23.

1032 Words
Foi um sonho. Reforcei o pensamento. Apenas um sonho. Uma previsão do futuro. Ou não. Eu provavelmente mataria ele sem derramar sangue. Eu tinha pensado em veneno ou uma injeção de oxigênio na corrente sanguínea. Limpo e rápido, quase indolor. Abri os olhos e o dia ainda estava claro. Me movi com calma, sentindo uma dormência estranha nas costas. Eu estava sozinha e em algum momento da noite, a Catarina enfiou uma camiseta em mim. O cheiro de óleo e ervas estava forte por todo o quarto. Ela deve ter aplicado a pouco as pomadas milagrosas que já eram familiares para mim. Sentei na cama, sentindo a pele das costas repuxar, mas não doía, ela deve ter aplicado muita anestesia. O turbilhão de sentimentos negativos estava sob controle agora, depois de um período de sono. Eu não tinha ideia de quanto tempo eu dormi, eu sabia apenas que precisava me movimentar com calma. No banheiro eu me despi e arrisquei olhar no espelho para as marcas nas minhas costelas. Eram duas linhas vermelhas, de cerca de um palmo de comprimento. Poderia ser pior. Um alívio inesperado me dominou. As lembranças do descontrole do Eduardo voltaram na minha cabeça e eu concluí que eu poderia ter sido muito mais ferida. Ou ele poderia abusar muito mais de mim. Poderia ter sido pior. Tomei um banho rápido, para relaxar os músculos doloridos. Eu precisava me apresentar ao Dom. Depois das punições ele sempre tinha uma missão para mim. Com o calor, vesti roupas leves e desci. Fui direto para a cozinha, sendo conduzida pelo ronco do meu estômago. Alguns empregados assentiram para mim pelo caminho, mas nenhuma palavra foi verbalizada, nem por eles, nem por mim. A Catarina estava no fogão, ao lado da Maria, ambas em silêncio quando eu entrei. - Olá… - Elas viraram assustadas. - Lore… - A Catarina arrumou a postura. - Senhorita… - Estou com fome. - Ela sorriu carinhosa e se colocou em movimento. Servindo carne e batatas que a Maria acabará de preparar para mim. - Se a Senhorita aguardar um pouco, poderá almoçar na sala de jantar com os demais… - A Maria sugeriu. - Estou bem aqui, obrigada. - Eu soube assim que verbalizei, que fui agressiva com ela. - Desculpe a minha grosseria. - Ela arregalou os olhos de surpresa. - Eu estou com fome e não gostaria de esperar. - Ela me deu um sorriso tímido e volto a atenção para o fogão. A Catarina colocou o prato e um copo de suco na minha frente. - Coma devagar… - Eu assenti. - Como está se sentindo? - Sem dores. - Dei uma colherada. - O Dom perguntou por mim? - Ela suspirou. - Ele queria que eu te acordasse. Algo sobre um carregamento, mas não me deu detalhes, mas você estava muito abatida e eu achei melhor te deixar repousar. - Será que ele descobriu que eu salvei o Fred? - Poderia ter me acordado. Eu estou me sentindo melhor. Quanto tempo eu dormi? - Dois dias mais ou menos. - Eu quase engasguei. - Desculpe… - Como eu dormi dois dias? - Ela pareceu envergonhada quando respondeu. - Você estava delirando de dor, e eu devo ter te dado muito anestésico… Não foi a minha intenção, eu queria ajudar. - Put4 merd4, eu fiquei apagada por dois dias. - Tudo bem. Obrigada. - Ela se manteve em silêncio enquanto eu comia e não demorou muito para a Maria sair da cozinha. - Lore, chegou outra carta. - Ela falou sussurrando. - Eu levo para você mais tarde. - Eu não li nem a primeira. Pisquei, encarando o prato, pelo menos era uma boa notícia, ele estava vivo. A imagem do sonho voltou e eu mudei de assunto para me distrair. - O que você passou nas minhas costas? - Ela deu um sorriso. - Uma mistura de ervas. E injetei uma ampola de anestésico. - Eu assenti. - Eu te ajudei a ir ao banheiro e te mantive hidratada nas poucas vezes que você acordou. - Eu não me lembro. - Admiti e ela sorriu. - E preparei o remédio um pouco mais forte do que de costume e te fiz beber mais duas vezes. O seu corpo precisava se recuperar. - Eu não tenho palavras para dizer o quanto estou agradecida. - Ela apoiou a mão no meu ombro e assentiu. - As dores do corpo você não precisa sentir. - E pelo olhar dela eu soube que durante os momentos que ela cuidou de mim ela viu as dores da minha alma. … Eu poderia ter esperado mais. Mas, eu sabia que adiar a minha visita ao Dom ia apenas tornar o temperamento dele insuportável. Então, mesmo com os protestos educados da Catarina eu fui da cozinha direto para o escritório dele. Eu não precisei bater na porta, ela estava aberta e o Eduardo estava de saída quando parei na porta. Enfiei as unhas nas palmas da mão para conter o misto de raiva e mágoa que me envolveu quando olhei ele nos olhos. - Vejo que a bela adormecida resolveu acordar. - Ele estava particularmente animado e eu imaginava o motivo. Os homens da máfia sentiam um praz3r fora do normal em provarem o poder, e me colocar completamente a mercê dele provava que ele era muito mais poderoso que eu. Ele não perderia a oportunidade de chutar um cachorro que ele julgava morto. - Dom, me convocou? - Eu ignorei o comentário dele, entrando na sala e o Dom levantou o olhar para mim. - Sim. - Ele olhou para o Eduardo com um olhar de reprovação. - Nos deixe. - Completamente inconformado, ele saiu da sala e fechou a porta atrás de si. - Vejo que essa lição foi mais dura do que de costume. - Eu não ia reclamar, e ele sabia. - Fico satisfeito que está recuperada. - Eu me limitei a assentir. - Sente, por favor. - A educação dele me pegou de surpresa. Eu ignorei a pontada dolorida nas minhas costas quando sentei, o efeito da anestesia deveria estar passando. - Loredana, tenho uma missão para você e você não vai gostar.
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