Mudará. No momento em que eu saio do hospital eu sei que a minha vida mudará. Radicalmente até. E não da forma que eu esperava ou da forma que eu queria, mas de uma forma que me pegou de surpresa e abalou minha estrutura.
As últimas duas semanas se passaram lentas e rápidas ao mesmo tempo. De uma eu não me lembro muito. Estava a maior parte do tempo sedada em uma cama no quarto de recuperação do hospital após a cirurgia. Da outra eu me lembro como uma passagem dolorosa após o doutor Wood me falar sobre as sequelas resultantes do meu acidente. Mas tem duas coisas das quais eu jamais esquecerei. De dois faróis mortais pertencentes ao caminhão que bateu em mim no momento em que eu tive mais medo na minha vida e de dois olhos castanhos amorosos me vigiando como um falcão assim que eu acordei. O Nick ficou o tempo todo ao meu lado na cama, o Robert disse. Ele nem sequer foi trabalhar durante todo esse tempo. Apenas dava uma passada rápida em casa pra tomar banho e trocar de roupa, porque até mesmo as refeições ele fazia ao meu lado.
— Você está bem? — ele pergunta ao entrarmos no carro — Está confortável desse jeito?
— Estou.
Estou no banco da frente, no lado do passageiro. Ele tenta colocar o cinto de segurança em mim, mas eu mesma o coloco antes que ele tenha a chance. Não é porque minhas pernas não se mexem que eu não posso mover meus braços. Nick dirige de forma mais cuidadosa do que é estritamente necessário. E posso observar uma viga em sua testa em sinal de preocupação. A verdade é que desde que eu acordei, tenho a sensação de que ele me esconde algo. Três dias atrás eu acordei e ouvi que ele e o Robert falavam alguma coisa, mas já estavam no fim da conversa porque não pude saber do que se tratava.
Agradeço a ele por trazer as flores que eu ganhei durante o tempo em que fiquei hospitalizada, mas sua carranca – antes já nada boa – se aprofunda um pouco mais ao mencionar o Asher. Mas ele é meu amigo e foi muito gentil. Me visitou todos os dias desde que eu acordei e parece que também esteve lá enquanto eu estava inconsciente. Embora eu ache que não foi muito agradável para o Nick. Eu disse a ele que Asher e eu somos amigos, mas sinto que ele ainda tem uma pulga atrás da orelha.
— Ele é um bom amigo. — digo só pra reforçar.
— Eu sei. — ele responde sério.
Nick está mais sério do que eu estou acostumada a ver. Parece um pouco preocupado. Eu tenho certeza que ele ainda tem a ideia maluca de que a culpa pelo acidente é dele. E eu não sei de onde ele tirou isso, mas tenho que dar um jeito de acabar com esse pensamento.
Quando chegamos à sua casa, ele monta a cadeira de rodas ao lado da minha porta e me ajuda a sentar. É uma cadeira muito bonita e cheia de acessórios. Tem controle remoto para que eu não precise mexer nas rodas para me mover e com certeza deve ter custado uma fortuna. Às vezes eu gostaria de saber o quanto as ações que o Oliver deu a ele rendem só pra ter uma ideia de quanto dinheiro o Nick tem. Não que eu me importe com isso, mas é que desde que eu o conheci ele já gastou uma quantidade absurda de dinheiro comigo.
Assim que me acomoda na cadeira, ele se abaixa ao meu lado e faz o que sempre faz quando está tão perto assim. Põe a mais teimosa mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e me beija levemente nos lábios. Eu adoro o jeito como eu me sinto quando estou com ele. Sinto-me especial e principalmente, sinto-me amada.
— Eu te amo. — ele diz com a boca ainda junto da minha.
Eu adoro quando ele me diz isso, mas agora mesmo não sei por que sinto que ele está dizendo isso não porque apenas quer dizer, mas porque acha que eu preciso ouvir.
— E eu a você, Nick. — toco seu rosto bonito com a ponta dos dedos e ele geme baixinho, mas não de prazer e sim como se doesse — Eu sei que está sendo difícil pra você amor, mas não precisa ficar reafirmando seu amor a toda hora só porque eu estou desse jeito.
— Eu não digo isso pra reafirmar pra você. — ele fala, olhando nos meus olhos — Faço porque eu preciso provar a mim mesmo o quanto eu amo você e me convencer de que nunca faria algo pra te magoar.
— Eu sei disso.
— Você acredita em mim? Acredita que eu nunca diria ou faria algo que te fizesse sofrer mais do que já está?
— É claro que sim, meu amor. Eu sei que você é a única pessoa que nunca faria nada pra me machucar.
— Ok. — ele sorri e se levanta.
Eu não entendo o por quê desse papo. Por que ele acha que vou pensar que ele me machucaria? Será se ele pensa que se passou por um minuto pela minha cabeça que ele vai me deixar agora? É claro que eu não pensaria nisso. Eu sei que ele me ama demais e que tem caráter demais pra fazer algo assim.
— Vamos entrar então? — concordo e ele fica na parte de trás da cadeira e começa a empurrá-la.
Uma olhada ao redor e na mesma hora eu percebo que tudo por aqui mudou. A frente da casa dele está muito mudada. A rampa que antes ia da entrada da varanda até a areia da praia agora tem uma irmã gêmea, menor e menos inclinada. Não falo nada. Mas quando entramos dentro de casa, as partes que sofreram alterações são ainda mais evidentes, a começar por um elevador de visão panorâmica ao lado da escada que leva à parte superior.
— Nick... — digo ofegante — O que você fez aqui?
— Eu sei que a casa está um pouco diferente, mas não é nada que não fosse necessário fazer.
— Era mesmo necessário colocar um elevador aqui? — sorrio.
— Bem... sim. Eu quero que você seja capaz de se locomover sozinha sem ter que sempre esperar por alguém.
É muito amável da parte dele querer fazer com que eu me sinta útil, pelo menos para mim mesma. Mas mesmo a sutileza dele me mostra mais uma vez que de agora em diante eu não dependo só de mim, até mesmo para as coisas mais simples.
— Obrigada, Nick.
— Ah amor, você não tem que me agradecer. Vem aqui. — ele me chama até a porta do pequeno elevador. Eu mesma vou guiando a cadeira através dos controles. — Está na hora de ver como as coisas estão lá em cima.
Ele aperta um pequeno botão verde no painel e a porta do elevador se abre. É relativamente grande. As paredes são de vidro e dá pra ver os cabos sendo puxados pelo motor. Um elevador de visão panorâmica. É claro que até nisso ele iria esbanjar. No momento cabemos eu e ele. Não sobra muito espaço, mas não chega a estar apertado. Porém se não fosse a cadeira, caberiam facilmente umas cinco pessoas aqui dentro.
A visão da parte de cima não me impressiona menos que a da parte de baixo. O quarto dele está muito diferente. Não. Dizer que está diferente é um eufemismo. Está completamente diferente.
— Amor... meu Deus, você mudou a casa inteira.
Toda a pintura é igual ao quarto que eu tenho no apartamento. A cama dele é outra. Agora é uma com dossel e com barras de madeira em ambos os lados. O piso de madeira está coberto por partes antiderrapantes e parece que o espaço em si é maior. Minhas estantes de livros e filmes também estão aqui.
— Adaptei o quarto pra ficar o mais acessível pra você.
— Você mudou a sua casa inteira por mim? E quando eu for embora?
Olho pra ele e o vejo com o rosto sério. Ele então se abaixa de joelhos na altura dos meus olhos e tira do bolso uma caixinha vermelha.
— Nick... — Não pode ser o que eu estou pensando.
— Eu estava mesmo querendo falar com você sobre isso.
Por favor, que não seja o que eu estou pensando. É cedo demais.
— Você tem que ficar comigo por enquanto Ellen. Sabe durante a sua recuperação.
— Eu sei. Não acho que posso ficar sozinha por enquanto. — respondo sentindo meu pulso acelerar.
— Mas mesmo depois que você estiver melhor daqui a alguns meses, eu quero que você continue morando comigo. Eu quero você comigo o tempo todo.
Ele abre a caixinha e para o meu alívio não é um anel. É uma chave. A chave da casa dele. Uma chave que eu já tenho.
— Nicholas Hoffman você está ne pedindo em casamento? — pergunto mordendo os lábios para não rir.
Ele franze a sobrancelha e olha para sua posição de joelhos, então sorri. Ele sorri como se até agora não tivesse se dado conta de como isso pareceu.
— Oh não. Eu... ahm... Não que eu não queira, mas eu acho que por enquanto é muito cedo. Por enquanto eu só quero que moremos juntos.
Ele parece meio desconfortável. Acho que ele pensa que eu realmente esperava o pedido.
— Que bom que não é isso então. — eu digo para voltarmos ao clima de antes — Eu também acho que é muito cedo.
Ele respira audivelmente e põe a chave na minha mão. É um pouco diferente da que eu tenho. Essa tem nossas iniciais gravadas e o chaveiro não parece ser de metal. É de prata? Uau. É de prata. Um maldito chaveiro de prata.
— E então, você aceita? — ele pede com os olhos ansiosos.
— É claro que eu aceito. Eu vou morar com você. Seria o inevitável próximo passo na nossa relação não é?
— Isso. — ele ri como se fosse um menino de... quantos anos mesmo? Vinte e três? — Que bom que aceitou. Eu estava com medo que dissesse não.
— E por que eu faria isso? Sou a garota mais sortuda do mundo. — eu ponho a mão em seu rosto e ele fecha os olhos — Acho que roubei a lâmpada do Aladim e os meus três desejos foram conhecer você, amar você e ser amada por você. E o gênio me concedeu.
Ele sorri largamente e me beija. Ah, como eu tenho sentido falta desses lábios nos meus. Quase não nos beijamos desde o acidente. O beijo dele é tão bom. Tão gostoso. Mas ele logo se afasta e por mais que me doa, eu sei exatamente por que.
Mas não vou pensar em nada disso agora. Então... Olho pra chave com carinho e a beijo. Ponho nos lábios dele e ele a beija também.
— Amei o pedido Nick, mas acho que foi meio desnecessário você me dar a chave da sua casa como se eu já não tivesse uma.
Ele sorri timidamente.
— Tecnicamente eu ainda não te dei a chave daqui.
— Claro que deu.
— Não desta nova casa. Eu mandei trocar as portas se você não percebeu.
Não seguro a gargalhada. Eu não acredito nisso.
— Você mandou trocar as portas da sua casa só para poder me dar a chave outra vez?
— Mas é claro. — ele fala rindo — Eu mandaria derrubar a casa inteira se fosse preciso, o que são algumas portas?
Será possível amá-lo mais?
— Agora vem. — ele se levanta e me estende a mão — Você precisa ver o resto.
Ele me mostra como o banheiro mudou. A banheira maior. Barras de ferro ao lado da pia e do vaso sanitário. Piso emborrachado no box. A parte da academia e piscina não mudou muito. Apenas um tatame enorme no chão muda o ambiente.
— Obrigada por tudo amor.
Ele ergue as sobrancelhas e sorri.
— Já disse que não tem que me agradecer. — quando ele passa as mãos pelos cabelos castanhos, seus bíceps se flexionam enchendo meus olhos com a delícia que é o seu corpo moreno — Você é minha namorada e eu faria qualquer coisa por você.
Ele é um amor. Pergunto-me o que dá na cabeça de uma mulher pra deixar alguém tão doce, inteligente e extremamente gostoso como esse. Acho que agora sei exatamente como ele era quando estava com ela. E pensar que eu não sou a primeira a quem o Nick amou me dói. Eu sei que é loucura e que eu não deveria, mas não consigo evitar o pensamento r**m de saber que tudo o que ele faz por mim, ele aprendeu fazendo por outra mulher.
— Tudo o que eu quero que faça por mim agora é me levar até essa piscina maravilhosa e me deixar segurar em seu pescoço enquanto flutuamos na água.
— Eu não acho que seja uma boa ideia, Ellen. — de repente ele volta a ficar sério.
— Tudo bem, Nick. Eu confio em você.
Com olhos pidões eu consigo convencê-lo a nadar um pouco comigo. Sorrindo ele tira a camisa sobre a cabeça de uma forma que sempre gostei de ver. Depois tira o calção e ficou apenas em sua boxer. Eu o imito e tiro a blusa e o sutiã. Meu shortinho eu deixo que ele tire. Eu gostaria de estar sentindo suas mãos nas minhas coxas enquanto ele me toca pra terminar de tirar a minha roupa.
— Sinto falta das suas mãos no meu corpo. — digo baixinho. Ele encosta a testa no meu joelho e vejo a sua respiração acelerar.
— Sua pele ficou mais branca durante esse tempo que você esteve longe do sol. — vejo quando ele beija minas pernas.
Estou só de calcinha agora. Ele está mais uma vez de joelhos e olhando para o meu corpo quase todo nu. Ele traça os dedos pelas minhas pernas e eu não sinto, é claro. Quando chega aos meus quadris, eu já consigo sentir um pouco. E na cintura eu o sinto normalmente.
— Nick...
— Quer mesmo ir nadar? — ele me olha nos olhos.
— Quero estar perto de você.
Com isso ele me pega nos braços e nos leva para a piscina. Com a água no seu peito, ele me escora em uma das laterais enquanto eu o abraço.
Deixo o meu nariz na curva do seu pescoço sentindo seu cheiro. Ele beija o meu. Depois beija minha clavícula e eu mordo sua orelha.
— Eu te amo, Ellen.
— Eu sei. — beijo seu queixo — Eu sei que sim.
Ele afasta o rosto para me olhar e eu vejo a dor em seus olhos. Meu amor está sofrendo. Seus lindos olhos estão cheios de lágrimas não derramadas.
De repente eu sei o porquê da sua culpa. Ele está revivendo um trauma de cinco anos atrás. Não sei se me agrada o fato de ele estar comparando a minha situação com a situação que ele viveu naquela época.
— Não pense nisso, Nick. — digo afagando seus cabelos e o pouco de barba que há em seu rosto.
— Não pensar em quê?
— O que aconteceu comigo há duas semanas não tem nada a ver com o que aconteceu com a Ada há cinco anos.
Ele fecha os olhos com o rosto contorcido e nesse momento eu sei que era exatamente isso que o estava consumindo.
— Não foi culpa sua há cinco anos. Não foi culpa sua há duas semanas.
— Me desculpa, Ellen. Eu não quero que você ache que eu estou comparando você à Ada, mas é que eu não consigo me livrar desse sentimento.
— Que sentimento? O de culpa?
— Eu deveria estar com você.
— Se você estivesse comigo, estaria na mesma situação que eu agora. Ou pior, talvez estivesse morto.
— Eu sou o seu namorado. Eu deveria te proteger.
— De um caminhão? — pergunto com diversão — Só se você fosse Clark Kent. E até ele às vezes não podia fazer nada pra proteger as pessoas que amava.
Ele abaixa a cabeça no meu ombro. Está chorando. Meu pobre Nick está chorando.
— Shhh. — eu o abraço — Calma meu amor, não chora.
— Ainda está doendo, Ellen.
— Eu sei Nick, eu sei. Calma.
— Você quase morreu. Eu... eu fiquei com tanto medo.
— Eu sei. Eu sei.
— Eu não sei o que eu faria da minha vida se eu tivesse perdido você. Eu não... eu... — ele diz entre os soluços.
— Mas você não perdeu. — beijo sua testa — Eu estou aqui. — seus olhos — Eu sempre estarei aqui. — sua boca.
— E ainda por cima...
Nick afunda de novo a cabeça no meu pescoço e continua chorando. Sinto seus braços me abraçando com muita força. Está doendo em mim agora. Sua dor me machuca.
Mas e ainda por cima o quê?
— Nick existe mais alguma coisa que você ainda não me contou?
Ele não pode estar arrasado desse jeito só por causa da cirurgia. Só por causa do acidente. Tem que ter mais alguma coisa. Eu nunca o vi assim.
Ele seca as lágrimas passando os olhos nos ombros. Abre a boca umas duas vezes, mas não fala nada.
— Nick, o que houve?
— Nada. É que... Você só tem dezenove anos Ellen.
— E?
— E... Você não deveria estar passando por isso. Você é tão jovem pra já ter enfrentado tantas coisas ruins e agora isso.
— E quem disse que coisas ruins só acontecem com os mais velhos? Veja você, por exemplo, só tinha dezoito anos quando enfrentou a pior barra da sua vida.
— Sim. E veja o que aconteceu comigo. Eu mudei. A dor me mudou e eu tenho medo de que de alguma forma, ela acabe mudando você também.
Eu o beijo. O beijo sentindo o gosto salgado das suas lágrimas.
— Não se preocupe comigo Nick. Eu estou bem.
— Não. Não está.
— Sim, eu estou.
— Não está. Você passou a semana toda escondendo o fato de que tudo o que o médico te disse não te afetou, mas eu sei que afetou. Você só está encobrindo os sentimentos presos dentro de você e por enquanto tudo bem, mas eu tenho medo do que vai acontecer quando você não puder mais prendê-los.
Talvez ele tenha um pouco de razão em relação a isso, mas eu sou forte o bastante pra lidar com as coisas. Não é a primeira vez que eu perco algo na vida.
— Se isso acontecer, — o abraço bem forte — eu terei você comigo.
— É claro que terá. Mas e se eu não for suficiente?
— Você sempre foi suficiente. — digo com a boca colada na dele — Os meses desde que eu te conheci não têm sido exatamente fáceis, mas você sempre foi suficiente.
— Ellen...
— Eu não saí de casa só por causa do Tyler.
Ele franze a testa como se não entendesse e é claro que não entende. Eu nunca falei com ele sobre o que vou falar agora.
— A verdade é que independente de o Benny vender ou não o meu cavalo, eu teria que sair daquela casa mais cedo ou mais tarde. Eu não aguentava mais ficar ali.
— Por quê?
— Porque aquela casa me lembrava muito a minha mãe. E não de uma forma boa como o Tyler faz, mas de uma forma que me fazia sofrer.
— Por que nunca me contou isso?
— Porque não precisava. Eu já tinha muita coisa com o que me preocupar ou sofrer, não precisava estar me lembrando de mais uma coisa dolorosa. E sabe de uma coisa Nick? Antes de conhecer você, eu não me sentia bem há muito tempo. Conhecer você foi o suficiente pra levar a minha dor pra longe e com certeza, ter você ao meu lado agora será mais do que suficiente de novo.
— Tem certeza? — ele pergunta sorrindo, mas eu sinto ainda suas dúvidas. Tudo bem, eu tirarei suas dúvidas com o tempo certo.
— Plena.
Beijo meu Nick nos lábios e ele geme baixinho na minha boca. Sinto tanto a falta dele que tudo o que eu quero é beijá-lo e beijá-lo e nunca mais parar de beijá-lo. É exatamente o que eu faço, mas assim como das outras vezes, de novo ele interrompe nosso momento. Acho que esse é o momento perfeito pra falar com ele sobre isso.
— Nick, se quer ser suficiente pra mim para que eu passe bem por isso, você pode fazer uma coisa.
— Qualquer coisa minha linda.
— Você pode ser o cara legal que foi durante todo esse tempo. Pode ser carinhoso e amável como tem sido desde o dia em que nos conhecemos.
— Concordo.
— Pode ser um grande i****a como era às vezes. — ele sorri — Eu deixo.
— Ok.
— E principalmente. — beijo de leve sua boca de novo — Pode ser o amante que sempre foi. Pode me beijar e t*****r comigo como se nada tivesse acontecido. Eu quero sentir o seu desejo por mim amor. Quero sentir que as coisas entre nós não mudaram.
— Ellen... — ele começa a negar com a cabeça, mas eu o interrompo.
— Muitas coisas vão mudar na minha vida, Nick. — digo de cabeça baixa — E eu não quero que a nossa vida pessoal e íntima seja uma dessas coisas.
Ele reluta.
Poucas vezes desde que nos conhecemos eu me senti insegura em relação ao desejo s****l do Nick por mim, mas admito que a atitude dele há uma semana vem me deixando preocupada.
— Por favor. — peço — Promete que a nossa vida não vai mudar.
Ele concorda e mais uma vez sinto sua dúvida.
— Então para de me beijar como se eu fosse sua prima e me beija como a sua mulher.
E então agora sim. Eu vejo a malícia em seus olhos. Adoro o jeito como ele me olha com amor e desejo em medidas iguais. A mistura desses olhares sempre me deixa louca.
Nick me beija da mesma maneira que me beijou na noite do acidente, antes de tudo acontecer. Um beijo cheio de desejo e promessas safadas.
— Esse sim é o Nick que eu adoro quando me beija.
— Eu farei tudo o que estiver ao meu alcance para que a nossa vida seja a mesma que sempre foi.
— Ótimo. — sorrio.
— Começando por isso.
Franzo a testa. Nick joga água em mim e se afasta nadando.
— Acho que tenho que começar com o que é mais fácil pra mim minha linda.
— Ah é claro. — sustento-me na beira da piscina enquanto ele nada para cada vez mais longe de mim. — Sorte sua que eu não posso nadar agora ou deixaria você no chinelo.
— Eu ouço isso o tempo todo. — ele se escora na beira do outro lado da piscina — Mas olha só que curioso, não me lembro de você ter ganhado de mim nenhuma vez Ellen e não pense que eu deixarei você me ganhar só por causa da sua condição.
Hora de brincar.
— Então quer dizer que é mais fácil pra você ser um bastardo i****a?
Abaixo a cabeça e em um instante o Nick está na minha frente.
— Amor me desculpa. — ouço quando ele engole — Eu exagerei Ellen. Perdão.
— Você é incrivelmente i****a às vezes. — levanto o olhar pra ele e vejo seus olhos preocupados — Ainda bem que eu gosto demais do seu lado i****a. — sorrio.
Ele solta o ar audivelmente e sorri junto comigo. Chegando bem perto de mim, ele fala próximo à minha boca.
— Não se faz esse tipo de brincadeira com um namorado apaixonado garotinha travessa. — ele prende com força meu lábio em seus dentes e o lambe depois de soltá-lo — Talvez eu devesse fazer alguma coisa por isso.
— Não pode. — sorrio — A minha condição não permite punições.
É ótimo poder brincar com ele sobre isso. Talvez minha vida não vá mudar tanto assim.
═══ ೋೋ═══
Depois de nos secarmos após um bom tempo brincando um com o outro na água, descemos para o piso inferior. A enfermeira Agnes que chegou enquanto eu ainda me vestia, está esperando por nós, sentada no sofá da sala.
— Boa tarde, senhor Hoffman. — ela se levanta para cumprimentar o Nick e depois a mim — Senhorita Muller.
— Boa tarde, Agnes. — dizemos em uníssono.
Nick insistiu que seria conveniente contratar alguém para ficar comigo enquanto ele não estivesse em casa. Eu, sendo eu, relutei no início dizendo que não precisava de uma babá, mas agora após a minha primeira experiência de tentar trocar de roupa sozinha, vejo que ela realmente será útil pra mim. Nick passará um bom tempo fora de casa trabalhando e eu não vou ser arrogante ao ponto de achar que posso me virar sozinha.
Além do mais, eu gosto da Agnes. Ela me tratou muito bem durante a minha estadia no hospital e também está na cara que não é tipo de mulher que o Nick curte, com seus quilinhos a mais e padrão de beleza um pouco inferior para os seus padrões.
Ai meu Deus. Eu vou para o inferno por pensar assim de outra pessoa. Mas o que eu posso fazer? Eu é que não vou dar mole para o azar e aceitar uma enfermeira gostosa dentro da casa do meu namorado. Ele nunca falou, mas tenho certeza que se amarra em uma fantasia. Não vou ser eu a pessoa a lhe entregar isso de bandeja.
— Bem, Agnes, suas tarefas aqui não serão iguais ad que você tinha no hospital logicamente. — Nick começa ao sentar-se — Ellen está bem e não vai precisar de uma enfermeira como no hospital. Está mais para uma dama de companhia, digamos assim.
— Sim senhor, como quiser. — ela diz sorrindo — Eu estou perfeitamente ciente desse tipo de funções.
— Dama de companhia? — pergunto levantando as sobrancelhas — Eu por acaso tenho sotaque britânico e uma coroa na cabeça?
Nick sorri com a minha insinuação.
— Pode não ser a rainha da Inglaterra, mas é a minha rainha e como minha rainha, eu posso sim trazer para a corte quantas damas de companhia forem necessárias, milady.
— Sim assim deseja milorde, fique à vontade. — Nick pega minhas mãos e as beija fazendo reverência.
Nos olhamos com amor. Seu rosto está pertinho do meu e se não fosse minha nova "dama de companhia" eu o puxaria pra mim agora mesmo. Já faz muito tempo que não demonstramos nosso amor na cama.
Com uma tosse forçada a Agnes nos trás de volta para a sala. É sério? Tossir? Poderia ser mais clichê? Alguém deveria inventar uma forma melhor de chamar a atenção dos outros em momentos como esse.
Mas a culpa é minha. Eu não deveria estar pensando em safadezas assim quando tem gente por perto. E nem ele porque pelo olhar que ele me lança antes de voltar a atenção à Agnes, eu vejo que seu pensamento também era imundo.
— Ellen? — Minha intenção era contar até cinco, mas obviamente o Nick não demoraria tanto em me ajudar. Ele está sempre atento a mim. — Amor, você está bem?
— Estou Nick. — respondo guiando a cadeira pra longe do desastre na cozinha — Foi só uma jarra no chão.
— Não se machucou? — há uma verdadeira viga entre suas grossas sobrancelhas.
Oh Deus, ele é muito paranoico.
Tenho que me lembrar de evitar correr riscos ou vou provocar um infarto nele antes mesmo de ele completar vinte e cinco.
— De verdade Nick, não foi nada demais. — passo os polegares no lugar da sua viga de preocupação e aliso um pouco para desfazê-la — Eu quero que relaxe ok.
— Ok. — ele concorda, mas ainda visivelmente agoniado.
Caramba, controle-se homem.
Talvez ele precise de algo para relaxar. Talvez algumas horas fazendo sexo ajudem a tirar dele toda essa pilha.
— Bem Agnes, parece que o seu trabalho começa agora. — ele vira-se para a mulher que nos observa do batente do grande portal da cozinha.
— Sim, senhor. — ela concorda e ele mostra a ela onde ficam as coisas de higiene.
— Não sabia que ela seria empregada doméstica também. — comento enquanto ela limpa o chão.
— Ela não é. — ele diz sério — Mas ela está sendo pra cuidar de você e de tudo o que você fizer. — depois ele termina com um sorriso — Isso inclui essa bagunça enorme na nossa cozinha.
Uau. Nossa cozinha. Eu sei que ele me pediu pra morarmos juntos, mas "nossa cozinha"? Até parece que ele quer que a gente seja como marido e mulher. Não que eu tenha do que reclamar se esse for o caso.
Ele se abaixa ao meu lado e depois de um beijo rápido, me olha com certa malícia.
— Acho que você se sujou um pouquinho.
— O quê?
— Talvez precise de um banho agora, linda.
— Ainda estou com as minhas mãos enrugadas da piscina.
— Estou vendo. — ele pega minhas mãos e massageia.
— Mas você tem razão, eu preciso de um bom banho de espuma e você faria bem em me dar um.
— Então que tal ir para o quarto e ficar por lá mesmo? Tipo até amanhã?
— Concordo plenamente.