu a possibilidade de desistir, não me ocorreu deixá-los seguir suas vidas perfeitas. Logan seria uma excessão, pois havia uma criança, seu filho estava o permitindo ter uma vida longa e prazerosa ao lado de sua família. Mas os outros,esses sofreriam incansavelmente e lamentariam pelo dia em que me abandonaram. — Eu planejei tudo! Cada joguinho psicológico,cada castigo e cada ferimento. Sádico,porém será minha forma de diversão,minha forma de aprisioná-los em suas próprias escolhas — prossegui podendo sentir o ar mudar; havia assustado o homem naquele confessionário. — Deus tenha piedade da sua alma! — murmurou assustado. — Não estou preocupada com isso! — contradigo indiferente a suas palavras. — Se não houver arrependimento,se não desistir de uma coisa tão c***l como essa, não poderei fazer muito para ti e para sua alma. Você é jovem, poderá ter uma vida longa e próspera. Deveria enxergar o caminho do bem e se apegar ao nosso senhor que poderá ser misericordioso — tentou novamente,porém seria inútil essa insistência. — Assim como eles não pensaram em mim,assim como não pensaram em me deixar abandonada,me culpando por ter feito pouco para os deixarem felizes, não pensarei duas vezes em colocar uma bala no corpo de uns e uma faca no peito de outros — pude sentir o terror emanar do corpo do homem que me ouvia atentamente — Não quero uma vida longa, não quero nada próspero,pois tenho um único objetivo nesse mundo fodido,nessa sociedade de merda e formada por inúmeros filhos da p**a — esbravejei cautelosamente sem lembrar-me de estar em um lugar sagrado. — Se não há arrependimento, não há desistência desses pecados, não posso interceder por você — deu suas últimas palavras — e que Deus nosso senhor tenha piedade de você! — Que ele tenha piedade de meus alvos! — proferi enquanto me colocava de pé. Sentindo um certo alívio invadir meu corpo,segui para a saída daquela igreja e,na porta,coloquei meus óculos podendo sentir olhares pairarem sobre mim,olhares esses que expressavam horror e incredulidade. Esse tempo longe das grades daquela penitenciária fez-me perceber o quão fui crucificada,o quão as pessoas me julgaram por ter assassinado algumas pessoas. O problema do ser humano é enxergar o seu erro,mais nunca seus acertos e motivos para ter feito tal coisa, prova disso foi o fato de ter matado para proteger aqueles que me viraram as costas,aqueles que me desprezaram sem pensar duas vezes,ter assassinado em pró da segurança de uma família que jamais me pertenceu. Para essa sociedade,era apenas mais um monstro que obteve a liberdade e que poderia voltar para aquele inferno a qualquer momento. Que me julguem,que tenham medo e que me odeiem,pois nada disso faria com que voltasse a ser a i****a que apenas se fudeu ao pagar de boa samaritana. Assim como do ódio nasce o amor,do amor também nasce o ódio, pois ambos dividem a mesma casa e vivem em quartos ao lado.
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