Cap 16:Quem puxa o gatilho?

1751 Words
É engraçado a forma que as coisas acontecem,como a mentira se sobrepõe com a verdade,como os segredos podem ser preservados por anos,ou até mesmo, por uma vida. A questão é,apesar de sermos capazes de tudo,ainda assim nos surpreendemos com o que os outros possam fazer para se beneficiarem,somos capazes de julgar alguém como se nunca passasse por nossas mentes hipócritas,fazer o mesmo. Muita audácia o ser humano encher o peito para apontar os erros dos outros,mesmo sabendo que havia feito semelhante ou até pior. Mas o foco principal está ligado ao estar parada em frente a Luke enquanto segurava alguns documentos que deveriam me deixar abalada,insegurança e indiferente,porém nada disso aconteceria,pois o único sentimento que tinha,era o de alívio e tranquilidade. Meus olhos releiam aquelas informações incansavelmente,minha mente processava detalhadamente sem deixar nada faltar, minhas mãos - ainda trêmulas - apertavam as folhas como se estivesse segurando algo bruto que exigisse minha força. Meu coração,assim como minha respiração…ambos se encontravam alterados. Estava sendo algo irreal de se acreditar,algo que poderia ser uma armação ou brincadeira,mas o carimbo oficial no canto da folha demonstrava legitimidade. Era real,assim como os questionamentos em minha mente. Sentado em sua poltrona em tom escuro,Luke me observava atentamente,como se esperasse alguma outra reação,uma em que mostrasse meu ódio ou raiva,meu desprezo ou mágoa,ele queria algo ao me entregar documentos como esses. Seus olhos vidrados em mim,de preferência em meu rosto que - certamente - se mostrava neutro. Ele era o urubu em meio a carcaça digna de seu manjar. — Como conseguiu esses papéis? Por acaso invadiu a casa dela? — sento-me à sua frente colocando os documentos no envelope amarelo. — Como os consegui não vêm ao caso,quero saber o que planeja fazer — indagou curiosamente. — Também não lhe diz respeito! Acha que lhe darei a chave mestra, assim,do nada? Se ferrar, Luke! Não sou burra, conheço sua índole e sei a naja que você é — sustentando seu olhar, apoiei minhas costas no encosto da cadeira. Com um sorriso desafiador em seus lábios,Luke apoiou suas mãos contra a madeira daquela mesa e tentou me intimidar. Seus olhos me encaravam com tamanha intensidade que podia jurar ter enxergado seu desejo de me colocar sob submissão. Patético essa sua mania de pensar e querer tentar me controlar como a merda de um brinquedo de controle remoto. — Desde que encontrou os merdas da sua família, você anda trabalhando em segredo e fazendo algo que deveria me colocar a par de tudo. Você está viva porque me é de grande utilidade,pois se não fosse,no momento em que mentiu para mim dizendo que não tinha nada haver com o desaparecimento do meu irmão,teria metido uma bala no centro de sua testa — revelou se mostrando o grande traidor que sempre foi. Como se nada tivesse acontecido e nenhuma ameaça tivesse sido feita, me levantei de onde estava sentada,apanhei os documentos em mãos e me movi para a porta de saída daquele escritório que fedia a álcool e nicotina. Ao abrir a porta,encontrei dois de seus seguranças guardando para que ninguém entrasse naquela sala, apenas dei de ombros e saí daquela casa, regressando para meu carro que se encontrava estacionado em frente a escadaria. Ainda não consegui assimilar por completo o que aqueles papéis revelavam,minha mente estava como um verdadeiro labirinto onde procurava por mais de uma saída, sendo que todas as paredes me cercavam impedindo meu progresso. Sempre me perguntei sobre isso, então era compreensível minha reação tranquila perante o que li nas folhas que poderiam ter mudado minha vida por completo, a anos atrás. Talvez se tivesse tido essa informação a cinco anos atrás,poderia ter tido momentos inesquecíveis e prazerosos que fariam toda diferença em meu futuro. Minutos se passaram comigo circulando por aquela cidade onde desejava jamais ter pisado novamente,deveria ter saído até mesmo do país,mas minha mente me atormentaria,me faria regressar e assumir meus objetivos tão sujos quanto um desaterro sanitário. Comércios se passaram diante de meus olhos,lojas nas quais cansei de visitar a um certo tempo, lanchonetes lotadas por pessoas jovens e lojas nas quais viviam cheias de mulheres gastando o dinheiro dos maridos ou dos próprios pais. Perca de tempo que nunca entendi e jamais me senti atraída. Então,como se minha mente me pregasse uma peça de muito m*l gosto,me vi estacionando meu carro em frente a casa da mulher que nunca senti orgulho em chamar de mãe,uma mulher na qual me fez sentir o primeiro sentimento de ódio: foi ela quem me ensinou a odiar e a desprezar. A vendo prestes a entrar em seu carro,me aproximei com a arma em mãos e apontada para o chão em que caminhava. Quando seus olhos me viram,a vi travar no lugar e não mover um músculo sequer. Suas mãos ficaram trêmulas e sua face se tornou pálida; sua respiração perdeu o ritmo normal e seus olhos ganharam uma tonalidade avermelhada. O medo era evidente. — Temos assuntos pendentes a serem acertados... mamãe! — com um tom de sarcasmo presente em cada palavra que formavam aquela frase ameaçadora,apontei a arma em sua direção. Não me importava se tinha pessoas nos observando, não fazia diferença quem apareceria para tentar impedir meus próximos atos. Não eram importantes e não me colocavam medo,pois tinha duas únicas certezas em minha vida fodida: não voltaria para a prisão e também não desistiria de nada do que havia planejado desde que saí daquele presídio imundo. A puxando pelo cabelo de volta para sua casa,abri a porta com certa brutalidade e lhe empurrei para dentro a fazendo ir de encontro ao chão. A cada passo que me aproximava,a mulher se afastava como um ratinho assustado com medo de ser devorado pelo gato faminto, foi até o momento de se encontrar com os pés da escada. — Por favor, Malia...— implorava,tanto com o olhar,como com palavras nas quais não surtiram efeito contra mim. — Não fiz nada com você... Não ainda. — esboço um sorriso sádico ao pronunciar tais palavras. Ouvindo passos se aproximando,olhei em direção a entrada daquela sala de estar por parte da cozinha: Dulce parou nos observando,também com um olhar amedrontado e assustado. Com um gesto de minhas mãos,apontei para o sofá e a mandei se sentar,pois meu foco central era a mulher à minha frente. Retornando meu olhar para ela, sorri amargamente. — Sempre me perguntei o quão suja uma pessoa poderia ser! Mas nunca,em hipótese alguma,pensei em você como o ser mais mesquinho,o ser mais repugnante que tiveram o desprazer de desconhecer — me abaixando a sua frente,apoiei o cano da arma em sua perna, a fazendo tremer de medo — acho que conhecemos a verdadeira face do ser humano quanto toda verdade surge. A vendo deixar uma lágrima molhar sua face, levei minha mão vaga até seu rosto e a sequei com certa brutalidade e grosseria. — Você não vai chorar agora... Não vai se fazer de fraca, não enquanto estiver apenas esclarecendo os fatos — a censurei lhe fazendo pressionar os lábios avermelhados brilhando um ao outro. — Por que? Por que nos machucar? Por que ser esse monstro que está demonstrando ser? Por que matar a minha menina, Lia? — Dulce questionou,ainda se mantendo sentada no sofá em que mandei. Virando-me em sua direção,a encontrei segurança um aparelho celular em suas mãos enquanto me olhava de forma neutra; não havia medo, não havia nenhum sentimento que pudesse ser desvendado por outros,mas conseguia enxergar o que ela não queria revelar: Dulce estava desapontada e magoada. — Para quem está ligando? Para a polícia? — debochei destravando minha arma e apontando para Lorena. — Você não é esse monstro, Lia — murmurou jogando o aparelho sobre a mesinha de centro. — Malia, é assim que deverá me chamar — a repreendi de forma arrogante e desprezível. Enxergando um sentimento desafiador através de seus olhos,tive a certeza de que a mais velha não se importava com o que poderia vir a acontecer consigo, apenas iria me desafiar até que uma resposta fosse dada, até que uma explicação plausível viesse para esclarecer todo meu desprezo, toda minha raiva. Como se não soubessem o que me levou a regressar e lhes ameaçar. — Não...— se levantou me desafiando — Você é a garotinha que corria por essa casa,a garotinha que se sentia carente de atenção e corria para meus braços a procura de carinho. Você é a minha menina,a que muitas vezes chorou em meu colo. — Cala a merda da boca e senta na p***a desse sofá... Agora— me alterei. — Você é a menina que se apaixonou e errou duas vezes: se apaixonou por alguém proibido e errou ao tentar esquecê-lo com alguém que jamais poderia amar. Você é a Lia,a garota cheia de frustrações. Você é alguém que está cometendo um erro ao não nos ouvir — continuou sua afronta,mas a impedir. Com a arma mudando de alvo, disparei contra a parede atrás de si, fazendo com a marca da bala perfurasse o concreto e sumisse por aquele meio. Dulce se calou. Tendo a certeza de que ela não pronunciaria mais nenhuma palavra,voltei meu olhar para Lorena e a puxei para o centro daquela sala, a colocando juntamente a mulher mais velha,essa que se encontrava assustada com meu ato impulsivo movido a sua afronta. Ouvindo a porta ser aberta,pude ver Erick adentrar aquela casa enquanto segurava uma arma em suas mãos,uma que conhecia muito bem: dourada e que me traziam lembranças dolorosas e desestabilizaram parte de meu consciente,porém não naquele momento. Talvez em um momento em que estivesse sozinha, estivesse sob efeito de álcool ou qualquer outra coisa que usasse para tentar me manter fora da realidade em que estava sendo obrigada a viver. — Vejo que a empregadinha de merda ligou para o salvador dos desafortunados. Adoro uma platéia! — com sarcasmo, brinquei com a arma girando-a em minhas mãos. Erick se aproximou,ainda empunhando a arma em mãos e apontando em minha direção. Seu olhar era frio o bastante para me dar a certeza de que ele não hesitaria em puxar o gatilho contra mim. Desta vez a situação era outra,o homem à minha frente havia deixado o sentimentalismo de lado e deu prioridade para a segurança das pessoas próximas a si e que deveriam ser protegidas de pessoas como eu. Alguém teria de puxar o gatilho,pois não desistiria de ferir aquela mulher. Lorena seria meu segundo alvo a lamentar o dia de ter nascido, lamentaria ter mentido por vinte e três anos.
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