Eu parei de pensar.
Deixei o instinto me dominar e coloquei o meu corpo para funcionar na base da memória muscular.
Fechei todos os sentidos, a primeira lição que eu aprendi e comecei a me mover nas sombras.
O dia ainda não estava claro, então eu consegui me camuflar com tranquilidade entre os carros dos homens do Carlo.
Eles chegaram primeiro, para esperar a carga e eu me vi em um embate.
Eu poderia apagar a todos e acabar com o plano do Carlo ou poderia atrapalhar um pouco e deixar que tudo corresse como ele esperava, evitando suspeitas para mim.
Eram decisões que definiriam o meu futuro.
Se os homens dele fossem mortos, ele saberia que fui eu. Ele esperava um banho de sangue, tiros e lutas até a morte, e o meu trabalho era delicado, eu até poderia me adaptar, mas levantaria suspeitas mesmo assim.
Eu não teria um álibi, o que dificultava muito as coisas.
O destino tomou a decisão por mim, quando dois caminhões e um carro pararam na portaria.
O Dom colocou 20 dos seus homens para receber a carga, e a informação é que contando com o Fred, a equipe que estava vindo tinha 8 homens.
Eles não teriam a mínima chance.
Bem, se eu não tivesse me envolvido.
Dei o comando para a minha pequena distração e contei 40 segundos no relógio.
Os homens caminhavam tranquilos até o portão quando eu me escondi atrás do último carro.
Assim que o mecanismo fosse ativado, uma guerra ia começar, e eu precisava sair do fogo cruzado.
O portão estava abrindo quando o primeiro rojão estourou dentro da Igreja, fazendo todos os homens se virarem.
Eu deixei preparado 2 minutos de fogos, que foram acionados a distância, por um aparelho que se tornou o meu melhor amigo nos últimos dois anos. Eu conseguia conectar ele como um controle remoto a qualquer circuito.
Previsivelmente, os homens do Dom acharam que estavam sendo atacados e dispararam às cegas contra a igreja, virando de costas para mim e foi a oportunidade que eu precisava para passar pelo portão.
De onde eu estava eu pude ver o Fred no banco de trás do carro e dois homens descendo do carro, com armas em punho. Deveriam ter mais dois em cada caminhão. Me joguei embaixo de um dos caminhões e esperei eles passarem.
Caminhando para a morte certa. Isso não era problema meu.
Levantei e me certifiquei que o meu rosto estava coberto quando abri a porta do carro, sentando no banco do motorista.
- QUEM É VOCÊ? - A reação do Fred foi no mínimo normal.
- O seu pai me enviou. Era uma emboscada, ele sabia e vou te tirar daqui. - Dei partida no carro.
- E quer que eu acredite? - Virei os olhos. Mimado, teimoso, lindo e muito idi0ta. Eu não respondi, dei ré no carro e desci a rampa em alta velocidade. Virando o carro assim que tive o mínimo espaço.
Eu sabia que ele estava armado. Ele era um mafioso, eu ficaria decepcionada se não estivesse. Assim que ouvi ele acionar o gatilho eu suspirei antes de falar.
- Garoto, você vai se machucar com essa arma. - E como eu também previ, ele apontou a pistola para a minha têmpora, enquanto eu passava por dentro do túnel, em direção á minha moto.
- Volte, agora. - Eu quase sorri.
- De nada, por salvar a sua vida. - Arrisquei olhar pelo retrovisor. Ele estava completamente fora de si, um misto de susto e incredulidade.
- Eu mandei voltar, não vou deixar os meus homens lá. - Eu virei os olhos, quando parei o carro.
- Eles não são a minha missão, você é. - Abri a porta, sabendo que se ele fosse atirar, ele já teria feito isso. Ele abriu a porta e desceu atrás de mim. - Se voltar lá, vai morrer. Eram 20 homens quando eu saí, e eu não matei nenhum deles.
- Quem é você? - Pulei o gradil, caminhando até a moto.
- Sua salvadora. É o que você precisa saber. - Peguei o capacete e ele estava parado, em dúvida se dirigia de volta. - Se você seguir em frente, por cerca de dois quilômetros, encontrará um carro com um pacote bastante interessante no porta malas. - A adrenalina estava começando a diminuir no meu corpo e eu me vi presa na intensidade dos olhos dele.
- Eu conheço você… - Ele falou. - Você é a assassina da máfia! - Ele pareceu quase encantado.
- Hoje eu sou apenas a pessoa que você deve a sua vida. Os Camachos me devem um favor, um favor bem grande… - Eu enfiei o capacete, ciente que eu não conseguiria disfarçar mais a voz, a minha garganta já estava doendo com todo aquele fingimento. Apontei para a direção que ele não deveria voltar e fiz um sinal de pescoço cortado com a mão e dei partida na moto.
- Obrigado. - Ele falou, completamente confuso, sem entender direito o que tinha acontecido.
Eu me limitei a fazer uma jóia com o dedo antes de sair em disparada, com toda a velocidade, para bem longe dele.