Capítulo vinte e dois: O desaparecimento físico de Carol

1707 Words
Nos primeiros dias achei que volta e meia teria um capanga ou segurança de Raven Ayes fazendo ronda, mas ninguém apareceu e pelo estado em que a encontrei, tudo estava exatamente como eu havia deixado há dez anos, o que fez-me ter a certeza de que estava abandonada. — Isaac? — Finalmente decidiu dar notícias! Como você está? — Bem... — dentro da cabine telefônica olho para todos os lados. — Com a sua paranoia, presumo que estejas a fazer uma vistoria por todo perímetro! — diz e eu solto uma risada irônica. — As vezes parece um sonho que estejamos livres depois de tanto tempo traçando nossa fuga... — Certo. — murmuro, era incapaz de descrever o que estava sentindo, ira, tristeza, melancolia, provavelmente tinha haver com ansiedade que sentia. — Está distraído Richard! — O que você disse? — Que está distraído! É a mulher que você pediu que investigasse? — Não! — respondo seco. — Não há quase nada sobre ela, Chama-se Nihara Malika, cresceu em Buckinghamshire num colégio interno com nome Woldorf Abbey. O resto é história que você já sabe. — E sobre Carolinne? — Nihara... meu subconsciente murmura. — Sobre ela... Então Richard, a sua cunhada nunca esteve em Grã Bretanha. Não vai para lá desde que se casou com o lunático do seu irmão! Ninguém sabe o seu paradeiro... — Ela nunca deixaria a filha... — O seu irmão esteve vários dias tentando fazer sumir um corpo, não conseguimos descobrir de quem se tratava mas as autoridades em Londres acharam e começaram com as investigações, há três dias voltou a aparecer um corpo junto ao hotel em que estava com a esposa... — Porque não me contou sobre isso antes? — não queria a polícia envolvida nisso, só irão atrapalhar meus planos. — Só agora descobri, ele está voltando para Fodshan hoje mesmo! Está fugindo da polícia, todas as provas apontam para o quarto de hotel como cenário dos crimes. — explica empolgado. — Você não vai precisar fazer nada! A polícia está na sua cola. É uma questão de tempo até encontrarem-no, você pode voltar para aqui. Poderemos finalmente nos focar em libertar Anthony. — Isso não vai dar em nada! — Eu disse que estaria um passo em frente de Thomas, mas ele continuava matando arbitrariamente e eu não consiguia encontrar nenhum ponto fraco seu. — Ele já deve ter um bode expiatório. Ele fez isso no passado, não sei se lembra... eu fui o seu bode expiatório. Continue vendo formas de soltar Anthony. — E você? — Eu consigo dar conta de Thomas, agora que sei o que está na base do seu comportamento... Irei resolver esse assunto sozinho. — falo tentando me convencer, a verdade era que não estava nada atento e sentia-me angustiado. — Está certo... Richard? — Sim. — Sobre a mulher que pediu para investigar... — O que tem ela? — Você tem noção de que ela... é de cor? — Ela é n***a. — falo duro. Não gostando da forma como ele a descreveu. — Eu só.... — Vá ver do Anthony... A Nihara é um assunto meu! — Está certo... Se cuida. — Você também. — desligo irritado, era estranho estar incomodado com aquela expressão "de cor". Já ouvira outras pessoas descrevendo pessoas negras como sendo de "cor" e nunca antes despertou minha atenção. Vendo por essa perspectiva, consigo compreender melhor o ditado "se coloque no lugar de quem está sendo segregado". Lembrem-se: Nunca irão saber o que é estar na pele do outro até realmente estarem! — Sorrio triste. — eu estava literalmente sentindo quase tudo que Nihara sentia. Pela primeira vez eu a compreendi, naquele dia em que todo mundo a olhava como intrusa, desenquadrada... eu a compreendia, ou pelo menos tentava realmente compreendê-la. Sempre que ia a vila, deixava o meu carro num ponto estratégico, mas hoje não pensei sequer na possibilidade de alguém poder seguir-me... estava sendo seguido. — Que seja!— Depois de ter perseguido Jasper no dia que tentou violentar Nihara, descobri que gostava de uma boa caçada. Antes de voltar para cabana, passei na biblioteca, requisitei todos artigos desde 1467, tudo relacionado com a família Wrigth e a corte inglesa. Precisava também de informações a partir de Northumberland, teria de arranjar alguém de confiança para investigar por mim. Comi qualquer coisa num dos cafés. Depois de quase dez anos comendo massa pastosa, o que quer que me oferecessem a comer já era um banquete. Voltei a Cabana ao entardecer, não antes de fazer o i****a que me seguia ficar perdido entre a floresta que separava Raven Ayes do início da estrada que nos levava a vila. Passei horas lendo vários artigos, jornais e até diários, a sua maioria continha páginas que descreviam sobre a família Wrigth, mas todos continham lacunas, como se a história tivesse sido apagada e escrita de novo. Levantei exausto, fui até a porta dos fundos, estava aberta, parei na porta e um vento forte fez-se acompanhar por um sereno e mais em frente o choro de uma mulher. Era loira com os cabelos mais brancos que o normal, usava roupas brancas e parecia estar flutuando. Estive tanto tempo focado com a história da minha família que não percebi que já havia escurecido, a neblina típica da região já se tinha formado. Desde que comecei a ver pessoas que já não pertenciam a esse mundo, também deixei de temer o oculto. Portanto, a chorona de fronte a porta da minha cabana não me preocupavam de todo, era só mais uma noite "normal" na minha vida desde St. Mary. — Desculpa, mas hoje não! —não estava interessado em compreender o que poderia ter acontecido com a pobre coitada, pois m*l havia chegado em casa o ar se tornou pesado, a minha cabeça latejava e o meu peito doía, era uma angústia que parecia não ter fim. Por isso tentei focar-me nos papéis, o que foi inútil, continuava com o meu peito ardendo. Fui até ao sótão, peguei numa vela branca liguei o fogão, as chamas dançavam, o fogo parecia estar mais intenso, desliguei logo pois começava a sentir uma forte atração pelas chamas, coloquei o sal na mão esquerda e a vela na direita, fiz o ritual que já começava a deixar-me aborrecido de tão frequente que tinha se tornando. A floresta está infestadas de espíritos, e a sua maioria só precisa de orientação. O choro sessou e eu pude voltar a olhar nos papéis agora um pouco mais tranquilo, entre uma e outra folha acabei cochilando, mas ainda vi um vulto com a silhueta da mulher loira. Eu só desejava nunca mais ter que ver essas... Coisas. (...) Os gritos dela eram arrepiantes, a sensação de angústia e a dor dilacerante havia voltando com uma força sobrenatural... — Acorde. Ela precisa de você... Abri os olhos inquieto, meu peito doía e era desolador, estava ficando sem ar e num momento para o outro percebi que também estava com muita raiva. Porque aqueles sentimentos não eram meus. Levantei em passos largos em direção à porta de entrada, m*l abro, vejo Nia caindo aos meus pés completamente transtornada, chorava muito e queixava-se da dor que sentia. Eu queria matar quem quer que a estivesse fazendo sentir-se de tal maneira. Coloquei-a em meus braços, ela se encolheu como se fosse uma criança indefesa... Ela era indefesa. — Shiiiiii, calma. Vai ficar tudo bem! — tento acalma-la. — Não vai... Não vai... — murmura chorosa. — Me conta, o que aconteceu? — "por favor, pare de chorar" imploro mentalmente. — Um dia, algumas garotas contaram aos pais que o internato me mantinha lá como todas as outras alunas ricas, usufruindo das "regalias" que deviam ser de outras estudantes...eu estava tirando o direito de uma menina rica em se formar na melhor escola da região. Fui expulsa, sem ter onde ir... Carolinne fez uma viagem de várias horas para ir buscar-me, me prometeu que estaríamos sempre juntas, sempre!! — as vezes penso que sou o único ser humano com problemas, estar com ela nessas condições me lembra de que alguns de nós está travando batalhas diariamente. — O que aconteceu? — volto a perguntar. — A CAROL MORREU!! — ela grita desesperadamente. — Ela morreu... e não há nada que possa fazer! Por mais que eu chore, grite ou sinta minha alma doer... ela não vai voltar! — começa a debater-se em convulsões e soluços agonizantes. A queimação no meu peito se intensificou, uma lágrima solitária escorreu-me pelas faces. Não sei como agir, desde que a conheço que tudo o que sinto tem haver com ela, e cada dia que passa nos tornamos cada vez mais ligados como se fôssemos um só e isso me dá raiva e me deixa triste ao mesmo tempo, pois a situação atual é deveras dolorosa. — Como você sabe... quem deu-lhe essa notícia? — ela funga o nariz. — Ninguém. — seus olhos grossos estão inchados e vermelhos, mas brilhando devido ao choro, fitando intensamente os meus, e se antes refletiam angústia, agora refletem seu medo. Do que você tem medo? — Como você pode saber se ela está ou não morta se ninguém falou para você? — Eu só sei! — Como? — pergunto já irritado, ela não sabia mas aquela merda estava toldando o meu juízo! Me fazendo sentir miserável, então o mínimo que ela podia fazer é contar-me a verdade. — Ela apareceu nos meus sonhos, e foi horrível, estava machucada com os olhos vermelhos, a barriga estava aberta e não tinha órgãos. Ela foi dissecada, eu-eu... — Thomas... ele fez de novo. — De início parecia estar num belo sonho, mas depois as coisas mudaram e eu vi Carol nos estábulos com Heaven. Animais deviam ser sensitivos não é isso? — diz mais para si que para mim. — Mas Heaven passou o dia todo inquieta, agitada e chorando... Cavalos choram? — pergunta eu maneio a cabeça e ela prossegue. — Ela estava linda de costas, usava roupas brancas e os cabelos estavam mais loiros do que o normal. — pouso ela no sofá me levantando, Nia olha para mim confusa. Ela acabou de descrever a mulher que estava nas traseiras da minha cabana chorando.
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